Capítulo 32
2182palavras
2022-12-13 11:54
- Preciso de você, Colin.
- O que houve? Onde você está? De quem é este número?
- Vou passar minha localização. Pode vir até aqui?
- Estou indo imediatamente.
- E... Poderia pagar o taxista que me trouxe?
- Peça que ele me envie os dados pelo telefone. E que aguarde com você até eu chegar.
- Ok... Obrigada.
Desliguei e entreguei o celular ao homem:
- Poderia... Aguardar comigo até que ele chegue? E... Pode passar os dados que sua corrida será paga. Para o número que liguei, por favor.
- Claro que aguardarei, senhorita.
Levantei e me dirigi para a varanda. Fiquei ali, sozinha, esperando até que Colin chegasse. Já não tinha mais esperanças de reencontrar Charles.
Quando vi o carro de Colin, me senti mais tranquila. Ele era alguém que eu conhecia e tinha intimidade. Já estava destruída e nervosa demais para enfrentar qualquer outra coisa.
Colin ignorou o motorista e veio na minha direção. Assim que o vi, fui até ele e o abracei, sendo correspondida.
- O que houve, meu amor? Você está bem? Fizeram algo com você? – Ele pegou meu rosto entre suas mãos.
- Poderia... Pagar o taxista? – Pedi.
Ele largou-me e andou alguns passos em direção ao homem. Abriu a carteira e retirou várias notas de dentro, entregando-lhe:
- A corrida está paga, inclusive a sua volta. E isto é por ter ficado com ela.
- Não precisava, senhor... – o homem olhou o tanto de dinheiro nas mãos – Obrigado.
Quisera eu ter aquela quantia que Colin dava pelo homem ter me acompanhado. Poderia ter proposto de ficar sozinha e receber o dinheiro.
O taxista se foi e ficou somente eu e Colin ali, na varanda. A noite já havia chegado e o ar vindo da praia estava fresco.
- O que você está fazendo aqui, Sabrina?
- Colin, meu pai me pôs para fora de casa.
- Como assim? E quem mora aqui?
- Eu... Vim atrás do pai do meu bebê.
- O quê? Ele mora aqui?
- Não... Mas também não vou lhe explicar tudo, porque é uma longa história.
- Mas Jordan agiu assim por impulso. Vamos voltar... Vou levá-la de volta e tudo ficará bem. Vou explicar que reatamos e...
Peguei as mãos dele e encarei-o:
- Colin, não reatamos. Eu chamei você... Porque era o único número que eu sabia, além do meu pai. Estou sem celular, sem dinheiro, só com a roupa do corpo. Meu pai não me deixou levar nada de dentro de casa, sequer minhas coisas.
- Sabrina, pense melhor... Eu amo você. E jamais me perdoarei pelo erro que cometi. Se pudesse voltar no tempo... Juro que não faria. Você sempre foi tudo para mim... O meu primeiro e único amor.
- Colin, eu estou apaixonada por outro homem.
- Sabrina, faz pouco mais de dois meses que rompemos. E você ficou grávida de outro. Entende que... Eu não sou o único errado nesta história?
- Você não é o único errado? – eu ri debochadamente – Eu não traí você.
- Está grávida de outro homem.
- Com o qual dormi depois de ter deixado você no altar, porque me traiu com a minha irmã. Não compare as situações. Se você não tivesse ficado com Mariane, estaríamos casados agora...
- E felizes.
- Não... Porque eu não teria conhecido Charles... E nem ficado grávida.
- Charles? Este é o nome dele?
Droga, eu não deveria ter mencionado o nome de Charles. Corria o risco de ele falar ao meu pai, que montaria o quebra-cabeças rapidamente, encontrando “el cantante”.
- Por favor... Não comente com ninguém. Será que posso confiar em você... Pelo menos guardando este segredo?
Ele tocou meu rosto carinhosamente:
- Pode. Se não quer que eu comente com seu pai, não farei.
- Obrigada.
- Quer... Ir para minha casa? Ou... Nossa casa? Ela ainda está lá... Do mesmo jeito, com quase todas as suas coisas.
- Colin, eu preciso de um jato particular... Que me leve à Noriah Sul.
- O quê?
- E do seu celular.
- Sabrina...
- Eu não tenho documentos... Não tenho dinheiro. Não posso embarcar num avião comum. Meu passaporte ficou na mansão. Sei que com o jato não teremos problemas. Você pode dar um jeito, não é mesmo?
- Não posso permitir que se vá... Você é o que eu tenho de mais precioso, Sabrina.
Toquei o rosto dele e depois o abracei. Senti seu perfume que há tempos atrás me agradava tanto... E agora ainda tinha aroma de “casa”.
- Colin, foram quatro anos importantes para mim. Você me ensinou a beijar... A fazer sexo... – sorri – Experimentamos tantas coisas juntos... Viagens, conhecemos lugares, provamos comidas. Brigamos tão poucas vezes. E talvez por isso eu tenha me decepcionado tanto com o que você fez. Só que não há volta. Eu não o perdoo... E não sei se algum dia vou conseguir olhar para você sem pensar no que fez. Mas ainda assim não sinto ódio. Porque eu gosto de você, entende?
- Não... Eu não entendo.
Suspirei e me afastei:
- Precisa me ajudar. Eu não tenho a quem recorrer.
- Sabrina, me deixe assumir a paternidade desta criança. Vamos criar este bebê juntos e tentarmos ser felizes, como você mesma disse que éramos.
- Meu pai exigiu que eu tirasse o bebê para voltar para casa – toquei meu ventre – Não tem ideia do quanto eu amo este serzinho. Criei uma conexão com ela imediata, desde que a vi pela primeira vez. Não vou desistir dela... Nem do pai. Vim encontrá-lo, mas deu tudo errado. E eu nem sei como explicar-lhe, porque você pensaria que é loucura.
- Mas... É tudo uma loucura. Você me chama no meio da noite... Está numa casa sozinha, no meio do nada. Me diz que ama outro homem... E quer que eu a ajude a ir embora do país. Como eu poderia deixá-la partir, se você é tudo que eu tenho?
- Colin, se me ama tanto quanto diz... Me ajude a deixar Noriah Norte.
- Por que Noriah Sul? Eu... Não entendo.
- É o único lugar que me ofereceram abrigo. Eu... Não tenho outra opção.
- Tem a mim...
- Eu não quero, Colin. Eu preciso seguir em frente... Sozinha.
- E o pai da criança?
- Neste momento eu só estou preocupada com a gestação. Preciso ficar tranquila e acolhida. Por meu pai, eu estaria na rua esta hora. Ele pouco se importou se eu teria o que comer ou onde dormir... Sabendo que carregava um filho dentro de mim... – Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Colin limpou-as e pegou o telefone, digitando os números:
- Carlos, poderia providenciar o jato por favor?
Ele me olhava enquanto ouvia a voz do homem do outro lado da linha:
- Imediatamente... Destino: Noriah Sul.
Respirei aliviada. Enfim, eu estava a salvo.
- Vamos para o carro. Vou levá-la... Mesmo achando que eu não deveria fazer isso.
- Prometo avisar quando eu chegar e dizer se estou bem.
- Eu... Não consigo entender isso.
Entrei no carro, sentando no banco ao lado do dele, num lugar onde dividimos por anos a companhia um do outro.
- Pode... Me emprestar seu celular?
Ele me entregou o aparelho e ligou o automóvel, fazendo a volta e retomando o caminho ao centro de Noriah Norte.
Olhei para a casa, com as luzes completamente apagadas. Meu coração doía. Abri a janela e senti a brisa vinda do mar, o cheiro de maresia. Apertei a concha no meu bolso. Eu sabia que reencontraria Charles um dia. E não importava quanto tempo passasse, jamais esqueceria o tempo que ficamos juntos naquela casa. E eu carregava uma lembrança eterna: nosso bebê. Parece que a criança vinha para me provar que não foi um sonho... Que tudo havia sido real, verdadeiro.
Vou encontrá-lo, Charles, não importa quanto tempo demore.
Peguei o número que Min-Ji havia me dado e liguei. Fui atendida na primeira chamada.
- Alô? – Falou a voz masculina do outro lado da linha.
- Oi... É... Do-Yoon?
- Sim, sou eu. Você deve ser Sabrina.
- Sim. – Me senti bem ao perceber que ele sabia quem eu era.
- Minha mãe falou sobre você. Está vindo?
- Eu... Vou embarcar agora. Mas não conheço absolutamente em Noriah Sul. E...
- Onde a busco? – Ele entendeu o que eu queria dizer.
- Estarei num jato particular – olhei para Colin, que prestava atenção na conversa – Onde vou aterrissar, Colin?
- Ao lado do aeroporto de Noriah Sul. Na pista privada.
- Ao lado do aeroporto... Pista privada. – Repeti.
- Quanto tempo levará para chegar?
Olhei para Colin, que respondeu antes de eu perguntar:
- No máximo duas horas.
- Duas horas. – Respondi.
- Estarei esperando lá, Sabrina. Faça uma boa viagem.
- Obrigada, Do-Yoon.
- Do-Yoon... Não é Charles. Ou Charles e Do-Yoon são a mesma pessoa? – Colin me olhou de relance.
- Do-Yoon e Charles não são a mesma pessoa. E não tem nenhuma ligação um com o outro.
- Há algo que eu possa fazer para convencê-la a mudar de ideia?
- Não. Eu vou embora daqui. E não tenho certeza se voltarei algum dia.
Seguimos o restante do caminho em silêncio. Eu não sei o que se passava na cabeça de Colin. Mas na minha, era só tristeza e pensamentos desconexos. E a dor de talvez estar me afastando para sempre do único amor de toda a minha vida: Charles.
Charles, moreno, olhos verdes, corpo perfeito, voz maravilhosa, tocava violão e guitarra como ninguém. O homem que me levou ao céu... E eu tinha um filho dele dentro de mim. E não sabia sequer seu sobrenome.
A vida não era justa. Por que colocá-lo no meu caminho para depois fazer de tudo para nos separar? Não acreditava que nunca mais o veria novamente. Eu senti que nos reencontraríamos. Porque o que tivemos foi intenso, foi avassalador, foi amor.
Ele fez uma música para mim. Ele queria me encontrar. Eu não cheguei a tempo. Ele não esperou o suficiente. O destino se pôs entre nós.
Chegamos ao aeroporto particular e Colin entrou com o carro. O jato já estava preparado e ele conversou com o piloto antes da partida. Pensei em me despedir, mas ele entrou comigo na aeronave. Pôs-me sentada e se certificou de que o cinto estava bem preso:
- Não tire o cinto. Não é seguro. Você está grávida. São só duas horas. Relaxe um pouco e tente descansar. Sua cara está péssima.
Eu sorri:
- Vou tentar... Juro.
Ele abriu a carteira e retirou dinheiro, ofertando-me. Toquei nas notas e fiquei a pensar se era justo. Não, não era. Ele não tinha obrigação nenhuma de sequer me pôr naquele avião.
Eu queria me livrar de Jordan Rockfeller. E para isso acontecer, teria que abrir mão de tudo que aquela vida ilusória me proporcionou. Precisava andar com minhas próprias pernas, pois não poderia depender de Colin ou qualquer outra pessoa. Eu tinha uma criança dentro de mim... Seria a única responsável por ela. E teria que dar conta.
Empurrei gentilmente as notas e disse:
- Não posso aceitar.
- Não posso deixá-la sair daqui sem nada.
- Já fez muito por mim... Muito mesmo.
- Não vou sair sem que pegue este dinheiro.
- Não vou pegar.
Ficamos nos encarando. Os olhos de Colin eram castanhos claros. Os cabelos não eram muito curtos e estavam sempre bem penteados. Um homem bonito, bem vestido, cheiroso, inteligente... E infiel. Não sei se o pior foi ele me trair ou ter feito isso especificamente com a minha irmã.
- Colin, eu posso fazer uma pergunta?
- Uma pergunta? – Ele enrugou a testa.
- Íntima.
- Pode... – Ele ficou incerto e ao mesmo tempo curioso.
- Você gostava de fazer sexo comigo?
- Sim... Claro que sim.
- Eu não vou perguntar por que dormiu com Mariane de novo. Mas... Fiquei a lhe dever algo na cama?
- Não. – Ele disse seriamente.
Eu sorri, ainda tentando compreender o que houve:
- Eu precisava saber.
- Não foi culpa sua.
- Eu sei.
- Você sempre foi perfeita na cama. E... Muito melhor do que ela, se confessar isso lhe faz sentir-se bem de alguma forma. Por isso não me perdoo.
- Serei eternamente grata pelo que fez por mim hoje. E lhe peço uma última coisa... Não fale ao meu pai.
- Não vou.
Ele deu um beijo nos meus lábios, demoradamente, mas sem intimidade.
- Me ligue assim que chegar. Quero saber se ficou tudo bem.
- Vou ligar. Prometo.
Ele deu alguns passos e antes que a aeromoça fechasse a porta, pôs o dinheiro sobre a poltrona.
E assim eu parti para Noriah Sul, um lugar onde não conhecia nada nem ninguém, e deixava para trás minha família, o amor da minha vida, meu ex-noivo e dezoito anos de lembranças, sendo que dois dias foram suficientes para mudar minha vida... Para sempre.