Capítulo 29
2125palavras
2022-12-13 11:51
Pisquei repetidas vezes, tentando acordar. Mas não acordei... Porque sequer estava dormindo.
Tudo que vi foram os rostos pasmos de meus pais e Mariane.
- Grávida? – Minha mãe perguntou, parecendo não acreditar.
- Vocês... Não sabiam? – O médico olhou-me.
- Não... Eu não sabia. – Confessei.
- Então vamos aproveitar que está aqui e fazer todos os exames necessários. Vou encaminhá-la para um obstetra.
- Sim, faça isso, doutor. Por favor. – Meu pai pediu e se eu não estava ficando louca, tinha um sorriso nos lábios dele.
- Então peço que aguarde, senhorita Rockfeller, pois as enfermeiras virão buscá-la novamente para vermos como está este bebê.
- Obrigada, doutor.
Eu não tinha certeza sobre o que sentia naquele momento. Mas pensava como cuidaria de uma criança se recém começava a deixar de ser uma. Dependia de meu pai financeiramente e de minha mãe psicologicamente. Eu não daria conta sozinha.
- Um filho! – J.R exclamou.
- Ou uma filha... Não sabemos. – Minha mãe ficou empolgada.
- Eu vou ser tia. – Mariane sorriu.
Olhei-a com vontade de gritar algumas verdades, do tipo: “Irmã, você dormiu com o meu noivo, como pode fingir que está tudo bem entre nós? Acha que sou tão insossa a fim de esquecer a sua traição?”
- Meu Deus! Eu sempre quis ter um filho homem. E agora... Talvez tenha um neto. – J.R estava digerindo bem a ideia, o que me deixou pasma.
- Vou ligar agora mesmo para minha amiga. – Calissa pegou o telefone.
Como assim ligar para uma amiga? Por que ela precisava contar para outras pessoas sobre o “meu” bebê?
No mesmo instante, papai também pegou o celular. Olhei para Mariane e não consegui visualizar qualquer tipo de sentimento no rosto dela.
Toquei meu ventre, deixando uma lágrima escorrer. Eu ainda tentava assimilar que teria um filho de “el cantante”... Uma única vez sem camisinha. Mas o suficiente para fazermos um bebê. Como ele se sentiria quando soubesse?
Eu tinha noção do quanto ele sofria por não ter podido ver o filho crescer e sua luta pelas visitas. E agora nós teríamos o nosso bebê. Ele ficaria feliz com a notícia? E se não ficasse? E se achasse que fiz se propósito, para que ficasse comigo? E se casássemos e com o tempo descobríssemos que não tínhamos nada a ver um com o outro? E... Se eu nunca mais conseguisse encontrá-lo novamente?
Olhei no relógio e já passava das nove horas. Eu precisava chegar até a praia... Agora mais do que nunca.
- Parabéns, meu rapaz! Acabo de saber que você vai ser papai. – Ouvi a voz do meu pai ao telefone, um sorriso largo no rosto.
Levantei da cama, sentindo tudo girar novamente e vontade de vomitar. E eu podia apostar que não era da gravidez... Era do que eu estava vendo naquele momento. J.R estaria ligando para...
- Amiga, vamos ser avós! – Ouvi minha mãe do outro lado do quarto, um sorriso de orelha a orelha.
Eles pensavam que o filho era de Colin?
Meu pai olhou para o celular e disse:
- Eu acho que a ligação caiu... Colin ficou completamente sem palavras.
- Sim, sim... Que acha que já começarmos os preparativos do enxoval? Podemos fazer apostas sobre o sexo. As meninas do clube iriam amar. – Minha mãe falava com a mãe de Colin do outro lado da linha.
- Não levante, Sabrina. O médico mandou você esperar deitada. – Mariane observou.
Fui até minha irmã e questionei-a:
- O que sente sabendo que vou ter um bebê?
- Eu? – Ela olhou na minha direção, sem levantar no sofá.
- Sim, você.
- Eu... Me sinto feliz por você.
Sua mentirosa. Isso foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Ela sequer conseguia disfarçar a cara de decepção. E eu poderia apostar que era pelo fato de eu ser mãe antes dela e ter a atenção completa para mim.
Mas Deus... Isso era o de menos. O que eu não queria era que eles pensassem que Colin era o pai. E não era por questão de enganá-los. Mas porque me repugnava só de pensar em ter um filho dele dentro de mim.
Eu tinha duas opções: fingir por um tempo e tentar me manter viva por algumas horas, até Colin dizer a verdade. Ou confessar que o filho era de um homem que eu mal conhecia e ser morta em minutos.
Olhei para o sol tentando adentrar pela persiana pesada da janela e pensei comigo: “Adeus, mundo! Foi bom ter passado estes dezoito anos por aqui. Mas quando finalmente me encontrei, estou voltando para o céu”.
Será que eu poderia pedir para meu pai me matar de forma rápida, para que eu sofresse menos? Ou ele me torturaria pouco a pouco, fazendo-me sentir todas as dores de sua crueldade?
Se alguns palavrões que proferi o fizeram pôr pimenta na minha comida, minha resistência e voz própria me renderam um castigo e a perda do direito de ir e vir, um filho resultaria no meu fim.
- Claro que agora eles vão casar! – minha mãe continuava a conversa, ainda com um sorriso nos lábios – Foi só um contratempo. Qual relacionamento não tem?
- Chega! – Gritei, apoiando-me na cama, a cabeça começando a doer instantaneamente.
Todos me olharam. Minha mãe finalmente parou sua conversa ao telefone.
- Acho melhor deixarmos Sabrina um pouco sozinha. Talvez ela queira descansar. – Mariane veio na minha direção.
- Eu quero... Ir à praia. – Falei, deixando as lágrimas escorrerem.
- Não pode ir à praia. Você vai fazer os exames... – Meu pai arqueou a sobrancelha.
- Eu preciso...
- Depois de confirmarmos que está tudo certo com você e o bebê eu mando organizarem a casa para nós. Vou inclusive mandar descer o iate para o deck.
- Não! – Implorei, com os sentimentos explodindo dentro de mim.
- Mariane, ligue para a empresa. Avise que não iremos à reunião.
- Mas pai... Já passou da hora. Certamente estão furiosos. – Ela levantou, parecendo brava.
- Família em primeiro lugar.
Estreitei os olhos, confusa. Quem era aquele homem? Jamais ouvi aquilo da boca dele.
- Colin não é o pai. – Eu disse de uma vez, sem respirar ou fazer pausa durante a frase, temendo não conseguir terminar.
Baixei os olhos, porque não tive coragem de encará-los. Sabia que as consequências seriam terríveis, mas não podia mentir sobre aquilo.
Não era justo todos fingirem ser quem não eram por pensarem que eu teria um filho de Colin Monaghan, o homem que escolheram para mim.
Olhei-os, depois de alguns segundos. Ok, vamos, mostrem quem vocês realmente são!
Suspirei e esperei.
Ouvimos batidas leve na porta e duas enfermeiras entraram:
- Com licença. Vamos levar a futura mamãe até a sala para a ultrassonografia.
Sentei imediatamente na cadeira de rodas, antes que elas me ajudassem. Tudo que eu queria era sair correndo dali.
- Quem gostaria de acompanhá-la? – uma delas perguntou, com um sorriso no rosto. – Caso queiram ir os três, o doutor pode trocar a sala, por uma maior.
Olhei na direção deles e ninguém se manifestou. J.R olhava para a janela, sem expressão. Calissa seguia com o telefone na mão, sem dizer nada. Mariane já estava sentada novamente, indecisa sobre ir ou ficar desde que havia chegado.
- Eu... Vou sozinha. – Falei, quebrando o silêncio constrangedor.
Limpei as lágrimas e deixei que uma delas me conduzisse pelo corredor completamente branco e limpo, quase como se estivesse chegando ao céu.
Quando entrei na sala, elas me ajudaram a deitar na maca e passaram um gel sobre a minha barriga. Estava gelado. Eu ainda não conseguia parar de chorar e não sabia se era pela verdade que eu havia contado ou por saber que estava grávida. Sequer tinha chegado à conclusão se era bom ou ruim o que estava acontecendo comigo.
A sala ficou à meia-luz e um médico entrou:
- Bom dia, senhorita Rockfeller. Vou fazer sua ecografia e também serei o seu obstetra, caso não se importe e ainda não tenha alguém em mente.
- Não tenho ninguém em mente, doutor.
Ele sorriu e sentou-se de frente ao equipamento:
- Será um prazer atendê-la.
- Obrigada. – Limpei as lágrimas.
- É normal se emocionar assim – ele tentou me tranquilizar – Além das tonturas, enjoos, você realmente fica mais emotiva. Então chorar não é incomum. E todas as pacientes dizem que a primeira ecografia é a mais interessante.
Olhei na tela, que estava completamente nítida em função da quase escuridão. Assim que ele pôs o aparelho no meu ventre, vi o feto tão pequenino que certamente cabia na palma da minha mão.
- Este é o coração – mostrou-me com uma pequena seta na tela – Pernas e braços começando a despontar. Estamos certamente na sexta semana de gestação.
Exatamente naquele momento, eu conheci o meu amor verdadeiro. E sabia que seria capaz de qualquer coisa por aquele serzinho que começava a se formar dentro de mim.
- Vamos ouvir o coração?
- É possível?
- Sim, é possível. – Ele sorriu e me mostrou os batimentos, fortes e intensos.
“É assim que eu fico quando penso no seu pai, bebê.” Foi o que passou pela minha cabeça.
Eu já estava completamente apaixonada por aquela criança; o meu bebê.
Fechei os olhos e fiquei ouvindo a melodia própria que ele produzia, seu som único, tocando exclusivamente para mim.
- Vai ser uma menina. – Falei imediatamente, quando abri os olhos novamente.
Ele riu:
- Em duas semanas é possível fazer um exame de sexagem fetal. Então poderá saber se é menino ou menina. O certo é que não são dois.
- Melody... – Falei, com a voz fraca, sorrindo em meio às lágrimas.
O médico arqueou a sobrancelha, confuso.
- Ela vai se chamar Melody... Nasceu da nossa melodia... Ela já produz o próprio som... Como o pai. Ele é músico.
- Bem, se você que é mamãe está dizendo isso, quem sou eu para contestar, não é mesmo? Bem-vinda, Melody.
- Bem-vinda, Melody. Agora... Eu posso ir embora?
- Já? – ele enrugou a testa – Acho que precisamos fazer uns outros exames para ver se está tudo bem. O que acha?
- Eu não posso, doutor. Tenho um compromisso.
Ele riu e balançou a cabeça:
- Senhorita Rockfeller, sabemos que está tudo bem com o feto. Agora nós vamos ver se está tudo certo com a mamãe.
Ele desligou o aparelho e começou a limpar o gel da minha barriga, com toalhas de papel macias.
- Doutor, quando a barriga começa a crescer?
- Isso depende de mulher para mulher. Mas geralmente a partir das 12 semanas já é bem visível o volume no ventre.
Ele ajudou-me a levantar e a enfermeira entrou novamente, com a cadeira de rodas. Sério que eu passaria o tempo todo de um lado para outro numa cadeira de rodas, como se estivesse impossibilitada de caminhar?
Olhei num dos relógios e já era quase dez horas. O tempo parecia voar. E tinha relógios em todos os locais daquele hospital, para me lembrar que eu precisava chegar na praia até o sol se pôr.
Retiraram sangue para outros exames específicos e depois tive uma conversa com o médico, que fez anamnese da minha vida.
Eu já nem tinha certeza se preferia ficar ali com os médicos e enfermeiros desconhecidos ou enfrentar meus pais.
Mas não havia escolha. O tempo passou e já era meio-dia quando fui liberada, na recepção, enfim podendo sair da cadeira de rodas.
Não vi meus pais, nem Mariane. Certamente ficaram tão furiosos que decidiram ir embora e me deixar sozinha.
Fui até o balcão e a atendente disse:
- A senhorita está liberada. Se quiser, podemos já deixar marcada sua próxima consulta.
- Eu...
- Sabrina?
Eu não precisei virar, pois sabia quem era. Reconhecia aquela voz, ouvida por quatro longos anos.
Senti um frio na barriga e meu coração acelerar. O que ele estava fazendo ali?
- Quer deixar marcado? – A atendente repetiu a pergunta.
- Não... Eu marco depois.
Virei e encarei Colin. Vestia uma calça caqui com camisa gola polo branca. Um look esportivo com social, típico dele: “em cima do muro”.
- O que está fazendo aqui?
- Eu falei com seu pai.
- Ainda assim não entendo sua presença.
- Ele... – Colin olhou para os lados e percebeu algumas pessoas, então pegou levemente meu braço, me conduzindo pela recepção – Que acha de tomarmos um café?
Logicamente eu diria não. Mas quando ele mencionou a palavra “café”, meu estômago deu sinal de vida, implorando por comida.
- Eu aceito. – Sim, pela comida.