Capítulo 25
1909palavras
2022-12-13 11:48
- Sabrina? Filha, olhe para mim... Por favor. – Ouvi a voz dele, desesperado.
Tentei fixar os olhos em meu pai, mas tudo girava muito rápido.
- Min-ji... Corra aqui. – Ele gritou.
Quando percebi, estava nos braços de J.R, que subia a escadaria em direção ao meu quarto.
- Senhor... Vou providenciar um chá. – Disse Min-ji.
- Querida, olhe para a mamãe... Vai ficar tudo bem. – Minha mãe estava chorosa.
Assim que senti o meu colchão, parece que tudo ficou melhor. Ouvia as vozes, mas não conseguia responder. Enquanto o teto ficasse se mexendo, eu era incapaz de dizer qualquer coisa, pois o enjoo era forte demais.
Min-Ji ergueu-me com cuidado e minha mãe me ajudou a beber um pouco de água.
- Eu trouxe um chá... Chá sempre ajuda. – Min disse.
- Obrigada... Mas agora não... – Fiz careta, deitando novamente a cabeça no travesseiro.
- O que você fez? – Minha mãe perguntou ao meu pai, furiosa.
- Eu... Só estava conversando com ela. – Ele explicou.
- Sei muito bem como é a sua conversa. Fora daqui. – Ela disse altivamente.
Achei que ele pudesse ser resistente e não ir, mas me enganei. Ele se foi. E assim que J.R passou pela porta, me senti melhor.
- Como se sente, filha? – Perguntou minha mãe, sentando sobre o colchão, enquanto fazia carinho nos meus cabelos.
- Bem... Foi só um mal-estar.
- Ela está pálida, senhora. – Observou Min.
- Estou bem... Só... Talvez tenha ficado nervosa.
- O que sentiu?
- Tontura... Cansaço nas pernas. – Tentei identificar as tantas coisas que senti.
- Você... Chorou? – Calissa tocou meu rosto, observando os olhos.
- Não. – Menti.
- Sua cara está péssima. Marque para amanhã às nove horas massagem e limpeza de pele para ela, Min. Urgente!
- Sim, senhora. Quer... Que eu faça isso agora?
- Sim, por favor. Tenho o celular da massagista em algum lugar. A limpeza você agenda com a clínica de sempre.
- Ok. Mas... Posso tentar fazê-la tomar o chá primeiro? – Min pediu.
- Min, querida, eu entendo sua preocupação. Mas sabe que não acredito nos chás, não é mesmo?
- Mas... Sempre se sentiu melhor depois de tomar, quando lhe ofereci, não?
- Isso é puramente psicológico.
- Senhora, a maioria medicamentos naturais são à base de ervas. Os chás não são nada mais do que a infusão delas...
- Já li um pouco sobre isso. E certas ervas podem não fazer bem se má administradas, entende?
- Mas... Eu mesmo plantei, senhora. São todas calmantes... E naturais. Eu jamais ofereceria algo que pudesse causar qualquer tipo de risco na nossa menina.
- Prefiro que ela não beba o chá, Min. - Calissa foi firme – Mas pode trazer um de saquinho. Aliás, eu trouxe alguns da última viagem que fizemos. Tem de chocolate branco e baunilha pelo que lembro.
- Tudo bem, senhora. – Min me olhou e deu um sorriso sem graça, saindo.
- Vou chamar um médico.
- Não... Eu estou bem. – Sentei na cama.
- Ainda está pálida.
- Eu... Tomei um milk shake na rua.
- Como assim?
- Peguei num lugar qualquer... A atendente não lavou as mãos para fazer... Sequer usou luvas. E me entregou junto do troco. Os cabelos dela estavam soltos. O chocolate era de má qualidade. Acho que o leite poderia estar estragado.
- Quantas vezes eu disse que vocês não devem comer nada na rua, em lugares que não conhecem? – Ela suspirou.
- Sim, me desculpe.
Minha mãe foi ao closet e voltou com uma camisola em cetim. Ajudou-me a tirar a roupa e vestir a confortável que trouxe. Depois cobriu-me e fechou as cortinas blackout com o controle:
- Não entendo como consegue dormir com as cortinas abertas... Entra muita claridade. Precisa descansar.
- Papai insiste em dizer que tenho feito coisas em função...
- Do homem que conheceu? – Ela completou minha frase.
- Sim... – Abaixei os olhos.
- Ele viu a imagem dele... Mesmo que não tenha sido nitidamente. E se preocupa com isso.
- Mãe, ele não tem nada a ver com as minhas tomadas de decisões... Aliás, não o vejo desde... Que voltei para casa.
- Entenda que nos preocupamos com você, querida.
- Eu sei... Mas preciso de um tempo. Está difícil, mãe... Tudo está complicado...
- Por que desistiu da faculdade?
- Eu só estou indecisa sobre o que fazer. Mas tenho certeza de que não quero ser advogada. Vou chegar à conclusão do que fazer... Eu prometo.
- Seu pai não quer que você pare de estudar.
- Pensei em Matemática.
- Matemática? Que tal Administração ou Contabilidade, que tem bastante das Ciências Exatas?
- Por que não Matemática?
- Porque... Porque não há sentido em você fazer Matemática. O que faz alguém que cursa Matemática? – Ela arqueou a sobrancelha, confusa.
- Eu... Poderia dar aulas.
- Aulas? Você está louca?
- Poderia... Ser divertido.
- Não se faz faculdade para se divertir, Sabrina.
- Eu... Sei – deitei a cabeça novamente no travesseiro – Poderia desligar a luz quando sair? – Pedi, tentando finalizar a conversa.
- Amanhã mesmo vou chamar o médico.
- Não precisa. Estou bem. Tenho certeza de que foi o milk shake.
Calissa deu um beijo na minha testa e disse:
- Boa noite. Amanhã vamos resolver de vez esta situação entre você e seu pai.
Eu não disse nada, pois não conseguia ver uma trégua, mesmo futuramente.
Assim que ela saiu, Min entrou, com um chá fumegante na bandeja.
Sentei e recostei-me na cabeceira:
- Está descumprindo ordens, senhora Min-ji. – Sorri.
- Sei que lhe fará bem... Vai ficar mais tranquila.
Ela me entregou a bandeja com a xícara e quando fui sorver o líquido quente, Min pegou da minha mão rapidamente, derramando um pouco sobre o metal brilhante.
Olhei na direção dela, confusa.
- O que exatamente você sentiu, Sabrina?
- Tontura... Enjoo muito forte. E fraqueza nas pernas. Pareceu que eu desmaiaria, mas não... Consegui manter-me consciente, embora tudo tenha rodado por muito tempo.
Ela pegou a bandeja e retirou da minha frente, pondo na mesa próxima.
- E o chá? – Questionei, arqueando a sobrancelha.
- Quando foi a última vez que menstruou?
- Eu... Acho que faz um mês. Talvez um pouco mais... Ou menos.
- Lembra o dia exato?
- Não... Por que a pergunta?
- Você... Não corre o risco de estar grávida?
Eu gargalhei:
- Claro que não, Min.
- Usou preservativo com o desconhecido, não é mesmo?
- Sim... – enruguei a testa – Quer dizer... Só uma vez que não.
Ela suspirou:
- Como assim não usou uma vez?
- Foi só uma vez, Min. Não se engravida assim...
- Como não? Você não usa anticoncepcional, Sabrina.
- Mas não... Não estou grávida.
- E... Quantas vezes não usou com o senhor Monaghan?
- Com Colin? – eu ri – Colin jamais fez sexo sem camisinha comigo. Mas não posso dizer o mesmo com relação a minha irmã. Imagina se ele transou com Mariane sem preservativo e ela ficasse grávida dele? Seria um castigo tão bem feito, não acha? O que minha irmã faria com um bebê?
- O que “você” faria com um bebê?
- De Colin? – Eu ri.
- Sim...
- Não faria nada, porque ele não existiria. Colin morre de medo de ser pai... Pelo menos comigo. Mas confesso que eu gostaria muito que ele tivesse um filho com minha irmã. Queria ver a cara dos dois...
- E se “você” tivesse um bebê... Daquele homem?
Parei e a encarei seriamente:
- Não... Eu não estou grávida. Bebi um milk shake preparado sem nenhuma higiene e isso me causou este mal-estar. Além do mais... Charles já tem um filho.
- Ele é casado?
- Não. Mas é uma longa história, Min. Não se preocupe, eu não estou grávida.
- Meu bem... – Ela alisou meu rosto.
- Quero o chá.
- Não... Não vou lhe dar. Algumas ervas são ótimas para uma coisa e ruins para outras. É melhor não arriscar.
- Por Deus, Min-ji, eu não estou grávida.
- Espero que se entenda logo com seu pai. Esta situação não pode continuar, minha pequena.
- Tudo ele implica... Onde fui, com quem saio... Agora a questão da faculdade. Eu não tenho direito de escolhas, entende? Fora o fato de ele jogar na minha cara o tempo todo que dependo dele.
- Ele não faz por mal. Quer protegê-la... Só isso.
- O que eu poderia fazer para me tornar independente, Min?
- Não precisar dele... E isso você só conseguiria tendo seu próprio dinheiro, sem usar o do senhor Rockfeller.
- E como eu ganho dinheiro?
- Trabalhando.
Arqueei a sobrancelha:
- Não seria independência trabalhar na J.R Recording, porque estaria recebendo dele, não é mesmo?
- Creio que sim.
- Mas... Eu não sei fazer nada.
- Então pense em algo que possa fazer... Para tentar ganhar dinheiro. E tenha em mente que seu pai não aprovará muitas das coisas que pensar... O sobrenome Rockfeller pesa sobre você.
- Sim, eu sei.
Min pegou o celular e digitou algo.
- O que está fazendo? – Perguntei, curiosa.
- Estou tentando descobrir se este chá causa algum problema para mulheres grávidas.
- Jura? – eu ri, puxando as cobertas – Poderia diminuir a temperatura do ar, por favor?
- Pode beber o chá... – Ela garantiu, trazendo a bandeja de volta.
Bebi o chá, sabendo que me faria bem. A vida inteira bebi as infusões naturais de Min-Ji e não entendi porque minha mãe começou a implicar com aquilo.
- Min, deixa eu ver uma foto dos seus filhos? – Pedi.
- Por quê?
- Porque... Eu queria conhecê-los... Curiosidade.
Ela pegou o celular e me mostrou a garota magra, pele clara e cabelos pretos, lisos e compridos. O olhar era penetrante e firme.
- Ela... É linda. – Observei.
- Este é Do-Yoon. – Ela passou para a próxima foto.
- O professor...
- Sim, o professor.
Do Yoon era magro, muito parecido com a irmã. Aparentemente a pele um pouco mais clara do que a dela e os cabelos pretos eram perfeitamente cortados e penteados.
- Min... Por que não pedi para conhecer Do-Yoon antes? Colin não teria nem chances perto dele.
Ela riu.
- Ele é lindo... Perfeito. – Falei, ainda olhando a foto do rapaz.
- Em todos os sentidos. Um ótimo filho.
- Estou com calor, Min... Acho que foi a foto de Do-Yoon que me causou esta sensação.
Ela riu e pegou o celular da minha mão:
- Você não tem jeito, Sabrina.
- Ele tem namorada?
- Não. Mas gosta de uma moça do trabalho.
- E Yuna?
- Yuna só pensa no trabalho. E acha que ninguém está à altura dela.
- Hum, preciso de umas aulas com ela. Que acha de eu fazer por vídeo chamada? Como ter amor próprio e mandar os homens se foderem.
- Você não está bem, Sabrina – Min me deu um beijo na testa – Boa noite.
Assim que Min-ji saiu, fechei os olhos e deixei as lágrimas escorrerem. Os olhos verdes hipnotizantes não me deixam em paz um minuto sequer.
- Onde você se meteu, “el cantante”? Eu não sei como encontrá-lo... E se não voltar a vê-lo, juro que vou morrer.