Capítulo 18
2390palavras
2022-12-11 07:24
- Eu quero nadar no mar antes de partir. – Falei.
- Seu pedido é uma ordem, minha garotinha! – Charles me pegou no colo, levando-me para dentro do quarto.
- Vou ficar mal-acostumada, “el cantante”. Não sei se recebi tanto colo assim nem quando eu era bebê. – Exagerei.
- Você é a minha garotinha... De mais ninguém, entendeu? Por isso só eu posso lhe dar colo... E beijos. – Me encheu de beijos pelo rosto, contemplando a boca, o nariz, a bochecha e os olhos.
Ele ainda me segurava em seus braços e seu olhar era sério.
- Eu entendi. E juro que não quero ninguém além de você, “el cantante”.
Os lábios dele encontraram os meus, doces, suaves, nossas línguas dançando como uma canção romântica. Quando o beijo acabou, falei:
- Vou acabar com as suas fãs que cruzarem a linha imaginária de um metro do palco.
- Ok, devo avisar que a linha existe, mesmo que ninguém a veja?
- O que acha? – Provoquei.
- A fidelidade é uma linha imaginária, não é mesmo?
- Vai deixar alguém cruzá-la?
- Jamais... Em hipótese alguma. Se isso for seu desejo.
- É meu desejo – afirmei – Você só meu e de mais ninguém.
- Nunca fui tão de alguém como sou seu, Sabrina. E isso relativamente em 48 horas. – Sorriu.
- Agora me ponha no chão que quero colocar o biquíni que você comprou. E acredito que se comprou é porque queria tomar banho de mar comigo, não é mesmo, “el cantante”?
- Claro que sim. Meu sonho sempre for ver você de biquíni. – Debochou.
Peguei o biquíni e coloquei rapidamente.
Descemos para o mar, que ficava a metros da casa. Os primeiros raios de sol começavam a aparecer no céu.
Toquei a água morna com os pés, sentindo uma onda mais gelada e forte quase me derrubar. Charles encontrou-me e foi andando de costas, me conduzindo para dentro da água, os olhos fixos nos meus, as mãos na minha cintura.
- Eu amo o mar. – Confessei.
- Eu também.
- Por isso escolhi a praia para minha lua de mel... – Parei de falar imediatamente quando me dei em conta.
- Uma pena que em algum lugar o mar ficou esperando por um casal que não apareceu. Sorte a minha que encontrei uma parceira para entrar exatamente neste local comigo.
Sorri e ele me ergueu pela cintura, girando-me sobre a água. Foi guiando-me de costas, para o fundo. Quando a água chegou na altura dos nossos ombros, grudei-me a ele, envolvendo as pernas na sua cintura. Charles descansou o queixo no meu ombro e disse, com a voz rouca:
- Eu estou completamente apaixonado por você, Sabrina!
Sorri e o apertei ainda mais com meus braços, o rosto não vendo o dele, meus olhos fixos para a imensidão do mar:
- Amo você, Charles. – Afirmei, sem sombra de dúvidas, pois o que eu sentia por aquele homem era algo que jamais imaginei.
Quando retornamos para a areia o dia já começava a clarear, sem as meras nuances de luz solar no meio do céu cheio de estrelas.
Sim, nosso tempo havia acabado. E nenhum de nós sabia como seria o depois.
Enquanto caminhávamos em silêncio, de mãos dadas em direção à casa, ele abaixou-se e pegou algo.
- O que você encontrou? – Perguntei, curiosa.
Ele me mostrou na palma da mão uma minúscula conchinha do mar, branca por dentro e um rosa terroso por fora. As listras parecendo medidas de tão perfeitas e iguais.
- Acho que foi um presente da praia para nós. – Brinquei.
Tentei pegar da mão dele, que a fechou rapidamente, me assustando e fazendo-me dar um salto.
Começamos a rir.
Assim que entramos na casa, subi as escadas e me dirigi ao chuveiro. Meu último banho na suíte máster da casa de praia ao lado do homem da minha vida, o misterioso “el cantante”, que me deu tudo que uma mulher pode desejar na vida: se sentir amada, importante, desejada e bem fodida de todas as formas.
Quando terminei de pôr a roupa, suspirei, sentindo o peito se inflar e a vontade de chorar tomando conta de mim.
Não tinha certeza se estava preparada para a vida normal... Tampouco para viver sob o mesmo teto de minha irmã.
Assim que desci, Charles já estava vestido e de banho tomado.
- Não sei se recupero meus cabelos. – Falei, tentando separar os fios embaraçados com os dedos.
- Recupera sim... Só não tenho certeza se prefiro você assim ou penteada.
Comecei a rir e ele pôs as duas mãos fechadas na minha frente:
- Escolha uma delas.
Toquei a direita e ele abriu, mostrando a pequena concha que havia encontrado anteriormente.
Peguei da mão dele e olhei-a mais de perto. Dentro ele havia riscado o C e o S.
- “Sabrina e Charles”... Para caso pense em um dia esquecer o que a gente viveu aqui.
- Sabe que isso não é possível, não é mesmo?
- Eu... Não sei.
- Obrigada. Vou guardar... Para sempre.
- Talvez um dia a gente possa mostrar para os nossos filhos.
Senti as lágrimas escorrerem. Na verdade, não era de agora que eu tentava bancar a forte enquanto contava o tempo e implorava para que fosse mais devagar.
Charles limpou-as e disse:
- Precisamos ir, garotinha!
- Eu também fiz uma coisa para você. – Falei.
- Fez?
- Não foi uma obra de arte como a sua... Pelo contrário... – Comecei a rir enquanto limpava as lágrimas para depois lhe entregar o cupom fiscal do posto de combustível com o meu número de telefone escrito com batom.
- Caso queira falar comigo... Quando encontrar seu celular.
- Posso querer marcar um encontro. – Ele sorriu, dobrando o papel e pondo no bolso da jaqueta.
- E eu corro o risco de aceitar. – Guardei a concha no bolso do short.
- Por que não escrever com caneta ou lápis o seu número?
- Porque por mais incrível que pareça, encontrei um batom nesta casa mas não um lápis ou caneta. Aliás, falta muita coisa por aqui.
- Quando a comprarmos, prometo que providencio tudo que você quiser e precisar.
O abracei com força e beijei seu pescoço, tentando dar-lhe um chupão.
- O que está fazendo? – Ele arqueou a sobrancelha quando o soltei, questionador.
- Tentando marcar sua pele... Como fez comigo.
- Espera... Isso não é o suficiente. Eu quero mais... Aqui. – Ele me ofereceu o outro lado do pescoço.
- Acha que eu fiz certo?
- Não sei se fez certo, mas eu gostei...
Sorri e beijei levemente o pescoço dele, acariciando a pele com a língua, descendo próximo de seu ombro, onde mordi antes de chupar a pele. Notei a pele de Charles arrepiar-se.
- Sabrina, se não formos embora agora, eu não respondo por mim...
Eu o encarei e teria dito “não responda por você, então”. Mas sabia que se não chegasse exatamente no horário marcado com meu pai, ele faria tudo que ameaçou.
- Vamos, “el cantante”. – Suspirei, pegando a mão dele.
E assim deixamos a casa de praia.
Quando partimos, demorei a parar de olhar para trás. Era como se deixasse parte de mim naquele lugar.
Na metade do caminho, começou a chover. Charles parou a moto e mesmo eu negando, me fez pôr a jaqueta em couro, para proteger-me da chuva forte que caía.
O capacete embaçou e pude chorar por boa parte do caminho sem que ele percebesse. Eu sentia uma dor horrível no peito, no coração, como se nunca mais fosse reencontrá-lo.
Ainda sentia um pouco de dor com a queimadura na canela, mas já começava a cicatrizar. A pomada que ele furtou era boa.
Assim que começamos a nos aproximar do centro de Noriah Norte, me preocupei de onde deveria ficar.
Seria bem mais fácil dizer que eu era uma Rockfeller, filha de J.R, o dono da maior gravadora e empresário artístico do país.
Mas se Charles soubesse onde eu morava, corria o risco de aparecer na minha casa e isso seria um problema para ele. Se meu pai soubesse com quem estive naquele tempo, acabaria com “el cantante”. E eu não temia por mim, pois não tinha nada a perder. Mas ele... Ah, Charles tinha muito a perder. Especialmente no que dizia respeito a crescer profissionalmente. E eu faria tudo o possível para colocá-lo na J.R Recording, custasse o que custasse, sem que meu pai levantasse qualquer suspeita de que eu tinha algo com ele. E então, quando ele estivesse “estourado” e famoso, diria que Charles e Sabrina se amavam e viveriam felizes para sempre. E então J.R jamais saberia que um dia ele foi pobre ou ficou comigo depois do casamento não consumado.
Mas uma coisa de cada vez. Precisava de calma para pensar em tudo e planejar como faria.
- Onde deixo você? – Ele perguntou, sem eu dizer nada, já no bairro mais rico de Noriah Norte.
Suspirei, tentando não me arrepender da minha atitude e pedi para que me deixasse em frente ao condomínio mais caro do país. E assim ele fez.
Assim que estacionou a moto em frente ao pórtico, me ajudou a descer.
- Vou devolvê-la com a perna queimada... Isso é uma porra.
- Não... Isso não é uma porra. – Falei, retirando o capacete.
- Quer ficar com ele, para não se molhar?
- Não molhar a cabeça? – Comecei a rir, entregando o capacete.
- A gente se vê?
- Sim... Com certeza.
Tentei retirar a jaqueta dele, que me impediu:
- Não... Quero que fique com ela. Lembrança... Minha.
- Mas... É sua marca registrada.
- Eu compro outra. Esta é sua... E assim não se molha tanto. A chuva está gelada.
Retirei o capacete dele e toquei sua camisa completamente molhada:
- Não me esqueça, “el cantante”.
- Nem que se passem mil anos. – Garantiu, sorrindo.
Me aproximei e mordi levemente seu lábio inferior, sendo puxada para um beijo apaixonado e cheio de amor. Nossas línguas esfomeadas se tocando, os lábios se consumindo como se o mundo fosse acabar... E sim, talvez estivesse mesmo acabando, porque não sabíamos como seria dali por diante.
- Preciso ir. – Falei, me afastando, sabendo que precisava de tempo para chegar em casa ainda.
- Ligo pra você...
- Vou esperar.
Ele pôs o capacete e ligou a moto, partindo sem olhar para trás. Talvez tenha sido melhor assim. Fiquei olhando até que ele desaparecesse na estrada, sob a chuva torrencial.
Corri até a guarita do condomínio e bati no vidro da recepção. Fui atendida por um homem uniformizado, que certamente fazia parte da portaria.
- Senhor, poderia por favor, me emprestar um telefone? Sou Sabrina Rockfeller, filha de J.R, da J.R Recording. Perdi meu celular... E preciso ligar para o meu pai. Prometo lhe recompensar financeiramente pelo favor prestado.
- Não precisa recompensa, senhorita Rockfeller. É um prazer ajudá-la. – Ele abriu a porta, onde dei um passo para dentro, tentando não molhar todo o lugar.
Me ofereceu um telefone, de onde liguei para casa. Min-Ji atendeu:
- Min... Sou eu. Poderia mandar o motorista vir me buscar aqui no Condomínio de Noriah Norte?
- O que faz aí, menina?
- Min, tem que ser rápido... Eu tenho exatamente vinte minutos para chegar. – Olhei no relógio digital pendurado na parede.
- Estou mandando o motorista, Sabrina... Agora mesmo.
Desliguei o telefone e fiquei esperando, pelo lado de dentro da guarita.
Não levou dez minutos para o motorista chegar. Esperei que talvez Min pudesse estar com ele, mas não. Estava sozinho.
Entrei no carro e de alguma forma me senti feliz por vê-lo:
- Seja bem-vinda, senhorita Sabrina.
- Obrigada! – Sorri, puxando a porta e sentindo o ar condicionado na temperatura ideal me esperando.
Enquanto nos encaminhávamos para a mansão Rockfeller, meu coração batia descompassadamente. Eu temia o que aconteceria em seguida, em especial a atitude de meu pai. Não só me condenaria por ter saído da igreja e desaparecido sem dar satisfação, mas também insistiria para que eu voltasse atrás na decisão de não casar com Colin. Sem contar o fato de ter que encarar Mariane.
Assim que o carro entrou no portão principal da mansão, a chuva já mais fraca, senti meu corpo trêmulo. Mas respirei fundo. Sabia que precisava ser forte e enfrentar tudo firmemente. Eu não era culpada... Eu fui a vítima.
Desci correndo do automóvel quando ele estacionou na frente da porta principal, não querendo ir até a garagem, encurtando o caminho.
Assim que passei pela porta, com a cabeça baixa fugindo da chuva, dei de cara com meu pai sentado no sofá da sala de estar, a xícara de café preto do seu lado.
A água escorria do meu corpo, fazendo uma poça no piso claro, quase um espelho, que fazia eu ver meu próprio reflexo. Os sofás gigantescos em tom bege escuro me faziam ter medo de sentar, levando em conta o estado que me encontrava.
O pé direito de nossa casa era altíssimo. Aquela sala era o maior cômodo da residência e ficava toda voltada para o lado direito, onde havia uma parede que comportava uma televisão com tamanho um pouco menor que uma tela de cinema e abaixo dela uma lareira que ocupava toda a extensão da parede, de uma extremidade a outra.
À esquerda, uma pequena ilha com cadeiras confortáveis e um espaço para uma breve refeição quando estivéssemos com alguma visita mais íntima.
À frente se avistava a parede totalmente de vidro, com uma porta no mesmo material, quase invisível, de onde se avistava uma piscina azul límpida e aquecida, com coqueiros enfileirados milimetricamente e luzes automáticas. Naquele momento, elas estavam acesas, pois por causa da chuva, o dia estava nublado e escuro.
Por um breve momento, senti que tudo aquilo era inútil.
Meu pai olhou no relógio:
- Cinco minutos adiantada.
- Sim...
Minhas mãos estavam trêmulas. Pus elas no bolso da jaqueta, para que meu pai não visse meu nervosismo. Toquei o papel dentro dele, retirando-o, já me dando conta do que era.
Lá estava o cupom fiscal... Contendo a compra de preservativos, cerveja, tequila, chocolates... E o meu número anotado.
- Que porra! Eu não acredito! – Falei, incrédula.