Capítulo 14
2471palavras
2022-12-11 07:22
- Eu... Li a respeito. – Menti.
Ele suspirou e me pôs de encontro ao peitoril de ferro, virada para ele, cercando-me com seus braços:
- Qual cantor não sonha em ser famoso e ganhar dinheiro com sua música, não é mesmo?

- Você compõe? – Perguntei, enlaçando seu pescoço com meus braços, sentindo-me protegida ali, junto dele, como se nada no mundo importasse além de nós dois e as coisas que confessávamos um ao outro naquele momento.
- Sim... Já saiu alguma coisa da minha mente enlouquecida e convencida. – Recebi um sorriso mais tranquilo e menos tenso.
- E já mostrou para alguém? Tocou alguma vez?
- Ninguém quer ouvir minhas músicas no Cálice Efervescente. Querem cover.
- Já tentou?
- Algumas poucas vezes... Não foi bem aceito.

- Por quê?
- Talvez a letra fosse romântica demais, embora o ritmo não.
- Quem era sua inspiração, “el cantante”? – Não consegui deixar de perguntar, curiosa e ao mesmo tempo sentindo medo da resposta.
Ele gargalhou, elevando a cabeça divertidamente:

- Ciúme, garotinha?
- Acha que já devo confessar que sou ciumenta?
- Acha que já devo confessar que gosto de me sentir sua propriedade?
- Hum, talvez possamos nos dar bem, “el cantante”.
- Já nos demos bem na cama, meu amor. Isso é o mais importante. E quer saber? Eu poderia foder você a minha vida inteira que não me interessaria em fazer isso com outra pessoa.
Olhei nos seus olhos e dei um beijo nos seus lábios:
- Talvez nosso final de semana seja inspirador para uma música. E com ela você vai estourar como um dos melhores cantores de Noriah Norte. Já consigo ver a placa gigantesca com foto nos outdoors em todo o país: “El cantante e seu novo single, já disponível em todas as mídias digitais.”
- “El cantante”? Não... Prefiro não partilhar com o mundo o nosso segredinho.
- Quero que você consiga tudo que deseja, para poder reaver a guarda do seu filho, Charles. – Falei seriamente.
- E eu espero que você supere a sacanagem que fizeram com você, garotinha. E que possa dar o troco a altura futuramente.
- Não sei se sou uma mulher vingativa.
- Quando se tornar uma mulher, será. Por enquanto... Bem, por enquanto você é só a minha garotinha.
- Quem dizer que não me acha mulher o suficiente, Charles? – Tentei empurrá-lo, sendo agarrada ainda mais por ele, impedindo nossa distância.
- Sim, mulher suficiente para mim, Sabrina. Mas seu mundinho ainda é cor de rosa. Você tem tanto a aprender, meu bebê... E isso a fará amadurecer.
- O que fiz de errado para você pensar isso de mim?
- Não entende que não fez nada de errado? Você só tem dezoito anos, meu amor. E nessa idade a gente faz muitas “porras”.
- Me parece que você curte as porras que eu faço. Não o vi reclamando... De nada.
- Curto... Muitíssimo. – Ele puxou com uma mão a toalha branca que me cobria, deixando-me nua, o sol batendo quente na minha pele sem protetor.
- Eu estou nua, seu pervertido... E na rua. Qualquer um pode me ver...
- Não se preocupe... Não sou tão famoso ainda, então os paparazzi ainda não me perseguem... – Desceu os lábios pelo meu pescoço, lambendo com a língua quente a pele levemente dolorida.
Senti minha intimidade umedecer e fechei os olhos, puxando-o para mais perto, desvencilhando-o da jaqueta de couro preta. Toquei seu membro, sentindo a protuberância já aparente sob o jeans pesado e grosso.
- Vou fodê-la aqui, minha garotinha... Os pássaros morrerão de inveja de mim.
Respirei fundo e tentei me conter:
- Charles... Por favor, aqui não... Eu... Preciso comer.
Ele me afastou, abaixando-se e pegando a toalha caída no chão, me cobrindo novamente:
- Por que não me disse que estava com fome, garotinha?
- Eu estou... – Falei, incerta se realmente não aguentava esperar um pouco mais.
- Entre... Não quero que os pássaros a vejam nua. Você é só minha. – Ele disse seriamente, me puxando para o dormitório e fechando o vidro da porta.
Comecei a rir e ele me encarou:
- Adoro a forma como você ri.
- Estridente e irritante?
- Sincera.
Ele pegou a chave da moto novamente e disse:
- Vou buscar roupas e comida. Não posso ficar com você nua aqui... Corre o risco de eu quere fodê-la o tempo todo e sei que você não aguentaria.
- Não subestime “a sua garotinha”.
- Você é muito provocante, Sabrina.
Sorri e voltei para debaixo dos lençóis, jogando a toalha na direção dele:
- Vou esperá-lo bem aqui. Portanto, não demore. Afinal, é tempo que perde de “me foder”, “el cantante”.
- Estou indo me tele transportar. – Falou, piscando um dos olhos verdes e saindo, fechando a porta em seguida.
Olhei para o lugar nada familiar a minha volta e sem ele parecia não ter graça alguma. Deus, tudo parecia uma loucura. Desde o fato de Mariane ter dormido com Colin até eu ir parar numa casa no meio do nada com Charles.
Mas eu precisava dar um jeito de comunicar meus pais que me encontrava bem, antes que eles pusessem a polícia de Noriah Norte inteira atrás de mim. Esperaria Charles chegar e pediria o celular dele emprestado. Ou não... Pois poderiam rastrear e me encontrar naquela casa. Sem contar o fato de buscarem informações sobre o homem que estava comigo, desta forma sabendo quem ele era e o afastando completamente de mim.
E eu não queria que afastassem Charles de mim? O que isso causaria na minha vida?
Meu coração acelerou, não precisando que eu pensasse na resposta. Eu já sabia: estava completamente apaixonada pelo homem que conheci há pouco mais de 24 horas.
A vida de Charles era complicada... Tanto quanto nossa diferença de idade. Eu não visualizava futuramente uma aprovação dos meus pais para aquele relacionamento. E isso não se dava só pelo fato de ele ser onze anos mais velho do que eu. Mas por ele ter entrado na minha vida exatamente quanto saí da de Colin Monaghan, o “grande amor” da minha família, a começar por minha irmã mais velha.
Imaginei que se Mariane casasse com Colin, eu teria menos problemas com meu pai, que focaria na relação dos dois. Creio que Jordan Rockfeller pouco se importasse com o que houve na noite passada. Desde que uma das filhas se casasse com o herdeiro Monaghan, tudo ficaria bem.
Deus, eu não queria pensar! Aquilo me dava dor de cabeça. Segui deitada e senti sono. E não queria dormir. Minha barriga roncou de fome.
Levantei e me enrolei num dos lençóis brancos que estavam jogados no chão, vestígio da noite que passou. Peguei o vestido de noiva rasgado e desci a escadaria que dava para o andar térreo.
Agora, a observar a casa melhor, percebia o quanto ela era aconchegante. Parecia ter sido feita para receber um cantor maduro sem fama e uma garota traída tentando se encontrar na vida.
Usei uma outra porta para acessar a área externa. Abri com a chave que estava na fechadura e deparei-me com degraus esculpidos na própria pedra que abrigava a casa sobre ela, dando diretamente na beira do mar.
O sol estava quente e convidativo. Embora o mar ali fosse um pouco violento, com ondas altas e fortes, a areia era fofa, grossa e quente.
Segui andando, com os pés afundando, tentando encontrar não sei exatamente o que. Ao longe consegui avistar uma casa, imponente, sobre um morro cercado de árvores.
Há quilômetros de distância talvez outra residência, a julgar pelo minúsculo quadrado branco coberto de uma luz brilhante que parecia ser um telhado. O fato é que o lugar era deserto e perfeito. Eu compraria uma propriedade naquela praia sem pensar duas vezes. Muita privacidade e sigilo sem precisar pagar muito por isso.
Quando avistei a casa que estávamos hospedados já mais distante, levantei o vestido na direção dela, deixando o vento balançá-lo com força, como que querendo arrancar das minhas mãos.
- Soltá-lo seria uma afronta contra a mãe natureza, acredite – falei para mim mesma, em voz alta – Mas gostaria muito de me livrar desta coisa.
Meus olhos ofuscaram com a claridade do sol. E eu gargalhei, feliz. Estava livre de Colin Monaghan. Deus me abriu os olhos na última hora e eu precisava ser grata. Estive a um passo de casar com um canalha, capaz de dormir com minha própria irmã. Um homem que sempre pensou em nada além de si mesmo, que não me beijava pela manhã, que não fazia sexo se não fosse como ele queria, sempre exigindo uma cama confortável e com roupas de cama de qualidade e quatro paredes. O homem que nas festas com empresários renomados me exibia orgulhoso, mas dispensava mais tempo a eles do que a mim. O homem que tinha transtorno obsessivo compulsivo por limpeza e exigia que eu tomasse banho antes e depois da transa. Ele só me deixava chupá-lo com preservativo e quando fazia sexo oral em mim era tão rápido que mal dava para sentir. E deixava claro não gostar de fazer e sim de receber. O homem que mal se importou em saber onde seria nossa lua de mel. O homem que fez mais exigência na casa onde moraríamos do que eu. O homem que tinha um closet maior que o da esposa e ostentava sapatos caros e não dava gorjetas, por dizer que as pessoas não faziam nada mais que a obrigação em nos servir. O homem que se preocupava muito mais com o que meu pai pensava a respeito das coisas do que eu, sua noiva.
Como não percebi aquilo tudo antes? Como me deixei enganar, com as afirmações diárias de todos, inclusive da minha irmã, de que eu era uma garota de sorte?
Maldito dia que conheci Colin Monaghan. E não, eu não me vingaria... Simplesmente porque ele não merecia.
Ele e Mariane eram da mesma “laia”. Nenhum merecia nada... Absolutamente nada de mim. Somente o desprezo.
A intenção era jogar a “porra” (como dizia o sensual “el cantante” em seu “vasto” vocabulário), do vestido ao mar. Mas não era nada ecológico fazer aquilo. Então segui meu caminho de volta, sentindo o sol exatamente sobre a minha cabeça, imaginando ser entre meio-dia e uma hora.
Quando voltei a subir para a residência, quase escalando a rocha enorme na qual ela havia sido construída, avistei uma enorme lixeira adiante. Sorri com meu achado e fui até lá, abrindo a porta pesada em metal. Não havia nada ali... Até então. Agora ela abrigava um vestido de noiva rasgado que havia custado quase o preço de um carro. Quanto desperdício!
Assim que abri a porta e entrei na casa novamente, encontrei Charles saindo pela outra.
O vento fez a porta pela qual entrei bater e ele voltou, os olhos preocupados:
- Sabrina?
- Oi... – Acenei, sorrindo, ainda enrolada no lençol.
Ele quase correu na minha direção, apertando-me contra seu corpo. Fiquei um pouco confusa, mas logo retribuí o abraço, sentindo o coração dele bater forte.
- Está... Tudo certo, “el cantante”?
- Eu... Achei que você tivesse ido embora. – Ele disse, ainda sem se afastar, descansando o queixo sobre a minha cabeça.
- Eu acho que não há como sair daqui, não é mesmo? Ainda mais... Usando só um lençol ou uma toalha no corpo. – Comecei a rir.
Ele afastou meu rosto e segurou no queixo, encarando-me:
- Nunca senti tanto medo...
Detive firmemente o olhar no dele, sem dizer nada, sentindo o ar faltar nos meus pulmões e o coração acelerar. Umedeci meus lábios, entreabrindo-os em seguida e piscando os olhos repetidas vezes, tentando conter as palavras que queriam sair da minha boca.
- Mas você está aqui, minha garotinha.
- Sempre vou estar... – Me ouvi dizendo.
- Promete, Sabrina?
- Eu prometo. Não quero sair dos seus braços, “el cantante”... Nunca mais.
Os lábios dele se apossaram dos meus, envolventes, desejosos, esfomeados. A língua brincava com a minha e as mãos passeavam pelo meu corpo inteiro, o lençol novamente sendo jogado no chão, pela milésima vez.
Não quero acordar deste sonho! Nunca mais. Eu estou completamente louca por você, Charles!
Quando ele me soltou, o ar realmente faltava nos meus pulmões. Nos encaramos, da forma que só nossos olhos se encontravam, já tão íntimos como se estivessem um refletido no outro a vida inteira.
Havia momentos que não precisavam de palavras. E aquele certamente era um deles. Nossos olhares se entendiam, nossos corpos se completavam e nada mais era necessário. A não ser comida... Pois meu estômago gritou por alimento, fazendo Charles me soltar.
- Alguém está com fome aqui. – Ele observou, enquanto ia até a cozinha, conjugada com a sala, tendo uma enorme ilha em mármore branco, com os vidros todos nos brindando com o mar visto de todos os ângulos possíveis.
Vi as sacolas sobre a superfície em mármore e comecei a abri-las:
- Você foi rápido. – Observei.
- Eu? Levei mais de uma hora, garotinha.
- Uma hora? Eu... Nem vi o tempo passar.
- Onde você estava?
- Dando uma volta pela praia.
- Nua?
- Não... Se não se deu em conta, eu usava um lençol. – Apontei para o pano caído no chão da sala.
Olhei a bermuda jeans e camiseta branca. Junto havia uma calcinha rendada vermelha, minúscula e um biquíni vermelho, simples. Eu não sabia o que dizer daquelas roupas compradas em bazar de supermercado.
- Não encontrei uma Gucci & Gabbana por aqui, senhorita. – Ele curvou-se, fazendo uma reverência.
Comecei a rir com a troca dos nomes das grifes feita por ele:
- Relaxa, Charles. Está tudo bem... Exceto esta calcinha.
- Qual o problema com ela?
- Exceto o fato de ficar enfiada na bunda... Nenhum outro.
- Gosto dela enfiada na sua bunda.
- Sim... Provavelmente. Mas eu não gosto. Acho que vou comprar uma cueca que fique enfiada na sua também. – Pisquei, enquanto pegava uma maçã na outra sacola, dando uma mordida.
- Levei em conta o fato que vai ficar 90% do tempo nua, garotinha.
Comecei a colocar a roupa e disse:
- Imaginei que traria várias sacolas, “el cantante”. Mas a contar pela quantidade de roupas, nossa lua de mel vai durar... Vinte e quatro horas?
- Não mesmo... Eu trouxe a salvação para nossa relação. – Ele abriu outra sacola e retirou duas escovas de dentes.
- Ok, me rendo. Agora terei que ficar para sempre, usando uma muda de roupas, mas sendo dona da minha própria escova de dentes. Já posso até beijá-lo pela manhã.
Coloquei creme dental na escova e comecei a escovar com força. Nunca foi tão bom escovar os dentes na vida.