Capítulo 112
2048palavras
2022-12-29 23:56
Depois de uma semana de tratativas, Stepjan Beaumont finalmente voltaria para Avalon, onde seria julgado por sua própria irmã. Enquanto isso Emy finalmente foi coroada a primeira rainha de Avalon. Eu soube que foi uma cerimônia simples, mas com a presença de todas as pessoas que quiseram participar daquele momento, daquela nova era que iniciava no reino. E agora ela tinha poder para fazer o julgamento do irmão.
Antes da partida de Stepjan, eu fiz questão de vê-lo quando ele deixasse a penitenciária de segurança máxima de Alpemburg. Estevan e Sean me acompanharam. Ele viajaria no mesmo jato particular que traria Isabella.
Ver Stepjan Beaumont com algemas foi uma das melhores sensações da minha vida. E acho que não era tanto pelo que ele fez comigo, pois ele simplesmente me ignorou a vida inteira. Mas era como se eu estivesse vingando minha mãe. Durante dezessete anos ele me fez sentir culpada pela morte dela, como se o fato de eu ter nascido fosse a pior coisa do mundo. Quando no fim, ela morreu tentando lhe dar um filho, por medo de ser punida.
Ele pousou os profundos olhos azuis da cor do mar nos meus. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se defendeu:
- Não lhe fiz nenhum mal, minha filha. Só pedi ajuda.
- Eu não sou sua filha. – me ouvi dizendo.
Ele me olhou confuso e tentou ferir-me com suas palavras:
- Por mais que você me odeie, tem o meu sangue correndo dentro de você. Sempre foi e sempre será uma Beaumont, por mais que renegue isso.
Eu ri debochadamente:
- Seu sangue não corre dentro de mim. Como eu expliquei, não sou sua filha.
Se eu contaria toda a verdade? Claro que não. Eu havia feito um acordo com Emy e cumpriria... Pelo menos a maior parte dele. Por Isabella ter sido resgatada e vivido dias plenos e confortáveis no castelo de Avalon depois de atentar contra minha própria vida, eu mandaria à rainha um Stepjan confuso, sem saber completamente a verdade, mas com a mente perturbada tentando entender se foi ou não enganado. E só eu poderia lhe dar a notícia de que ele não era meu pai. Ninguém mais tinha este direito.
Enquanto ele me fitava sendo conduzido pelos guardas, Sean passou os braços sobre meus ombros, me trazendo para perto do corpo dele. E sim, vimos um Stepjan olhando para trás, talvez certo de que havia sido traído por Pauline Beaumont.
Eu sorri até ele desaparecer dos meus olhos.
- Podemos ir? – perguntou Sean. – Acho que você já falou mais do que deveria.
- Claro que não. Agora vou esperar por Isabella.
Estevan riu:
- Eu já imaginava isso...
- Acha que vou perder a chegada dela?
- De jeito nenhum, meu amor.
Uma hora depois os guardas traziam Isabella da mesma forma que levaram Stepjan: algemada. Estávamos na entrada do presídio de Alpemburg. Assim que ela me viu, virou os olhos. Mas eu sabia que ela teria que passar por mim. E quando isso aconteceu, os guardas a pararam. Então ela teve que me encarar. O que eu via era medo nos olhos dela. E foi exatamente isso que senti quando ela atirou em mim... E quando sofri pensando que uma vida inocente havia sido tirada em troca da minha.
Então eu disse:
- Bem vinda a Alpemburg, Isabella.
- Como você pode ser tão vingativa?
- Da mesma forma que você pôde ser tão cruel. Você desejou a minha morte. E eu só desejo justiça.
- Isso não é justo. Você está viva... Alexander está vivo. – ela tentou se defender.
- Não é justo você viver feliz no castelo de Avalon como se nada tivesse acontecido. Será julgada de forma justa, não se preocupe.
- Qual meu crime mesmo? – ela perguntou ironicamente. – Afinal, você está viva.
- Seu crime é tentativa de assassinato contra a então princesa de Avalon. – disse Estevan.
- Mas ela não é a princesa de Avalon. Ela sequer é uma Beaumont. – ela contestou.
- Em poucos dias ela será a rainha de Alpemburg. E sim, ela era a princesa no dia do baile. E eu poderia ter perdido a mulher da minha vida. E Alexander morreria sem conhecer o filho. E se depender de mim, príncipe e em breve rei de Avalon, você será condenada por seu crime.
- Vocês não tem este direito...
- Temos sim. – eu disse encerrando a conversa.
Os guardas a levaram. Eu não a julgaria e aceitaria o que fosse decidido, embora esperasse que ela fosse condenada.
E como em Alpemburg tudo funcionava perfeitamente bem, inclusive a lei, em quatro dias Isabella foi julgada pela corte, que também tinha alguns membros populares a fim de que fosse justo. E foi condenada a três anos de prisão por ter tentado matar não só a princesa de Avalon e futura rainha de Alpemburg, mas por ter de fato atirado em uma pessoa que ficou gravemente ferida.
Stepjan, por sua vez, foi julgado e condenado a prisão perpétua dentro do castelo de Avalon, onde foi criado um espaço especialmente para ele, vigiado 24 horas por dia, afinal, o ex rei sabia muito bem ser persuasivo e fugir. Eu não tinha certeza se Emy havia mandado fazer a coroa de chifres, mas poderia apostar que sim.
Nós duas não éramos parentes, mas sim, éramos muito parecidas em nossas formas de agir.
No meio tempo entre os preparativos para o casamento e a coroação de Estevan, eu fiz dezoito anos.
Acordei naquela manhã com um pequeno bolo colorido ao meu lado na cama e um bilhete de Estevan:
“Que seja só o início da comemoração da sua vida junto da minha. Que seu dia seja tão doce quanto este bolo.
Não vejo a hora de tê-la na minha cama todos os dias.
P.S. Não aguento mais cumprir com minha palavra.
Amo você.
Estevan D.”
Eu ri. O D era de D’Auvergne, mas também poderia ser de Delacroix. Eu também não aguentava mais cumprir nossa promessa de não dormirmos juntos. Procurávamos não nos encontrarmos frequentemente, muito menos sozinhos, ou nosso acordo com Sean iria por água abaixo. Talvez eu pedisse de presente a Estevan sua presença na minha cama aquela noite.
Passei o dedo no bolo e o glacê realmente estava doce e perfeito. Tomei um longo banho e depois coloquei uma roupa discreta para meu dia. Claro que foi um vestido, pois eu esperava encontrar meu príncipe, quase rei, num canto qualquer daquele enorme castelo. Minha chama começava a ficar incontrolável e eu precisava apagá-la. E só ele conseguia fazer isso.
Mas infelizmente foi um dia de compromissos com a imprensa. Fui oficialmente apresentada à Alpemburg. Mesmo juntos, quase não conseguíamos nos falar. E Estevan era tão popular que mais parecia um ídolo adolescente das meninas. Até autógrafos ele dava. Embora bem aceita por todos, eu sentia um pouco de falta dele... E se dissesse que não tinha uma pontinha de ciúme de toda aquela gente, estaria mentindo.
Ao final do dia, quando entramos no carro, eu estava cansada. Estevan me puxou para perto dele e me aconcheguei no seu peito.
- Desculpe por ter feito você ficar tanto tempo nisso. Quase o dia inteiro.
- Está tudo bem. Só não gostei da parte das garotas. – brinquei.
Ele riu:
- Faz bem pouco tempo que este rostinho é revelado a Alpemburg. – ele ironizou. - Então as pessoas estão me conhecendo aos poucos. Eu também não aparecia na mídia. Isso era função do meu irmão, que assumiu tudo para que eu pudesse tentar levar uma vida normal.
- Melhor isso do que ficar trancado num castelo, não é mesmo?
- Certo que sim.
- E eu já tenho dezoito anos.
- E em um mês será Satini D’Auvergne Bretonne.
- A mulher mais feliz do mundo. – lembrei.
- O que deseja fazer agora que tem 18?
- Beber uma taça de vinho? – ri.
Em alguns minutos adentramos nos portões do castelo de Alpemburg. Quando descemos, ainda no estacionamento, Estevan me pegou pela mão e me levou ao lugar onde estavam seus carros. Paramos na moto preta. Ele pegou minha cintura e me colocou sentada nela. Olhei-o sedutoramente, já sabendo o que me esperava. E eu estava louca por aquele momento. Preparada desde que abri meus olhos naquela manhã. Seus braços me envolveram e ele se colocou entre minhas pernas, que enlacei nele. Seus lábios encontraram os meus num beijo quente e profundo, cheio de desejo e luxúria. Há tempos que não trocávamos um beijo tão intenso. Quando quase não tínhamos mais fôlego, encerramos. Eu o abracei com força:
- Vamos testar esta moto?
- Está difícil cumprir minha palavra. – ele admitiu.
- Eu sei...
- E não... Não vamos testar a moto. Há câmeras de segurança em vários locais por aqui. – ele disse apontando uma. – E não quero ninguém vendo você nua.
- Porra, eu coloquei até um vestido. – falei entediada.
Ele riu e me beijou novamente. Peguei seu rosto entre meus dedos, sentindo a pele quente e macia. Coloquei seu lábio entre meus dentes, sugando lentamente.
- Você sabe o quanto isso me enlouquece, não é mesmo? – ele falou sem tirar a boca da minha.
- Quero você louco...
- Hoje é o seu dia... Não o meu.
- Todos os dias são de Satini e Estevan.
Ele me desceu e disse:
- Vamos. Teremos um jantar especial para a futura rainha hoje.
- Por que não me falou antes?
- Porque minha mãe queria fazer uma surpresa.
- Deise é tão perfeita. E você estragou a surpresa.
- Concordo plenamente... Com as duas coisas.
Me arrumei e antes de descer para o jantar sentei na cama e pensei sobre meu vestido de noiva. Tinha um mês para o casamento e eu já havia visitado todos os lugares de Alpemburg, visto alguns de alta costura na internet e nada me agradou. Inclusive alguns estilistas haviam pedido pessoalmente ou demonstrado interesse na mídia em confeccionar meu vestido. Mas eu ainda não havia encontrado o ideal.
Peguei uma folha branca e um lápis e comecei a rabiscar como eu imaginava o vestido dos sonhos para o meu grande dia. Quando vi o esboço pronto fiquei surpresa comigo mesma. Acho que eu tinha mais facilidade do que imaginava para desenhar. E modéstia parte, o modelo estava perfeito. Eu já imaginava o tecido, como se conseguisse senti-lo entre meus dedos.
Alguém bateu na porta. Fui abrir e era meu pai. Ele entrou:
- Você está linda.
- Obrigada, pai. Mas como você e Estevan me elogiam todos os dias, não posso dar muita credibilidade a vocês. – eu ri.
- Acha mesmo que mentiríamos.
- Acho que sim. – brinquei.
- Vamos descer?
- Sim...
Peguei a folha e estava dobrando para guardar quando Sean a retirou das minhas mãos:
- O que é isso?
- Uma bobagem...
- Uma bobagem? – ele levantou a folha. – Um lindo vestido. Não me diga que foi você que desenhou.
- Foi.
- Não sei se me admiro mais o modelo do vestido ou a precisão do desenho. Já havia feito isso antes?
- Não... Foi a primeira vez.
- Você é boa nisso.
Olhei o desenho nas mãos dele. Realmente ficou bom. Coloquei a folha sobre a mesa e disse:
- Vamos descer. E hoje vou beber. Já tenho dezoito anos.
Ele riu e me abraçou:
- Feliz aniversário, minha menina. Parece que foi ontem que você apagou a velinha de 1 ano. Agora está fazendo 18 e em dias irá casar.
- E quando fiz 17 jamais imaginei que um ano depois estaria comemorando ao lado do meu pai... Com tanto amor a minha volta.
- Nunca lhe faltará amor, minha querida.
- Minha nova vida em tão pouco tempo consegue suprir a falta de amor de 17 anos. – observei. – Já comentei que me acho uma mulher de sorte?
- Já ouvi isso algumas vezes.
Ele me ofereceu o braço, que aceitei e descemos até a sala onde o jantar estava servido.
Quando cheguei à mesa, meu coração disparou ao ver quem estava ali. Uma lágrima teimosa caiu pelo meu rosto antes que eu quase corresse, emocionada.