Capítulo 105
1588palavras
2022-12-29 23:49
Assim que entramos na cabine do banheiro, ele trancou a porta do pequeno local. Nos olhos por um tempo, perdidos nos nossos sentimentos um pelo outro. Como eu podia amar tanto aquele homem? Se não fosse ao lado dele, jamais eu seria feliz. E o destino quis que ele fosse meu, de uma maneira ou de outra. Ele acariciou meu rosto, fazendo meu coração bater intensamente.
- Eu vou querer você até o fim dos meus dias.
Eu o abracei:
- Acho que estamos a um breve passo de ficarmos finalmente juntos.
Seus lábios encontraram os meus, como um fósforo que me acendia completamente. Sua língua quente explorava cada canto da minha boca e minhas mãos alcançaram seu abdômen definido e quente, subindo para seu peito, por dentro da camisa. Puxei seu lábio inferior com meus dentes, fazendo-o gemer. Suas mãos desabotoaram minha calça e enquanto ele descia a mão dentro dela ouvimos uma batida na porta. Arrumei minha roupa, sentindo minha calcinha completamente molhada. Claro que imaginávamos que era meu pai.
E agora, como abrir a porta e manter a calma, fingindo que estava tudo bem? Suspirei e abri, corajosamente. E lá estava Sean, me fitando interrogativamente.
- Preciso usar o banheiro. – ele disse.
- Tudo... Bem.
Saí e alguns segundos depois, Estevan, olhando para baixo.
- Achei que o banheiro era para uso individual. – observou Sean.
Não dissemos nada. Voltamos para nossos lugares enquanto ele entrou e trancou a porta por dentro. Antes que pudéssemos falar sobre o acontecido, a aeromoça trouxe nossa refeição. E que refeição! Quando vi aquilo percebi que estava quase morrendo de fome. Comece a comer desesperadamente.
Sean parou ao nosso lado e disse:
- Quando vocês vão começar a se comportar?
Parei de mastigar e olhei para ele. Mas acho que eu não conseguia fingir arrependimento.
- Eu sou a culpada. – falei com a boca cheia.
- Não, eu sou o culpado. – afirmou Estevan.
- Não se trata de culpa... Trata-se de respeito e responsabilidade. Vocês não podem ser assim sempre.
- Tem razão, Sean. Desculpe. – disse Estevan.
- Há quanto tempo você não se alimenta, minha filha?
- Desde que o dia amanheceu. – confessei. – Não me senti segura em comer dentro do castelo.
- Você não pode estar falando sério.
- Mas estou. – falei voltando a comer.
- Ainda assim preferiu Estevan do que a comida?
Parei de mastigar novamente. Porra, o que ele queria de mim? Eu não poderia fingir arrependimento se não existia.
- Ele disse que eu seria a sobremesa. – falei sem me importar.
- Desde quando se come a sobremesa antes da comida? – ele perguntou seriamente.
Eu comecei a rir. Foi inevitável. Ele tentava nos fazer sentir culpados, mas não estava dando certo comigo.
- Relaxa, Sean... Estaremos casados em breve. – tentou Estevan.
- Me preocupa o fato de vocês fazerem isso o tempo inteiro e não se cuidarem. E Estevan me prometeu que dormiriam juntos no castelo e não aconteceria mais nada até o casamento.
- Com que propósito isso? – perguntei seriamente.
- Vou cumprir minha promessa, Sean. Pode confiar em mim. – disse Estevan encerrando a conversa.
Sean me encarou e saiu. Olhei para Estevan:
- Sinceramente, eu não entendo ele.
- Nem eu. Mas vou fazer o que ele está pedindo.
- Precisamos mesmo?
Ele sorriu e alisou meu rosto:
- Prometo realizar seu desejo de transar no avião... Mas me lembre de não trazer seu pai junto.
- Ainda não acho que fizemos nada de errado.
- Quero que amanhã mesmo você procure um médico e comece a tomar pílulas.
- Ok, farei isso.
Voltei a comer, pois só aquilo me importava naquele momento. E fiquei absolutamente frustrada em ter que dormir sentindo o tesão que eu sentia ao lado de Estevan e não poder fazer nada. Quando aquela tortura acabaria?
Para minha surpresa Estevan pediu todo o cardápio, mas não comeu quase nada.
- Acha que seus pais vão gostar de mim? – eu perguntei.
- Minha mãe gostou de você no exato momento que a viu, descendo as escadas. – ele sorriu, limpando a minha boca.
- Mas eu digo... Como sua esposa.
- Há alguém que em sã consciência não se apaixonaria por Satini Beaumont?
- Há...
- Hum vejamos... Eu só sei dos apaixonados. – ele riu.
- Isabella... Ela tentou em matar.
- Isso a afetou muito, não é?
- Sim... Não consigo aceitar ela ter saído impune.
- Não há o que possamos fazer. Estamos fora do nosso reino, entende?
- Mas era o “meu reino” até poucas horas atrás. E ainda assim ela tentou me matar e ganhou um bônus: morar no castelo de Avalon.
- Tente não trazer mágoas. Lembra que eu disse que você tinha tempo para resolver tudo e se despedir? Não queria que você deixasse nada pendente.
- Não tive tempo de me despedir de Léia.
- Você pode ligar.
- Não é a mesma coisa.
- Podemos convidá-la para visitar Alpemburg, se você quiser.
- Podemos mesmo?
- Claro... Você é dona da sua vida a partir de agora, Satini. Não há nada que não possa fazer. Não é mais uma prisioneira dentro da sua própria casa.
- E tem Mia... Nem falei mais com ela. Talvez ela tivesse me perdoado agora que Alexander não morreu.
- Mia... Esta garota me deixa um pouco desconfiado.
- Por quê?
- Você sempre disse que era sua melhor amiga, mas nunca a vi com você.
- Ela sempre estava ocupada... E nossos encontros não foram expostos, não é mesmo? Passamos o tempo nós dois...
- Ainda assim? Quando exatamente ela esteve com você quando precisou?
Eu fiquei pensativa. Sim, poucas vezes. Até mesmo quando saímos pela primeira vez, ela me deixou sozinha. Na noite que conheci Estevan, ela não estava comigo. Alexander estaria se eu não tivesse pago a garota para seduzi-lo.
- Acha que ela pode nunca ter se importado comigo de fato?
- Sinceramente, acho.
- Falar com ela antes de partir, ela sabendo que Alexander não estava morto, seria como mendigar a amizade dela. – falei mais para mim mesma.
- Amizade não se mendiga... Nunca. – ele alisou meu rosto. – Você não precisa disto. Há pessoas que a amam sem que você tenha que implorar por isso.
- Talvez ela nunca tenha sido minha amiga de verdade. Fui a falta de opção dela...
- A falta de opção dela... Mas a minha escolha.
- Não vou mais voltar a este assunto. Enterrarei Mia junto com Isabella.
- Perfeito. Não quero que carregue tristezas de Avalon consigo.
- O que eu trago de bom de Avalon está comigo: você e meu pai.
- Satisfeitos, Altezas? Posso retirar os pratos? – perguntou a aeromoça.
- Por favor... – disse Estevan.
- Aceitam sobremesa?
- Não. – gritou Sean sem virar para nós.
Começamos a gargalhar e ele também não se aguentou. A aeromoça ficou sem entender, mas deu um sorriso simpático.
Acordei sentindo os braços de Estevan me envolvendo. Dormi no peito dele. Mal podia esperar o momento de acordar com ele diariamente. Olhei pelo vidro e começava a ver os primeiros raios de sol no céu.
Soltei as mãos dele lentamente, para não acordá-lo. Levantei e fui até Sean. Ele também olhava para o dia raiando. Sentei ao lado dele e o abracei.
- Bom dia, meu raio de sol. – ele disse.
- Bom dia, pai.
- Sabia que sempre sonhei em poder ver você acordar? E colocá-la para dormir? Às vezes eu sonhava com você na minha cama e eu contando uma história até que você adormecesse.
- Nunca ouvi uma história para dormir. – confessei.
- Eu vou contar sua primeira história para dormir... Como devia ter sido há quase 17 anos atrás...
- E eu vou adorar ter esta experiência com você.
Fiquei abraçada a ele enquanto Sean alisava meus cabelos carinhosamente.
- Acha que os D’Auvergne Bretonne irão nos aceitar?
- Estevan que precisa aceitá-la. Ele será o rei. Estou tranquilo quanto a isso. Só tenho dúvidas do que vou fazer.
- Como assim?
- Não vou passar o dia sem fazer nada, como sendo simplesmente o pai da princesa ou rainha. Eu não conseguiria, entende?
- Acho que entendo. Também não é minha intenção deixar tudo nas mãos de Estevan. Quero fazer algo.
- Acho que isso é da nossa natureza. – ele beijou minha cabeça.
- E isso é bom, pai.
- Estamos chegando. – falou Estevan vindo até nós. – Coloquem os cintos que vamos aterrissar.
Eu fiquei um pouco temerosa de dizer a ele que queria ficar um pouco com meu pai. Mas antes que eu pudesse explanar meus pensamentos, Estevan ajustou meu cinto e fechou, como se soubesse que eu não queria trocar de lugar. Olhei para ele, que me deu um beijo na testa e saiu. Sean trancou seu cinto e me olhou:
- Ainda assim não o perdoo por quase ter quebrado a promessa.
- Pai... – critiquei. – Ele é um fofo.
- Eu não acho.
Eu fingi ficar brava e ele completou:
- Mas sei que ele nunca vai deixar nada ruim lhe acontecer. Vocês serão muito felizes. E eu não tenho dúvida disso.
- Bem-vindos a Alpemburg. – ouvimos o piloto dizer pelo som do microfone vindo da cabine.
Então o avião pousou e andou na pista até parar completamente. Finalmente eu estava no lugar que seria minha casa para sempre.