Capítulo 104
1923palavras
2022-12-29 23:48
Subi correndo e ela foi se afastando, sem chegar a correr de mim. Assim que a vi, perguntei, não conseguindo evitar os gritos:
- O que você faz aqui?
- Esta não é mais a sua casa. – ela disse na defensiva, ainda longe.
- Está com medo de mim? Você não é uma lutadora rebelde da Coroa Quebrada?
Beatrice nos alcançou:
- Satini, se acalme. – ela pediu.
- Me acalmar? Esta maldita tentou atirar em mim... Atentou contra minha vida. E feriu Alexander. Um de nós poderia estar morto neste momento.
- Mas não estão. E agora tudo vai ficar bem, porque você vai embora... – ela disse debochadamente. – E Sam vai voltar a ser meu.
- Que parte de “Sam não gosta de você” não ficou clara? Eu posso ir embora e nunca mais voltar... Ele procurará outra mulher. Ainda assim não será você. Ou prefere que ele fique por pena.
- Sinceramente, pouco me importa.
- Que porra de rebelde você é? Humilha-se atrás de um homem, faz tudo por ele mesmo sabendo que ele não a quer e nunca quis nada com você.
- Satini, você não tem nada a ver com isso.
- Tenho... No momento que você tentou me matar, eu tenho sim tudo a ver com você.
- Vai mesmo querer ter esta conversa? – ela me perguntou, cruzando os braços.
- Não... Não quero mesmo... Você tem razão. Eu não quero conversar, quero acabar com a sua raça.
Fui imediatamente para cima dela, puxando seus cabelos curtos com força. Achei que ela ia brigar, mas não. Começou a gritar como uma cadela no cio e tentava se afastar. Eu ia arranhar toda a cara dela e depois jogá-la da escada. Mas antes que eu pudesse iniciar os arranhões e ir para a segunda parte, Samuel me segurava pelos braços e outro homem acolhia Isabella.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou Emy ao ouvir os gritos vindos do corredor.
- Ela me bateu, tia. – falou Isabella fingindo lágrimas de dor.
- Eu nem comecei... Não vou bater em você... Eu vou matar você, como tentou fazer comigo. A diferença é que você falhou... Eu não vou falhar.
- Satini, você não pode fazer isso. – disse Emy.
- Me largue, Samuel. – gritei enquanto ele me agarrava com força tentando me impedir.
- Satini, eu gosto muito de você, mas não quero mais que se intrometa nas questões deste castelo. Eu decido quem fica e quem não fica mais aqui dentro.
- Isso não é justo, Emy. – contestei.
- Entendo sua raiva. Mas ninguém morreu.
- Você não sabia que Alexander não estava morto até ontem.
- Já falamos sobre isso. Não quero ter que pedir para que você se retire do castelo de Avalon.
- Não é preciso, Emy. Eu mesmo vou sair. Não quero ficar no mesmo lugar desta assassina.
- Mãe, você não pode fazer isso. Não pode mandar Satini sair... Isabella tentou matá-la. – disse Sam furioso.
- Samuel, você não consegue ver as coisas direito. Eu sei o que estou fazendo. E não deixo a emoção guiar minhas ações.
- Como não, Emy? Se não deixasse as emoções lhe guiarem teria feito um julgamento justo com Isabella. Não a teria deixado sair impune.
- Ela é como uma filha para mim... – alegou Emy.
- E eu sou seu filho de verdade. – disse Samuel descendo comigo um degrau da escada.
- Aonde você vai, Samuel?
- Quanto tempo vou ter que suportar Isabella e seu ciúme doentio? Basta... Não quero mais isso. Morar no mesmo ambiente que ela seria sufocante.
- Sam, você não pode fazer isso... Eu amo você. – disse Isabella começando a chorar.
- Eu não amo você. Viva a sua vida, tente encontrar alguém... Eu não sou esta pessoa que você quer, Isabella.
- Satini também não ama você.
- Ainda assim eu aceitei... Não tentei matar Estevan, como você fez. Eu a amo... E quero que ela seja feliz, entende?
- Filho, você não pode deixar o castelo.
- Acho que posso, mãe.
- Está me pedindo para escolher entre você ou Isabella? – perguntou Emy confusa.
- Não... Estou pedindo para você escolher entre a justiça e o perdão.
Agora eu estava contida. Samuel entendia a minha raiva. Não era justo Isabella ficar ali e não ser punida depois de tudo que ela fez. Desci com ele, já mais calma. Beatrice nos acompanhou.
Quando chegamos ao hall de entrada minhas malas já estavam prontas. Sean estava esperando por mim.
- Estes gritos devem ter a ver com você... – disse Sean me olhando curioso e tranquilo, sem se mover.
- Sempre tudo tem a ver com ela. – falou Samuel rindo.
- Não consigo tolerar a injustiça. Foi por isso que lutei ao lado da Coroa Quebrada. – confessei.
- Estevan está vindo. – disse Sean. – Está pronta?
- Definitivamente sim. Não quero ficar aqui mais um minuto sequer.
- Vai mesmo embora, Sam? – perguntou Beatrice.
- Não sei... – ele confessou. – Mas viver sob o mesmo teto que ela será insuportável. Isabella é sufocante.
- Não faça nada sem pensar antes. – eu aconselhei. – Não perca tudo que lutou por uma mulher que não merece. Ela sai. Você fica.
- Eu definitivamente vou embora. – disse Beatrice.
- Como assim? – eu e Sam olhamos para ela.
- Alexander já tinha me feito a proposta de irmos para os Estados Unidos. Ele estudou um tempo lá e se adaptou bem. Disse que tem alguns conhecidos que podem nos ajudar nos início. Ele quer retomar a faculdade. Eu vou ter o bebê e depois pensarei no que fazer. Não tenho nada a perder indo com ele. Nada me segura em Avalon. Nunca foi minha intenção morar no castelo depois que tudo acabasse. Muito menos cruzar com Isabella depois de ela ter quase matado o pai do meu filho.
- Espero que vocês fiquem bem. – eu disse dando um beijo no rosto dela. – Se quiser me mandar uma foto do meu quase irmão quando nascer, vou gostar de receber. – brinquei.
- O príncipe de Alpemburg chegou, Alteza. – disse um dos guardas, curvando-se para mim.
Olhei para Samuel, que disse:
- Eu tenho certeza que não quero ver você partir.
Ele saiu sem olhar para trás. Beatrice deu um meio sorriso e também se foi. Eu poderia dizer que fiquei triste... Mas quando vi Estevan passou na mesma hora. Ele conseguia fazer meus dias nublados ficarem ensolarados e minha tristeza se transformar em alegria.
Ele olhou para as várias malas no saguão e disse:
- Não tem intenção de comprar nunca mais nada na sua vida, Satini? Está levando suas roupas desde a infância?
- Eu peguei só o necessário para sobreviver com dignidade. – brinquei.
- Não sei se tem lugar para tudo no carro... Acho que vamos ter que comprar o que der em Alpemburg... Um pouco fica.
- Vai tudo. – falei sem abrir mão das minhas coisas.
- Ok, vamos dar um jeito. – ele falou. – Acho que não temos lugar para você, Sean.
- Ou levamos as malas e ela fica. – falou Sean despreocupado ainda sentado sobre uma mala.
- Vamos todos... E as malas. – disse Estevan enquanto chamava algumas pessoas para carregarem tudo até o carro.
Saímos para a área externa, onde o carro já estava estacionado nos esperando. Realmente as malas ocuparam todo o porta-malas e algumas ficaram de fora. Estevan abriu a porta para mim e entrei no banco de trás. Ele sentou-se o meu lado. Guardei espaço para Sean, mas ele sentou-se na frente.
- Vai ficar aí, pai? – perguntei.
- Prefiro... Na verdade eu até preferia dirigir... Mas vou tentar me conter. – ele brincou.
- E o resto das minhas coisas? – perguntei.
- Pedi para trazerem num carro da rainha de Avalon. – disse Estevan.
- E seus soldados?
- Partiram hoje cedo. O restante ainda está se organizando. Até amanhã todos estarão de volta em Alpemburg. Eu compraria passagens em um voo comercial, mas acabei optando por fretar um jato particular... E isso antes de ver a quantidade de malas que você tinha.
- Sinceramente, eu não me importaria em levar tudo. Mas depois de algumas situações que passei por causa do que eu estava vestindo... Ou não vestindo, optei por pecar pelo excesso do que pela falta.
- Por mim você não precisa vestir nada... Sabe disso.
Sean virou para trás:
- Ei, eu ainda estou aqui.
- Desculpe, Sean. – Estevan disse envergonhado.
Estevan pegou minha mão. Olhei para ele e sorri, sentindo meu coração batendo forte. Chegou a hora de conhecer Alpemburg. E de estar com Estevan definitivamente.
Já era noite quando o carro parou na pista de pouso do aeroporto de Avalon. Vi o pequeno avião na pista nos esperando e fiquei um pouco temerosa.
- Tudo bem? – perguntou Estevan.
- Tirando o fato de eu nunca ter voado antes, tudo bem.
Ele riu:
- Pelo que conheço de você, vai adorar.
Entramos no jato que por dentro era espaçoso. Havia poucas poltronas e uma aeromoça nos deu boas vindas.
- Alteza, tudo pronto, esperando por vocês. Sejam bem-vindos.
Sean sentou bem na frente, perto da cabine dos pilotos. Acredito que tenha preferido nos deixar a sós. Meu pai era perfeito em tudo. Estevan me pôs ao lado da janela e ajustou o cinto para mim. Depois pegou minha mão e perguntou:
- Preparada para conhecer Alpemburg?
- Esperei por toda a minha vida...
Em quinze minutos a avião decolou. Estevan não largou minha mão um minuto sequer. E ele tinha razão... A experiência foi maravilhosa.
- Desejam algo para comer? – perguntou a aeromoça nos apresentando o menu.
Antes que ela perguntasse duas vezes, passei a mão no menu e disse:
- Eu estou morrendo de fome...
- Vai dizer que não comeu absolutamente nada no castelo?
- Absolutamente nada... – falei olhando para os pratos e sentindo água na boca.
Estevan retirou o cardápio das minhas mãos e entregou para a aeromoça, dizendo:
- Pode nos trazer tudo que tiver disponível.
- Estevan, não precisa tudo...
- Eu quero tudo... – ele disse enquanto ela saia. Depois deu um beijo no meu pescoço e falou: - E você será a sobremesa.
- Meu pai está ali na frente.
Ele abriu o botão da minha calça e colocou a mão por dentro da minha calcinha. Arqueei-me para frente, sentindo os dedos dele chegarem dentro de mim e gemi baixinho, olhando para ele e mordendo meu lábio inferior.
- Você me deixa louca quando faz isso... – ele disse no meu ouvido.
- E você quando me toca.
Olhei para os lados, temerosa que alguém nos visse, mas ao mesmo tempo sentindo um tesão imenso.
- Não se preocupe... Ninguém irá nos atrapalhar.
As luzes ficaram fracas, quase escurecendo tudo.
- A viagem é longa... – ele disse mordendo minha orelha. – E isso me deixa feliz.
- Quero fazer amor no avião. – falei gemendo quando ele entrou com dois dedos.
- Seu pedido é uma ordem, princesa.
- Vou ver se meu pai precisa de algo...
Mentira, queria me certificar de que ele não estava prestando atenção em nós.
Assim que cheguei na poltrona, percebi Sean dormindo profundamente, com a cabeça escorada no vidro da janela.
Voltei e peguei Estevan pela mão:
- Agora você é todo meu.