Capítulo 100
2009palavras
2022-12-27 11:01
Eu fui até Alexander e Beatrice e pedi:
- Será que podemos conversar? Preciso muito saber o que aconteceu.
- Eu... Vou sair. – falou Beatrice.
- Não precisa sair, Beatrice. Você pode ficar. – eu disse.
- Não, Satini, acho que esta conversa é entre vocês dois. Eu só tenho a dizer que eu procurei Léia, pois temi o que pudesse acontecer com Alexander caso ele sobrevivesse. Stepjan estava desconfiado sobre nós dois... E por este motivo Alexander ficou como guarda no seu quarto naqueles dias. O castigo dele era por minha causa. Felizmente Stepjan só desconfiou... Nunca soube de fato. Eu... Não deveria, mas me apaixonei por Alexander.
Sim, depois de ter me dito que ele era um homem horrível e que eu não deveria brincar com ele. No fundo era ciúmes que você sentia. Mas eu não me importo... Sei bem o que é gostar de alguém. E sim, a gente pode ter ciúme até do passado da pessoa. Mas você sabia que Alexander me prensava pelas paredes do castelo me chamando de prostituta e se lamentando por eu não amá-lo. E pelo que sei também sabia das agressões. Ainda assim foi se apaixonar justo por ele? Ou talvez aquele Alexander que eu tinha não era o mesmo seu. Talvez ele fosse gentil, como um dia foi no passado.
No entanto eu apenas disse:
- Por que não deveria se apaixonar por ele, Beatrice?
- Porque eu estava com seu pai... Ou melhor, Stepjan, já que agora ele não é mais seu pai.
- Sinceramente, eu nunca imaginei que você realmente tivesse sentimentos por Stepjan. Creio que ninguém é capaz de ter sentimentos bons por ele. Mas eu os vi algumas vezes... Na biblioteca. E confesso que as cenas que vi me fizeram ter um pouco de dúvida.
Ela corou. Mas logo depois se recompôs:
- Dormir com ele sempre fez parte do plano.
- Eu sempre tive dúvidas sobre de que lado você estava. Mas de alguma forma percebia que tentava me ajudar algumas vezes.
- Enfim, eu tive medo de Stepjan aproveitar-se por Alexander estar enfermo e tentar acabar com ele. Sei o quanto ele pode ser vingativo. Então procurei Léia e propus procurarmos Estevan e pedir ajuda.
- Por que Estevan? Por que não a Coroa Quebrada?
- Sou fiel a Coroa Quebrada. - ela mostrou a tatuagem no pulso, por dentro do braço. – Mas o plano foi me envolver com Stepjan e descobrir tudo sobre o que acontecia no castelo e os pensamentos dele. O bebê não estava nos planos. Tampouco me envolver com outro homem além do rei.
- Como Stepjan não viu a tatuagem?
- Sempre tapei com maquiagem e pulseiras. Não foi muito difícil. E por sorte não durou muito tempo.
- Temeu pedir ajuda a Emy para retirar Alexander em segurança do hospital?
- Sim. Principalmente depois de ela ter ordenado a morte de Isabella.
- Isabella morreu? – perguntei confusa.
- Infelizmente não... Emy acabou voltando atrás.
- Então... Você teve que ajudar a libertar a garota que atirou no pai do seu filho?
- Sim...
- Você foi forte. – disse Alexander.
- Por isso procurei Léia. E eu sabia que você confiava nela, Satini. Então decidimos que Estevan era nossa única opção. Eu não tive dúvidas de que vocês já se conheciam e que estavam envolvidos afetivamente antes do baile. Também tinha certeza dos sentimentos dele por você... Mesmo o tendo visto somente nas refeições no dia anterior ao baile e no próprio baile. No fim, eu estava certa. Ele nos ajudou sem questionar muito. Para ele só importava que Alexander havia se jogado na sua frente e salvado sua vida. Então decidimos que o tiraríamos do hospital e espalharíamos a notícia de que ele estava morto.
- Para onde ele foi?
- Estevan o colocou com Léia no quarto do hotel onde ele estava hospedado. Então Léia cuidou de Alexander... Junto com o médico do exército de Alpemburg.
- E você já estava bom para participar desta invasão, Alexander?
- Na verdade, não. – ele sorriu. – Mas como eu disse antes: não perderia este momento por nada.
- Eu... Vou ver Emy. Preciso lhe dar algumas explicações. – disse Beatrice.
- E cobrar algumas também. – eu disse. – Afinal, Isabella está bem e livre depois de ter tentado me matar e quase ter matado Alexander.
- Emy não vai voltar atrás. A relação dela com Dana é muito forte. Com Isabella também.
- Então a garota sairá impune?
- Creio que sim.
- Isso não é justo. – contestei.
- Satini, nem tudo é justo. Eu estou vivo e isso que importa. – disse Alexander.
Beatrice saiu. Olhei para Alexander:
- Continuo não achando justo. Concordo que devemos comemorar que você está vivo... Mas poderia estar morto. Eu poderia estar morta, entende? Ela atirou para matar.
- Por sorte a bala se alojou num local fácil de retirar. Poderia ter pegado na coluna... Então seria o meu fim.
- Por que Léia não me contou a verdade? Eu sofri tanto... E ela me deixou chorar a sua morte sem dizer a verdade. Só me mandou esquecer as coisas ruins que você me fez e lembrar somente das boas.
- E você conseguiu fazer isso?
- Eu... Consegui. – confessei. – Tentei lembrar do nosso passado, principalmente da nossa infância.
- Foram bons momentos... Tivemos uma infância feliz, apesar de tudo.
- Se não fosse vocês... Eu teria sido absolutamente sozinha.
- Você sempre fez parte da nossa família. Desculpe-me por tudo. Eu fui horrível.
- Eu não quero relembrar isto. Como eu disse, ficaram as lembranças boas.
- Satini, se eu disser que não a amo eu estaria mentindo. Você ainda está dentro do meu coração, dentro do meu corpo, dentro da minha mente e jamais será apagada da minha alma. Mas eu vou tentar gostar de Beatrice. Ela é uma mulher legal, inteligente, madura... E carrega um filho meu.
- Eu tenho certeza que você se apaixonará por ela, Alexander.
- Espero que sim... Mas jamais sentirei por outra pessoa o que sinto por você. Porque isso vem de tantos anos que eu nem sei se não foi desde o momento que passei a saber sobre sentimentos e guardar minhas primeiras memórias de vida.
- Definitivamente, não quero ter esta conversa.
- Sabe o que me faz feliz?
- O quê?
- “Ele” ama você.
Olhei no fundo dos seus olhos azuis, sem dizer nada.
- Por que não contou a Mia?
- Seriam muitas pessoas sabendo a verdade. Estevan achou que era melhor ficar só entre nós.
- Ela não me perdoou.
- Ela ainda não sabe que estou vivo. Tenho certeza de que quando ela souber, tudo ficará bem entre vocês.
- Ela me disse coisas horríveis. Feriu-me muito.
- Eu sinto muito.
- Acho que Mia nunca foi minha amiga de verdade, Alexander.
- Espero do fundo do meu coração que vocês possam superar isso. Principalmente por ter acontecido por minha causa.
- Não sei se foi por sua causa... Acho que aconteceu antes... Fomos nos distanciando ao longo dos meses. E confesso que hoje estou certa do que fiz ao optar por não contar algumas coisas para ela.
- Assim que conseguir, vou contar tudo a ela. Mas se quer saber, eu não acho que ela gosta de Théo. Em nada a relação deles é como a sua e de Estevan, entende? Por isso eu tentei impedir... Nunca achei que fosse real o que eles sentiam ou queriam. No fim, infelizmente, ela nunca quis me ouvir.
- Ela tem o direito de viver a vida dela... E de ter suas experiências, mesmo que não sejam boas... E mesmo que ela tenha suas decepções, assim como eu tive com ela.
- Ela poderia pelo menos ter evitado o bebê.
- Assim como você?
Ele riu:
- Satini, sempre rápida.
- Alexander, eu estou feliz por você estar bem. Confesso que ficar livre da culpa pela sua morte foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
- Não sentiu nada pela minha morte? Só a culpa?
Eu sorri e peguei a mão dele:
- Claro que senti. Como eu disse, consegui sim lembrar das coisas boas.
- Se eu pudesse passar uma borracha naquela noite...
- Acho que passamos, Alexander. Afinal, a borracha apaga, não é mesmo? O problema é que você não escreveu à lápis. Então sempre ficarão alguns vestígios. – eu sorri tristemente.
- Eu só quero que você seja feliz... E hoje entendo que se não for ao meu lado, tudo bem. Eu ainda prefiro você sorrindo longe de mim do que chorando ao meu lado.
- Fico feliz por você ter percebido isso... Mesmo depois de tanto tempo.
Vi Estevan nos observando e retirei minha mão imediatamente da dele:
- Eu... Preciso ir.
Ele virou e olhou para Estevan. Depois pegou minha mão e levou-me até onde o meu príncipe estava, unindo nossas mãos:
- Estevan, esta mulher foi a coisa mais importante e preciosa que eu tive toda a minha vida. E hoje eu estou disposto a entregá-la com todo o meu coração a você. Sei que vocês não precisam da minha opinião, muito menos da minha benção para o amor de vocês. Ainda assim eu consigo olhar para ela e mesmo com todo o amor que sinto, deixá-la nos seus braços, pois sei que você seria o único homem que a cuidaria tão bem quanto eu... E que também daria a vida por ela. Eu não fui capaz de amá-la da maneira que você foi... Mostrei a pior versão de mim mesmo para ela. Eu desejo que vocês sejam felizes... E agradeço por tudo que fizeram por mim.
- Eu agradeço por ter me protegido, Alexander. A bala teria pego no meu peito, provavelmente. Então eu não estaria aqui neste momento. – falei.
- E tudo que eu fiz foi por este fato: você ter dado sua vida por ela. Não pensei duas vezes antes de ajudar o homem que salvou o amor da minha vida. – falou Estevan.
Alexander sorriu e me abraçou:
- Quero que você seja feliz... Sempre.
- Também desejo que você seja feliz. E tenha certeza que vou vir ver seu filho... Meu sobrinho, não é mesmo?
- Serão sempre bem-vindos.
Alexander se juntou a alguns soldados de Alpemburg que estavam ali dentro, fazendo a segurança de Estevan.
- Está com fome? – perguntou Estevan.
- Não... Estou bem.
- Agora resta Léia e Mia?
- Sim...
- Espero que tenha sorte com Mia quanto teve com Alexander. E que tenhamos tempo para você conversar com todos...
- Eu também.
Sean se juntou a nós.
- O que fazemos, Sean? Ficamos no castelo ou vamos para o hotel? – perguntou Estevan. – Acho que precisamos descansar. Preciso partir o mais rápido possível para Alpemburg. Já fiquei muito tempo longe.
- Ficarão no castelo, claro. – disse Emy vindo até nós. – Faço questão, Estevan. Sou muito grata por tudo que fez por mim... Assim como Satini e Sean, que foram peças chave para que tudo desse certo.
- Já tem ideia de quando fará cerimônia de coroação? – perguntou Estevan.
- Não tenho pressa... O castelo já foi tomado. A coroa me pertence. Agora é só uma mera burocracia. Inicialmente pretendo conceder algumas entrevistas e esclarecer tudo que houve, especialmente o sequestro da princesa. Preciso me redimir perante o mundo.
- Se precisar de mim, pode contar, Emy.
- Obrigada, querida. Agora, fique a vontade. O castelo é mais sua casa do que minha, afinal. Distribua os convidados nos quartos, por favor, como achar melhor.
Ela saiu e nós três nos olhamos. Fiquei um pouco apreensiva, pois Sean estava ali. Eu sabia que ele gostava de fazer o papel de pai protetor. Mas também lembrava que ele havia me entregado a Estevan por uma noite inteira. Eu esperava ansiosamente pela decisão dele. Quando me dei por conta, eu e Estevan olhávamos para ele, esperando uma resposta.