Capítulo 98
2025palavras
2022-12-27 11:00
Ele me levou para o meio dos homens milimetricamente organizados. Pôs-me de frente a uma pessoa com o rosto escondido por um capuz. Assim que vi seus olhos, meu coração quis saltar para fora. Ele retirou o tecido que cobria quase todo seu rosto. Não parecia real. Talvez eu estivesse sonhando.
- Alexander?
Ele abriu os braços e eu fiquei um pouco receosa até tomar coragem de abraçá-lo com força. O apertei até que percebi que ele era mesmo real.

- Não me aperte tanto... Ainda não estou totalmente recuperado. – ele reclamou fazendo uma careta de dor.
- Eu... Não acredito que você está aqui... Isso... Não é possível.
Ele sorriu:
- Eu jamais perderia este momento, Satini.
- Mas você estava morto... Eu chorei por você... Léia chorou sua morte... Ela sabe que você está vivo? Como isso aconteceu? Eu... Preciso saber tudo.
- Satini, acho que não temos tempo para todas estas respostas agora. Mas assim que tudo se revolver, você e Alexander conversarão sobre o que de fato aconteceu.

- Estevan, você é o responsável por isso?
- Não fiz nada sozinho. Tive ajuda de Léia... E Beatrice. Aliás, foi ela que me procurou quando soube que ele estava fora de perigo.
- E Mia?
Alexander pegou minha mão e disse:

- Acho que não precisamos falar de Mia agora, não é mesmo? Como Estevan disse, teremos tempo.
- Tem razão. – concordei.
Olhei para Estevan e em seguida o abracei:
- Obrigada... Por ser a pessoa mais perfeita e especial que eu já conheci.
Ele olhou nos meus olhos:
- Entenda que eu sempre farei tudo por você... Sempre.
- Às vezes eu acho que você faz mais do que eu mereço. Nem sempre fui uma boa pessoa.
Ele foi me puxando para fora do seu exército e quando ficamos a sós ele disse no meu ouvido:
- Eu adoro meninas más. E depois vou te mostrar o que eu posso fazer com elas.
Senti o sangue ferver dentro de mim e disse:
- Você está insinuando o que eu estou pensando?
- Sempre...
- Estevan, você é simplesmente... O amor da minha vida.
Ele me abraçou rindo e disse:
- Hora de trocar de roupa, princesa.
- Como assim?
- Vestirá o uniforme do exército de Alpemburg comigo, assim como Alexander. Ele preferiu Alpemburg à Coroa Quebrada. – ele disse orgulhoso.
Fiquei tão feliz. Eu fazia parte de dois exércitos. Eu era da Coroa Quebrada. E ao mesmo tempo eu era de Alpemburg. Eu não era uma Beaumont, mas sabia que ambos os lados queriam o meu bem. E esperava ser acolhida pelos dois.
- Alexander ficará junto do seu exército? – perguntei agoniada.
- Sim... Ele ainda não está perfeitamente recuperado. Ficará na retaguarda.
- Eu não sei me perdoaria pela morte dele algum dia... Acho que isso sempre me assombraria.
- Eu sei disto. Léia e Beatrice me contaram parte da história de vocês. E creio que ele mesmo tenha me contado boa parte das coisas ruins que ele fez. Ainda assim ele é extremamente arrependido.
- Estou feliz por ele estar aqui... E por você ter feito isso, embora eu ache que ele não lhe contou exatamente tudo.
- Agora vamos nos preparar. – ele disse. – Alexander ficará para depois... Não sei se felizmente ou infelizmente. – falou desconfiado.
Fomos até um dos caminhões que estavam estacionados próximos e nos trocamos na parte interna, numa carroceria. Parecia que a roupa havia sido feita sob medida para mim. E era muito confortável. Assim que desci, ajudada por dois soltados, perguntei a ele:
- E então? – dei uma voltinha para ele ver.
- Perfeita, como sempre.
Meu Estevan simplesmente estava de tirar o fôlego. Ele era lindo, mas aquela roupa o deixou ainda mais. Se eu não tivesse me apaixonado por ele na primeira vez que o vi, andando com o casaco jogado sobre o ombro, no meio de outros dois homens, numa noite em Avalon, eu juro que teria me apaixonado por ele hoje, exatamente naquele minuto.
Eu queria lhe dizer tantas coisas. Mas logo chegou o exército da Coroa Quebrada. Então eu percebi que estávamos prestes a invadir o castelo de Avalon, que até um tempo atrás era só uma ilusão, um sonho tão pequeno, um objetivo quase impossível de se alcançado. E no fim conseguimos... E eu tinha uma participação naquilo. Não só como mentora do plano, mas agora conseguindo unir Estevan a nós, para termos a certeza de que nada daria errado.
Samuel, Emy e Sean vieram até nós. Emy era linda até para lutar numa guerra.
- Excelente exército, alteza. – disse Sam.
- Obrigado. – disse Estevan. – Não foi possível trazer mais pessoas em função do pouco tempo que tive.
- Está perfeito, Estevan. – disse Emy. – Somos gratos.
Logo Emy e Sam começaram a organizar as tropas da Coroa Quebrada. A rua ficou completamente lotada, assim como as laterais.
Sean me entregou a arma:
- Espero que não precise usar. – ele disse.
- Usarei se necessário. – tranquilizei-o.
- Não será necessário. – falou Estevan. – Tem seu pai e seu futuro marido que a protegerão com suas próprias vidas.
- Não seja machista, Estevan. Eu estarei armada, como todos vocês.
- Nunca duvidei que você estaria na invasão, muito menos que usaria uma arma. Mas a pergunta que eu lhe faço é: você já atirou antes?
- Não... – confessei.
Sean riu:
- Nem vou dizer nada... Estevan pensa o mesmo que eu.
- Por que não me ensinou, pai?
- Que tempo tivemos para isso, minha menina?
- Eu quero fazer parte disso.
Sean colocou suas mãos no meu rosto, me fazendo olhar nos olhos dele:
- Fazer parte disto? Só estamos aqui por você, esqueceu? Satini, você fez tudo isso acontecer.
- Meu plano foi péssimo.
- Seu plano foi perfeito. – disse Samuel chegando perto de nós.
- Você mesmo disse que foi um plano ruim, Sam... Quando ainda estávamos no túnel. – lembrei.
- Eu estava com raiva. – ele sorriu. – Só chegamos aqui por você. A princesa corajosa que enfrentou a Travessia e propôs um plano absurdo. Como não foi ouvida, falou sobre o túnel e foi chamada de louca. Se você não tivesse chegado até nós, isso não estaria acontecendo agora.
- Eu me senti culpada muitas vezes... Pelas coisas ruins que aconteceram.
- O objetivo final sempre foi unir os dois lados da coroa e voltar a termos uma só, não é mesmo? – perguntou Sam.
- Sim...
- Objetivo alcançado.
Abracei Samuel e disse:
- Obrigada por tudo, Sam. E principalmente por acreditar em mim.
- Nós que temos que lhe agradecer.
- Estou orgulhoso de você. – disse Sean. – Na verdade, sempre fui.
Eu sei que ele não queria que eu o abraçasse em público. Mas foda-se. Eu não me importava mais. Estevan era o mais importante... E ele sabia a verdade. Sam sabia a verdade. Então me aconcheguei ao peito dele, como se a vida inteira eu tivesse esperado por aquilo. Era o melhor lugar do mundo: estar nos braços de meu pai.
- Ok, agora é a minha vez? – perguntou Estevan rindo.
- Aposto que você já ganhou seus abraços, Estevan. – reclamou Sean.
Começamos a rir.
- Estão esperando o que? – gritou Emy. – Temos um castelo para invadir e um rei para prender.
Gritos e assobios vieram da Coroa Quebrada. Era a felicidade que eles sentiam por aquele momento. E eu sentia meu coração quase explodindo dentro do meu peito. Eu estava com Alexander, Emy, Sam, meu pai e o amor da minha vida, Estevan. O que eu poderia querer mais da minha vida? Acho que Deus havia feito as pazes comigo, finalmente.
O caminho até o castelo de Avalon foi feito em silêncio por todos. Só ouvíamos os sons dos coturnos no asfalto. Era muita excitação para uma pessoa só. E eu não tinha vontade de dar um tiro em Stepjan. Eu só queria dizer-lhe que eu não era sua filha... Que ele havia sido traído por minha mãe, que eu tinha um pai de verdade... E que ele era um homem de verdade, pois sabia fazer filhos, o que o rei de Avalon não sabia. Eu até pensava em perguntar se era só os espermatozoides dele que não funcionavam ou o que ele tinha no meio das pernas também. Eu ri sozinha de desejo por aquela conversa. E eu teria... Ou não me chamava Satini Beaumont Kane. Quer dizer, Kane eu nunca fui. Acho que no fim eu seria na verdade Satini D’Auvergne Bretonne. E pela sonoridade perfeita que ele tinha acho até que nasci para tê-lo.
Levamos cerca de trinta e cinco minutos para chegarmos ao portão. Ele estava trancado, o que já esperávamos. Os muros do castelo de Avalon eram gigantescos. Não havia como transpô-los.
- O que será feito? – perguntei para meu pai.
Estevan andou até seu exército. Fiquei um pouco temerosa por ele. Tinha tanto medo de alguma coisa dar errado.
- Creio que tenham colocado explosivos no portão.
- E não daria para tentar os outros? Sabemos que há vários portões.
- Provavelmente já há pessoas da Coroa Quebrada nos outros, bem como no túnel, Satini. Lembre-se que Emy é uma Beaumont.
- Mas ela não me perguntou nada sobre o castelo... Se mudou algo depois que ela saiu.
- Acho que todos em Avalon sabem que o rei Stepjan não mudou nada desde que assumiu Avalon. Tudo que estraga pelo tempo ele manda arrumar exatamente igual. E sempre teve estes transtornos obsessivos... Acho que desde que nasceu.
- Vamos vingar minha mãe... Parece mentira que este dia chegou.
Em alguns minutos houve a explosão do portão, sucessivamente havendo o mesmo estrondo nos demais. Sim, eles estavam bem organizados. Eu entendia pouco de uma guerra, mas a Coroa Quebrada viveu vinte anos para isso. E Estevan provavelmente trouxera pessoas muito bem treinadas.
Entramos pelo portão principal. Os homens de Alpemburg iam na frente, muito bem armados, como se fossem escudos para os demais. Segui com meu pai.
- Filha, sempre atenta. – ele disse com a arma em punho.
- Matamos soldados de Avalon? – perguntei. – Os conheço a vida inteira, acho que cada um deles. Espero conseguir fazer isso.
- Só atiraremos se houver resistência. Talvez não haja... Se Stepjan for esperto, ele se entrega, pois esta guerra está perdida para ele.
- Pai, eu acho tudo muito estranho. Stepjan montou uma fortaleza para sua proteção. Não há um guarda sequer no pátio do castelo. Ou isso é uma emboscada ou ele não está aqui. E eu falo isso com a certeza de quem viveu a vida inteira dentro deste castelo, como uma prisioneira dele.
Os homens começaram a se espalhar por todos os jardins. E incrivelmente não havia ninguém ali. O castelo de Avalon tinha câmeras de segurança em toda a área externa, guardas até em ruas secundárias e simplesmente vazio naquele momento, quando se esperava uma guerra. Claro que eles eram minoria, mas de alguma forma aquilo não estava certo. Eu tinha um mau pressentimento.
- Satini, venha. – Samuel veio até mim. – Minha mãe quer você junto quando entrarmos no castelo.
Procurei por Estevan, mas não o encontrei. Fiquei um pouco insegura de não tê-lo por perto, mas acompanhei Sam. Vi que meu pai seguiu atrás de nós. Claro que ele não desgrudaria de mim.
Enfim eu, Emy e Sam estávamos a frente da porta principal do castelo. Um exército atrás de nós. Eram tantas pessoas que quase não se via o pátio de dentro dos muros do castelo de Avalon. A lua iluminava o céu e eu sabia que aquele momento entraria para a história. E eu fazia parte dele.
Emy Beaumont deu vários tiros na porta e em seguida Sam e derrubou de uma vez com um chute forte. Ela entrou primeiro. Não quis que ninguém fizesse isso antes dela. Sam foi o segundo. E eu esperei, junto dos demais.
Alguns minutos depois, Sam voltou e gritou:
- Satini, Estevan, Sean... Entrem.