Capítulo 95
2331palavras
2022-12-27 10:58
Depois da transmissão clandestina, ficamos todos esperando pelo que aconteceria. Estevan e Dereck ficariam até saber como estava a situação fora da Coroa Quebrada.
- O que devemos esperar? Que Stepjan invada a Coroa Quebrada? – perguntou Estevan.
- Pouco provável que ele faça isso. – disse Emy. – Ele é um covarde. Jamais tentou nos deter. Não seria agora que o faria. Atacar seria deixá-lo sem proteção.

- Como ele conseguiu ficar tantos anos no poder? – questionou Estevan. – Por que você não reivindicou o trono antes?
- Eu não sei dizer... Sempre planejei uma forma de conseguir o que era meu de volta. Mas no fim, foi Satini que me deu coragem. Se não fosse Sam me falar da garota que sabia de um túnel dentro do castelo e que queria sequestrar a princesa, eu jamais teria tomado esta decisão. – ela confessou.
- Eu... Sinto-me feliz de poder ter ajudado de alguma forma. Na maioria das vezes achei o plano ruim e insano. E tantas coisas deram errado... – confessei.
- Querida, guerras são guerras. Sempre há feridos e consequências. O sequestro pode ter sido feito de forma precipitada e sem tempo para melhor nos planejarmos. Mas no fim, acho que tudo correu como esperávamos. Tirando o fato de o quase rei de Alpemburg estar conosco neste momento. Por isso realmente a gente não esperava. – ela sorriu para Estevan.
- Onde Satini estiver, eu estarei. – disse Estevan me olhando.
Levou em torno de uma hora para vir informações sobre o castelo de Avalon. Dois homens armados chegaram e um deles revelou:

- Ele não vai atacar. Retirou todos os guardas reais das ruas próximas do castelo e está montando uma fortaleza para se defender.
- Creio que não haja qualquer risco de ele ter aliados depois de tudo isso. – disse Estevan.
- Não... Realmente não. – falou Samuel.
- Então, Samuel, conforme eu já havia dito antes, você liderará a invasão ao castelo de Avalon. Não irei intervir em nada. O ataque está sob sua responsabilidade. – disse Emy.

Samuel suspirou e percebi que ele ficou um pouco receoso.
- Vocês tem pessoal suficiente para a invasão de forma segura? – perguntou Estevan.
- Eu creio que sim.
- Eu ofereço as tropas de Alpemburg. – disse Estevan, recebendo todos os olhares. - Não podem arriscar, levando todos que estão aqui. Vocês se prepararam para esta guerra, mas nunca lutaram numa de verdade.
- Seus exércitos já? – questionou Samuel e não entendi se sua pergunta foi irônica ou realmente curiosa.
- Nos antepassados sim. Mas há um tempo não nos envolvemos em guerras e isso para nós é motivo de orgulho. Nossas tropas já auxiliaram outros países em missões de paz. Exércitos reais são bem preparados. E temos muitas armas.
- Você pode tomar esta decisão sozinho? – perguntou Sam. – Afinal, você não é o rei.
- Em poucos dias serei. E estou liderando esta missão em Avalon, assim como você. Não creio que seja tão imaturo a ponto de não aceitar minha ajuda por motivo pessoal, arriscando a vida de tantas pessoas.
Emy olhou atentamente para o filho, esperando ansiosamente por sua resposta.
- Eu aceito sua ajuda. – disse Sam oferecendo a mão a ele.
Os dois apertaram as mãos, numa união que eu esperava que fosse por muito tempo, não só naquela guerra interna. Eu poderia estar em Alpemburg em pouco tempo e lá ser o meu lar. Mas Avalon seria sempre o lugar onde eu nasci e pessoas importantes para mim estavam ali.
- Estou feliz com sua decisão, Sam. – disse Emy. – Eu não interviria na sua resposta, mas ainda assim torcia para que dissesse sim. Creio que tenhamos chances de dar conta das tropas de Avalon. Mas uma ajuda é sempre bem vinda. E concordo com Estevan de que não é correto levarmos tudo que temos e nos arriscarmos a ficar sem nada. Precisamos deixar os idosos, mulheres e crianças protegidos aqui.
- Bem, eu preciso resolver tudo agora. – falou Estevan. – Creio que não possamos esperar muito por isso. Stepjan já teve tempo suficiente para tomar a decisão dele... E ele decidiu morrer sozinho no castelo de Avalon... Porque é isso que acontecerá.
- Acha que daria conta de trazer suas tropas em quanto tempo? – perguntou Sam.
- Creio que consiga organizar tudo em no máximo duas semanas.
- Bem, como entro em contato com você? Pelo que sei, você não tem um telefone.
- Não mesmo... – disse Estevan. – Mas não se preocupe com isso. Entrarei em contato com vocês. Tenho uma linha via satélite muito segura dentro do castelo. Então eu realmente não preciso de um celular, meu caro.
- Então, vamos trabalhar. – gritou Samuel para todos.
Estevan veio até mim e disse, colocando uma mecha de cabelos que caía sobre meu rosto para trás. Fechei meus olhos sentindo o toque da pele dele na minha. Era como se eu precisasse daquilo para sobreviver.
- Meu amor, não vou levá-la comigo. – ele disse.
- Como assim? – perguntei confusa.
- Voarei para Alpemburg e estarei de volta o mais breve possível. Não quero que conheça Alpemburg desta foram... Levá-la no meio de uma guerra nunca foi minha intenção.
- Estevan, eu estou no meio de uma guerra.
- Mas você irá para o castelo como a minha rainha. Eu quero estar com você, entende? Em todos os momentos.
- Mas...
Ele colocou o dedo nos meus lábios:
- Satini, nós vamos ficar juntos... E este momento está chegando. Eu não vou deixá-la sozinha em Alpemburg sem mim. E muito menos fazê-la viajar com pressa e voltar tão rapidamente. Hoje seu lugar é aqui... Junto de seu pai.
Olhei para Sean e o vi me observando de longe. Então entendi que eu não poderia fazer nada. Certamente os dois já haviam decidido aquilo durante a noite, sem me consultar.
- Eu não vou suportar ficar sem você.
- Pense que provavelmente em duas semanas estaremos juntos... E será para sempre.
- Estevan, acho que precisamos ir. – falou Dereck.
Olhei para ele e senti meu coração se despedaçar. Ter Estevan e vê-lo partir era horrível. Eu já havia passado por aquilo tantas vezes... Então sempre me parecia que quando ele se fosse, demoraria séculos para nos vermos novamente. Ou ainda que eu nunca mais fosse vê-lo novamente.
- Eu amo você. – falei.
Ele me abraçou com força e sem se importar com a presença dos demais, pousou seus lábios sobre os meus. Achei que seria um beijo leve, mas senti sua língua pedindo passagem nos meus lábios, e abri minha boca recebendo-o dentro de mim. Minhas mãos encontraram seus cabelos finos e bem cortados. Eu poderia ficar ali para sempre.
- Estevan, realmente precisamos ir. – falou Dereck nos interrompendo.
Ele largou meus lábios me olhando ternamente. Saiu com suas mãos deixando lentamente a minha.
- O que são alguns dias para quem esperou tantos anos? – disse Dereck. – Vocês vão conseguir.
Eu ri. Ele tinha razão. Dereck me deu um beijo no rosto:
- Se cuide. E cuide dele. Meu primo e sua família são preciosos.
- Eu farei isso... Não se preocupe. E obrigada por tudo.
- Família é família. Em breve você também será um pouco Chevalier. E então entenderá. – ele sorriu lindamente.
Dereck tinha a pele clara e os cabelos escuros e bem cortados. Seus olhos eram escuros como a noite e o sorriso largo, com lábios carnudos. Ele era alto e falava bem. Era um homem encantador, galanteador e simpático. Eu entendia por qual motivo ele estava sempre na mídia e as mulheres eram loucas por ele. Mas eu ainda preferia meu Estevan... Sempre.
- Temos longos dias pela frente, querida. – disse Emy colocando os braços sobre meus ombros. – O que vocês tem é forte... Nada vai separá-los.
Eu só ouvi e dei um pequeno sorriso.
O restante do dia fiquei de um lado para o outro, tentando ajudar da forma que eu podia. No fim da tarde vi Emília brincando sozinha com uma boneca, passando pela rua e falando com ela mesma. Então larguei tudo e fui até ela:
- Será que tem uma boneca para mim?
Ela me olhou surpresa:
- Você quer brincar comigo?
- Eu poderia?
- Claro. – ela disse animada, sorrindo com seus espaços faltantes de dentes na boca. – Espere aqui que vou trazer uma boneca para você.
Levou alguns minutos para ela voltar com uma boneca para mim. Olhei todos tão envolvidos. Mas ela era apenas uma criança. Certamente nem sabia o que estava acontecendo. E completamente sozinha. Nem Emy nem Sam tinham tempo para ela.
Fomos até um pequeno gramado perto do rio e eu sentei com ela. Organizamos nossas “filhas” e ficamos muito tempo brincando que nem nos demos conta quando escureceu.
- Ei, vocês estão bem?
Olhamos para Sam. Então eu dei conta do tempo que fiquei ali. Levantei e me desculpei:
- Sam, eu realmente não vi a hora... Desculpe-me por não ter ajudado...
- Tudo bem, Satini. Ela realmente precisava de atenção. E você foi a única que conseguiu ver isso.
- Eu... Sei muito bem o que é criança e estar no meio de tantas pessoas e ao mesmo tempo tão sozinha.
- Ela não costuma ficar assim. Mas os últimos dias tem sido agitados por aqui.
- Hoje eu não quero dormir na casa de Tereza. – disse Emília. – Eu quero dormir com você e Satini.
Samuel pegou-a no colo e disse:
- Seu pedido é uma ordem, minha princesa. Você dormirá comigo e Satini.
Ela sorriu grandemente.
Naquela noite não teve jantar de Emy. Recebemos comida na porta de alguém que enviou a refeição. Estávamos somente eu, Emília e Samuel.
- Onde está sua mãe? – perguntei.
- Organizando algumas coisas.
- Você não deveria estar fazendo isso?
- Já bastante coisa, acredite. Mas embora ela diga que eu vou liderar, ainda assim nada passa sem a aprovação dela. – ele sorriu. – Ela não consegue ficar de fora, entende?
- Entendo...
Realmente eu não conseguia ver Emy de braços cruzados deixando Sam fazer tudo sozinho.
- E meu pai?
Ele arqueou as sobrancelhas e disse ironicamente:
- No castelo?
- Sim... – falei sentindo meu coração bater descompassadamente. Porra, o que eu havia dito!
- Sean está ajudando também. Acho que ele virá tarde, apenas para vê-la. – ele falou calmamente, me estudando.
Eu fiquei calada.
- Hora do banho. – ele disse para Emília.
- Não... Eu quero brincar um pouco mais. – ela reclamou.
- Banho, jantar e dormir. Amanhã é um longo dia. – eu disse fazendo cócegas na barriga dela.
- Tudo bem... Mas porque você está pedindo e não Sam... – ela contestou, indo para o banheiro.
Sentei no sofá rezando para que ele não me fizesse perguntas. Mas é claro que ele fez:
- Por que não me contou antes?
- Eu... Não sei do que você está falando?
- Qual seu medo de dizer a verdade?
- Eu... – me calei. Eu não sabia exatamente o que dizer.
- Porra, eu não sei se fico furioso porque você mentiu ou extremamente feliz por você não ser filha daquele verme.
Olhei-o e sorri timidamente. Eu sabia exatamente do que ele falava.
- Eu... Não gostaria que ninguém soubesse. Por favor. – pedi.
- Eu não vou falar. Este assunto não me diz respeito. Eu jamais faria isso.
- Nem... Para sua mãe. Ao menos não por enquanto.
- Confia em mim, não vou falar. – ele pegou minha mão.
Eu retirei gentilmente.
- Eu... Soube há pouco. – confessei. – Mas fiquei tão feliz quando constatei a verdade. Entende o que significa não ter nenhuma ligação com Stepjan Beaumont?
- E o fato de você não ser uma princesa de fato?
- Sinceramente, isso não importa. Você tem noção do quanto Sean é grandioso e perfeito?
- Sim... Tenho.
- Ele e minha mãe se apaixonaram... Então ela conseguiu ter seu primeiro filho... Que no caso foi eu. Stepjan não pode ser pai.
- Então o filho de Beatrice...
- É de Alexander. Não há dúvidas.
- Ela pediu que queria um exame de DNA.
- Sinto pena dela achar que pode ter um filho dele... Creio que ela ficará feliz quando souber a verdade.
- Certamente.
- Você já contou para Estevan?
- Eu tentei... Mas ele já sabia.
- Como ele sabia?
- Incrivelmente ele ligou nossas semelhanças... Desde a primeira vez que nos viu juntos. Depois observou a maneira como Sean me tratava... Eu nem sei como ele conseguiu saber antes mesmo de mim.
- No fim, Estevan pode ser um cara legal. – ele admitiu. – E vidente?
Eu ri:
- Sim, ele é legal. Assim como você.
- Mas isso não significa que vou ser amigo dele.
Eu ri:
- Sei disto. Mas podem fazer alianças promissoras entre os dois pequenos reinos ainda existentes.
- No fim, ele vai levar a minha princesa. Isso que eu lamento.
- Sam, ela nunca foi sua. Foi dele... Desde que o viu pela primeira vez.
- Porra, eu cheguei atrasado. Lamentarei eternamente.
- Eu já disse e repito: você vai encontrar alguém perfeito para você. Eu tenho certeza disto.
- Ainda duvido...
- Sabe, eu pensei em passar esta noite na Coroa Quebrada com meu pai... Mas eu acho que é melhor ficar com você. – eu sorri e dei um abraço nele.
- Agora que está partindo você gosta de dormir comigo?
- Gosto de dormir no seu quarto... Não com você. – rebati. – Gosto de ver você criar suas músicas. Gosto da sua melodia. Gosto até quando você bota os fones nos ouvidos para não me ouvir. Vou sentir sua falta, Sam.
- E eu a sua.
- Obrigada por ter confiado em mim quando ninguém mais o faria.