Capítulo 94
2009palavras
2022-12-27 10:58
- Satini, da última vez que decidimos fazer amor em vez de conversar tivemos muitos problemas. Não que eu não queira fazer tudo novamente, mas você disse que tinha algo para me contar. E sinceramente isso me faz ter medo de em poucos minutos alguém me sequestrar, lhe sequestrar, ou eu perdê-la de alguma forma novamente.
- Vamos subir. – pedi pegando a mão dele e o trazendo junto.
Assim que chegamos ao corredor que acolhia as portas dos apartamentos, me escorei numa parede. Ele ficou de frente para mim, me fitando curioso.

- Você disse que tem medo de me perder... Eu também tenho medo de perdê-lo. Mas o que tenho para contar talvez nos afaste para sempre.
Ele alisou meu rosto e disse:
- Nada vai nos afastar, Satini. Eu prometo.
- É sobre... Eu ser uma princesa... Sean... – eu não sabia como exatamente começar aquela conversa.
Estevan pegou meu rosto entre suas mãos e olhou nos meus olhos:
- Você é filha de Sean. – ele afirmou.

Olhei-o perplexa:
- Como... Você soube?
- Eu não tenho certeza... Aliás, acho que no fundo eu sempre soube. Desde a primeira vez que o vi eu observei a semelhança entre vocês. Inclusive achei que ele era o seu pai naquele dia. Depois não pude deixar de ficar atento a forma como ele lhe tratava: carinhosa, protetora, ciumenta... Só um pai faria o que ele faz. Eu nunca vi desejo por você nos olhos dele... Por isso jamais senti ciúme de Sean.
- Estevan, isso significa que eu não sou uma Beaumont... Não sou uma princesa, entende?

Ele me abraçou:
- Satini, você sempre foi e sempre será a minha princesa. Fico feliz que Stepjan Beaumont não seja seu pai biológico. Isso sim seria um problema para mim.
- Como você pode ser assim, Estevan? Tão compreensível... Mesmo com o que eu lhe contei? E seus pais, aceitarão da mesma forma que você?
- Minha mãe sim. Ela só quer minha felicidade. Quanto ao me pai, talvez tenha alguma resistência no início. Mas a opinião dele não me importa.
- E se ele não aceitar?
- Eu recusarei a coroa de rei de Alpemburg. Eu só vou fazer isso quando você estiver ao meu lado... Como minha esposa, minha rainha.
- Eu... Tive tanto medo de lhe contar... E você não aceitar. – falei apertando-o contra meu corpo.
- Lembre-se sempre que eu amei você quando era uma mendiga.
Eu ri:
- Eu nunca fui uma mendiga de verdade.
- Minha mendiga favorita. – ele beijou meu pescoço.
- Que horas pretendem voltar? – perguntou Sean. – O jantar já foi servido.
Nos separamos, um pouco apreensivos.
- Vamos jantar então. – disse Estevan se aproximando de Sean e batendo em seu ombro. – Você vai gostar da culinária de Alpemburg, Sean.
Ele olhou para Estevan:
- Como assim?
- Acho que você vai gostar de Alpemburg como um todo na verdade... Tanto você quanto sua filha.
Sean parou e me encarou.
- Eu contei a ele. – confessei.
- E pelo visto Estevan, como sempre, não nos decepcionou.
- Acha mesmo que eu deixaria Satini por isso, Sean?
- Na verdade, eu nunca achei, Estevan. Nunca duvidei do amor que você sente por ela.
- Nem eu do seu. Por isso sempre imaginei que vocês pudessem ter uma ligação parental, muito mais do que guarda-costas e protegida.
- Foi a primeira pessoa a levantar a questão das nossas semelhanças. – eu lembrei.
- Sim, o mesmo olhar, embora vocês tenham os olhos de cores diferentes. E vocês tem o mesmo sorriso. E isso eu observei desde o dia que os vi juntos.
- Pretendo lhe contar exatamente tudo que aconteceu, Estevan. Mas é preciso um bom tempo para deixá-lo a par de tudo. – disse Sean.
- Embora eu queira muito saber, não há pressa, Sean. Acho que finalmente começamos a ter tempo... – ele sorriu para mim.
- Vamos jantar. – disse Sean.
Quando adentramos no apartamento de Emy eles já estavam sentados à mesa.
- A comida já está esfriando. – disse Emy.
Sentamos e nos servimos. A comida dela era sempre saborosa e eu sabia que ela gostava de cozinhar e ser elogiada. Então logo desprendi elogios a ela. Estevan fez o mesmo.
Assim que o jantar acabou, eles voltaram a beber vinho enquanto eu só observava.
- Faremos o vídeo amanhã. – disse Emy. – Acho que estou preparada.
- Transmitiremos em Avalon? – perguntou Samuel.
- Sim, somente para Avalon. Não quero envolver outros países nisso. Dever favores antes mesmo de assumir o trono não me agrada nenhum pouco.
- Não acho que Noriah Sul precise intervir nisso. – disse Dereck. – Confio que a Coroa Quebrada dará conta de fazer o que precisa ser feito.
- Sim, com certeza. – garantiu Samuel.
- Bem, precisamos dormir. Amanhã será um longo dia. – disse Emy.
Fiquei nervosa. Onde ficariam os convidados? Será que eu poderia dormir com Estevan?
- Se for possível, gostaria de ficar com Sean. – disse Estevan. – Acho que precisamos conversar um pouco.
Sério que você vai preferir dormir com meu pai do que comigo? Olhei-o decepcionada.
- Sem problemas, Estevan. Só não pode dormir com minha sobrinha. Ao menos não antes do casamento. – disse minha tia.
Olhei-a e senti meu rosto ruborizar. Achei que Estevan pudesse mencionar algo quanto ao fato de eu estar no mesmo quarto de Sam, mas não.
- Respeito sua casa. – disse Estevan. – Embora não o seu prédio.
Todos o olharam. Meu coração acelerou e senti o olhar repreensivo de meu pai, entendendo o que Estevan tinha dito.
- Há lugar para o príncipe Dereck conosco. – disse Sean, tentando quebrar o clima.
- Obrigada, Sean. – agradeceu Dereck. – Emy, obrigada pela comida maravilhosa. Agora sei que uma rainha é capaz de fazer uma refeição perfeita.
- Agradeço o elogio, Dereck. E me sinto grata por ter conversado com você. Noriah Sul tem sorte de ter você e Magnus a frente do reino.
- Na verdade, minha mãe está nesta posição atualmente. Esperamos que mude em breve.
- Espero que sim. – disse Emy.
Emy abriu a porta. Estevan me deu um beijo antes de sair. Minha vontade era ficar beijando ele a noite inteira, mas só consegui sentir seus lábios nos meus por alguns segundos. Ele pegou minha mão e senti sua pele quente e macia na minha. Depois ele saiu. Dereck o acompanhou. Emy saiu dali e Samuel foi para o quarto.
- Me diga que usou preservativo. – disse Sean voltando.
- Sean! – falei morrendo de vergonha.
- Sim ou não? – ele perguntou.
- Pai... – falei baixo sentindo minha face pegar fogo.
- Satini, sim ou não? – ele insistiu.
- Não...
- Vou matar Estevan. – ele disse saindo rapidamente.
Fechei a porta e me recostei sobre ela. Não sabia se ria ou chorava com a extrema preocupação de meu pai. Eu gostava de ter alguém se importando comigo, me pedindo satisfações. Mas ao mesmo tempo era diferente do que eu estava acostumada. Stepjan pouco se importava comigo. Além do mais, caso eu ficasse grávida de Estevan não teria problemas. Em breve seríamos marido e mulher. Um filho em nada nos impediria de casar... E sim de termos uma vida a dois por um tempo antes de tomar esta importante decisão. Realmente eu não estava preparada para ser mãe... Então talvez fosse melhor andar com um preservativo no bolso, para casos de emergência, já que fazíamos aquilo nos lugares mais inusitados.
Entrei no quarto e vi Samuel com sua guitarra, tocando alguns acordes e escrevendo algumas coisas num papel. Não dei importância. Peguei roupas limpas e fui para o banho. Eu estava “necessitada” da água. Depois que coloquei minha roupa fui para o quarto secando os meus cabelos que ainda estavam úmidos. O bom de ter cortado meus cabelos era que podia secá-los sempre naturalmente. Deitei na cama e fiquei olhando para o teto, com os braços debaixo da minha cabeça. Samuel continuava do mesmo jeito de quando eu saí.
Olhei para ele e perguntei:
- Por que você fez aquilo?
- O que eu fiz? – ele perguntou. – Vai agora fingir que não aconteceu nada entre nós?
- Sam, a gente não transou.
- A gente quase transou. Chegamos a ficar nus, caso não lembre. Ou vai fingir que isso nunca aconteceu.
- Não finalizamos.
- Porque eu perguntei sobre o raio do piercing. Senão você teria feito sexo comigo ali.
- Eu... Não quero falar sobre isso. Não faz diferença alguma entende? E se eu tivesse feito, Sam... Acha que por este motivo Estevan me deixaria?
- Sinceramente, não sei. E pouco me importa.
Eu sabia que Sam realmente estava bravo. Achava que talvez ele gostasse mesmo de mim. Eu cheguei a pensar que gostava dele também. E tive desejo por ele, não havia como negar. Mas apesar do sentimento que ele tinha por mim e tentar de alguma forma me prejudicar, em nada ele se parecia com Alexander e seu jeito doentio de me amar. Pensei em como seria se ele ainda estivesse vivo. Estaria no castelo? Ou na Coroa Quebrada comigo? Era jovem, bonito... E a vida quis que ele se fosse embora de forma tão cruel e violenta. E tudo, ironicamente, também por um amor doentio, neste caso, de Isabella.
Será que um dia Alexander também não seria capaz de fazer o mesmo que ela fez? Fosse comigo, com Estevan ou até mesmo com Sam?
Fechei meus olhos e tentei dormir e esquecer que Estevan estava tão próximo de mim. Não me preocupei tanto com um possível desentendimento entre ele e meu pai. Eu sabia que eles tinham afeto um pelo outro. Embora Sean tentasse me conter, ele mesmo já havia me dado a chance de passar uma noite inteira com Estevan.
No dia seguinte, levantamos cedo e tudo foi preparado para o vídeo de Emy Beaumont. Encontrei Estevan no lugar onde seria feito vídeo.
- Acha que vai dar tudo certo? – perguntei-lhe.
- Sim.
- Conversou com meu pai?
- Sim.
- Está tudo bem?
- Claro. Eu e Sean nos entendemos, não se preocupe.
- Até com relação aos preservativos?
Ele me encarou:
- Nesta parte não. Mas prometi que não vai se repetir.
Olhei-o preocupada. Ele explicou:
- Estou falando sobre usar o preservativo, não sobre...
- Estevan, poderia ajudar aqui, por favor? – pediu Samuel.
Estevan foi até ele e ficou a frente de alguns equipamentos que eu achava que seria o responsável pela transmissão.
- Vamos entrar no sistema de todos os canais de telecomunicação. – disse Samuel. – Bem como espalhar pelas redes sociais e toda a internet.
Em pouco tempo Emy Beaumont estava em todos os lugares de Avalon, dizendo a verdade sobre Stepjan, seu irmão, que tentou matá-la, que também foi o responsável pela morte do próprio pai. Emy confessava que havia criado a Coroa Quebrada por sua rivalidade com o irmão. E que agora era hora de juntar as duas partes da coroa e definitivamente renascer uma nova Avalon, com a esperança de dias melhores para todos e não só para o rei, como acontecia até então.
Se Stepjan Beaumont fazia algo ruim com o povo? Definitivamente não. Ele não fazia nada por Avalon, muito menos por qualquer pessoa que fizesse parte dela. Ele só tinha tempo para ele mesmo. Era um rei egoísta, narcisista, com vários transtornos obsessivos com relação à sua segurança bem como sempre com mania de perseguição. Mesmo sabendo que eu era sua filha, ele nunca se importou comigo. Nem mesmo com a própria esposa, a deixando morrer em nome de ter um filho que herdasse a coroa e o trono. Ele sempre foi ambicioso e como pouco se sabia dele, era temido, devido a todo exército que criara em prol de sua defesa.
Era o fim de quase duas décadas de Stepjan no poder. E o início de uma nova era.