Capítulo 91
2162palavras
2022-12-27 10:56
Quando terminei de contar todas as coisas ruins que Alexander havia feito comigo, meu pai disse com uma fúria que eu ainda não tinha visto no olhar dele:
- Se ele Alexander não estivesse morto, neste momento eu o mataria com minhas próprias mãos.
- Pai...

- Não quero que se envolva nisso, Satini. Deixe que a rainha Emy resolva sua questão com Isabella. Temos maiores problemas que vingar a morte de Alexander. Você o perdoou e isso eu confesso que não sou capaz de fazer. Então durma com sua consciência tranquila. No fim, acho que ele morreria por você de um jeito ou de outro. Se não fosse dando a vida por você, o ciúme doentio dele o mataria da mesma forma...
- Como eu queria abraçá-lo neste momento, pai. – confessei.
- Falta pouco, muito pouco para ficarmos juntos, minha filha. Isso está chegando ao fim.
- Eu... Vou voltar. Talvez ficar um tempo com Emília me tranquilize um pouco.
- Faça isso.
- Parece que estamos aqui há anos.

- Tenho a mesma impressão. – ele concordou.
Voltei para o apartamento e fiquei um tempo com Emília. Emy parecia tranquila e realmente deixado tudo nas mãos de Samuel. Ou ela confiava cegamente que ele era capaz ou tinha algum plano infalível por trás. Eu esperava que Samuel me ouvisse sobre falar com Estevan, ou tenho certeza que aquilo acabaria mal.
À tardinha eu estava deitada na cama, olhando para o nada, pensando em como poderia ser útil àquela gente de alguma forma quando Samuel entrou no quarto e me disse:
- Venha comigo. Vamos ver o Príncipe de Alpemburg.

Levantei imediatamente da cama:
- Como assim?
- Meus homens levaram Sean até o hotel onde ele está. Conseguimos marcar para às 18 horas.
Olhei no relógio e eram 17 h e 30 min. Meu coração acelerou. Em trinta minutos eu veria Estevan.
- Eu vou me trocar. – falei indo para até o armário.
- Não vai mesmo. Estamos saindo agora.
- Eu preciso trocar de roupa.
Ele pegou minha mão e quase me arrastou para fora do quarto.
- Sam...
- Não precisa se arrumar para ele. Estamos no meio de uma guerra.
- Eu não iria me arrumar. Mas olhe para mim... Estou horrível.
- E assim continuará.
- Você é cruel e perverso. – falei enquanto descíamos as escadas.
- E você fútil e insensível.
Fomos caminhando até a ponte que dividia a Coroa Quebrada e Avalon.
- Sean não irá conosco?
- Sean está com ele.
Meu pai e meu Estevan juntos? Meu coração não tinha como se manter com os mesmos batimentos naquele momento. Só de pensar nas duas pessoas que eu mais amava juntas, eu já tinha até vontade de chorar de alegria.
Surpreendi-me que ao atravessarmos a ponte, não pegamos um dos carros e também ninguém nos conduziria a algum lugar.
- Onde exatamente é o encontro? – perguntei curiosa.
- Pedi para Sean marcar aqui perto. Eu não iria para Avalon com toda esta situação. Então escolhi um lugar onde eu me sentisse seguro.
- E não chamou ninguém para protegê-lo, não é mesmo? Assim como também pediu que Estevan estivesse sozinho.
- Exato.
Continuamos caminhando costeando o rio, pela estrada poeirenta.
- Você confia mesmo em Estevan e Sean? – ele me perguntou preocupado.
- Sim, confio plenamente.
- Porque se algo der errado, é a vida de muitas pessoas que está em jogo.
- Eu sei disto... E jamais eu faria algo assim, Sam.
Andamos cerca de dez minutos. O pôr do sol nos dava um show no horizonte. E na frente dele, no rio, próximo de uma árvore, vi Estevan parado. Meu coração parecia querer saltar do meu peito. Comecei a andar mais rápido, quase correndo.
- Quem é a terceira pessoa? – perguntou Sam demonstrando fúria. – Eu disse a Sean que era só ele... Ninguém mais.
- Acalme-se... Deve haver uma justificativa. Sean não faria nada que pudesse prejudicá-lo, Sam.
Eu andava e parece que nunca chegava onde desejava. Como eu queria senti-lo junto de mim novamente. Eu não suportava mais tantos encontros e desencontros.
Sinceramente, eu não via mais ninguém, só Estevan. Quando finalmente chegamos a alguns passos deles, Estevan começou a andar. Ele vestia calça jeans e um moletom, como meu Estevan Delacroix. Nossos olhos se encontraram e eu senti meu sangue ferver dentro do corpo. Mas quando cheguei nele, Estevan simplesmente passou direto por mim e foi até Samuel, lhe dando um soco no nariz, fazendo-o cambalear e cair no chão. Sam levantou-se rapidamente e eu vi sangue escorrendo no rosto dele.
- Estevan! – gritei.
Logo Sean e o outro o seguraram. Porra, era Dereck Chevalier. Quem em sã consciência não foi apaixonada por Dereck na adolescência? O príncipe playboy que estampava as revistas do mundo todo, esbanjando simpatia, sensualidade, beleza, luxúria e dinheiro. Se bem que nos últimos tempos ele andava um pouco sumido da mídia. Talvez tivesse encontrado alguém com quem fazer um par.
- Você só pode estar brincando. – disse Sam colocando a mão no rosto e olhando o sangue nos seus dedos.
Sam tentou revidar, mas Dereck o conteve. Então ficaram os dois, um de cada lado, ambos contidos. No fim, foi muito bom Dereck ter vindo junto. Eu não teria conseguido conter nenhum dos dois.
- Cara, você me acertou do nada. – disse Samuel entredentes.
- Do nada? Você sequestrou a minha mulher.
- Eu sequestrei sim... Porque ela quis. – justificou Samuel, me olhando, cobrando de mim alguma atitude.
Sim, eu estava ali, perplexa, olhando tudo sem dizer uma palavra.
- Estevan, precisamos conversar. – eu disse.
- Vou soltá-lo. – disse Sean para Estevan. – E você vai ficar longe de Samuel.
- Ok. – disse Estevan levantando as mãos em sinal de paz.
Os dois foram soltos e ficaram se encarando:
- Acha mesmo que se “eu” fosse o inimigo, marcaria um encontro e a traria até você? – perguntou Samuel. – Já não sei se tomei a decisão certa.
- Espere, Sam... Eu preciso conversar com ele... A sós... Por favor.
- Por favor? Você não precisa pedir por favor para ele, Satini. Seu cárcere acabou. – Estevan disse vindo até mim.
Senti seus braços me envolvendo e não pude me conter. O abracei com força. Como eu sonhei com aquele momento.
- Venha! – eu falei pegando-o o pela mão e o afastando deles. – Precisamos conversar.
- Precisamos? Você não vai me dizer que ele falou a verdade e você sabia do seu próprio sequestro?
- Sim, eu sabia.
- Eu não posso acreditar nisso.
Assim que tive certeza que ninguém nos escutava, olhei nos olhos dele e disse:
- Planejei o sequestro antes de saber que você era o meu futuro marido. Não tinha como eu saber...
- Quem forja o próprio sequestro? – ele perguntou atônito.
- Alguém que teme ser morta pelo próprio pai.
Ele me olhou interrogativamente. Balançou a cabeça e pediu:
- Me conte tudo, por favor. Eu preciso saber. Já houve muitos desentendimentos entre nós, com sérias consequências. Não vamos mais brincar com a sorte.
- Estevan, eu creio que tenha tido uma vida diferente da sua com relação a afeto familiar. Meu pai nunca gostou de mim... O rei Stepjan só se preocupou a vida toda com ele mesmo... E nada mais. Nunca quis entregar o trono a mim por eu ser uma mulher, assim como no passado não quis que a irmã assumisse.
- Emy Beaumont. – ele disse.
- Sim. Você conhece a história dela?
- Um pouco. Procurei saber sobre Avalon e o passado mais recente. Então li sobre ela. Sua tia... Morreu jovem.
- Eis a questão. Ela não morreu.
Ele me olhou confuso, estreitando os olhos:
- Como assim?
- Emy Beaumont está viva. E Samuel é o filho dela. Então eu não sou herdeira do trono de Avalon.
Falar aquilo me deu um alívio. Eu precisava deixar claro que não era mais a futura rainha de Avalon. Embora eu ainda escondesse dele que não era herdeira de porra nenhuma. Mas esperaria Sean me autorizar a falar a verdade, pois talvez ainda não fosse a hora. Não por Estevan, mas por Samuel e Emy Beaumont. E claro que eu temia a família de Estevan não me aceitar não sendo membro de uma família real.
- Acha que eu me importo de você ser ou não herdeira do trono? – ele perguntou me olhando dentro dos olhos.
- Não...
- Eu queria você quando era uma mendiga sentada na sarjeta.
Eu sorri:
- Eu sei...
- Eu quero ouvir tudo que você tem para me dizer, eu juro. Mas se eu não beijar você antes, eu morrerei.
Não me contive e envolvi meus braços no seu pescoço, trazendo-o de encontro a mim. Avalon estava praticamente em guerra, a Coroa Quebrada pegando fogo e tudo que nós queríamos era nos beijarmos. Senti a boca quente dele sobre a minha, envolvendo meus lábios avidamente. Nossos beijos nunca eram suaves ou contidos, porque sempre estávamos com saudade e sedentos um do outro. Sua língua encontrou a minha e senti seu gosto em mim, sua saliva junto da minha, como se o mundo coubesse dentro daquele beijo e ele fosse uma coisa tão necessária quanto o ar que entrava nos meus pulmões e me fazia sobreviver. Suas mãos deslizaram levemente pelas minhas costas, fazendo com que meu corpo se arrepiasse ao toque dele.
- Crianças...
Nos soltamos e eu olhei um pouco envergonhada para Sean, que estava parado com os braços para trás.
- Fale, Sean. – disse Estevan sem me soltar.
- Acho que o momento não é nada propício para isso. Achei que seria uma conversa, o que bem sabemos que era extremamente necessário.
- Sim, sim. – falei me afastando um pouco dele. Simplesmente eu não podia ficar perto de Estevan porque geralmente nós não conseguíamos nos conter.
- Vamos conversar todos juntos. – Sean sugeriu.
Estevan pegou minha mão e enquanto voltávamos para nos juntar a Samuel e Dereck, Sean disse:
- Também não foi propício o encontro na sala do castelo na noite do baile. Sei que vocês são jovens e seus hormônios estão fervilhando. Mas ainda assim precisam se conter.
- Você fala até o casamento? – perguntou Estevan confuso, sabendo muito bem do que Sean falava.
- Não dei uma data, Alteza... Só disse sobre os lugares. – ele me olhou de soslaio.
Porra, que vergonha. Se fosse Stepjan me repreendendo, literalmente pouco se importaria. Mas Sean realmente se importava comigo. E creio que pudesse até ter certo ciúme de mim. Sorri feliz ao pensar que meu pai sentia ciúme de mim, da “sua menina”.
Estevan não falou nada. Percebi que ele ficou pensativo. E eu só tive vergonha. Sean tinha razão. Aquele beijo era inevitável, mas desnecessário frente ao momento que vivíamos e o fato de Sam estar presenciando.
Nos juntamos aos demais. Sam me encarava furioso e provavelmente arrependido de ter aceitado minha sugestão. Ele havia levado um soco de Estevan e ainda me visto largar tudo para beijá-lo.
- Dereck, esta é minha futura esposa, Satini Beaumont.
Dereck curvou a cabeça na minha direção e eu fiz o mesmo. Dereck Chevalier era absolutamente perfeito. Agora eu entendia porque Estevan era o homem mais lindo do universo. Creio que qualquer pessoa que tivesse um pouco do sangue Chevalier nas veias não passava despercebido.
- Bem, além de sabermos que a verdadeira herdeira do trono não está morta e que o que homem que raptou sua noiva é o futuro rei de Avalon, o que mais temos a saber, primo? – perguntou Dereck ironicamente.
- Confesso que estou curioso, Dereck. – disse Estevan. – E desculpe, Samuel. Eu fiquei cego de raiva.
Samuel estava com a manga da blusa toda ensanguentada, pois havia estancado o sangue com ela. Embora o sangue estivesse contido, o nariz dele estava inchado e certamente ficaria um grande hematoma.
- Talvez eu devesse ter pedido para Sean lhe contar antes a parte que eu não raptei Satini sem o consentimento dela.
- Uma princesa organizando o próprio sequestro. – disse Dereck balançando a cabeça. – Definitivamente não se fazem mais princesas como antigamente.
- E que bom que isso não acontece mais. – disse Estevan me olhando sorrindo.
- E eu que achava Katrina Lee louca. – ele riu. – Creio que você possa ser pior que ela. Só falta ter feito uma tatuagem.
Olhei para ele confusa e tentei me conter. Como ele sabia? Samuel me olhou tentando decifrar as palavras dele. Certamente eu não contaria sobre a Coroa Quebrada que tatuei no meu pescoço. E quem seria a tal Katrina Lee?
Então eu comecei contando sobre o que acontecia de verdade dentro do castelo de Avalon. E depois Samuel passou para a parte da história de sua mãe e seu pai e como surgiu a Coroa Quebrada.