Capítulo 89
1628palavras
2022-12-27 10:55
Olhei tristemente para ela e perguntei:
- O que aconteceu com você? Por que todo este ódio repentino por mim?
- Ainda não entendeu que você é culpada por tudo?
Fiquei olhando-a sem entender direito o que ela estava tentado causar em mim.
- Espere aí... Ela não matou Alexander. – disse Samuel. – Quem fez isso foi Isabella.
- Isabella apertou o gatilho. Mas quem matou foi Satini.
- Ela não mandou seu irmão se jogar na frente dela e levar um tiro. – continuou Samuel, furioso.
- Acho que esta história não tem nada a ver conosco, Sam. – falou Théo.
- Tem sim... Ela está culpando uma pessoa inocente. – continuou Samuel firmemente. – A culpada já foi punida. Isabella provavelmente já está morta a mando de minha mãe. Então a morte de Alexander está vingada.
- Será que vocês não entendem o quanto ele amou Satini? – vi as lágrimas escorrendo pelo rosto dela. – Ele deu a vida por ela. E o que ganhou em troca deste amor? Nada... Absolutamente nada. Só a morte.
- Eu também gosto de Satini... – disse Sam me olhando. – Muito... – ele voltou para Mia. – Ainda assim nunca fui agressivo com ela, muito menos possessivo, pois sabia que ela não me pertencia. Aliás, ela não pertence a ninguém. Ela é uma pessoa livre para fazer suas escolhas.
- Nem tanto... – disse Théo. – Ela não escolheu o príncipe D’Auvergne.
- Sim... Eu o escolhi. – falei. – Ele foi escolhido para mim e eu aceitei. Porque ele é o homem que eu sempre amei. Sam tem razão. Hoje eu sou livre e ainda assim escolho Estevan.
- Eu não sou capaz de perdoá-la, Satini. – disse Mia.
- Tudo bem, Mia. Eu não vou forçá-la a fazer isso. O perdão precisa vir de dentro de você, precisa ser sincero e não porque eu estou lhe pedindo. Eu fui capaz de perdoar Alexander quando ele me pediu... E ele me fez coisas horríveis.
- Perdoá-lo por amá-la tanto quanto ele amou?
- Não... Perdoá-lo pelas tantas vezes que ele me agrediu, que me bateu na cara, que me tocou, que me ofendeu com palavras horríveis, pela vez que tentou me estuprar... E me matar.
Houve um longo silêncio. Não olhei para Sam, mas senti os olhos dele sobre mim.
- Agora que ele morreu você pode falar o que quiser dele, não é mesmo? Ele não está aqui para se defender. – ela disse olhando nos meus olhos.
- Alexander me amou... Mas também fez coisas horríveis para mim. Mas eu o perdoei... E ele se foi com a certeza disto. E sim, eu o amei... Não da forma como ele esperava, mas o amei como o meu irmão. No fim, acho que o amor existia muito mais da parte dele do que da sua...
- Eu só não conto toda a verdade sobre seu plano de ser sequestrada a toda Avalon porque tenho medo de ser punida pela futura rainha Emy Beaumont, assim como ela fez com Isabella.
- Sim, ela a mataria. – disse Théo. – Então acho melhor você nem mencionar isso em voz alta.
- Vamos embora. – disse Samuel me pegando pela mão e me levando até o carro.
Confesso que eu poderia ter ficado ali dizendo o quanto eu estava decepcionada com a atitude dela.
Ele sentou ao volante.
- Vai dizer que você dirige? – perguntei.
- Sim... Dentre outras habilidades, que você bem sabe. – ele sorriu girando a chave e dando partida no carro.
- Você é surpreendente, Samuel Leeter.
- E ainda assim você não quer um homem como eu? – ele ironizou.
Eu sorri. Ele me olhou de relance e disse:
- O que você falou sobre Alexander... É verdade?
- Sim.
- Por que nunca me contou?
- De que adiantaria? Eu tentei me defender todas as vezes. Depois decidi que o melhor a fazer era me vingar. E fiz algumas maldades com ele. Claro que nada comparado ao que ele me fez. E também tinha a questão de Léia e Mia. Eu não queria que elas sofressem.
- Ele cometeu um crime. Você sabe disto, não é mesmo?
- Eu sei... Ainda assim não me arrependo da forma como agi com ele, Sam. Eu fiz bem em perdoá-lo. Coloquei na balança as coisas ruins e as boas que ele me fez... E as boas venceram.
- Eu entendo... E ele acabou salvando a sua vida.
- Sim. E morrendo por mim. Agora, se não se importa, eu não quero falar sobre isso. É um assunto que eu posso enterrar, acho.
- E sobre o que vamos falar então? Nós dois?
- Não... Porque “nós dois” não existe, Sam. Nós vamos falar sobre duas coisas. Primeiro: eu quero fazer uma tatuagem da Coroa Quebrada no meu corpo. Segundo: você vai marcar um encontro com Estevan.
Ele me olhou confuso:
- Você só pode estar brincando.
- Não... Não estou. Eu estou na Coroa Quebrada... Eu sou Coroa Quebrada. E eu quero tatuar. É minha decisão.
- E você acha mesmo que a tatuagem é o problema?
- E não é? – brinquei.
- Você seria uma rainha horrível. – ele brincou. – Mas... Por que eu marcaria um encontro com Estevan D’Auvergne Bretonne mesmo?
- Para tentar um acordo de paz. E mostrar a ele que eu estou bem, impedindo assim a Coroa Quebrada de ser invadida e haver mortes desnecessárias.
- E depois ele a leva e você vivem felizes para sempre?
- Sam, eu acho que eu e Estevan vamos mesmo viver felizes para sempre. Se você não me entregar a ele, sabe que ele virá me resgatar. E isso não será nada bom para ninguém. Vocês estarão em desvantagem. Não aceitar minha ideia é como o suicídio da Coroa Quebrada.
- E onde entra o plano de minha mãe assumir o trono nisto tudo? Ou tudo que você planejou foi para que seu noivo a resgatasse e virasse um herói nacional?
- Emy logo fará isso. A imprensa já está voltada para Avalon, Sam. O primeiro passo agora é falarmos com Estevan.
Ele ficou em silêncio. E eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Mas uma coisa eu tinha certeza: ele era o líder daquele plano agora. E eu sabia que minha ideia era a melhor que tínhamos no momento. Depois que Estevan e os príncipes Chevalier invadissem Avalon, ninguém mais os seguraria. E eu tenho certeza de que Samuel sabia que eu estava certa.
- Eu acho que vou falar com Beatrice. E fazer com que ela consiga marcar um encontro.
- Não. Beatrice não é a pessoa adequada para conversar com Estevan. Mas tem alguém que ele confiaria. E saberia que não é uma armadilha.
- Quem?
- Sean.
- Sean?
- Sim. Só Sean pode fazer isso.
- Sabe que acho que eu pretendo só levá-la para fazer a tatuagem, não é mesmo?
Eu encostei no braço dele e disse:
- Não... Sei que você é inteligente o suficiente para saber que eu tenho razão. E que não quer que o seu mundo seja destruído. Porque é isso que acontecerá se as tropas de Alpemburg e Noriah Sul vierem para Avalon sem que Estevan saiba que está tudo bem comigo. E como eu disse, você será um rei perfeito... E isso se dá ao fato de você ter uma coisa que sua mãe não tem...
- O que seria?
- Coração, Sam.
Seguimos até a Coroa Quebrada em silêncio. Eu sabia que de alguma forma ele estava matutando o que eu disse. E tinha esperanças que ele aceitasse, ou seria o fim da Coroa Quebrada. E com o fim da Coroa Quebrada, Stepjan poderia renascer das cinzas e se fortalecer.
Ele deixou o carro antes da ponte. Quando a atravessamos, o dia já nascia em Avalon. Um dia ensolarado e quente.
Quando passamos pelo prédio onde ficava o apartamento de Samuel fiquei confusa:
- Onde vamos? – perguntei.
- Fazer a tatuagem.
- Já? – falei ansiosa.
- Sim... Assim temos uma desculpa pela nossa ausência.
- Hum, além de ter um coração, Sam Leeter é inteligente. – brinquei.
- Como eu disse, tenho muitas qualidades. Seria um bom marido.
Eu ri alto:
- Não acredito que esteja dizendo isso.
Ele começou a rir também:
- Ok, peguei pesado desta vez.
Caminhamos um pouco e em seguida chegamos num dos prédios, que subimos a escadaria até o segundo andar.
Ele bateu na porta e um rapaz atendeu. Era jovem, talvez um pouco mais velho que Samuel.
- Tem tempo para uma tatoo? – ele perguntou.
- Outra?
- Não é para mim... É para a princesa de Avalon. – ele me olhou.
O homem curvou-se ironicamente. Eu sabia que sempre que eles faziam aquilo para mim era em tom de deboche. Mas sinceramente, eu não me importava. Eles sabiam que minha tia e Sam eram os verdadeiros herdeiros da coroa. E mal sabiam que eu não era nem a verdadeira princesa. Então quem era eu para reclamar?
Ele saiu da porta e entramos. O lugar era bem pequeno. Percebi que o apartamento de Emy era bem maior que os demais. Seria um benefício por ser a futura rainha?
Ele me trouxe uma cadeira e eu sentei.
- O que a princesa vai querer? – ele perguntou.
- A coroa... Quebrada.
Ele me olhou surpreso:
- A princesa de Avalon, tatuará a coroa quebrada?
- Sim. –falei certa da minha decisão.
- Em que parte do corpo?
- Atrás do pescoço.
Quando ele trouxe a máquina, que mais parecia uma pistola... Ou talvez uma caneta hidrocor gigante, eu fiquei maravilhada. Sim, eu queria muito fazer aquilo.