Capítulo 88
1784palavras
2022-12-27 10:54
Senti arrepios quando percebi alguém tocando no meu pescoço. Acordei num salto.
- Sam?
- Hora de irmos.
Fiquei um pouco atordoada ao sentir os dedos dele sobre a minha pele sensível do pescoço.
- Por que me acordar assim? – reclamei levantando.
- Da próxima vez acordo você com um beijo.
Revirei meus olhos e saí para o banheiro rapidamente. Antes que abrisse a porta, senti a mão dele sobre a minha.
- Você não vai tomar banho. – ele advertiu sussurrando.
- Eu... Iria.
- Esqueceu que estamos nos escondendo para fazer isso?
- Desculpe. – falei baixinho.
Escovei os dentes rapidamente e troquei de roupa. Em cinco minutos estávamos saindo do apartamento. Começava a amanhecer. E mais uma vez eu via o sol nascer. O que antes foi tido como um sonho agora acontecia tão frequentemente na minha vida. Eu queria coisas tão simples... E tinha recebido tudo e um pouco mais. Eu era uma privilegiada, não cansava de repetir isso para mim mesma o tempo todo.
Atravessamos a ponte e havia um carro nos esperando. Assim que entramos, vi Théo na direção.
- Théo? – perguntei surpresa.
- Ele vai nos levar até Mia e Léia. – disse Samuel.
- Obrigada, Théo.
- Neste caso, Satini, só verá Léia. Mia definitivamente não quer vê-la.
- Acho que Mia não vai me perdoar nunca.
- Dê um tempo para ela. – ele disse. – Tudo vai se resolver. Ela está muito sensível. Acho que um pouco é da gravidez.
- Ela está bem? Sentindo algo diferente? – perguntei preocupada.
- Não... Ela está bem.
- E seus pais? – perguntou Samuel. – Como reagiram ao fato de ela estar na sua casa?
- Incrivelmente bem. Decidimos que vou continuar estudando. Mia também poderá ir para a faculdade depois que o bebê nascer.
- Que bom que vocês têm planos para o futuro. – falei.
- E você, como está? – ele me perguntou.
- Bem, dentro do possível.
- Bem... Muito bem. Agora além de Estevan D’Auvergne Bretonne ela também tem Dereck e Magnus Chevalier na lista de príncipes que vieram salvá-la. – ironizou Samuel.
- Que porra isso! Vi na televisão. Eles devem estar chegando em breve ao aeroporto de Avalon. – disse Théo.
- E minha mãe me deixou no comando de impedir o ataque. – ele disse.
- E se em vez de impedir o ataque você fizesse o contrário? – sugeri.
- Como assim?
- Atacar o castelo de Avalon.
Ele riu:
- Você só pode estar louca.
- Por que não? Stepjan não espera isso. Ele acha que a guerra será entre Alpemburg, Noriah Sul e Coroa Quebrada.
- No caso seria Coroa Quebrada contra Noriah Sul, Alpemburg e Avalon.
- Ou não... Se Estevan se juntasse a nós.
- Ele jamais faria isso.
- Por que não?
- Por que roubamos a futura esposa dele? – falou Théo confuso.
- Acha mesmo que eu pediria ajuda a Estevan? Acha que ele me ajudaria? Eu roubei você dele de dentro do castelo... Ele me viu beijando-a. Nós discutimos na manhã que vocês dois estavam juntos na Travessia, no dia que o conheci. Definitivamente, não há possibilidade de fazermos uma aliança. Sem contar o fato que eu vou tentar tirar a noiva dele até o último minuto.
- Sam... Por favor, não me deixe constrangida.
- Estou sendo sincero, querida.
Ok, assunto encerrado. Mas ainda acho que unir forças contra Stepjan aquela altura era a melhor coisa a fazer. Ele não esperava isso. Certamente tinha a certeza de que todos viriam invadir a Coroa Quebrada. Mas ele não contava comigo: Satini. Eu sorri vitoriosa. Eu mudaria o curso das coisas... Ou melhor, da guerra. Emy Beaumont assumiria sim seu trono... Nem que fosse através de luta.
Chegamos ao Rock Bar.
- Você mora no Rock Bar? – perguntei a Théo, confusa.
- Não. Mas trouxe Léia para vê-la aqui... Para que você não precisasse ir até minha casa.
- Mia não quis sequer que eu fosse à sua casa? – perguntei sentindo uma dor no meu coração. – Tudo isso para não me ver na frente dela?
Ele abaixou a cabeça e eu tive certeza de que a resposta era sim.
Ele abriu a porta e entramos. Léia estava sentada numa cadeira, junto de uma mesa pequena. Assim que me viu, ela levantou-se. Eu fiquei temerosa da reação dela. Será que Léia também me odiava tanto quanto Mia?
Mas assim que ela abriu os braços para mim, senti meu coração se aquecer de amor. Corri até ela e a envolvi nos meus braços. Ela alisou os meus cabelos e senti as lágrimas dela me molharem. Depois de um longo e apertado abraço, eu olhei nos olhos dela:
- Eu sinto muito... Jamais quis que isso acontecesse.
- Eu sei, minha querida. Jamais a culparia por isso.
Percebi que Théo e Sam foram para o bar. Logo pegaram alguns papéis e começaram a conversar. Então percebi que estavam me deixando a sós e a vontade com Léia.
Sentamos e eu segurei a mão dela, carinhosamente:
- Eu já me lamentei tanto... Me culpei tanto...
- Você não tem culpa, Satini. Alexander fez isso porque quis. E... Sabemos o quanto ele era louco por você. Jamais a deixaria morrer.
- Eu nunca duvidei do amor dele por mim, Léia. Mas ainda assim nunca pensei que ele pudesse dar a vida por mim.
- Se você tivesse morrido, ele estaria morto da mesma forma, Satini. Porque ele não viveria sem você.
- Léia, eu o perdoei... O perdoei dias antes do baile. E eu sou tão feliz por ter feito isso.
- E aposto que ele também... Eu agradeço por ter desculpado meu filho depois de todo o mal que ele lhe fez.
- O mal que ele me fez não é nada comparado ao que Alexander me fez de bem. Entende que eu só estou aqui, viva, por causa dele?
- Sim... Então ver você aqui, o amor da vida dele, a garota que criei com tanto amor e a quem ele resolveu dar a própria vida me faz lembrar o quão corajoso ele é... E o quão generoso pode ser. Você é o que sobrará dele... Na minha vida.
“É”? “Pode ser”? Léia não se deu conta que Alexander não estava mais entre nós? Não se eu sentia ainda mais dó da dor dela ou ficava intrigada por ela falar sobre Alexander como se ele ainda estivesse vivo.
- Não, Léia. Eu não sou o que sobrou dele.
- Como assim?
Apertei a mão dela com força e disse:
- Alexander terá um filho.
Ela me olhou confusa.
- Mia não lhe contou?
- Não... O que Mia sabe que eu não sei?
- Beatrice está grávida.
- Eu... Sei disso.
- E você mesma me disse que o filho não poderia ser do rei Stepjan.
- Beatrice e Alexander...
- Sim... – eu disse sorrindo. – O bebê é filho dele.
Apesar de surpresa, vi um sorriso no rosto dela.
- Léia, você vai ter um neto... Alexander nos deixou algo... E não foi eu. Foi o sangue do seu sangue.
- Eles... Se gostavam?
- Segundo Alexander, não. Mas talvez sim... Eu não sei exatamente o que houve entre eles. Mas creio que Beatrice poderá lhe explicar. E duvido que ela possa negar-lhe o neto... Ou neta.
Ela sorriu:
- Já vejo um bebê loiro de olhos azuis correndo... Com cabelos encaracolados.
- Ou negro, se puxar a mãe. Mas creio que ele não se escapa dos olhos claros. Ou azuis como o do pai, ou verdes como o da mãe. E eu não tenho dúvidas: será lindo independente de a qual dos dois puxar.
- Isso me deixa feliz, em meio a tristeza de tudo que tem acontecido nos últimos dias.
- Tudo vai ficar bem.
- Satini, eu quero lhe pedir só uma coisa.
- Qualquer coisa, Léia.
- Quando lembrar dele, não deixe os momentos ruins se sobressaírem aos bons. Tente recuperar as lembranças de quando vocês eram crianças e se divertiam... Quando corriam pelo castelo se escondendo e do sorriso lindo do menino mais gentil que você conhecia.
- Léia, quando eu lembrar de Alexander, será como o menino com cara de anjo que sempre fez tudo por mim... O menino com quem eu troquei meu primeiro beijo... E que tentou fugir de mim. – eu ri. – No fim, depois percebeu que eu era o amor da sua vida. Mas acima de tudo, vou lembrar de Alexander todas as vezes que eu sentir que estou viva, Léia... Porque isso eu devo a ele. Sinceramente, não sei se outra pessoa faria isso por mim.
Ela levantou e me abraçou novamente:
- Então viva esta vida que lhe foi dada. Agora eu preciso ir, querida. Tenho algumas coisas urgentes para resolver e falar com Beatrice.
- Você... Não vai voltar para o castelo?
- Não... Não posso. Aquilo lá virou uma loucura. Tenho medo do rei Stepjan ficar louco. Ele simplesmente fechou todas as entradas e colocou todos os guardas para rua. Ele já tinha um medo doentio de ser assassinado. Agora tudo só piorou.
- E Estevan?
- O príncipe está hospedado em Avalon. Ouvi dizer que ele não voltou para Alpemburg. Mas eu só sei isso. Ele não ficou no castelo. Saiu com sua família imediatamente após o ocorrido na noite do baile.
- Uma guerra está prestes a começar, Léia.
- E certamente você estará dentro dela.
Eu sorri:
- Junto de meu pai.
- Pauline teria tanto orgulho de você.
- Léia, obrigada por ter sido a minha mãe... Eu não poderia ter tido exemplo maior, nem carinho tão grande.
- Foi um prazer cuidar da filha da minha melhor amiga.
- E me perdoe... Por tudo.
- Não há motivos para perdão. Tudo foi como deveria ter sido. Eu não guardo nenhum tipo de rancor. Só peço que tente esquecer as coisas ruins que meu filho lhe fez... E quando lembrar dele, que sejam lembranças de quando foram felizes.
Eu fui até Samuel e disse que estava pronta. Léia realmente parecia ter pressa. E eu sabia que não poderíamos demorar. Havíamos combinado de estar de volta na Coroa Quebrada antes de todos acordarem.
Quando saímos na rua, Mia estava parada na calçada, esperando por Théo. Vi Léia já dobrando a esquina. Então eu não teria aquela conversa com ela junto para me ajudar e confortar.
- Mia...
Ela me olhou:
- Vai me pedir desculpas por ter matado meu irmão? Eu não sou minha mãe. Para mim você não está no pedestal que ela e Alexander a colocaram.