Capítulo 85
2118palavras
2022-12-27 10:52
- É impressão minha ou sua mala está no meu quarto? – ele me perguntou se levantando e indo para lá.
- Sua mãe decidiu que primos devem dormir no mesmo quarto. – falei indo atrás dele. – E depois do que eu vi, não vou contestá-la de forma alguma.
- Por que não me disse que ela sabia sobre você ser a princesa?
Ele tirou a camisa e foi até o armário, colocando outra, sem se importar com a minha presença.
- Porque como ela mesma disse, solicitou que eu não contasse.
- Quando ela soube? Foi quando você foi trazida para cá naquele dia?
- Sim.
- E você também soube que ela era sua tia?
- Sim.
- E ainda assim você me beijou na escadaria?
Eu corei, não dizendo nada. Lembrava exatamente daquele dia.
- Você esqueceu que éramos primos quando saiu pela porta? – insistiu ele numa resposta.
O que falar? Nada. Continuei calada.
- Eu quero saber por que Estevan estava lá.
- Ele é o meu futuro marido... Escolhido por meu pai. Ele é Estevan D’Auvergne Bretonne.
Eu sentei na minha cama e ele na dele, um de frente para o outro.
- E por isso você decidiu que queria ficar para o resto do baile? – ele perguntou ironicamente.
- Sam, eu sou apaixonada por ele... Desde a primeira vez que o vi. Só nos separamos porque ele tinha uma noiva... E esta mulher era eu, entende?
- Fico tentando entender tudo isso... Mas é bem complicado.
- Minha vida sempre foi complicada. Minha história com Estevan sempre foi complicada...
- Teve medo da minha mãe hoje, quando ela disse que ordenou a morte de Isabella?
- Se dissesse que não, estaria mentindo.
- Ela sofreu muito... Isso a tornou forte. E a vingança contra seu pai é o que a move.
- Se você conhecesse pessoalmente o rei Stepjan Beaumont saberia exatamente o que ela sente... E eu.
- Mia está furiosa por conta de Alexander ter levado o tiro por você.
- E eu com muita culpa.
- Você sabe que não há dúvida do que ele sente por você, não é mesmo?
- Sim... E eu preciso lhe contar uma coisa.
Ele arqueou as sobrancelhas, curioso:
- O que seria?
- Beatrice se envolveu com Alexander dentro do castelo.
- Como assim?
- Eles... Estavam tendo um caso.
- Ainda assim ele deu a vida “por você”?
- Eu tenho certeza de que ele não estava apaixonado por ela. Mas não sei sobre os sentimentos dela com relação a ele.
- Beatrice é esperta. Não faria nada que comprometesse o plano, acredite.
- Não estou dizendo que ela ter se envolvido com Alexander foi errado. Mas... Ela talvez esteja sofrendo. E está grávida.
- Beatrice é forte. E você mesma viu que minha mãe não se importa muito com o sofrimento dos outros. Dana é a melhor amiga dela, da vida toda. Ainda assim ela ordenou a morte de Isabella.
- E você não sente nada com relação a isso?
- Sim... Eu sinto a morte dela. Éramos amigos, como eu mesmo lhe disse uma vez. – ele disse demonstrando pouco sentimento.
- Acha que ela realmente está morta?
- Se minha mãe ordenou que Beatrice fizesse isso, tenho certeza de que sim.
- Acho que Isabella o amava da forma como Alexander a mim.
- Talvez... Amores doentios, que não fazem bem.
- Sim... Ainda assim me culpo por ele ter se jogado na minha frente.
- E eu entendo que ela fez tudo por ciúme.
- Eu sinto muito por tudo, Sam. Perdemos pessoas importantes para nós.
Ele sentou ao meu lado e pegou minha mão. Olhei dentro da íris verde dele. Seus cabelos lisos estavam desarrumados e ele estava absurdamente lindo.
- Eu realmente gosto de você. – ele disse.
- Sam... Por favor.
- Eu não vou desistir, entende?
Retirei a minha mão da dele e peguei seu rosto, encarando-o:
- Sam... Eu acho você lindo, inteligente, corajoso, toca guitarra como ninguém. – eu ri. – Você é sexy, o homem que qualquer garota daria a vida para ter ao lado.
- E eu só quero você.
- Eu sou louca por Estevan... E nada pode mudar isso.
Ele retirou minhas mãos do seu rosto e me abraçou carinhosamente:
- Ter você aqui será um grande desafio.
- Me parece que esse foi o objetivo da sua mãe.
- Talvez ela tenha feito isso com a intenção de que a gente se resolvesse.
- Somos primos, esqueceu? – tentei fazer com que ele refletisse e tirasse esta ideia de “nós dois” da cabeça.
- Sabe que ela disse que não se importa sobre este fato?
Respirei fundo e falei:
- Eu me importo.
- Sério? Por isso que quando soube a verdade a primeira coisa que fez foi me beijar?
- Sam... Eu estava brigada com Estevan.
- Então não venha me mentir que se importa por sermos parentes.
- Eu queria poder não amar Estevan da forma que eu amo, acredite. Tantas coisas seriam diferentes. Poderia ser com você... Ou até mesmo com Alexander. Mas não há espaço para outro no meu coração a não ser ele.
- A vida é engraçada... Por que nos apaixonamos justamente pelas pessoas que não nos amam?
- Você vai encontrar a pessoa certa, Sam... E tenho certeza de que ela o amará intensamente... Da forma como você merece.
- Vou tentar olhar para você somente como uma Beaumont... Parte da minha família. E procurar esquecer tudo que fizemos no camarim do Rock Bar, debaixo da escada de Avalon Club...
- Sam, pare, por favor. – pedi. – Eu... Tenho certeza de que você vai conseguir esquecer.
- Eu ouvi quando Estevan disse que a resgataria. Aliás, eu acho que todos naquele salão ouviram. Acha mesmo que ele virá?
- Eu... Não tenho certeza. Mas se fosse com ele, eu moveria céus e terra para encontrá-lo. Só não sei o poder que ele tem para isso.
- Bem, vamos esperar para ver.
- Qual o plano agora?
- Esperar uns dias e fazer um vídeo, para colocar na internet, pedindo o resgate. Minha mãe não me conta tudo... Talvez ela tenha planejado algo que eu não sei.
- Sean está bem?
- Sean sempre está bem. – ele disse. – Acho que ele nasceu para ser um rebelde.
Eu ri.
- Sim...
- Relaxa, Satini. Vai dar tudo certo. Eu acho que realmente seu pai não vai pagar o resgate.
- Eu sabia que ele jamais pagaria, Sam. Só tenho medo de que algo aconteça com este lugar... E com vocês.
- Somos melhores preparados que o exército real, acredite. Eles só aprenderam a proteger o rei, nada mais.
- Espero que você esteja certo. E me prometa que se souber algo sobre Alexander, qualquer coisa, irá me avisar.
- Prometo.
Deitei na cama mais tranquila. Eu realmente queria ficar de bem com Samuel. Gostava dele e não queria ficar discutindo, muito menos fugindo dele com medo de ser agarrada.
Ele deitou na cama dele, colocando fones no ouvido enquanto escutava algo. Nos olhamos e sorrimos um para o outro. O homem que empunhava uma arma à noite agora deitava em sua cama escutando música, como uma pessoa normal.
Uma pessoa normal... Alguém era “normal”, afinal?
No dia seguinte gravamos o vídeo com o pedido de resgate. Fui colocada na sala onde Emy Beaumont me interrogou quando sequestrou-me a primeira vez. Fiquei sentada em uma cadeira, olhando diretamente para câmera. Ao meu lado algumas pessoas armadas e com os rostos cobertos por capuzes pretos que só deixavam aparecer seus olhos. Eu não estava amarrada e não era intenção que parecesse estar sendo maltratada. Emy era quem falava inicialmente, dizendo que havia raptado a princesa de Avalon porque nunca houve diálogo entre a Coroa Quebrada e o rei. Ela devolveria Satini Beaumont ao castelo em troca do rei Stepjan conhecer o outro lado do reino, a outra parte da coroa, mas sozinho, sem exército real. Então eu seria entregue diretamente a ele. Ela garantia que não haveria represálias contra ele, muito menos qualquer tipo de agressão. Só queria uma conversa, que há muitos anos já era para ter acontecido. Ela ainda deixava no ar que poderia ser um acordo de paz entre ambas as partes e uma possível junção das duas partes da coroa. Depois que ela falava, eu garantia que estava sendo bem tratada e esperava por meu pai, Stepjan Beaumont. E que eles não queriam dinheiro nem nada de valor. Só queriam a presença do rei para uma conversa.
Sem Isabella para fazer a parte de disseminação do vídeo nas redes, levaram quase a tarde para conseguirem entrar no sistema. Em pouco tempo, o mundo assistia ao vídeo da princesa de Avalon. E já não sabíamos se éramos vistos como terroristas ou pessoas de bem, que só queriam ser lembrados pelo lado dominante.
Depois de vermos o vídeo em pouco tempo em vários canais de televisão, eles comemoraram, na certeza de que tudo daria certo. O plano não mudara: o rei não aceitaria o trato. A mídia mundial já estava voltada para Avalon. Então em breve saberiam que a rainha Emy estava viva. E sobre o plano da morte dela planejado por seu próprio irmão.
No cair da noite, fui até o rio que fazia a divisa da Coroa Quebrada. Andei até um lugar mais calmo, onde eu não conseguia ver ninguém, somente a paisagem à minha frente. Sentei-me sobre uma pedra e fiquei observando a correnteza à minha frente. Respirei um pouco o ar mais puro que vinha dali. A
Coroa Quebrada era um lugar com tantas pessoas num espaço tão pequeno que por vezes eu ficava confusa e tonta. Também havia a tensão e o medo. Eu gostava de Emy Beaumont e a admirava. Mas também a temia, de certa forma.
- Pensando na vida?
Olhei para trás e vi Sean. Levantei rapidamente e fui até ele, me aconchegando em seu peito num forte abraço. Eu gostava do cheiro dele. Eu tinha um olfato bem apurado e poderia esquecer até o rosto das pessoas, mas não esquecia o cheiro que elas exalavam quando faziam uso de perfumes. Fiquei um tempo ali, sem dizer nada, só sentindo aquele homem que eu tanto amava junto de mim.
- Como se sente? – ele perguntou alisando meus cabelos.
- Eu não tenho certeza. – admiti.
- Achou fácil fazer o vídeo?
- Não achei fácil... Foi tenso. De alguma forma, eu temo um pouco Emy.
- Acho que todos a temem, não é mesmo?
- Às vezes me parece que até Sam tem medo dela. Mas não se arrisca a contrariá-la. Mas ao mesmo tempo entendo esta frieza com que ela comanda tudo e todos. Ela passou por muitas coisas ruins.
- Sim... Era para ela estar no castelo. E talvez se isso acontecesse hoje não teríamos duas Avalons dentro de uma.
- Sim...
- Mas nem tudo na vida é perfeito, não é mesmo? Você também teve seus sofrimentos e de alguma forma eles a fortaleceram.
- Creio que sim. Sempre me achei forte e foi exatamente por isso: pelas coisas ruins que vivi. Mas eu sinto que tenho um coração ainda. – eu olhei para ele e sorri.
- E isso é bom, minha menina.
- O que vamos fazer depois que tudo isso acabar, pai?
- Ir morar em Alpemburg? – ele riu, levantando os ombros.
Eu ri:
- Seria perfeito, não é mesmo? Mas acha que Estevan vai me aceitar, mesmo eu não sendo uma Beaumont?
- Eu tenho certeza que Estevan não se importa com o seu sobrenome, Satini.
- Eu o amo tanto... E quando finalmente ele esteve junto de mim e tudo pareceu tão real, o destino me colocou longe dele novamente.
- O tempo resolve tudo, querida. Sempre lembre disto. Eu levei 17 anos para encontrar minha filha... E poder dar-lhe um forte abraço, bem como todo meu amor.
- Não entendo como você conseguiu esperar tanto tempo...
- Olhe quanto tempo Emy demorou esperando a oportunidade de vingança...
- Pensando por este lado...
Ouvimos um ruído vindo pelas árvores, próximo do rio. Avistamos Samuel.
- Está me seguindo? – perguntei ironicamente, sorrindo.
- Mais ou menos. – ele disse seriamente.
- Foi uma brincadeira, Sam.
- Mas as notícias que eu trago não são uma brincadeira, Satini.
Olhei nos olhos dele e o vi completamente preocupado, o que era difícil de acontecer. Sam sempre parecia calmo e tranquilo.
- O que houve? – perguntei sentindo meu coração saltar para fora do peito, já nervosa e com medo.