Capítulo 84
2327palavras
2022-12-27 10:52
Sean havia trazido uma pequena mala, mas tinha o básico que eu precisava de roupas minhas e calçados. Tinha também peças íntimas. E finalmente, minhas calcinhas. Nunca fiquei tão feliz de ver uma calcinha na minha vida.
Minha dúvida foi: quem teria feito a mala? Sean não teria entrado no meu quarto, dentro do castelo, para pegar roupas para mim. Teria sido Léia? Mas como ela sabia?
Assim que saí do banheiro, Emy me levou até o quarto.
- Pode colocar suas roupas aqui. – ela disse mostrando parte do armário preparado para mim.
Vi duas camas no quarto amplo e com algumas guitarras no chão, bem como fotos da banda de Sam por todos os lados. Olhei para tia Emy confusa e perguntei:
- Eu vou dormir com Sam?
- Cada um na sua cama, querida.
Não! Não faça isso comigo, Emy. Eu e Sam no mesmo quarto? Isso é problema na certa. Ele vai me perturbar o tempo inteiro.
- Acho que isso não seria um problema, não é mesmo? Não agora que vocês sabem que são primos.
- Creio que não. Mas... Eu estou noiva e em breve irei me casar. Não sei se isso seria apropriado.
- Não se preocupe, Satini. Isso não é um teste de fidelidade, muito menos de resistência entre você e meu filho. Tenho a impressão que vocês já foram bem além do que deveriam. E que agora esteja tudo resolvido. Afinal, como você mesma disse, está noiva e irá se casar.
- Sim... – falei incerta se concordava.
- E para ser sincera, não sei se realmente há problemas num envolvimento entre primos. – ela piscou e saiu.
Porra, que tipo de mulher era minha tia? Praticamente me jogando para cima de Sam, que a princípio era sim meu primo. Afinal, eles não sabiam que eu não era uma Beaumont. Teria Emy intenção de unir Beaumont’s de sangue? Credo, isso me deu um arrepio. Claro que eu não faria nada... E logicamente não pelo fato de sermos primos. Eu respeitaria Estevan. Eu o amava e não seria capaz de traí-lo agora que finalmente estávamos juntos. Então eu enfrentaria Samuel Leeter firmemente.
Fui para a sala, que era integrada com a cozinha. Tia Emy estava preparando o almoço. Emília ficou junto de mim, querendo conversar.
- Onde está Sean? – perguntei.
- Está com meus homens. – ela respondeu.
- Então... Não haveria um lugar para que eu pudesse ficar junto dele?
Ela arqueou as sobrancelhas curiosamente e perguntou:
- Ele não é o seu guarda-costas?
- Sim... Mas me afeiçoei muito a ele.
- Querida, melhor dormir no mesmo quarto do seu primo do que do seu guarda-costas. Isso sim faria seu futuro marido ficar furioso.
- Sim, verdade. – falei incerta se Estevan pensaria o mesmo.
- Deve estar com fome. – ela disse.
- Um pouco.
- Mamãe faz uma comida deliciosa. – disse Emília.
Acredito, Emília. Há dois dias atrás sua mãe estava com duas armas nas mãos, preste a atirar. Ela liderou um exército rebelde e invadiu o castelo de Avalon. Hoje ela cozinha para o almoço, como se fosse uma simples dona de casa. Que mulher! Ela era uma verdadeira e forte rainha.
Samuel entrou e me encarou. Seguiu para seu quarto sem trocar nenhuma palavra com ninguém. Olhei para Emy, que pareceu não se importar muito com a atitude dele.
- Quais as notícias de Avalon? – perguntei finalmente.
- Você bolou um plano perfeito, Satini Beaumont. Claro que tivemos alguns imprevistos no meio do caminho. Mas a mídia mundial está com os olhos em Avalon. Fomos notícia nos maiores jornais e telenoticiários do mundo todo.
- E alguma notícia sobre o rei Stepjan?
- Estão tentando uma entrevista coletiva com ele. Repórteres do mundo inteiro buscam Stepjan Beaumont bem como Estevan D’Auvergne.
- Você conhecia os D’Auvergne?
- Já tinha ouvido falar. Acho que meu pai já tinha negócios com o reino de Alpemburg. É um lugar pequeno, mas muito bem governado. Já procurei saber sobre eles.
- Já? – perguntei ironicamente.
Ela riu:
- Você é minha sobrinha. Claro que eu verificaria sobre o homem que está prometido a você. E quero que saiba que não é mais obrigada a casar com ele porque...
- Eu quero. – falei imediatamente. – Faço questão.
Ela me fitou surpresa e confusa:
- É um casamento arranjado, Satini. Sei muito bem como isso funciona e jamais a obrigaria a seguir adiante com isso.
- Eu amo Estevan D’Auvergne Bretonne. – confessei.
Ela demorou a falar algo. Ficou realmente impressionada e não tirava os olhos de mim, mesmo com as panelas no fogo.
- Então... Você já o conhecia?
- Sim. – falei. – Coincidentemente sim. Ele havia vindo conhecer Avalon exatamente pela questão do casamento e da nossa união enquanto reinos. Acabei conhecendo ele numa das primeiras vezes que saí do castelo. E... Apaixonei-me perdidamente.
- Entendo sobre apaixonar-se perdidamente, acredite. E se é de seu desejo se unir a ele, conforme foi planejado toda a sua vida, eu não impedirei.
- Não é só pelo amor que sinto por ele. Estevan é um homem incrível... Em breve ele será rei de Alpemburg. E tenho certeza de que será um monarca perfeito, diferente do que estamos acostumados em Avalon.
- Você não é mais obrigada a partir com ele, Satini. Creio que antes do seu casamento, Stepjan já estará preso. E não mandará mais nada... E você será livre.
- Eu desejo ir com ele, tia Emy. Para qualquer lugar...
Ela me ficou surpresa novamente:
- Se é do seu desejo, eu não vou intervir.
- Claro que é do desejo dela. – disse Samuel se jogando no sofá. – Afinal, agora ele não é só príncipe. É um rei.
- Você sabe que não é por isso, Sam.
- De repente eu não sei nada sobre você. – ele acusou.
Alguém bateu na porta e Emília, que até então escutava tudo atentamente, foi abrir. Uma mulher entrou afoita e preocupada. Tinha olhos claros e era baixa.
- O que você pretende fazer com ela? – perguntou em tom de voz alto.
Sam levantou-se e percebi que ele ficou tenso. Emy desligou as chamas acesas do fogão e veio para perto dela.
- Ela nos traiu e você sabe disso.
- Ela é minha filha, Emy. Você a conhece desde pequena. Ela namorou anos com Sam, praticamente morando na sua casa.
- Por isso mesmo ela sabia que eu não tolero traidores.
- Não tolera traidores? – Samuel riu ironicamente. – Não tolera a traição de Isabella, mas acolhe Satini Beaumont dentro de sua casa, quando escondeu de todos que era filha do rei Stepjan.
- Quem lhe disse que ela escondeu de todos? – perguntou Emy ao filho. – Eu sabia a verdade. Ela me contou. Não foi uma novidade para mim vê-la no baile real, ao lado de Stepjan Beaumont. Ela sempre esteve do nosso lado. E ela foi fiel a mim, pois eu pedi que ela não contasse a verdade a ninguém. E ela assim o fez.
Samuel me olhou confuso e abaixou os olhos. Depois de um tempo, ele perguntou:
- Por que não me contou a verdade?
- Porque sua mãe pediu que eu não dissesse, com medo de você não querer seguir com o plano. Ou atrapalhar de alguma forma.
- Mãe, você deveria ter me dito a verdade.
- Não deveria. Eu não queria que todos soubessem quem ela era. Já estamos tendo problemas com ela aqui. Eu confiei nela quando talvez ninguém mais teria lhe dado um voto de confiança. Achariam que ela estava aqui a mando do próprio pai. Não teriam acreditado que ela intencionava o fim de Stepjan.
- Acolhe a filha de Stepjan e deixou a minha dentro do castelo de Avalon, sozinha, para ser interrogada e talvez punida. – cobrou a mulher.
- Dana, ela é minha sobrinha. Satini é uma Beaumont, sangue do meu sangue. Foi acolhida porque ela planejou o ataque ao próprio pai. Isabella nos ajudou... Muito. Mas foi fraca e não cumpriu o plano, muito menos minhas ordens. E quando digo que não cumpriu minhas ordens, não falo só do fato de ter tentado comprometer a princesa de Avalon com suas palavras, mas também pelo fato de eu estar lá e ordenar que ela largasse a arma. Em vez disso, o que ela fez? Atirou... E matou uma pessoa.
- Ela tentou atirar em Satini e você sabe disso.
- Teria sido pior se ela tivesse matado a princesa de Avalon. O mundo inteiro viu sua filha atirando em Alexander, enquanto ele tentava proteger a princesa.
- Ela fez por amor.
- Por amor? Ela está doente. Persegue meu filho o tempo inteiro. Por algum motivo se acha dona dele. E sabemos que isso não é correto. E se ela tentasse matar Sam? Acha que ela não seria capaz disso? Eu, sinceramente, acho que sim.
- Ninguém viu o rosto dela, Emy. Não sabem que foi Isabella.
- Não há o que possamos fazer, minha amiga. Isso é uma guerra, não um joguinho de amor, onde se coloca em primeiro lugar os sentimentos pessoais e não a causa.
Samuel me encarou e não falou nada. Eu havia feito aquilo... E ele sabia.
- Eu exijo que você resgate minha filha de dentro do castelo de Avalon. – disse a mulher alterada.
- Isso não é possível. Ela nos traiu e foi a única que ficou dentro do castelo, com todas as provas contra nós. Ninguém da Coroa Quebrada aceitará a traição dela. Isabella atirou na direção do futuro rei de Avalon, Samuel.
- Do que... Você está falando?
- Que eu ordenei que nosso infiltrado a matasse antes de ela ser interrogada.
A mulher começou a chorar e disse:
- Você não teria sido capaz...
- Levei mais de vinte anos para fazer o que fiz... Jamais deixaria uma garota mimada e inconsequente estragar tudo.
- Emy, ela é minha filha... Você não pode ter sido tão fria a ponto de ordenar a morte de Isabella. Ela é só... Uma criança. A minha criança.
- Eu também era uma criança quando meu irmão tentou me matar... Ainda assim eu fui forte... E hoje estou aqui.
- Não... Eu não acredito.
Dana gritou e tentou avançar em Emy, que rapidamente a conteve:
- Sam, chame alguém para tirá-la daqui.
Samuel obedeceu. Em pouco tempo vieram dois homens e levaram a mulher aos gritos dali, berrando vários desaforos contra a futura rainha.
Fiquei ali, observando tudo atentamente. Eu não sabia exatamente o que eu sentia com relação ao que ela fez com Isabella. Mas uma certeza eu tive: Emy não aceitava traições. Por sorte, Sam não me deixou voltar atrás e traí-la.
- Quem é o informante? – perguntei.
- Não é “o informante”. – ela disse.
- A informante... Beatrice. – falei quase num grito.
- Garota esperta. – disse Emy.
- Mas... Como ela conseguiu?
- Eu não disse que esta vingança foi planejada por mais de vinte anos?
- Deus... Ela estava dentro do castelo, será noiva do rei... E... Está grávida.
- Sim. Ela espera um filho do rei Stepjan.
Não... Ele não era do rei Stepjan. Era filho de Alexander. Eu deveria contar a verdade? Mas se eu contasse que tinha certeza que o filho que Beatrice esperava era de Alexander, eu estaria comprometendo a mim mesma, praticamente confessando que ele não poderia ter filhos... Logo, eu não era filha dele também.
Provavelmente nem a própria Beatrice sabia que o filho que esperava não era do rei.
- E... Ela aceitou tudo? A gravidez fazia parte do plano? – perguntei sentindo um embrulho no estômago. Aquelas pessoas eram capazes de tudo.
- Sim... Eu sempre achei que meu irmão tentaria um filho homem. Só faltava a mulher certa.
- Ele certamente teve outras mulheres depois da morte da minha mãe. Mas nunca teve envolvimento emocional com nenhuma delas eu acho. Não tenho certeza se ele gosta de Beatrice... Ou do filho homem que ela pode lhe dar.
- Beatrice também está se vingando.
- Como assim?
- O rei Stepjan foi responsável pela morte do pai dela. Ele foi da guarda real. Torturado até a morte por motivos fúteis.
- Meu Deus!
- Sim... Ela esperou muito tempo por isso.
- Como vocês se falam?
- No momento não muito. Estamos sem contato. Mas ela sabe exatamente o que e como fazer. No entanto sobre o risco de Isabella ser a única rebelde dentro do castelo... Beatrice foi avisada de sua missão.
- Acha mesmo que Isabella seria capaz de falar a verdade sobre nós? – perguntou Samuel.
- Acho. Ela praticamente acusou Satini de estar junto no plano. – disse Emy.
- Como ela faria isso? – perguntei me referindo à Isabella.
- Temos muitos meios, querida. E você aprenderá cada um deles, eu garanto.
- Estou preocupada com a falta de notícias. – falei.
- Já temos notícias. E elas estão em todos os meios de comunicação. A não ser que você esteja falando do futuro rei de Alpemburg...
Abaixei minha cabeça. Emy serviu o almoço. Eu tentei comer um pouco, mas não estava com fome. Pensar em Beatrice matando Isabella me deu um frio na barriga. Sim, a garota errou. Mas ser punida com a morte não era muito sem sentido? Ela devia, no mínimo, ser julgada e condenada. E se tivesse que ser pelos próprios parceiros da Coroa Quebrada, que fosse. E Beatrice, que não sabia que esperava um filho de Alexander? Será que ela o amava? Como se sentia, sabendo que ele estava entre a vida e a morte? E como ela me enganou, fingindo que o detestava o tempo todo.
Assim que saímos da mesa, Emy disse que iria falar com os soldados. Emília saiu, sem dizer para onde iria.
Então ficamos eu e Samuel. Hora da verdade.