Capítulo 83
2152palavras
2022-12-27 10:51
- Está tudo bem com você? – ele perguntou.
- Sim... Tirando a culpa e a dor que sinto dentro de mim.
Ele sentou-se na cama, me levando pela mão para fazer o mesmo.
- Alexander não fez isso porque você pediu. Muito menos porque era sua função enquanto capitão da guarda. Alexander se jogou na sua frente para protegê-la porque ele quis, pelo amor que ele sentia por você.
- Mas eu não estaria viva se não fosse ele...
- Todos sabemos disso. E eu tenho certeza que ele não gostaria que você estivesse sofrendo deste jeito. Aposto que se ele se salvar ainda vai lhe dar um pouco de trabalho. – ele riu.
Eu ri. Sim, se ele saísse vivo me incomodaria, provavelmente para o resto da minha vida. Ele não conseguia fazer diferente. Exatamente no momento que tudo aconteceu, ele já estava iniciando uma discussão comigo. Mas o que eu mais queria era vê-lo bem, discutindo comigo e descumprindo os acordos de trégua. Porque nós éramos como irmãos. E irmãos brigam. Então talvez Mia também me perdoasse. Foi nossa primeira briga de amigas... E de irmãs.
- Imagino ele tentando impedir Estevan de me ver... – falei sorrindo.
- Acho que ele fará isso. Mas Estevan e Samuel são bem diferentes. Então vejo possibilidade de haver certa fraternidade entre os dois, se é que me entende. Mas não vejo isso com relação a Sam.0
Eu ri. Alexander e Estevan eram mesmo completamente diferentes. Mas Estevan era um homem seguro e tranquilo. E eu conseguia vê-lo tentando conquistar a confiança de Alexander para não ter problemas. Mas isso só seria possível se ele não morresse.
- Pai, como ele está?
- Qual dos dois? – ele perguntou arqueando as sobrancelhas.
- Os dois.
- Alexander está em estado grave. Mas no melhor hospital de Avalon e cuidado pelos especialistas mais renomados. E ele vai ficar famoso quando sair do hospital. O mundo viu ele se jogando na sua frente para protegê-la. Será um herói nacional.
- Ele sempre foi um homem corajoso... E completamente focado no trabalho. Até demais. – eu sorri lembrando. – E Léia?
- Léia não está no castelo. Acho que não sairá do hospital até ele melhorar. Conversei com ela por poucos minutos e escondido.
- E meu Estevan? – perguntei sentindo meu coração saltar pelo meu peito.
Ele pensou um pouco antes de responder e isso me deu um pouco de medo.
- Acho que teremos problemas com Estevan.
- Que tipo de problemas?
- Ele não é tão complacente como aparenta. Creio que conheceremos o lado audacioso e destemido dele.
- Como assim?
- Não acho que ele seguirá regras, muito menos ordens de Stepjan... Ou se importará com qualquer coisa na vida além de resgatá-la.
- Você... Falou com ele?
- Não consegui. Os reis foram fortemente protegidos pela guarda pessoal. Literalmente a guarda real de Avalon é preparada para dar a vida pelo rei Stepjan. Estevan e o rei Estefano tiveram sorte de estarem ao lado do rei de Avalon.
- O que houve depois que eu fui levada?
- Além do tumulto, que durou pouco, não sei de mais nada. Rapidamente todos foram retirados do salão de baile e ficou só a realeza e guarda dentro do castelo. Não conseguiram encontrar nenhum vestígio dos rebeldes. Literalmente nada. Entraram e saíram como fantasmas. E eu aproveitei o momento de confusão para fugir.
- Eu imaginei que esta parte do plano daria certo.
- Sim... Deu. Agora enfrentaremos a fúria do futuro rei de Alpemburg. E ele me preocupa mais do que o rei Stepjan.
- Por quê?
- Porque Estevan fará qualquer coisa por amor.
Sim, eu sabia disto. Estevan talvez atrapalhasse os planos. Em nome do nosso sentimento profundo e avassalador, ele iria até o inferno por mim... Assim como eu por ele. E creio que ele tinha um exército para isso.
- O que podemos fazer? Não quero que a Coroa Quebrada se prejudique por minha causa.
- Teremos que esperar e ver o que acontecerá.
- Agora eu estou ainda mais enrolada com Estevan, não é mesmo? – sorri. – Espero poder lhe contar toda a verdade... E que eu não sabia que ele estaria lá.
- Você terá esta oportunidade, querida.
- Pai, Estevan será o meu marido. Isso não é irônico?
- Acho que isso é destino, querida. Sempre foi.
Eu sorri e o abracei novamente:
- Me diga que vai ficar aqui comigo.
- Sim. Nunca mais vou ficar longe de você.
- Acha que podem vir atrás de você, acusá-lo de traição?
- Me acusar de traição, talvez. Virem atrás de mim, impossível. Como eu disse, na atual situação temo muito mais Estevan D’Auvergne Bretonne do que Stepjan Beaumont.
- Então não tema... Estevan não é do mal. Ele jamais faria algo contra você. Ele é a pessoa mais perfeita que eu já conheci. Não viu que ele quis fazer o brinde com você, por saber que era especial para mim?
- Você sabe que sempre achei que ele era um bom garoto... No caso um bom rei agora. – ele sorriu. – E sempre acreditei que houvesse explicação para tudo, pois sempre vi amor nos olhos dele.
- Assim como ele percebeu seus sentimentos por mim, pai. Lembra que ele disse que duvidava que meu pai sentisse mais amor por mim do que você? Lembro que ele me falou que tínhamos o mesmo olhar e o mesmo sorriso. Acha que ele sempre soube?
- Impossível... Somente eu e Léia sabíamos a verdade.
- E... Quando ele souber que eu não sou uma princesa, uma Beaumont. Acha que ele pode desistir do casamento?
- Acho que o mundo pode se acabar, mas Estevan jamais desistirá de você.
Eu sorri feliz com a resposta dele.
- Mas não vamos contar a verdade a ninguém por enquanto, Satini.
- Eu estava em dúvida do que fazermos sobre isso.
- Não é a hora. Eu confio em Emy bem como em Samuel. Mas não os conheço o suficiente para imaginar como reagiriam quanto a isso. Talvez possam usar esta informação contra o próprio rei Stepjan, podendo acusá-lo de ser traído pela esposa, incapacitado de gerar um filho... Enfim, coisas que sabem que podem acabar com o ego dele. Particularmente, eu mesmo gostaria de dizer a ele todas estas verdades. Mas não quero que isso seja jogado na mídia... E que você sofra as consequências desta mentira tão bem guardada por 17 anos.
- Farei como você achar melhor.
- Ficaremos aqui e esperaremos o mundo focar em Avalon.
- Estarei rezando para tudo dar certo... Especialmente a vida de Alexander.
- Apesar de tudo que houve, que ainda não sei exatamente o que, mas imagino, você ainda sente tanto assim o que aconteceu com ele?
- Sim... Muito. E sinceramente, nunca imaginei que eu me sentisse assim por ele. Tantas vezes eu quis a morte dele... Até mesmo já desejei matá-lo com as minhas próprias mãos. Mas... Eu sei o que é amor... Amor intenso, que dói dentro de você, que faz com que possa cometer qualquer loucura em nome deste sentimento. E só quem ama de verdade, faz o que ele fez: dar a vida por outra pessoa.
- Passei a odiá-lo quando soube que ele a maltratava.
- Eu já o amei, já o odiei, já desejei que ele partisse, que ele morresse... Mas no fim, eu não sei o que dizer sobre a forma como Alexander demonstra seu amor por mim. Mas eu tenho certeza de uma coisa: meu coração dói por ele.
- Viveram uma vida juntos... E isso nunca poderá ser apagado, não é mesmo?
- Sim...
- Eu... Preciso ir. Vou tentar falar com Emy e solicitar que você seja retirada daqui e posta junto de mim em algum lugar.
- Eu sou uma prisioneira? – perguntei confusa.
- No momento, creio que sim. E farei o possível para mudar isso. Mas é para o seu bem. Ela teme que alguém possa lhe fazer algum mal.
- Obrigada, pai.
Ele me deu um beijo na testa e saiu.
Eu confiava em Sean mais do que em qualquer outra pessoa. E nenhum homem me deixaria mais feliz ao saber que era meu pai do que ele.
Fui até a porta e realmente estava chaveada pelo lado de fora. Havia pequenas janelas bem na parte de cima, mais altas que o meu corpo. Não era minha intenção gritar ou tentar sair dali. Era melhor ficar quieta e esperar as coisas acontecerem.
Vi o dia findar e a noite chegar no meu cativeiro dentro da Coroa Quebrada. Deitei enquanto minha mente ficava dividida entre a preocupação com Alexander e o que Estevan estaria fazendo ou pensando naquele momento. Estaria ele em Alpemburg? Ou estaria ainda de Avalon?
A porta se abriu e uma pessoa que eu não conhecia me trouxe um prato de comida. Agradeci e coloquei sobre a pequena mesa. Eu não estava com fome. Senti um pouco de dor no queixo e tomei um analgésico. Achei que não dormiria por estar nervosa. Mas o cansaço do meu corpo não suportou e acabei apagando.
Quando despertei no dia seguinte me sentia bem melhor. Meu corpo estava recuperado. Fui até o pequeno banheiro e lavei meu rosto. Não havia chuveiro. Eu queria muito um banho. Isso talvez me restabelecesse definitivamente.
A porta se abriu e achei que me trariam o café da manhã. Mas não. O desconhecido homem armado me disse:
- A rainha lhe espera.
O segui, percebendo que a pequena casa era uma das poucas que havia ali. Aquele lugar era basicamente formado de apartamentos. E todos eram praticamente iguais, então era difícil se achar ali. Ele foi me conduzindo entre os prédios até chegar num que eu imaginava que pudesse ser o de Emy. Certamente ela era a rainha que me esperava. Eu fiquei um pouco nervosa. Minha tia Emy, que não era minha tia na verdade, era uma mulher forte e decidida. Creio que ela realmente tenha nascido para comandar, reinar ou seja lá o que fosse. Ela era uma líder nata e não havia como negar.
Ele bateu na porta e a pequena Emília abriu. Assim que me viu, ela me abraçou. Eu correspondi ao afeto dela.
- Se queixo está machucado. – ela observou.
- Entre, querida. – disse Emy assim que me viu. – Como se sente?
Como me sinto? Por que você não me deixou na sua casa, junto de vocês? Por que fiquei sozinha naquele lugar, como uma prisioneira? Qual foi seu plano, afinal? Tentou realmente me testar? No entanto eu só disse:
- Me sinto bem.
Entrei e o homem foi embora. Emy fechou a porta e eu fiquei ali, de pé, sem ter certeza do que fazer.
- Venha, vou lhe mostrar o banheiro. Você precisa urgente de um banho.
Sério? Isso deveria ter sido feito muito tempo antes. Não pensou nisso quando me deixou naquele lugar? Aquela mulher de alguma forma me intrigava.
Ela me levou até o banheiro. O lugar não era pequeno, mas em nada se comparava a minha suíte do castelo. Tirei a roupa e fui até o Box, abrindo o chuveiro. A água estava morna e perfeita. Deixei que ela escorresse abundantemente pelo meu corpo sujo. O banho foi demorado e quando fechei o chuveiro eu finalmente me senti limpa e voltando a ser eu mesma. Então percebi que não havia roupas para trocar. Enrolei-me na toalha e fui até a porta. Não precisei dizer nada. Logo Emília trouxe uma calça e uma camiseta para mim. Tinha também um sutiã. Esqueceram a calcinha. Será que tia Emy e Emília não tinham o hábito de usar calcinha? Sempre que me preparavam roupas, simplesmente não havia calcinha.
- Eu preciso de uma calcinha. – falei um pouco tímida para Emília.
- Sam disse que você não gosta de usar calcinha.
Idiota! Claro que ele não perderia a oportunidade de debochar de mim.
- Sam está enganado, querida. Eu gosto sim de usar calcinha. Será que você poderia arranjar uma para mim?
Emy apareceu na porta, intrigada:
- O que houve?
- Bem, as roupas que você me enviou são ótimas... Mas preciso de uma calcinha.
Emília olhou para a mãe e disse:
- Foi Sam que pegou as roupas. E ele disse que ela não gosta de usar calcinha.
Emy me encarou e eu corei. Ela disse firmemente:
- Devolva essas roupas no quarto do seu irmão. Sean deixou roupas da princesa aqui.
Senti um alívio quando ela disse aquilo. Sean era perfeito. Havia lembrado de pegar um pouco das minhas coisas.
Emília estava saindo quando Emy reforçou:
- Emília, diga também ao seu irmão que mamãe mandou avisar que Satini é uma Beaumont... E que eles são “primos”. – ela olhou para mim e sorriu. – Vou pegar sua mala.