Eu nem sabia que música tocava. Ainda tinha dúvidas se estar com Estevan dentro do castelo de Avalon era real ou um sonho. Aconcheguei minha cabeça no ombro dele e o apertei contra meu corpo, rezando para que se fosse um sonho eu nunca mais acordasse.
- Eu não consigo me controlar quando estou perto de você, Satini. – ele disse com voz baixa, no meu ouvido. – E tenho medo do que eu possa fazer com você no meio de todas estas pessoas.
Peguei a mão dele e disse maliciosamente, com todas as piores intenções na minha mente:

- Venha, vou lhe mostrar o castelo, Alteza.
- Será um prazer, princesa. – ele sorriu sedutoramente, me deixando completamente maluca.
Enquanto andávamos entre os casais na pista de dança, fomos interrompidos pela rainha Deise, que ficou à nossa frente:
- Querido, quero conhecer minha futura nora... Ou já seria nora e não mais tão futura? – ela sorriu encantadoramente.
Estevan era muito parecido com a mãe, que também tinha cabelos claros, mas castanhos e olhos cor de mel, emoldurando sua pele bem cuidada. Seus cabelos iam até a altura dos ombros, lisos com alguns fios mais dourados, embora parecesse natural. Ela era relativamente jovem.
Ela me abraçou e em seguida deu um beijo no meu rosto:

- Seja bem vinda à nossa família, querida.
- É um prazer, Majestade.
- Não precisamos de tantas formalidades para tratamento, não é mesmo? Pode me chamar de Deise... E eu vou chamá-la de Satini.
- Sinceramente, acho ótimo. – disse sorrindo.

- Minha mãe, Satini Beaumont é o amor da minha vida. – disse Estevan.
Ela olhou para ele com tamanho carinho que até invejei pela primeira vez um relacionamento mãe e filho. Eu não sabia o que era o amor materno, mas eu pude senti-lo ali, naquele momento.
- Nem preciso de palavras para explicar-me isso, Estevan. Eu percebi nos olhos de vocês quando se encontraram. E nunca vi tamanha coincidência em toda a minha vida.
- Queremos antecipar o casamento. – disse Estevan firmemente.
- Para quando?
- Por mim pode ser hoje mesmo. – eu falei olhando para ele, seriamente, com um sorriso tímido. Eu falava sério.
Ela riu:
- Acalmem-se, crianças. Podemos antecipar, mas sinceramente não acho que há motivos. Vocês já se encontraram mesmo... E nada mais vai separá-los agora. Vamos planejar tudo calmamente. Vocês merecem.
- Não estou disposto a esperar um mês. – ele falou firmemente.
- Teremos que antecipar a sua coroação como rei também.
- Não acho que meu pai se importará com esta antecipação.
- Temo tantas responsabilidades, querido... Em tão pouco tempo.
- Com Satini ao meu lado, eu posso dar conta de tudo, acredite. – ele falou apertando minha mão junto da dele.
Eu sabia exatamente do que ele falava. Me senti tão culpada quando lembrei que Stepjan havia falado que o irmão dele havia morrido e ele precisava de mim junto dele para reinar. Eu sequer quis saber sobre aquilo. Poderia tê-lo ajudado... Deus, por isso ele me deixou sem dar explicações... Como eu não juntei todas as peças antes para chegar à verdade?
- Vamos conversar sobre isso após o baile. – ela decidiu. – Todos nós e o pai de Satini.
- Ok. – assenti.
Mal eles sabiam que Stepjan não era meu pai verdadeiro. Será que aquilo poderia mudar na decisão de Estevan? Eu não era uma princesa na verdade. O acordo era entre reinos, realeza e em prol de uniões benéficas para ambos os lados. Ao saberem que eu não era uma Beaumont os D’Auvergne Bretonne me aceitariam da mesma forma, mesmo eu não lhes trazendo nenhum tipo de benefício?
Eu precisava contar a verdade a Estevan. Não poderia mentir novamente. Se ele me amava como dizia, aceitaria. E caso me rejeitasse, eu acho que sofreria por toda a minha vida.
- Vai dar tudo certo, não se preocupem. – ela afirmou.
Gostei de imediato de Deise. Percebi em seus olhos que ela era provida de bondade e amor. Estevan pegou minha mão e saímos da pista de dança.
- Estevan, deixamos sua mãe... – falei preocupada.
Ele sorriu:
- Não se preocupe com minha mãe. Ela só quer o nosso bem... E o meu maior bem é você.
Enquanto caminhávamos por entre tantas pessoas e olhares surpresos, eu não sabia ao certo para onde levá-lo. Então vi meu pai vindo na nossa direção. Parei até que ele chegasse, sem saber ao certo o que fazer.
- Você sabia que era ela? – Sean perguntou discretamente para Estevan.
- Não... Eu não sabia. Mas foi a melhor surpresa da minha vida.
- Sean... Precisamos impedir...
- Tarde demais. – ele disse nervosamente.
Vimos Alexander chegando até nós, então não pudemos continuar. Ele curvou-se:
- Altezas...
Alexander e Estevan se encararam por um tempo. Eu decidi explicar melhor quem era ele para meu futuro marido:
- Estevan, este é Alexander. Ele será em breve o capitão da guarda real. A mãe dele que me criou, como se eu fosse sua própria filha. Então eu tenho Alexander... Como um irmão. Mia, a irmã dele, além de minha melhor amiga, era minha dama de companhia.
- Alexander, prazer conhecê-lo... – ele disse apertando a mão dele, sem soltar a minha.
- Parece-me que ficou tudo bem, Alteza. – Alexander me disse. – Depois de tantos dias de ansiedade.
- Sim... Tudo bem. – falei olhando para Estevan e sem saber ao certo como dizer para Alexander que meu futuro marido não era tão desconhecido assim.
- Alteza, seu pai me encarregou da sua segurança pessoal e tenho ordens de não tirar os olhos de Vossa Alteza um minuto sequer. – disse Alexander.
Olhei-o confusa.
- Verdade. – disse Sean. – Ordens diretas do rei.
- Mas... Há algum perigo aqui no castelo? – perguntou Estevan. – Você andava praticamente livre pelas ruas de Avalon e dentro do castelo parece uma prisioneira? Há algo que eu não sei?
- Como sabe que ela andava livre por Avalon? – perguntou Alexander.
- Estevan, é uma história um tanto quanto complicada. Mas vou lhe contar. Porém não agora... Não dá tempo. – eu disse.
- Vamos. – disse Estevan pegando minha mão e tentando sair, sendo impedido por Alexander.
- Me desculpe, mas não posso deixar levá-la daqui. – ele disse se colocando na nossa frente.
- Alexander, não deve fazer isso. – disse Sean. – Entendo sua posição, mas Estevan é um príncipe... E em breve rei.
- O Rei Stepjan é o meu superior. – ele alegou.
Não acredito que Alexander daria uma crise de ciúmes agora, para todo mundo ver.
- Alexander, Estevan não fará nenhum mal comigo. – eu o tranquilizei. – Estou segura com ele como nunca estive na minha vida. Aliás, ele é minha salvação. – olhei ternamente para Estevan. Eu tinha tantas coisas para lhe contar ainda.
- Eu já conhecia Satini. – disse Estevan.
- Mas... Como?
- Ele estava na moto naquela noite. – eu confessei.
Os dois se encararam novamente. Por Deus, Alexander, eu só preciso sair e ficar a sós com Estevan para lhe contar tudo que está havendo.
- Como isso é possível? – Alexander perguntou.
- Destino. – explicou Estevan calmamente. – Se preciso falar com o rei Stepjan para sair com minha futura esposa do salão de baile eu não me importo. Passo ir até ele agora mesmo. Creio que ele não vá me impedir de levar Satini comigo para onde eu quiser.
- Creio que não seja necessário, Alteza. – disse Sean. – Alexander, vamos evitar um pequeno constrangimento para todos nós?
- Não me importo que saiam. – disse Alexander. – Mas preciso ficar próximo de vocês, por ordem do rei.
- Eu não quero você próximo de mim e Satini. Estamos saindo daqui justo para ficarmos sozinhos. – explicou Estevan.
- O rei não quer que ela fique sozinha com ninguém. – ele insistiu.
- Agora entendo por que Samuel falou sobre Alexander. – disse Estevan balançando a cabeça ironicamente. – Alexander, ela será minha esposa... Talvez amanhã mesmo. E nada vai mudar isso. – ele disse um pouco alterado. – Estou tentando ser pacífico com você, mas confesso que está um pouco difícil, visto que para mim é claro suas intenções com minha futura esposa, a quem sempre amarei e protegerei com a minha vida.
- É minha função também protegê-la com a minha vida...
- E também sempre a amará? – perguntou Estevan olhando nos olhos dele.
Alexander me fitou e não disse nada. Sean o conteve, tentando afastá-lo um pouco de nós. Do nada Beatrice chegou e perguntou:
- Será que temos um pequeno problema aqui?
- Creio que não. – disse Sean olhando para Alexander.
- As ordens do rei foram claras: “seus olhos tem que estar o tempo todo sobre ela.” – disse Alexander.
- Aposto que Vossa Majestade, o rei Stepjan, não pensou que sua filha quereria dar uma volta pelos jardins com o príncipe. Mas eu mesmo ouvi quando ele disse para a princesa que levasse Vossa Alteza, o príncipe Estevan, para conhecer o reino de Avalon durante o domingo. E não houve recomendação para alguém acompanhá-los. Entendo sua preocupação e procurarei dizer ao rei o quanto você foi fiel em cumprir suas ordens. Vejo o rei Stepjan conversando animadamente com o rei de Alpemburg e sinceramente, eu não gostaria de incomodá-lo por algo tão banal. Além do mais, na ausência do rei, deve obedecer a princesa, sua próxima rainha. – ela me olhou.
- Ordeno que me deixe passar e ficar a sós com meu futuro noivo. – eu disse firmemente.
- Com uma condição. – ele disse.
Senti um frio na barriga. O que ele imporia como condição? Ele não tinha posição para impor nada.
- Qual seria sua condição, guarda real? – perguntou Estevan.
- Dentro do castelo, não externamente. Os jardins não são seguros, pois temos todo nosso pessoal focado no salão e nas entradas e saídas. Como preferem ficar sozinhos, de nada adiantaria liberá-los para a área externa e terem que ser acompanhados por alguém, por questão de segurança.
- Condição aceita. – disse Estevan. – E obrigado pela atenção e devoção com minha Satini.
- Não por isso, Alteza. – ele disse abaixando a cabeça. – Além de Vossa Alteza, a princesa Satini, ser o meu trabalho, eu tenho profunda estima por ela.
Estevan apertou a minha mão e os três se afastaram. Precisava tudo aquilo para passarmos uma porta?
- Ficarei aqui, Alteza. – avisou Sean.
- Eu também. – reforçou Alexander.
Enfim, a porta foi aberta e passamos por ela. Havia um corredor que se seguíssemos até o fim daria num dos jardins, aliás, dos meus preferidos. Para o lado direito, aposentos e para o esquerdo eu não fazia a mínima ideia.
Ficamos parados na frente da porta, já fechada.
Ele disse:
- Parece que seus guardas a defendem com unhas e dentes, minha futura rainha. – ele pegou minhas mãos, prendendo-as para trás e ficando tão próximo do meu rosto que eu quase conseguia senti-lo junto de mim.
- Será que vou ter guardas assim em Alpemburg? – ironizei.
- Será protegida diretamente pelo rei, Alteza. E posso garantir que ele daria a vida por sua segurança.
Mesmo com minhas mãos para trás, consegui roubar-lhe um beijo.
- O que está querendo fazer comigo, Alteza? – perguntei-lhe.
- Me diga você o que quer de mim, princesa de Avalon. Estou na sua casa, no seu reino. Sou literalmente todo seu.
- Ainda assim eu sou inteiramente sua... E acho que agora posso dizer que é para sempre...
Ele tomou meus lábios do jeito que só ele fazia. Quando o conheci eu era virgem e não tinha estado intimamente com nenhum homem. No entanto beijos eu já havia treinado com muitos... Mas nenhum beijo era comparado ao daquele príncipe, que tomou meu coração e minha alma de uma forma que eu não conseguia explicar. Sentir sua boca na minha era um dos maiores prazeres que eu sentia. Mordi levemente seu lábio, fazendo ele soltar minhas mãos e me recostar sobre a porta. Passei meus braços sobre seu pescoço, me entregando completamente naquele beijo.
- Se você não me tirar daqui agora eu vou fodê-la sobre a porta que os seus seguranças guardam com suas próprias vidas do lado de fora. – ele falou baixo.
- Venha. – eu disse puxando-o pela mão.
Meu pai ouvir eu e Estevan transando do lado de fora não estava nos meus planos, de forma alguma.