Capítulo 74
1718palavras
2022-12-27 10:45
Voltar para o castelo depois de tudo que houve foi bem difícil. Conversei com Léia, que falou que estava se comunicando com Mia e que ela estava bem. Fiquei surpresa quando soube que ela sabia sobre o bebê.
- Se eu acho que foi bom para ela engravidar nesta idade? Claro que não. – disse Léia. – Mas eu quero que minha filha seja feliz. E eu sei que isso não vai acontecer aqui dentro. Depois que saiu do castelo, ela descobriu que existe vida lá fora. E eu não posso impedi-la de viver isso.
- Eu sei que ela está bem, Léia. Ela gosta de Théo e sei que ele também gosta dela.
- Ainda assim, fica a lição para você, princesa: tome cuidado. Usar preservativo é essencial para que isso não aconteça com você também.
- Eu sei.
Sim, eu sabia. Mas poderia ter sido eu também. Então eu não podia julgar Mia. Sim, sabíamos que o preservativo era essencial e indispensável. Mas por algum motivo não usamos. Eu tive sorte... Ela não. Mas isso não aconteceria da próxima vez: eu teria preservativo e usaria.
Fui para o meu quarto. Tomei um longo banho e fui deitar. Minha mente estava um turbilhão de ideias. Eu tinha menos de uma semana dentro do castelo de Avalon. Depois aquela vida não mais me pertenceria. Talvez eu ficasse morando na Coroa Quebrada... Talvez até em outro país. Nada mais me prendia em Avalon. E onde quer que eu fosse, sabia que estaria com meu pai.
Se eu estava triste por não ser a princesa de Avalon, futura herdeira do trono como rainha? Nenhum pouco. Eu estava era muito feliz por ser filha de Sean e Paulina.
No dia seguinte, assim que levantei, fiz meu desjejum e decidi conversar com o rei Stepjan. De alguma forma, eu precisava desmascarar Beatrice, embora não fosse minha intenção prejudicar Alexander. Eu não poderia deixá-la sair impune.
Edward mandou eu esperar que o rei estava em reunião com alguns políticos que faziam parte da corte. Eu aguardei muito tempo. Talvez o rei estivesse fazendo um teste de paciência e quisesse me fazer desistir de esperar. Mas eu fui persistente. E depois de quase três horas ele decidiu me atender.
Sentei-me na frente dele, na confortável poltrona. Saber que eu não era filha daquele homem enchia meu coração de tranquilidade e satisfação.
- Algum problema com o baile? – ele perguntou, mal levantando os olhos na minha direção.
- Alguns... Gostaria de saber quando poderei pegar a minha tiara.
- No dia do baile mandarei subi-la até você, não se preocupe.
- E depois do baile a devolvo?
- Não precisa. – ele disse. – Ela é sua.
Olhei-o surpresa.
- E sobre o casamento? Quando será exatamente?
- No baile conversaremos melhor sobre isso. O príncipe e sua família chegarão na sexta-feira. Ficarão na ala oeste do terceiro andar.
- Poderei vê-los antes do baile?
- Não. – ele foi enfático.
- Por qual motivo? Eu vou casar com ele... Que diferença faz?
- Irá conhecê-lo no baile, conforme o combinado.
- Mas...
- Sugiro que no domingo passeie com ele por Avalon. Seria interessante passarem um tempo apreciando nosso reino.
- Talvez eu possa fazer isso. – falei.
- Quero que esteja impecável no sábado. Que seja pontual. E que o trate gentilmente.
- Farei isso.
- Era isso que queria? Pelo que sei, está tudo pronto. E será um baile perfeito, como você merece.
- Obrigada.
Antes de sair, falei:
- Meu pai... Já pensou se o filho que Beatrice espera realmente é seu?
Ele me olhou e não consegui identificar o que ele sentia. Mas disse com voz autoritária e num tom mais alto que o normal:
- Por que está me dizendo isso?
- Só... Acho que a conhece há tão pouco tempo...
- Ela não se envolveu com Alexander, se é isso que está tentando me dizer novamente. Acha que não percebi seu plano para acabar com ele? Por três vezes Alexander já me pediu permissão para deixar o castelo. E eu não autorizei. Não vou deixá-lo acabar com sua ascensão por uma menina mimada e insensata como você.
- Eu não disse que pode ser de Alexander.
- Então acha que minha futura noiva pode ter casos com vários homens por aí, mesmo debaixo dos meus olhos? É isso que está insinuando?
- Eu...
- Acha que eu sou um homem tão fraco e burro? Por que me subestima, Satini?
- Meu pai...
Ele levantou e pegou o telefone. Discou um ramal e falou, me olhando atentamente:
- Alexander, avise Sean que ninguém mais sairá com a princesa de Avalon do castelo. A contar de hoje ela está terminantemente proibida de sair do seu quarto até o dia do baile. E só sairá do castelo com seu marido, para o lugar onde ele mora.
Olhei-o atônita. Eu tentava abrir os olhos dele e era punida daquela forma?
- Mais uma coisa, Alexander. – ele olhou no fundo dos meus olhos. – Quero você, dia e noite, fazendo a segurança pessoal de Satini Beaumont, na porta do seu quarto.
Ele desligou o telefone e eu fiquei sustentando o olhar de ódio dele sobre mim.
- Serei uma prisioneira no meu próprio castelo por tentar alertá-lo sobre a verdade?
- Entenda como quiser. A partir de sábado você deixa de ser minha responsabilidade. E será propriedade dos “D’Auvergne Bretonne”.
Porra, agora o príncipe tinha um sobrenome? Claro, eu não poderia mais sair do meu quarto. Então como prisioneira não poderia pesquisar nada sobre ele. Eu já havia sim escutado sobre aqueles sobrenomes... Mas não tenho certeza se eram juntos ou separados. Então eu seria Satini D’Auvergne Bretonne. Soava bem. Deus, eu estava me deixando envolver por aquilo? Eu não casaria com o desgraçado do príncipe.
- Dispensada? – perguntei ironicamente. Eu não temia mais ele, ainda mais agora que eu já estava privada de sair, que era a única coisa que me continha.
- Sim. E se tentar algo no sábado, eu a mato.
Olhei nos olhos dele, que repetiu:
- A mato sem pensar duas vezes.
- Mas... Você teria coragem de fazer isso com sua única filha?
- Você não é mais minha única filha. Beatrice carrega outro filho meu em seu ventre.
- Eu não tentarei nada, meu pai. Aceitarei ser uma D’Auvergne Bretonne.
Eu não esperava que ele acreditasse cegamente em minhas palavras. Mas também jamais imaginei que tentar alertá-lo traria meu maior castigo desde então.
E agora, como eu me comunicaria com a Coroa Quebrada? Eu não sabia mais nada sobre o plano. A quem recorrer?
Assim que cheguei no meu quarto, Alexander estava na porta. Olhei para ele, que imediatamente perguntou:
- O que houve?
- Nada. – eu menti.
Ele olhou para o guarda no outro corredor de relance e disse baixo:
- Acho que isso é um castigo...
- Creio que sim.
- Por qual motivo?
- Eu o desafiei... Pelo casamento. – menti.
- Droga, Satini, por que fez isso?
- Está tudo bem, Alexander. Só preciso de uma coisa.
- O quê?
- Que você fale para Sean que estou presa.
- Satini, eu ficarei 24 horas na sua porta... Até o dia do baile.
- Eu... Não entendi.
- O castigo é nosso, entendeu?
- Mas... Como você vai ficar aqui 24 horas?
- Sem banhar-me, dormindo de pé e recebendo comida aqui.
- Alexander, me desculpe... – ouvi-me dizendo, extremamente arrependida do que fiz.
- Poderia ser pior. – ele deu de ombros.
- O que poderia ser pior que me vigiar 24 horas?
- Ficar longe de você. – ele disse olhando nos meus olhos.
Suspirei e revirei meus olhos. Ele era repetitivo.
- Sua mãe pode me ajudar. Preciso mandar um recado.
- Minha mãe não passa do guarda daquele corredor. –ele apontou, me mostrando. - Ninguém terá acesso a você. Somente eu.
- Poderia ser pior... Ficarmos os dois trancados dentro quarto. – ri e bati no ombro dele.
- Você ainda ri? Somos punidos de uma forma horrível e você acha graça.
- Sabe como eu vou sair? Quando deixar Avalon, como a senhora “D’Auvergne Bretonne”.
- Reino pequeno, próximo da França. – ele disse.
Olhei-o surpresa:
- Você sabe sobre isso?
- Um pouco.
- Me fale tudo, por favor.
- Não lembro exatamente o nome do reino. – ele disse tentando pensar. – Mas tenho certeza que o sobrenome é de lá.
- Porra, é do outro lado do continente.
- Há alguns pequenos reinos por lá ainda. Creio que seja a região com mais monarquia no mapa.
- Como sabe tudo isso?
- Faculdade... Paga por seu querido pai.
Balancei minha cabeça:
- Alexander, tente lembrar o nome do reino... O nome do rei, do príncipe, qualquer coisa.
- Que diferença isso faz, Satini? Você vai ter que casar com ele de um jeito ou de outro.
Suspirei:
- Bem que o rei Stepjan poderia ter escolhido um Chevalier.
- E ser nora da rainha Anne? Você só pode estar brincando.
- Mas quem resiste aos Chevalier, não é mesmo? Não me importava de ter a rainha Anne como sogra desde que um dos filhos dela fosse o meu marido.
- Não acredito que você está dizendo isso... Mesmo confinada por dias ainda tem tempo para pensar em homens.
Eu ri:
- Melhor que chorar, não é mesmo?
- Bem, seu futuro marido não é um Chevalier, embora venha daquela região. Então os príncipes Magnus e Dereck podem ser eliminados da sua lista. – ele riu.
- Boa noite, carcereiro. – falei entrando.
- Boa noite, princesa.
- Sabe se vou poder comer? – perguntei.
- Sim, mas nada será trazido por minha mãe. Penso que seu pai acha que ela pode ser uma ameaça ou não cumprir o que ele mandou.
- Por que será, não é mesmo? – ironizei.
Dei um beijo no rosto dele e disse:
- Desculpa por ter colocado você junto e sem querer no meu castigo.
- Como eu disse, é um prazer, princesa.
De qualquer forma, eu sabia que Sean saberia o que aconteceu, por mais incomunicável que eu estivesse. E ele daria um jeito de avisar todos que o plano estava de pé.