Capítulo 73
1992palavras
2022-12-27 10:45
- Tentando se livrar das amarras do passado? – ele perguntou.
- Sim... De uma vez por todas.
Ele pegou meu rosto por entre suas mãos e disse gentilmente:
- Então me livre das minhas amarras, Alteza.
- Como eu posso fazer isso por você, Alexander?
Vi os olhos dele marejarem quando ele implorou:
- Me perdoe por todo o mal que lhe fiz.
Eu tirei meu calçado e joguei na areia. Senti a água gelada sobre os meus pés e confesso que aquilo me deu certa tranquilidade. Percebi quando ele também retirou os calçados e ficou próximo de mim, sem me olhar, atento à imensidão do mar à nossa frente. Dei mais alguns passos para dentro da água, afundando meus pés na areia. Uma onda um pouco mais forte avançou sobre nós e eu quase caí. Ele me segurou rapidamente, evitando a queda. Senti algo enrolar nos meus calcanhares. O mar puxou a água para dentro e eu fiquei parada, enquanto ele me segurava. Abaixei e peguei o que estava enrolado em mim e olhei nos meus dedos, mostrando para ele.
- Só pode ser brincadeira. – ele disse rindo e balançando a cabeça confuso.
Olhei para a gargantilha que eu havia jogado minutos antes na minha mão novamente.
- Acho que você não deve se desfazer disto... É seu destino. – ele falou.
Senti meu coração batendo tão forte e se enchendo de esperanças. Seria aquilo um sinal?
- Qual a possibilidade de isso acontecer novamente? – perguntei olhando para o brinco ali, me fazendo lembrar que Estevan não poderia ser jogado no mar, muito menos o que eu sentia por ele.
- Acho que nenhuma, princesa.
Ele pegou a gargantilha das minhas mãos e recolocou no meu pescoço, gentilmente.
- A natureza diz que você deve ficar com isso...
Eu olhei nos olhos dele e disse:
- Eu o perdoo, Alexander.
Ele me abraçou com força. Sim, eu o perdoava. Eu já recusei várias vezes o amor sincero dele... Mas eu não recusaria seu perdão. E eu não tenho certeza se aquilo vinha do fundo do meu coração ou se foi devido à emoção do momento, com aquela gargantilha voltando para mim como se quisesse me dizer que Estevan realmente era o meu destino e que tudo ficaria bem e um dia ficaríamos juntos.
Saímos da água e andamos pela areia, sem pressa.
Perguntei:
- Alexander, você dormiu com Beatrice?
Ele me olhou atentamente e pareceu surpreso com a pergunta:
- Por que está perguntando isso?
- É importante para mim saber. E por favor, não pense que estou com ciúme.
- Eu sei que não há lugar para mim no seu coração, Satini. Ele pertence ao dono do brinco, não é mesmo?
- Sim... – confessei. – E tentei me livrar dele... Você é a prova de que tentei.
Ele sorriu:
- Sim, eu vi tudo que aconteceu. E se alguém me contasse, sinceramente eu não sei se acreditaria.
- Acho que no fim, é o destino que decide tudo na vida da gente.
- Eu dormi com ela. – ele disse de repente.
- Gosta dela?
Ele demorou um pouco para responder:
- Meu coração só pertence a uma pessoa.
- Então por que dormiu com ela?
- Não há lugar que diga que precisa ter amor para transar com uma mulher. Eu simplesmente tive vontade.
- Ela quis?
- Ela faz um jogo de sedução comigo.
- Há quanto tempo?
- Um bom tempo...
- Acha que ela gosta de você?
- Ela me disse que sim. Mas eu confessei que não posso gostar dela... Pois amo outra mulher... A minha vida inteira. E acho que se eu jogasse você no mar, Satini Beaumont, ele a traria pra mim de volta também.
Eu ri. Ele falou sério, mas acabou rindo também.
- Alexander, você sabe que ela está grávida?
Ele parou e olhou para mim atônito:
- Como assim?
- Beatrice está esperando um filho.
- Mas... Pode ser do rei... Quero dizer, do seu pai...
- Ou pode ser seu.
Ele ficou perturbado, confuso, como se eu tivesse dito a pior coisa do mundo para ele. Eu o abracei, tentando acalmá-lo:
- Pense no lado bom... Você vai ter um bebê.
Ele me afastou gentilmente:
- Satini, pode não ser meu.
- Assim como pode ser.
- Seu pai... Me mataria.
- Se ninguém souber, não.
- Eu... Não gosto dela. Mas ao mesmo tempo sim, o bebê pode ser meu.
O bebê é seu, Alexander. Mas eu não posso lhe dizer com todas as letras porque eu acabaria confessando que também não sou filha do rei Stepjan. Você vai ser papai, meu amigo. Porém acho que Beatrice dirá a todos que o filho é do rei, é um Beaumont, herdeiro da coroa. Mal sabe ela que o filho não é herdeiro de porra nenhuma, assim como eu.
Olhei ao longe e vi Sean vindo na minha direção. Ele não usava roupa social. Usava uma calça jeans clara e uma camisa azul clara com as mangas dobradas até a metade do braço e alguns botões abertos.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntou Alexander.
- Alexander, você pode por favor ir embora agora? – olhei para ele. – Eu preciso resolver uma coisa com Sean... E é bem séria e importante.
- Bem, acho que eu também tenho uma coisa bem séria e importante para resolver... Com Beatrice.
- Boa sorte. – eu disse.
Ele saiu rapidamente, balançando a chave do carro nervosamente.
Sean ficou parado me observando. Meu coração batia descompassadamente. E meus instintos nunca me enganaram. Era ele... Sempre foi ele. A forma como ele me tratava, o jeito como me olhava. Ele fez tudo por mim, sem pedir nada em troca. E os olhos dele tinham amor desde o primeiro dia que olhei dento deles.
Eu corri até ele, ansiosa, nervosa e me joguei em seus braços, sendo recebida com um abraço tão apertado que aqueceu cada parte do meu corpo:
- Pai...
- Léia lhe contou? – ele perguntou sem me soltar dos seus braços.
- Não que era você... Acho que eu sempre soube... Meu coração dizia isso o tempo todo. Mas eu não queria ouvi-lo.
Senti as lágrimas dele molhando sua camisa e o fitei:
- Não... Sem lágrimas. É um momento feliz, só temos que vivê-lo...
- Se você soubesse como eu sonhei com este momento... Como seria, como você reagiria...
- Me sinto tão feliz por não ser filha dele... E por ter você...
- Nunca mais estará sozinha, Satini. Eu vou protegê-la para sempre, minha filha.
- Você já me protegeu... Muitas e muitas vezes. – eu disse sorrindo.
- Eu nunca fui embora do castelo de Avalon. Acompanhei você crescendo de longe, mas estava o tempo ali, vendo você.
- Por que você foi tirado da guarda interna?
- Sua mãe achou melhor. Teve medo de eu acabar falando a verdade mais cedo ou mais tarde. Então assim que ela se foi, eu pedi para sair de dentro do castelo.
- E você ter chegado até mim... Foi coincidência?
- Não... O rei pediu ao capitão alguém que dirigisse bem. Esta foi a única recomendação dele. Não foi alguém que atirasse eximiamente, muito menos que se preocupasse com a segurança da princesa. Bastava dirigir. Então eu pedi...
- E foi você que mandou bater em Alexander...
- Não mandei bater... Eu bati nele.
- Como assim?
- Meu rosto estava coberto. Então ele não soube que era eu. Assim como fui eu que fiz Estevan chegar na praça naquele dia...
- Como você fez isso?
Ele sorriu:
- Eu estava cansada do seu sofrimento... E da sua ânsia em encontrá-lo.
- No fim, Emy é a verdadeira herdeira. A rainha de Avalon. E Sam o príncipe. Eu sou só uma plebeia, não é mesmo? – falei sem conter minha felicidade.
- Na verdade, sim. – ele riu.
- E eu nunca estive tão feliz na minha vida. Embora eu achasse que realmente Emy era minha tia, pois eu era muito parecida com ela em algumas coisas.
- E sim, você é: linda, tem garra, não desiste do que quer e não foge da luta pelo que acredita.
- Pai, o que vamos fazer agora?
- Seguir com o plano, querida.
- Mas... E o casamento?
- Você não quer que ele se concretize, não é mesmo? Você será sequestrada no baile, conforme seus planos. Então relaxe... . Precisamos ajudar Emy Beaumont a desmascarar o rei.
- E se algo der errado?
- Se algo der errado, eu vou estar lá para proteger você. Não como futura rainha de Avalon, mas como minha filha.
- “Pai”... Será que vamos nos encontrar somente no domingo? – eu ri.
- Acho que no domingo talvez eu libere você para almoçar com Mia.
Eu o abracei novamente:
- Posso ficar aqui para sempre?
Ele alisou meus cabelos com carinho:
- Em breve, minha filha. Menos de uma semana e estaremos juntos... Para sempre.
- Pelo menos Sam não é meu primo. – brinquei.
- E agora você vai se comportar com Sam... Chega de mal entendidos.
- E com Estevan? – perguntei ironicamente.
- Pelo visto vou ter que encontrá-lo novamente... Em algum lugar do mundo para você.
- Faria isso?
- Não sei se é preciso fazer muito, Satini. Não creio que o rapaz consiga ficar muito tempo longe. Ele ama você. Eu não tenho dúvidas disso.
- Acha que ele pode desistir de tudo e vir atrás de mim? E se ele souber que sou uma ninguém?
- Você não é uma ninguém. E ele a amou sem saber nada sobre você, não é mesmo?
- Na verdade, ele achou que eu era uma mendiga... E ainda assim se apaixonou por mim. – lembrei, omitindo o fato de ele também ter me confundido com uma prostituta. Sean agora era meu pai. Eu sorri novamente, não contendo minha felicidade.
Fomos para o carro, sem parar de falarmos um minuto sequer. Enquanto, quando ele dirigia eu perguntei:
- Tenho uma irmã de oito anos?
Ele riu:
- Não.
- Você me mentiu?
- Sim... Fiquei confuso na hora, inventei o que veio na minha cabeça.
- E eu torcendo para que você tivesse um filho homem lindão como você para que eu pudesse namorar.
- Chega de namoros, Satini. Vamos focar agora em entregar Avalon a verdadeira rainha, herdeira do trono.
- Ok, sem namoros. – falei um pouco envergonhada.
Ele gargalhou:
- Isso você não puxou a sua mãe, muito menos a mim.
- Você e minha mãe se amavam?
- Muito... Ela foi a única mulher que eu amei na minha vida... Até ver você pela primeira vez. Então meu coração passou a ser somente seu.
Eu sorri, sentindo meu coração batendo forte. Nunca ouvi algo tão carinhoso em toda a minha vida.
- Léia me levava você quando ainda era bebê. Eu não a tocava, mas a via. – ele falou me olhando feliz.
- Léia foi tão generosa comigo... A vida toda.
- Conforme você foi crescendo, tivemos que parar. Era perigoso e você poderia desconfiar. Seguimos como sua mãe pediu: contar quando você fosse madura o suficiente para assimilar a informação e não botar tudo a perder.
- Então já sou madura o suficiente?
- Claro que não. – ele disse. – Mas se Léia contou é porque realmente ela achou que não tinha outra solução.
- Está me chamando de imatura, pai?
- Um pouquinho... – ele disse.
- Mas...
- Está bem, retire o “imatura”. Vamos substituir por: intensa, impulsiva, precipitada, ansiosa...
- Hum... – cruzei meus braços. – Acho que não gosto disso.
Ele alisou meu rosto:
- Ainda assim eu amo você, do jeitinho que é. E tento me lembrar que não é uma mulher ainda, mesmo com toda responsabilidade que tem. Minha menina só tem 17 anos.