Capítulo 71
1708palavras
2022-12-27 10:44
Exatamente no horário combinado eu estava em frente a porta indicada por meu pai. Ele chegou junto de Beatrice, o que me surpreendeu.
- Alteza. – ela disse curvando-se quando me viu.
- Não precisa mais fazer isso, querida. – ele lhe disse.

Claro que não. E se preferir pode até me matar, que ele não vai se importar.
- Parabéns pelo bebê. – falei.
- Obrigada.
Ele abriu a porta e atrás dela havia um cômodo comum, mas com três guardas armados de prontidão.
Quando nos viram, curvaram-se e um deles digitou a senha num painel eletrônico que destrancou a porta, que se abriu automaticamente. Meu pai entrou e eu e Beatrice o acompanhamos. Havia dois painéis enormes, um de cada lado da parede, envidraçados. E dentro deles várias coroas. Acredito que havia ali a primeira coroa usado pelo rei de Avalon.
- Podem ficar a vontade para escolherem suas tiaras. – ele disse.

Eu encarei Beatrice, que mal me olhou e andou pelo corredor completamente extasiada. Ela escolheria uma tiara? Por qual motivo? Era a “minha coroação”. Não, Satini, não será a “sua” coroação. Você sequer estará aqui neste dia. E nem Beatrice ganhará sua tiara. Não há lugar para ela na realeza. Talvez ao lado de meu pai, na cadeia. Eu duvidava que ela sequer o visitasse quando ele fosse preso.
Mas de nada adiantava eu ficar remoendo meu ódio e ciúme por ela. No fim o bebê que ela tinha era meu irmão ou irmã e nada poderia mudar isso. Talvez nos déssemos bem futuramente e eu teria enfim alguém que pudesse chamar de família de verdade.
Olhei para as várias tiaras. Eram tão lindas, tão perfeitas, tão brilhantes que era difícil de escolher.
- Usará a sua tiara no baile, Satini, mesmo antes da coroação. – ele avisou. – Quero você linda e perfeita nas fotos que sairão nos jornais de todo o mundo.

- Sim, meu pai.
Achei que eu nem usaria a tiara, visto que a coroação jamais ocorreria. No entanto ele fazia questão que eu ostentasse uma joia na cabeça perante as pessoas mais importantes de Avalon, bem como a mídia mundial.
Quando eu vi a tiara brilhante, pequena, mas sem tantas pedras, fiquei encantada. Ela era simples, pequena e combinaria perfeitamente com o vestido lilás chamativo que eu escolhi. O estilista havia dito que mais parecia um vestido de noiva do que uma vestimenta para um baile real. Eu não me importei. Fiz questão do modelo e da cor, mesmo sob os protestos dele.
- Eu já escolhi. – falei apontando para a tiara perfeita.
Ele olhou e disse:
- Sua tia Emy escolheu a mesma tiara quando foi coroada princesa.
Tive ainda mais certeza de minha escolha quando ele falou aquilo. Pelo visto eu e minha tia tínhamos muito em comum mesmo.
Beatrice também escolheu a dela. Achei que seria algo chamativo, mas não. Ela também optou por uma tiara pequena e nada extravagante.
- Quero que use no baile, querida. – ele disse. – Que todos saibam que você será minha rainha, a mãe do meu filho homem.
Aquilo doeu muito dentro de mim. Mas fui forte e engoli em seco. Ele veria o filho se fosse visitá-lo na cadeia.
Ela sorriu timidamente, com seus olhos encontrando os meus. Será que Beatrice fingia aquilo tudo para mim? Por vezes me parecia que ela não estava tão feliz quanto aparentava.
- Por que algo tão simples, querida? Não quer uma maior? Olhe esta. – ele apontou para uma tiara que mais parecia uma coroa, com rubis enormes. – Foi de minha avó. Em minha opinião é a mais linda de todas... E também é a mais cara.
- Eu não quero chamar a atenção mais do que a princesa... Ela é a atração principal da festa e não devemos esquecer disto.
Ele me olhou sem nenhum tipo de sentimento e disse:
- Sua tiara estará pronta para você no dia do baile, Satini.
- Obrigada. – falei.
Saímos dali e não o vi mais. Esperava que visse meu pai somente no baile e nunca mais tivesse o desprazer de cruzar com ele novamente.
Fui um pouco à biblioteca, no mezanino procurar um livro que tivesse imagens de minha tia usando a tiara. Enquanto eu procurava, a porta se abriu e novamente flagrei meu pai e Beatrice. Não era minha intenção vê-lo até o baile. Abaixei-me para não ser vista por eles. Pelo visto ali era o ponto dos encontros sórdidos dos dois.
Logo ele começou a beijar o pescoço dele e pelo que pude perceber, Beatrice estava gostando bastante. Então creio que o tipo que ela fazia quando estava perto de mim, fingindo ser tímida ou estar descontente com as atitudes de meu pai era tudo mentira.
- Tem algum plano para o baile? – ela perguntou enquanto ele descia os lábios pelo colo dela, quase chegando aos seus seios que quase saíam para fora de sua blusa decotada.
- Não... Pelo visto Satini fez amizade na Coroa Quebrada, ou já estaria morta. – ele disse sem parar de tocá-la.
- Por que acha que a matariam? Eles não sabem quem ela é.
- E se eu preparasse uma emboscada para ela?
Beatrice o afastou e perguntou:
- Como assim?
- Posso fazer isso... E dizer que foi alguém da Coroa Quebrada.
- Mas... Ela vai casar... E deixará Avalon.
- E se ela não gostar do rapaz e tentar escapar?
- Porque ela faria isso? Parece-me que ela aceita bem o casamento.
- E exatamente isso que me intriga. Nenhuma mulher até hoje, a não ser minha irmã, aceitou tão bem o casamento arranjado.
- Como assim?
- Desconfio dela. Acho que me esconde algo.
- Por qual motivo?
- Me parece que finge ser obediente e concordar com tudo. Ela parece muito com a mãe... Dissimulada, falsa e mentirosa.
- Você... Nunca me falou sobre sua esposa. Achei que fosse uma boa mulher.
Ele gargalhou alto:
- Não existem boas mulheres, querida Beatrice... A não ser você, claro.
Eu me vi rindo, ironicamente. Claro que ele diria que ela era diferente. Mas se ela fosse esperta, e eu tenho certeza que ela era, saberia o que ele realmente achava das mulheres que cruzavam seu caminho. Ele queria a morte da própria filha. Eu esperava que ela acordasse e não confiasse nele... Pelo bem do bebê que ela tinha dentro de si... Que era meu irmão ou irmã, sangue do meu sangue.
- O que exatamente sua mulher lhe fez para que fale assim dela?
- Não quero falar de Pauline. – ele disse firmemente.
- Então do que vamos falar?
- Não vamos falar nada, vamos fazer... – ele disse sedutoramente.
- E sua filha... Eu fiquei em dúvida...
- Vou ver se consigo esperar até o baile para ver o que acontece.
- Significa que se não esperar, fará algo contra ela? Antes do baile?
- Querida, falando assim você faz eu parecer um assassino frio e cruel.
- Não foi minha intenção... Desculpe-me. Você é perfeito, Stepjan.
- Só não acabo com a garota porque temo a reação do futuro marido e sua família.
- Por quê?
- Eles se preocupam com ela de alguma forma.
- Por quê? Sequer a conhecem...
- Eles exigiram que o filho a conhecesse antes do casamento.
- Você não me contou isso antes.
- Não...
- Mas há possibilidade de eles romperem o trato?
- Creio que não. O rei é contra o rompimento da promessa de casamento. O trato foi feito pessoalmente entre nós dois. Mas a mãe e o rapaz exigiram que os dois se conhecessem antes.
- Então o baile aconteceria de uma forma ou de outra?
- Eles sugeriram um jantar, aqui ou mesmo lá. Por sorte Satini pediu o baile.
- Querido, e se ele conhecê-la e não gostar dela? Acha que ele pode querer desistir do compromisso?
- Ela é bonita, inteligente, refinada e educada. Ele é muito apresentável... E gentil até demais. Creio que não há possibilidade de haver rompimento quando eles se conhecerem.
- Eles realmente não a conhecem? Nem mesmo numa foto?
- Embora o herdeiro da coroa tenha insistido e tentado me convencer a conhecê-la a qualquer preço da última vez que fui até lá, eu consegui resistir.
- O rapaz fez isso?
- Sim...
- Espero que dê tudo certo neste possível casamento.
- Não é um possível casamento. “Será” um casamento. E como ele e sua família têm ficado bem atentos a tudo, preciso ter cuidado.
- Sim...
Fui para a parede e fechei meus ouvidos. Eu não queria ouvir mais nada... Pelo menos não sobre a forma como ele pensava em dar fim a minha vida. Embora eu tenha ouvido que meu futuro marido e sua mãe estavam preocupados em não haver sintonia entre nós, aquilo não me alegrou. O máximo que aconteceria era eu ser rejeitada. Talvez o príncipe amasse outra pessoa, assim como eu. Então seríamos dois corações destroçados se unindo sem chance alguma de dar certo.
Eu não poderia mais seguir com o plano. Eu precisava fugir do castelo. Imediatamente. Eu voltaria para a Coroa Quebrada e invadiria o castelo de Avalon junto com eles. Ficar ali era um risco para minha vida e só de pensar no meu pai eu tinha vontade de vomitar de tanto nojo.
Que se explodisse o plano de fuga, bem como o resgate e a mídia internacional. Eu tenho certeza que minha tia e meu primo me receberiam e entenderiam a minha situação.
Esperei ali até que eles se fossem e corri até meu quarto. Fui até o closet e peguei uma mala e comecei jogar aleatóriamente algumas peças de roupa dentro. Tenho certeza que Sean ajudaria na minha fuga. E se Mia conseguiu driblar tudo e fugir do castelo de Avalon, eu também conseguiria.
Assim que ocupei todo o espaço disponível com as minhas roupas, sentei na mala para conseguir fechá-la e a puxei comigo até o hall de entrada. Quando fui abrir a porta, Léia estava parada, preparada para adentrar no meu quarto. Ela me encarou e olhou para a mala, entrando e trancando a porta perplexa:
- Onde você pensa que vai?