Capítulo 70
1967palavras
2022-12-27 10:43
- Você já machucou sua irmã? – ela perguntou-lhe.
- Não...
- Por que Satini? Ela é sua futura rainha.
- Eu... Amo ela. E fico completamente louco quando estou perto desta mulher.
- Você não pode amá-la, Alexander. Ela foi criada como sua irmã.
- Ela não é minha irmã. – ele gritou. – Nunca foi. Desde que me conheço por gente eu a amo, minha mãe.
- Meu Deus! – ela me olhou e eu percebi o quanto ela sofria.
- Eu... Sinto muito, Léia. Eu não posso corresponder a este amor... – falei.
- Você sempre soube que ela seria de outro homem. Ela é prometida a ele desde que nasceu. Como você foi tão tolo, Alexander?
- Eu...
- Eu sempre tratei-os igual... Para que ela se sentisse amada e parte da nossa família, porque eu sabia que ela não tinha uma.
- Acha mesmo que eu escolhi isso? Sofrer por esta mulher? Acha que eu queria sentir o que sinto quando a vejo falar de outros homens? É como se uma faca atravessasse o meu peito...
- Então por amá-la e não ser correspondido decidiu maltratá-la? É isso? – ela colocou a mão sobre a dele. – Eu não quero que você seja como ele, Alexander. Seu pai me fez sofrer muito, embora tenhamos vivido juntos brevemente. Talvez se ele não tivesse morrido, eu teria sido morta antes pelas mãos dele e você sabe bem disso.
- Eu... Nunca soube... – falei.
- Querida, você não convivia conosco. Era muito pequena. Sequer Mia lembra disso tudo. Mas Alexander lembra... Eu tenho certeza. – ela acariciou o rosto dele.
Alexander se ajoelhou aos meus pés e disse:
- Me perdoa, Satini. E eu não a chamo de Majestade porque não quero ser perdoado pela futura rainha de Avalon. Eu quero ser perdoado pela menina que eu conheci, que foi criada comigo desde sempre. E que eu magoei profundamente... E feri, mesmo amando mais do que a mim mesmo.
- Alexander... Você já me pediu perdão... E ainda assim voltou a me machucar.
Léia olhou nos olhos dele:
- Meu filho... Diga-me que isso não é verdade.
Ele continuou ajoelhado aos meus pés. Eu me senti horrível ao vê-lo daquela forma, implorando por um perdão que eu não podia dar-lhe de coração. Era muito fácil eu dizer que sim, mas eu não perdoava de fato. Sequer sei que poderia fazer aquilo algum dia. Tentei lhe dar um voto de confiança, que ele quebrou em dias.
Peguei a mão dele e dela e disse:
- Vamos tentar esquecer o que aconteceu aqui hoje. E não vamos mais tocar neste assunto por hora. Mas eu não estou preparada para dizer que o perdoo, Alexander.
- Não... Você nunca esquecerá isso, querida. Ficará para sempre na sua memória. E tudo que você terá quando pensar em Alexander será ódio no seu coração... E as lembranças ruins.
Ele soltou a minha mão e levantou-se, saindo. Eu sentia meu coração destroçado.
- Vamos tentar fazer com que não fiquem marcas. – ela disse preocupada.
Eu peguei as mãos dela e disse:
- Lia, isso não tem importância.
Ela olhou nos meus olhos e perguntou:
- As marcas no seu pescoço naquela vez...
Eu poderia dizer que sim. Mas como magoar ainda mais a pessoa que eu mais admirava na minha vida? Se não fosse por ela eu não teria nenhum tipo de carinho. Ela me acolheu desde que eu nasci, fez o papel da minha mãe sem nunca pedir nada em troca. E por tanto tempo eu escondi a verdade dela justo para isso: não vê-la sofrer.
Então eu disse:
- Não... Não foi ele, Léia. Não se preocupe. Ela não teria chegado tão longe.
Ela suspirou. Aquilo lhe fez um bem muito grande. E para mim não faria diferença. O que já tinha sido feito por ele não poderia ser desfeito. E eu estava feliz comigo mesma por poupá-la de um dor ainda maior.
- Onde está Mia? – perguntei tentando mudar de assunto.
Ela limpou as lágrimas e sorriu:
- Eu já sabia que ela estava apaixonada.
- Então... Você não se importa?
- Querida, sabemos o grande problema que ela enfrentaria aqui dentro. Ela não é a princesa de Avalon e não precisa passar por toda a dificuldade que você passa. Jamais ela poderia trazer o rapaz para dentro do castelo ou viver uma vida normal.
- Você sabe onde ela está?
- Não... Mas sei como me comunicar com ela. – ela piscou. – E também sei que você sabe tudo, inclusive onde ela está.
- Sim...
- Eu quero que Mia seja feliz... E que leve uma vida diferente da nossa.
- Léia, por favor, me conte sobre a minha mãe.
- Querida, o que quer saber?
- Tudo...
Ela respirou agoniada e disse, olhando nos meus olhos:
- Ainda não posso, acredite. Não é a hora.
- Léia, se o tempo passar pode ser tarde demais.
Falei lembrando que em breve eu estaria fora do castelo de Avalon e não sabia por quanto tempo.
- Nunca será tarde, princesa. A verdade sempre vem... E você sabe disso... Temos como exemplo o que acabou de acontecer aqui.
Eu a abracei com força e disse:
- Obrigada por ter sido a pessoa mais especial que eu conheci na vida.
- Você é especial, minha querida. E muito amada, acredite.
- Por você e sua família. – eu disse tristemente. – Meu pai não me ama e você sabe disto, não é mesmo?
Ela olhou nos meus olhos e pegou meu rosto, me encarando:
- Coloque uma coisa na sua cabeça: seu pai a ama... Muito.
Dizendo isso ela me largou e saiu, dizendo:
- Preciso falar com o rei Stepjan sobre minha filha. Deseje-me sorte.
- Boa sorte. – eu sorri esperançosa. Sabia que ela tinha uma difícil tarefa pela frente.
No dia seguinte fui procurar Sean. Ele estava na garagem, sentado, mas o nosso carro não estava ali. Assim que me viu ele levantou-se:
- Alteza, seja bem vinda.
- Sean, o carro ainda não está pronto?
- Não, Alteza. Mas temos outros disponíveis, sem problema. Eles também não tem o emblema real.
- Você falou com meu pai? – perguntei.
- Sim.
- E o que ele disse?
Ele ficou um tempo em silêncio, parecendo procurar as palavras certas. Depois disse:
- Que Vossa Alteza sabia que suas saídas podiam ter consequências.
Eu ri ironicamente:
- Não imaginei que ele falaria outra coisa. Perguntou como eram os possíveis raptores ou qualquer outra coisa?
- Incrivelmente não, Alteza.
- Sean, ele quer que eu morra.
Ele me olhou preocupado:
- Como assim?
Olhei para os lados para me certificar de que não havia ninguém ali e disse:
- Eu ouvi ele falando para Beatrice... Ele só me deixou sair do castelo justo para isso: que eu insistisse em ir até a Coroa Quebrada e fosse morta.
- Mas... Mal ele sabia que a Coroa Quebrada na verdade não é tão quebrada assim. – ele sorriu ternamente. – Acho que o castelo de Avalon é a Coroa Quebrada. A verdadeira coroa está lá.
- Eu sei disto... Mas ele não. Diga-me, qual pai desejaria a morte da própria filha em nome de um pedaço de ouro na cabeça?
- Stepjan Beaumont.
- Eu gostaria de abraçá-lo, Sean. Mas não posso...
- Sinta-se abraçada, Alteza. – ele falou. – Um dia você não sofrerá mais... Eu prometo.
- E eu não duvido, porque você é o homem que realiza os meus desejos, não é mesmo?
- Sempre vou ser este homem, minha menina.
Eu sorri feliz com o “minha menina”. Talvez tenha sido mais carinhoso que um abraço dele.
- Preciso ir... Tenho os detalhes finais para resolver desta festa ridícula.
- Tem que estar tudo perfeito, Alteza.
- Estará, eu garanto.
Passei o restante dos dias organizando o que faltava para o baile. Um estilista veio diretamente de Milão tirar minhas medidas e me trazer os modelos exclusivos de vestidos que havia desenhado para mim. Confesso que aquela foi minha parte favorita.
Preparei-me para o meu último almoço de domingo com meu pai. Na próxima semana seria o baile e definitivamente eu estaria livre de Stepjan Beaumont e sua falsidade.
Não tocamos sobre nenhum assunto. Creio que aqueles almoços de domingo eram tão ruins para ele quanto para mim.
- Beatrice não vem? – perguntei olhando no relógio. Já passava das 12 horas e 5 minutos.
- Não... Ela não se sente bem.
- Será que está cansada com a organização do baile?
- Não... – ele disse firmemente. – Na verdade, gostaria de lhe comunicar que vou casar com Beatrice.
Olhei-o surpresa. Eu sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas não esperava que fosse avisado daquela forma.
- Fico feliz por vocês.
- Ela está grávida.
- O quê?
- Você terá um irmão. – ele afirmou.
Como assim um irmão? Você escolheu seu espermatozoide masculino e colocou dentro dela, isso? Canalha... Agora vai organizar a melhor forma de me eliminar, como tentou fazer com minha tia? Se acha tão superior... E é sempre enganado pelas mulheres Beaumont.
Quando eu era criança eu não sabia que Stepjan Beaumont era meu pai. Eu sequer tenho lembranças dele antes dos meus 10, talvez 11 anos. Depois eu soube que aquele homem que eu mal conhecia, o rei de Avalon, era o meu pai. Então eu fiquei feliz, afinal, eu não tinha uma mãe, havia sido criada por Léia, sabendo que ela não era da minha família, mas tentava fazer com que eu fizesse parte da dela. Depois eu tentei gostar do meu pai... E houve um tempo que eu não acreditava que ele poderia ser tão ruim. Conforme cresci, passei a suportá-lo. E agora, neste exato momento, eu acho que eu não conseguia mais ser neutra: eu odiava Stepjan Beaumont, meu próprio pai.
Havia dúvidas de que eu iria para o inferno? Não... Eu quase dormi com meu primo, eu o beijei sabendo que de fato ele era filho da minha tia e agora eu tinha certeza de que odiava meu pai. E eu iria atrás de Estevan para ser amante dele. Eu pediria para ser enterrada de vermelho... Vai que o diabo gostasse e pegasse leve comigo.
- Quando será o casamento?
- Logo depois do seu. A propósito, já pode vendo seu vestido de noiva e os detalhes da cerimônia. Na próxima sexta-feira seu futuro marido chegará a Avalon e ficará hospedado junto de seus pais, o rei e a rainha, até que deixemos tudo resolvido os detalhes da cerimônia.
- A família dele virá também?
- Sim, fazem questão de conhecê-la antes da cerimônia.
Fiquei um pouco tonta com tanta informação. Estava ficando nervosa conforme o tempo ia passando. Toquei a argola na minha gargantilha e pensei em Estevan. E se algo desse errado e não conseguissem me resgatar do castelo e eu tivesse que casar e partir? Eu jamais veria Estevan novamente. E seria infeliz por toda a minha vida.
Mas ele me veria na mídia. Ele poderia não existir na internet, mas aposto que a internet existia para ele. Então ele saberia que eu era a princesa de Avalon. E entenderia algumas questões... Ou não. Teria certeza que eu menti e não fui honesta com ele.
- Tudo bem com você? – perguntou meu pai.
- Sim... Um pouco ansiosa com tudo.
- Hoje às 15 horas estarei esperando você em frente à sala secreta.
- Onde... Exatamente fica isso?
- Ao lado da biblioteca, segundo andar.
- Eu... Não sabia da existência deste lugar.
- Altamente secreto. Dentro dela há dois guardas de plantão em tempo integral.
- O que faremos lá?
- Você escolherá sua tiara.