Capítulo 69
1943palavras
2022-12-27 10:42
Assim que entramos no nosso carro, eu disse a Sean:
- Vamos dizer ao meu pai que tentaram me sequestrar.
Ele me olhou confuso:

- Como assim?
- Sean, eu quero que você vá até ele e fale como foi. Pode contar exatamente como aconteceu, claro que ocultando o fato de que fomos realmente capturados. Você dirá que conseguiu fugir e me salvar. Eu quero que preste atenção na reação dele e depois conversaremos sobre isso.
- Mas... Já temos um plano, Alteza. Por que isso?
- Por favor, Sean...
- Claro, eu não vou contestar sua ordem, Alteza.
Eu encostei no braço dele carinhosamente e disse:

- Não quero que entenda como uma ordem, Sean. Mas quero que você veja com seus próprios olhos uma coisa. E é preciso que faça isso.
- Como desejar, Alteza.
- Poderia me chamar de Satini?
- Acho que não... – ele disse sorrindo.

- Pode tentar?
- Talvez... Mas não garanto que vou conseguir.
- Eu preciso lhes contar uma coisa: Emy, mãe de Sam, é minha tia Emy Beaumont.
Sean parou o carro imediatamente. Mia me encarou incrédula.
Contei a eles rapidamente tudo sobre minha tia, o que eu havia descoberto e o plano com mais detalhes. Contei também sobre o diário. Eles estavam do meu lado. Eu precisava confiar neles e contar a verdade. Até a idiota da Isabella sabia, por que eles não poderiam? Só Sam não devia saber sobre mim, conforme havíamos combinado. E isso eu também pedi para eles tomarem cuidado, continuando a não revelar quem eu realmente era, mesmo sabendo a identidade deles.
- Meu Deus... Você e seu primo... Se beijaram... E... – Mia ficou apavorada me olhando.
Eu deitei minha cabeça no banco e suspirei:
- Acho que vou para o inferno.
- Não, Alteza. Eu garanto que não irá para o inferno. Seu lugar é no céu.
- Oh, Sean, como você consegue ser tão querido comigo? Acha que Deus me perdoará?
- Tenho certeza, Alteza. – ele disse sorrindo lindamente.
Mia continuava me olhando sem palavras. Eu disse:
- Relaxa, Mia. Eu já fiz coisas boas também nesta vida. Então acho que Deus pode me perdoar.
- É tanta coincidência... Vocês terem se encontrado. E se você não tivesse a ideia de sair do castelo... Jamais os conheceria. Nem poderia ajudá-los. Talvez eles levassem muito mais tempo para assumirem seus respectivos lugares. – Mia disse.
Sean voltou a dirigir, aparentando estar assimilando tudo.
Mia continuava falando sem parar, fazendo mil hipóteses e realmente preocupada com o fato de eu e meu primo termos nos tocado, nos beijado e quase termos finalizado o ato sexual.
- Alteza, eu tenho uma pergunta, se me permite. – disse Sean.
Eu dei graças a Deus por ele interromper Mia. Ela estava me deixando tonta.
- Claro, Sean.
- Vossa Alteza não será mais rainha de Avalon, como soube que seria a vida inteira. Como se sente com relação a isso?
Eu respirei fundo e disse:
- Absolutamente bem. Como se um peso tivesse saído das minhas costas. Eu me sinto literalmente mais leve. Sim, eu sempre soube que minha vida jamais seria normal e que um dia eu governaria um reino como Avalon, que a meu ver não é tão pequeno quanto o definem fora daqui. Eu amo este lugar, meu povo e quero o bem de todos. Mas eu só tenho 17 anos, Sean. Eu vou fugir deste casamento idiota imposto por meu pai. E quando ele for destronado e minha tia assumir eu vou estudar. Quero fazer uma faculdade, ainda não sei qual, mas quero. Eu vou viajar o mundo... Eu nunca saí daqui. Eu fiquei trancada por 17 anos. Acho que nem a Rapunzel ficou tanto tempo presa na torre. – eu ri. – Quero ser uma pessoa normal. Eu gostei disso.
- Eu fico muito feliz com sua resposta, Alteza.
- Mas você sempre fará parte da Realeza, Satini. Você é uma Beaumont. E eu estava pensando que antigamente não era errado príncipes e princesas casarem, mesmo sendo primos. Eu até já vi isso em alguns filmes. Então se você casar com Sam poderá realizar todos os seus desejos e ainda ser uma futura rainha.
Depois de ela ter me atormentado o caminho todo dizendo que Deus não me perdoaria ela teve a ideia de me casar com meu primo, como ela viu num filme antigo. Mia era surreal. Acho que os hormônios da gravidez estavam enlouquecendo a minha amiga.
Eu também estava um pouco confusa com tudo. E já até arrependida de ter beijado Samuel sabendo que era meu primo. Mas agora tudo começava a ficar mais claro na minha cabeça. Eu realmente estava livre da coroa de rainha. Nada mais me prendia. Eu só ajudaria minha tia. Sim, eu tinha o sonho de fazer diferente, já que eu sabia que seria a primeira rainha de Avalon e de alguma forma aquilo me trazia a responsabilidade de ser a melhor, a perfeita, a que todos lembrariam. Mas Emy Beaumont também se preparou a vida inteira para assumir aquele trono, assim como eu. Eu me senti livre... Completamente livre. Minha única função era impedir meu casamento a todo custo e facilitar o acesso da verdadeira herdeira ao trono dentro do castelo. O restante ela mesma faria. Meu pai já era. Jamais ele conseguiria enganar o mundo inteiro. O plano era bom.
Eu não teria mais responsabilidades com Avalon depois. E eu era uma mentirosa... Eu não contei a verdade a Estevan. Ele foi cruel, mas verdadeiro. E eu sequer tive coragem de dizer-lhe quem eu era de fato. Eu era completamente louca por ele. Satini Beaumont não conseguia viver sem Estevan Delacroix. Eu iria atrás dele. Eu tinha certeza de que ele me amava... Por mais canalha que ele tenha sido, o coração dele só tinha lugar para mim. E eu entendia o quanto às vezes a gente tinha que fazer escolhas que não cabiam só a nós. Talvez este casamento tivesse uma importância além do que eu poderia imaginar na vida dele e da família. Eu sabia que ele era rico... Muito rico. E o quanto pessoas com dinheiro, como nós dois, eram pressionados pela família a fazer coisas que não queríamos pelo simples fato do bem estar de todos.
Não sei exatamente se eu teria tempo para impedir o casamento dele. Mas assim que eu deixasse o castelo e pisasse na Coroa Quebrada eu iria atrás dele. Se já estivesse casado, eu seria a amante. Sinceramente, eu não me importava. Eu só queria ele. E no momento ser a outra bastava, desde que ele estivesse junto de mim.
Claro que eu não contaria a ninguém. Me achariam a pessoa mais louca do mundo. Mas só quem já amou loucamente sabia o que eu estava fazendo. Eu não seria a primeira e nem a última a aceitar um homem comprometido. E eu tinha uma coisa a meu favor: era eu que ele amava, mesmo que não tivesse me escolhido no fim.
Assim que chegamos ao castelo, Sean fez conforme o planejado e foi pedir para falar com o rei Stepjan. Eu fui para o meu quarto, aguardando ser chamada. Deitei na minha cama e esperei, esperei...
Despertei com o sol invadindo o meu quarto. Olhei no relógio e vi que já era quase dez horas. Léia não havia vindo trazer meu desjejum... Meu pai não havia me chamado. Porra, ninguém se preocupava comigo naquele lugar.
Tomei um banho e Mia não veio conversar, como sempre fazia. Algo não estava certo. Apressei-me para colocar minha roupa e fui até o quarto de Mia. Ela não estava lá. Fui até o de Léia e também não havia ninguém. Desci até a garagem para ver Sean. Ele não estava.
Perguntei ao guarda que estava na porta da garagem:
- Onde está Sean?
- Ele acabou de sair. Foi levar o carro para arrumar. Mas já tem outro disponível para Vossa Alteza. E Alexander poderá levá-la onde quiser.
Fui até a no primeiro andar onde Léia podia usar para receber suas visitas. Estava vazia. Quando fui sair, Alexander chegou.
- Onde está todo mundo? – perguntei.
Ele veio até mim sem dizer nada, rápido, com fúria no olhar e me empurrou com seu corpo até a parede, levantando meus braços e apertando-os com força. Achei que ele iria me beijar e fiquei imóvel, com medo e implorei:
- Não... Por favor...
- Onde está minha irmã?
Olhei-o confusa:
- Como assim?
- Ela sumiu.
- Sumiu?
- Não finja que não sabe, Satini. Me diga onde está minha irmã agora que eu vou atrás dela. Se você não disser, eu vou transformar a sua vida num inferno.
- Eu não sei... Eu juro.
Ele apertou ainda mais meus pulsos contra a parede e eu senti dor.
- Pare, está me machucando...
- Eu não me importo.
- E eu que acreditei que você poderia mudar... – eu ri tristemente. – Como eu sou idiota. Pessoas como você nunca mudam, não é mesmo?
- Sua...
A porta se abriu e Léia ficou nos observando apavorada:
- O... O que está acontecendo aqui?
Alexander imediatamente me soltou. Léia veio rapidamente até mim e olhou meus pulsos vermelhos, encarando o filho:
- O que você estava tentando fazer com ela?
- Eu... Estava tentando saber onde estava Mia.
- Sua irmã partiu, Alexander. Ela já tem 18 anos. Você não pode impedi-la.
- Você não pode aceitar isso. – ele falou para Léia.
- Eu já aceitei.
- Eu... Não sei de nada. – falei.
- Por que você estava tentando machucá-la? – Léia olhou para ele.
- Eu... Não estava...
- Porque ele sempre faz isso quando estamos sozinhos. – eu disse.
Ela me olhou atônita e foi até a pequena cozinha, trazendo gelo e colocando nos meus pulsos enquanto me sentava:
- Não pode ter marcas... Seu casamento será em breve, querida.
Ele estava abrindo a porta quando ela disse, altivamente:
- Volte, Alexander. Sente-se aqui agora.
Ela quase gritava. Alexander não obedecia ninguém. Mas isso não se aplicava a mãe dele. Quando vi ele estava ao meu lado, me olhando preocupado.
- Há quanto tempo isso acontece? – ela perguntou.
- Desde que ele voltou. – confessei sem medo olhando meus pulsos que provavelmente ficariam roxos. – Já aconteceram coisas piores. E eu me calei...
- Por minha causa. – ela disse me olhando ternamente.
- Por você e por Mia.
- Satini... – ele tentou me impedir de falar.
- Como você pode fazer isso? – Léia olhou para ele e deixou lágrimas escorrerem por seu rosto.
Eu me senti culpada. Eu não queria ver Léia sofrendo. E ela não sofria a fuga da filha... E sim por mim.
- Léia, não fique assim, por favor. Eu... Não quero vê-la chorando.
- Querida, não estou assim por você. Estou assim pelo filho que eu pari. – ela novamente olhou para ele. – Tudo que passei ao longo da minha vida... E você presenciou e sei lembra de tudo.
Havia coisas que eu não sabia ali. Ela continuou enquanto ele abaixava a cabeça.
- Quer mesmo ser um monstro como seu pai foi?
Senti meu coração bater forte. Era mesmo o que eu estava ouvindo? O pai de Alexander batia em Léia? E talvez por isso ele era assim, tão agressivo? Mas não deveria ser ao contrário, por ele ter presenciado tudo ser uma pessoa diferente?
- Me desculpe, minha mãe. – ele pediu deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto.
Os dois sofriam naquele momento. E acho que era muito mais pelo passado do que pelo presente.