Capítulo 63
1962palavras
2022-12-27 10:39
Eu olhei para ele e achei não ter entendido direito.
- Eu... Acho que não ouvi.
- Você ouviu... Não torne tudo mais difícil do que já é.
Fiquei em silêncio, tentando assimilar a situação. Passamos horas fazendo sexo e juras de amor. Então o dia amanhece, ele decide me levar de volta e me fala que vai casar com outra mulher? Não... Isso não pode ser verdade. Ou ele é completamente louco (e neste caso acho que pode ser até mais que Alexander) ou eu sou a pessoa mais idiota e burra do mundo inteiro.
- Satini, meu amor... – ele tocou minha perna.
Eu peguei a mão dele e retirei.
- Pare o carro. – eu disse em voz alta.
- Não, eu não vou parar o carro.
- Para a porra do carro agora. – eu gritei.
- Eu não vou fazer isso.
Eu abri a porta com o carro em movimento. Se eu iria me jogar? Claro que sim. Não para morrer, óbvio, mas para não ficar mais nenhum minuto ao lado dele.
Mas não foi preciso. Ele parou, quase no meio da via. E eu desci imediatamente e comecei a caminhar, sem saber exatamente para onde eu queria ir, muito menos como chegar.
Ele me seguiu:
- Satini, precisamos conversar.
Parei e o encarei:
- Como assim precisamos conversar? Você acabou de dizer que vai casar com outra mulher. Olha tudo que vivemos esta noite... Como você tem a coragem de me dizer isso? – eu respirei fundo, tentando evitar a porra da lágrima que pensava em cair. – Eu poderia fazer mil perguntas para você... Mas eu não vou. Eu não quero saber mais nada. Acredito que agora eu realmente conheça você, Estevan. Será que este é mesmo o seu nome?
- Deixa eu explicar...
- Estevan, eu não quero explicações.
- Eu preciso dá-las. Eu amo você... Como jamais pensei amar alguém na vida inteira. Eu daria minha vida por você.
Eu ri:
- Daria sua vida por mim, mas vai casar com outra.
- Se você pudesse entender tudo que este casamento envolve... Não foi planejado por mim, foi por meus pais... Preciso fazer isso em nome de toda a minha família...
- Eu entendo tudo sobre o que casamentos arranjados envolvem, se é isso que você está tentando me dizer. E sinceramente, se você vai casar é simplesmente porque quer. Ninguém e obrigado a casar com quem não ama. Sempre tem uma saída...
- Muitas coisas aconteceram. Eu pensei em desistir sim, principalmente quando passamos nossa primeira noite juntos. Decidi que acabaria com tudo... Mas você não tem ideia de tudo que houve neste meio tempo. Eu perdi alguém muito especial. E agora minha família só tem a mim e...
- Você gosta dela?
- Eu só amo você e vou amá-la por toda a minha vida, Satini.
Eu não queria entender. E nem pensar. Mas já entendi que nunca mais ficaríamos juntos, pois eu não seria a amante do homem que eu amava. Pensei em desistir do meu casamento por ele. Como eu fui idiota. Eu fui até ele e comecei a bate-lhe com força. Ele não se defendeu. Deixou eu bater até minhas mãos doerem e eu não ter mais forças. Então eu parei... E comecei a chorar. E tinha a certeza de que somente aquele homem me fazia derramar lágrimas que eu julgava terem secado dentro de mim. E o pior era que ele não as merecia.
Olhei-o parado, com o rosto vermelho, alguns arranhões das minhas unhas, os cabelos bagunçados e endurecidos da água do mar. Nunca mais eu o veria na minha vida. E jamais seria capaz de amar alguém como eu o amava. Nos encaramos. Ele não se moveu. Ficou ali, no mesmo lugar, como se não se importasse se eu voltasse a bater nele, sentindo-se culpado por tudo que me fez.
Andamos ao mesmo tempo um na direção do outro e nos beijamos. Por que o sentimento que eu tinha por ele era tão forte? Sim, eu estava furiosa, meu coração estava despedaçado... Ainda assim eu queria beijá-lo, como se nada fosse mais importante do que ter sua língua na minha. Nossas lágrimas encontraram nossas bocas vorazes. O um beijo de amor salgado selou nosso último toque. Nos afastamos. Ele passou o dedo nas minhas lágrimas, que teimavam em cair, mesmo eu implorando para que não o fizessem na frente dele.
Olhar lágrimas nos olhos de Estevan não me deixou triste. Em nada mudaria. E a decisão havia sido dele. Eu teria abandonado tudo por ele. Ele não teve esta coragem. Voltei para o carro sem dizer nada. Ele sentou-se ao meu lado e me encarou:
- Eu amo você.
- Quero ir embora. – estas seriam minhas últimas palavras com Estevan Delacroix.
Ele ligou o carro e voltamos para a rodovia. Ele puxou conversa, mas eu não respondi. Se eu parei de chorar? Eu simplesmente não conseguia. Parecia que as lágrimas contidas de toda uma vida decidiram sair do meu corpo naquela hora.
Eu não fui caminhando porque eu não sabia o caminho. Também porque o carro era meu. E só não deixei ele na rua para voltar sozinho porque eu não sabia dirigir.
Fizemos o restante do caminho em silêncio. Ele estacionou o carro na porta de entrada de onde ficava o loft. Olhei para a rua e percebi que o sonho havia acabado. Cá estava eu, acabada e ainda teria que explicar onde passei a noite e sofrer as consequências disso.
- O que fazemos agora? – ele perguntou me olhando.
- Você chama o meu guarda-costas. Diz para ele que foi até a praça, fez-me uma declaração de amor mentirosa e transamos a noite toda. Mas você decidiu me contar que tem uma noiva e se casar só depois que o dia amanheceu. Ah, não esqueça de dizer que apesar de tudo você me ama.
- Se eu nunca mais a vir, saiba que nunca, em toda a minha vida, vou esquecer você e tudo que vivemos juntos.
- Vida longa à tudo que vivemos, Estevan Delacroix. Seja feliz. E deixe o meu carro imediatamente.
Assim ele o fez. E ele entrou no prédio sem olhar para trás. Eu já não tinha mais pensamentos na minha mente. Eu estava simplesmente acabada.
Sean entrou no carro e me olhou atentamente:
- Alteza... O que houve?
Eu o abracei e disse quase sem voz:
- Me leve daqui imediatamente, por favor...
Ele alisou meus cabelos e disse:
- Imediatamente, minha menina.
Conforme o carro ia andando a paisagem mudando rapidamente ia deixando meus olhos pesados. Levou pouco tempo para adentrarmos no castelo de Avalon. Assim que o meu carro entrou na garagem, vi Alexander sentado. Sim, provavelmente ele estava me esperando. E eu não tinha forças para lhe dar explicações... Muito menos brigar.
- Quer falar sobre o que aconteceu agora? – perguntou Sean.
- Não...
- Vou dar um jeito em Alexander.
- Não... Não precisa. Eu me resolvo com ele, Sean.
Desci sentindo minhas pernas pesadas. Alexander imediatamente veio até nós:
- Onde estavam? Por que não avisou, Sean?
- Alexander, eu liguei para o capitão. Avisei que estava com a princesa e que tudo estava bem. Solicitei também que ele avisasse quem julgasse ser importante saber.
Alexander me encarou. Mas eu não vi fúria nos seus olhos, por mais incrível que parecesse.
- Você esteve na praia de novo? – ele me perguntou, mas não foi de forma grosseira. Pelo contrário, ele foi gentil.
- Sim... – falei.
- Você chorou?
- Não. – menti, quase me desabando em lágrimas novamente.
- Eu vou acompanhá-la. – ele disse.
- Não precisa, obrigada.
- Alteza, por favor... Você está péssima. – ele disse.
Eu aceitei. Subimos a escadaria que nos levava ao primeiro andar. Cansei com aquele simples movimento e tive uma vertigem. Meu corpo tremia involuntariamente.
- Satini, o que houve? – perguntou Alexander preocupado.
- Eu... Não sei...
Ele chegou perto e me tocou:
- Princesa, você está ardendo em febre.
Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa ele me pegou no colo, como se eu não pesasse mais que dez quilos, e começou a subir comigo degrau por degrau. Passei meus braços pelo pescoço dele e perguntei:
- Você vai me machucar?
- Meu Deus... É assim que você me vê?
Eu não falei nada. Eu tive medo dele. Na verdade, ele era um homem que me causava medo. Mas naquele momento eu só queria descansar. E não queria se maltratada... Nem chamada de vagabunda. Porque eu não era. Eu era só uma mulher acabada de amor.
Quando ele chegou ao terceiro andar e estava se dirigindo ao meu quarto, o guarda o parou:
- Senhor, não posso deixar que se aproxime, por ordem de Vossa Alteza, a princesa. – ele disse.
- Está tudo bem. – falei fraca.
Ele saiu da frente e Alexander abriu a porta e me levou até a cama.
- Eu quero Léia... Ou Mia. – eu falei.
Ele me ignorou e foi até a porta, trancando-a com a chave.
- Não... – Eu implorei. – Não me maltrate... Eu não consigo mais...
- Eu vou cuidar de você, meu amor. – ele falou passando a mão nos meus cabelos.
Alexander tirou a minha blusa. Eu estava tão mal que não conseguia fazer nada. Minha cabeça doía, eu me sentia fraca, mal conseguia abrir meus olhos. Peguei chuva, fiquei com a roupa molhada grande parte do tempo, não comia fazia horas e meu coração estava destroçado.
Depois ele retirou minha calça com dificuldade e me pegou nos seus braços, levando-me até a banheira, onde me colocou delicadamente, ligando a água quente. Enquanto a água não subia até cobrir meu corpo, ele saiu. Descansei minha cabeça na almofada e fechei meus olhos. Não sei quanto tempo ele demorou para voltar, mas trouxe um comprimido e um copo de água.
- Tome. – ele colocou na minha boca.
- Você... Vai me matar? – fui capaz de perguntar.
- É analgésico. Vai baixar sua febre e se sentirá um pouco melhor.
Tomei sem ter certeza de que realmente era analgésico. Alexander seria capaz de me envenenar? Eu creio que sim. Mas e se fosse? Minha vida não importava mais mesmo. Estevan havia me deixado para sempre por outra mulher. E ninguém a não ser Alexander se preocupou comigo na noite que passei fora. Se Sean realmente mandou avisar a quem se importasse, o capitão da guarda não teria a quem dar o recado. Se eu morresse, não teria ninguém para derramar uma lágrima no meu funeral. Acho que só Mia e...
A água já começava a encobrir metade do meu corpo. Ele pegou uma esponja e começou a passar no meu corpo cuidadosamente. Eu não sabia se de alguma forma aquilo era libidinoso para ele. Levantei minha cabeça tentando encontrar alguma expressão nos olhos dele.
- Não se preocupe... Eu vou cuidar de você. – ele disse. – E vou matar o idiota que partiu seu coração.
Eu não respondi nada. Como ele sabia? Onde estava o Alexander monstro que me bateu no rosto, que tentou me estuprar, que gozou na minha barriga e tentou me sufocar na minha própria cama?
Fiquei ali, com os olhos fechados, deixando as mãos dele massagearem meus ombros.
- Como você sabe que alguém partiu meu coração?
- Pelas marcas que ele deixou no seu corpo, meu amor. Vou contá-las e retribuir cada uma delas com socos na cara dele.
Fechei meus olhos, fraca demais para responder. Ele me pegou no colo novamente e me depositou cuidadosamente na cama. Senti uma toalha me secando e meus olhos se fecharam. Eu tinha muita fome, muito sono e meu corpo tremia descontroladamente.