Capítulo 62
2045palavras
2022-12-27 10:38
- Sabe que sempre que estou com você eu não penso no dia de amanhã? – confessei enquanto meus dedos alisavam o peito dele.
- E quem se importa com o dia de amanhã?
- Eu deveria...

Ele me encarou, tirando uma mecha do meu cabelo que tentava ofuscar meus olhos, deixando-a descansar atrás da minha orelha.
- Se você imaginasse o que é a minha vida e o quanto eu tenho de compromissos e situações para resolver... Você é o que me faz esquecer tudo. Quando estou com você é como se só nós dois importasse e nada mais.
- Sou como suas férias? – perguntei rindo.
- Meu oásis no deserto! – ele disse me puxando para ainda mais perto dele.
- Espero que Sean fique bem.
- Está falando sério? Aposto que ele está deitado num hotel, deitado numa cama confortável, bebendo espumante.

- E nós deitados no chão e passando fome. Que tristeza. – ironizei.
- Sean está melhor que nós.
- Acho que você tem pode ter razão.
- Qual sua relação com ele?

- Não sei explicar. Sabe quando você gosta de uma pessoa sem conhecê-la, só olhando para ela? Acho que é isso que eu tenho com ele. Claro que depois que o conheci, passei a gostar de verdade, admirar...
- Sei da parte de gostar de uma pessoa sem conhecê-la. – ele me fitou. – Aconteceu comigo um dia destes, com uma garota que encontrei na rua.
Começamos a rir.
- Ele se parece com você. Quando o vi pela primeira vez achei que fosse o seu pai.
- Como assim? Sean? – eu ri.
- Vocês tem o mesmo sorriso. E o mesmo olhar.
- Deve ser a convivência.
- De quanto tempo?
De quanto tempo? Menos de um mês. Por que Estevan fez aqueles comentários sobre Sean?
- Pouco tempo. – observei.
- Então não é o seu pai...
Eu ri:
- Quem dera fosse.
- Como assim? Devo pensar que seu segurança é melhor do que seu pai?
- Sim... Mas não quero falar disso. Eu não tenho dúvidas de que sou filha do meu pai, se é que entende.
- Combinado. Não falaremos sobre família.
- Eu bem que gostaria... Mas temos pouco tempo, como você mesmo disse.
- É impressão minha ou a lua está se encobrindo de nuvens?
- Só falta chover... Daí nosso tempo literalmente acaba.
- Nem a chuva me impediria de passar a noite com você hoje.
- Por que você fala como se a gente nunca mais fosse se ver depois desta noite?
- Eu não disse isso.
Começou a soprar um vento mais gelado, vindo diretamente do mar. E eu senti frio. Não precisei dizer a Estevan, porque ele sentia o que eu sentia, como se estivéssemos conectados.
Ele levantou e me puxou pela mão:
- Vamos entrar no carro... Não quero que você sinta frio.
Ele sentou no banco de trás e eu coloquei minha cabeça na sua perna enquanto ele alisava os meus cabelos.
- Com tantos lugares para passarmos a noite, eu a trouxe para um carro apertado, na beira da praia. – ele riu.
- Foi perfeito para mim, acredite.
Eu realmente estava acostumada a uma vida luxuosa e confortável. Nunca me faltava nada... Ao menos nada que o dinheiro era capaz de comprar. Então aquela experiência estava sendo incrível para mim, mesmo que no dia seguinte eu sabia que minhas costas estariam doendo horrores.
- Estevan, você acha que um dia a gente vai ficar junto... Tipo “para sempre”?
Ele demorou para responder:
- Eu... Não sei.
- Sabe quando você tem uma vida inteira planejada e aparece alguém e faz tudo virar de cabeça para baixo?
- Eu estraguei seus planos para o futuro? – ele perguntou rindo.
- Acreditaria se eu dissesse que sim?
- Eu acreditaria, porque você estragou os meus.
Ele desceu a mão dos meus cabelos pelo meu pescoço, lentamente, passando para o meu colo para descansar nos meus seios, por cima da minha blusa. Coloquei minha mão em cima da dele e disse:
- Que horas são?
- Eu não faço a mínima ideia... E sinceramente, nem gostaria de saber.
Um trovão ecoou ao longe e um clarão iluminou o mar.
- Acho que teremos nossa primeira chuva juntos.
- Tantas experiências vividas em um único dia: conhecer o mar, banhar-se no mar, fazer amor na areia com o corpo salgado, fazer amor na estrada, fazer amor no carro...
- Detalhe: tudo isso com único preservativo. – ele começou a rir alto.
Eu sentei e deitei minha cabeça no banco, olhando para ele:
- Da próxima vez esteja melhor preparado... Mas não achei ruim a forma como tudo transcorreu.
- Concordo que um preservativo é pouco mesmo... Ainda mais para a minha princesa insaciável.
Ele fez um carinho no meu rosto. Ouvir princesa de qualquer outro homem geralmente me deixava tensa ou brava. Sempre me parecia uma forma irônica de tratamento. Mas vindo de Estevan tinha outro significado. Como eu gostaria que ele fosse um príncipe de um reino distante. E que pudéssemos reinar juntos, num castelo enorme, feliz, com uma família afetuosa, um quarto enorme, com uma cama gigantesca. Porra, eu só pensava em sexo quando estava com ele. Era como se eu não conseguisse ficar perto dele sem tê-lo dentro de mim. E eu já nem tinha certeza se isso era normal.
A chuva começou a cair, fraca, com pingos que mal davam para sentir. Estávamos torcendo para ela ficar mais forte. Queríamos a experiência do banho de chuva na praia. Enquanto isso nos tocávamos de forma ardente dentro do carro, que já começava a pegar fogo e ficar pequeno para nós dois.
Demorou tempo suficiente para iniciarmos as preliminares até a chuva cair de verdade. Junto dela veio a escuridão, pois as nuvens carregadas esconderam a lua que nos iluminava. Estevan ligou os faróis do carro e saímos. Ele estava sem camisa. Eu pouco me importei de molhar a única roupa seca que eu tinha. Não, eu nunca tomei banho de chuva, assim como nunca tinha visto mar, como nunca tinha tomado sorvete numa praça, como nunca andei numa moto, como nunca havia me apaixonado, como nunca havia visto o nascer e pôr do sol com alguém especial, como nunca tinha feito amor.
Agora eu já havia realizado grande parte das coisas pequenas e simples que eu planejei para fazer antes de casar. E então decidi que eu não mais iria casar. Eu só queria fazer aquilo: correr na chuva, rodar meu corpo como se nada importasse, como se só existisse eu e Estevan no mundo inteiro, como se Avalon fosse um lugar distante, como se meu pai fosse uma pessoa normal, como se um dia eu fosse reencontrar minha mãe e ter todo o carinho que eu nunca tive de uma família.
Olhei-o na claridade da luz do farol. Ele estava tão ou mais feliz do que eu. Meu coração não podia ter mais espaço para tanto amor. O que eu sentia por ele era simplesmente indescritível. E eu sentia que era correspondido. Não havia possibilidade de eu sentir aquilo por outra pessoa na minha vida.
Nos abraçamos e eu comecei a beijar o peito dele molhado da chuva. Foi o suficiente para acendê-lo novamente. Nos beijamos sob os pingos fortes e frios. Estávamos encharcados da chuva. Os lábios de Estevan eram doces e parecia que o mundo todo estava ali, naquela língua que tocava a minha. Ele me levou até a parte traseira do carro e escorou meu corpo na lataria. Fiquei de costas para ele enquanto sua língua quente aquecia o meu pescoço. Sua mão afastava meus cabelos e a outra baixava minha calça que se recusava a descer facilmente. Senti seu membro completamente duro me preenchendo profundamente, entrando e saindo com facilidade, como se tivesse sido feito sob medida para estar ali, naquele lugar, dentro de mim, me dando o prazer maior que o meu corpo podia produzir. A cada estocada eu gemia extasiada, sentindo a água fria escorrendo pelo meu corpo, tentando apagar um fogo que só Estevan conseguia. Suas mãos enrolaram meus cabelos, enquanto ele puxava-os delicadamente, exatamente no mesmo movimento de seu membro de encontro a mim. Aquilo era absolutamente inebriante e eu sentia que estava preste a gozar tão ferozmente quanto o que fazíamos no meio do nada, numa noite escura de chuva, numa praia qualquer. Mas cheguei ao ápice somente quando senti o líquido quente dele dentro de mim, seu gemido alto próximo do meu ouvido, enquanto sua respiração quente encontrava meu pescoço. E sim, foi sem preservativo... O que eu não tinha como negar que me deixava ainda mais excitada, pela sensação de preocupação, de algo proibido. Embora eu não devesse, era assim que eu era: louca, devassa, pervertida e depravada. O que eu mais gostava de fazer na minha vida era sexo com Estevan, e sem preservativo.
Virei-me para ele, que caiu a cabeça no meu ombro:
- Eu acho que estamos loucos. – ele disse ainda ofegante, com a respiração acelerada.
- E quem se importa?
Acho que realmente eu não me importava. Eu estava feliz e aquilo me bastava. E era a primeira vez que eu sentia aquilo em toda a minha vida. As consequências que uma gravidez indesejada me trariam era o que menos me importava naquela hora.
Voltamos para o carro e ficamos completamente molhados, abraçados sem falar mais nada, somente sentindo nossos corpos juntos, como se estarmos ali fosse o que mais importava para nós.
Despertei com a claridade de um dia nublado na praia. Eu estava encharcada e deitada no banco traseiro do carro. Levantei e procurei por Estevan. O vi na beira da praia, com as mãos nos bolsos, olhando para o nada. Fui sem fazer barulho ate lá e o surpreendi com um abraço por trás. Ele alisou minhas mãos e ficamos ali, olhando as ondas se quebrarem e o som gostoso que o mar nos trazia. Eu sentia o corpo dele junto do meu e descansei minha cabeça em seu ombro, sentindo seu cheiro masculino misturado com o ar da maresia.
- Estevan, acho que precisamos voltar. – eu disse.
- Sim... Nosso tempo acabou.
Eu poderia dizer que não, mas sabia que sim. Pelo menos aquela noite estava acabada. Eu não sabia quando nos encontraríamos novamente, mas eu tinha uma certeza: eu não me casaria. E depois que resolvesse a situação no castelo, eu o procuraria, falaria toda a verdade e ficaria com ele para sempre.
Voltamos abraçados para o carro e quando ele deu a partida eu sabia que deixava para trás uma lembrança da minha vida que jamais se apagaria. Talvez a mais importante e bonita de todas. E eu sabia que cada vez que eu fechasse os meus olhos, a imagem dele na chuva sem camisa sorrindo estaria diante de mim, não importava quantos anos se passassem.
- Acho que eu não quero me olhar no espelho antes de tomar banho. – falei pegando meus cabelos que estavam duros da água do mar, misturada com areia.
- Ainda não me decidi se prefiro você perfumada e limpa ou salgada e cheia de areia. – ele riu.
- Aposto que estou horrível.
- Eu estou? – ele me encarou debochadamente.
- Não... – admiti.
- Você está absolutamente perfeita.
- Eu duvido...
Bebi uma garrafa de água enquanto ele continuava a dirigir. Por sorte Sean sempre deixava o compartimento refrigerado do carro cheio.
Quando voltamos para a via principal, Estevan colocou a mão sobre a minha perna e disse:
- Satini, eu preciso te contar uma coisa.
Olhei-o e percebi que ele parecia preocupado.
- Você está bem sério. – observei um pouco temerosa.
- Quando eu a procurei, não planejei tudo que aconteceu. A vi e tudo que eu quis foi ficar com você. E nunca, em nenhum momento, eu menti quando disse que a amo.
- Eu acredito que você realmente me ame, Estevan. Eu sinto isso.
- E por eu amá-la tanto que eu não posso mentir para você.
- O que aconteceu? O que você não quer mentir?
- Nós não podemos ficar juntos. – ele me olhou. – Eu... Vou casar com outra mulher.