Capítulo 59
1692palavras
2022-12-27 10:36
Enquanto Beatrice se aproximava, Alexander ficou completamente confuso e sem saber como agir. Eu não pude deixar de rir. Ele me fuzilou com o olhar e saiu.
Assim que ela chegou até mim, disse:
- Não acho que ele seja um homem com o qual Vossa Alteza deva brincar.
- Eu não estava brincando com ele, Beatrice.
- Homens como ele são perigosos.
- Eu...
- Sei do que estou falando, Alteza. Conheci muitos tipos assim, acredite.
- De alguma forma eu preciso machucá-lo.
- Não use seu próprio corpo para isso. Pode não conseguir contê-lo da próxima vez.
Me senti completamente envergonhada ao ouvir as palavras dela. Sim, eu sabia que havia ferido ele no fundo do seu coração. Mas ao mesmo tempo aticei ainda mais o fogo e a fúria que ele tinha dentro de si.
- Ele é um doente desgraçado. – falei.
- Cuide para ele não alegar exatamente isso depois.
Olhei para ela e falei, sinceramente:
- Obrigada.
E saí desconsertada e pensativa.
Passei a semana inteira organizando os detalhes do baile com Beatrice. Eu não diria que comecei a gostar dela, mas também não a via mais como uma inimiga mortal. Confesso que gostei de conversar com ela sobre assuntos diversos, especialmente a vida noturna em Avalon bem como a sua trajetória na faculdade e seus projetos futuros na profissão.
O baile já estava nos principais jornais do reino bem como no noticiário da TV e nas rádios. Em pouco tempo o burburinho começou até mesmo dentro do castelo.
Mia nos ajudava quando conseguia. Mas eu sabia que a fuga dela estava cada vez mais próxima. Ela garantiu que antes do baile não mais estaria no castelo. Aquele era um bom momento para fugir. Todos os olhares estavam voltados para a festa, a coroação e o futuro marido.
Na sexta-feira à tarde eu me senti um pouco presa, sem sair durante toda a semana de dentro do castelo.
- Sean, eu preciso sair um pouco. – falei.
- Alteza... Para onde? – ele perguntou abrindo a porta do carro para mim.
Novamente eu recusei e sentei na frente com ele:
- Eu não sei aonde eu quero ir, Sean. Mas não quero ficar aqui. Preciso desfocar um pouco desta festa.
Ele ligou o carro e deixamos o castelo.
- Nervosa por estar chegando a hora? – ele perguntou.
- A hora de eu casar ou de eu fugir? – perguntei recostando minha cabeça no banco.
- As duas estão entrelaçadas, não é mesmo?
- Confesso que estou um pouco nervosa sim. Tomara que dê tudo certo.
Rodamos um pouco e então ele parou na praça principal de Avalon, onde eu havia ido encontrar com Samuel há semanas atrás.
- Este lugar não me traz boas lembranças. – eu disse sem sair do carro.
- E um bom lugar para colocar a cabeça em ordem... E descansar, acredite.
Suspirei e desci. Eu não poderia passar o resto da vida fugindo da lembrança de Estevan. Estava tão atarefada nos últimos dias que não sofri por ele. Eu estava começando a me recuperar e me culpar menos pelo acontecido.
- Quer me fazer companhia? – perguntei.
- Claro, Alteza. Vou estacionar numa sombra e já retorno.
- Obrigada.
Olhei para as crianças brincando no playground e senti uma boa sensação dentro de mim. Pensei em como seria ter filhos... E lembrei do termos “engravidarmos” usado por Estevan. Literalmente ele se colocava junto de mim na situação. No fim, foi Mia e Théo que “engravidaram”. Eu estava louca para ver o bebê de Mia. Aposto que seria tão lindo quanto ela.
- Ainda guarda o brinco junto de si?
Senti meu coração querer saltar para fora do meu peito. Eu não precisava virar para saber que era ele. Fiquei imóvel... Não porque eu queria, mas porque meu corpo foi incapaz de fazer qualquer movimento.
Como eu não tive nenhuma reação, Estevan veio para minha frente. Nossos olhos estavam um dentro do outro novamente. E eu achei que nunca mais encontraria aquela sensação novamente.
Ele segurou o brinco que eu carregava na gargantilha, o fitou atentamente e disse:
- Não pensei que ainda tivesse significado para você.
- Sempre terá. – admiti.
Ele suspirou:
- Como você está?
- Bem, dentro do possível. E você?
- Sentindo meu coração despedaçado.
Olhei para ele, que voltou a colocar as mãos nos bolsos da calça jeans escura que moldava seu corpo perfeito, combinada com uma camisa polo branca de grife. Os cabelos estavam bem penteados e a barba feita como se nunca ele tivesse tido no rosto qualquer pêlo.
- Está assim porque quer. – falei firmemente.
- Eu vi a mulher que me jurou amor beijando outro homem.
- Eu me desculpei de todas as formas possíveis. Quer o que? Que eu me mate para provar o quanto me arrependi? Fui leviana, me deixei guiar pelo momento... Você nunca beijou outra mulher além de mim?
- Óbvio que sim.
- Já fez amor com outras mulheres ou fui sua primeira vez?
- Já fiz com outras... – ele falou confuso.
- Quantas?
- Eu... Não sei dizer.
- Tantas quantas não consegue sequer contar?
- Eu não disse isso.
- Eu fui só sua... De mais ninguém. O que é um beijo frente a tudo que vivemos naquela noite?
- Como você consegue beijar outro homem e ainda fazer com que “eu” me sinta culpado?
- Se sente culpado? – perguntei com um pingo de esperança renascendo dentro de mim.
- Pelos dias que passei lamentando não estar ao seu lado.
- E eu por ter beijado Samuel. Eu posso prometer que jamais farei isso novamente...
Ele tirou as mãos dos bolsos e me abraçou. Senti seu corpo junto do meu, seu cheiro... E foi como se o meu mundo todo estivesse de volta. Porque ele era o meu mundo.
- Eu não quero promessas... – ele disse.
- Acha que eu não sou capaz de cumpri-las? – perguntei ainda com a cabeça recostada no peito dele, esquecendo onde estávamos.
- Acho que não são mais necessárias.
- Estevan...
Ele puxou meu rosto e me fez encará-lo:
- Eu não consigo tirar você da minha cabeça... É como se você ficasse ecoando o tempo todo dentro dela.
- Você não está só na minha cabeça, Estevan... Está dentro do meu coração.
- Eu não queria amar tanto você.
Eu ri:
- Eu gosto de amar você.
Eu poderia dizer que o beijei, mas não... Nossos lábios se encontraram exatamente no meio do caminho, juntos, na mesma hora. Sentir a língua de Estevan na minha novamente era como um sonho do qual eu não queria mais acordar. Eu não conseguia acreditar que minhas mãos estavam no corpo dele... E nossas línguas se embolando e fazendo com que eu quisesse tirar toda a minha roupa e tê-lo dentro de mim. Meu corpo estremeceu a maneira como ele me apertou junto dele. Eu amava a forma como ele me aconchegava a si. Forte, protetora, me prendendo como se eu pudesse fugir dos braços dele. Mal ele sabia que eu jamais faria isso. Ele me tinha de todas as maneiras possíveis. Eu era completamente entregue a ele, da forma que ele quisesse.
Encerramos o beijo quando precisamos recuperar o ar e sentimos nossos corpos acesos em chamas numa praça cheia de crianças numa tarde de sexta-feira.
Ouvi os passos fortes de Sean, tentando fazer-se ouvir. Eu havia literalmente esquecido que ele estava ali.
- Sean...
Ao me ouvir, ele se aproximou.
- Este é Estevan... – eu apresentei. – Estevan, este é Sean, meu motorista... E guarda-costas.
Estevan o cumprimentou com um aceno de cabeça, se afastando um pouco de mim.
- Estevan... A razão de suas lágrimas quando voltou daquele prédio... – ele afirmou encarando-o.
Sean, sempre com as palavras perfeitas. Isso mesmo, Sean, vamos dizer a ele o quanto eu sofri por ele ter desaparecido, que me pareceu que ele não acreditou em mim naquele dia.
- Eu precisei sair rápido demais. – ele falou se justificando, olhando-me docemente. – Não deu tempo para nada...
- O que aconteceu para fazê-lo esquecer que eu existia?
- Perdi alguém muito importante para mim.
- Eu... Sinto muito.
- Ainda assim voltei para cá o mais rápido possível... Para encontrá-la. E o resto você já sabe como aconteceu.
- São as consequências de não termos um celular. – eu sorri.
- Isso sim me impressiona. – disse Sean. – Achei que ninguém no mundo além da senhorita não tinha um celular. Então, coincidentemente, você se envolve com alguém que também não tem um. Eu poderia apostar que vocês dois são os únicos jovens de Avalon que não possuem um meio de comunicar-se.
- Eu também. – concordou Estevan sorrindo.
- Há algum motivo especial para você não ter um celular, jovem? – perguntou Sean.
- Privacidade. – ele respondeu.
Sean balançou a cabeça, não tirando os olhos dele. E Estevan manteve firme o olhar que lhe era lançado:
- Mais alguma pergunta que possa deixá-lo mais tranquilo e seguro? – Estevan indagou-o.
- Que não seja quais suas reais intenções comigo, Sean. – eu pedi.
- Quais suas reais intenções com ela? – ele perguntou rindo alto.
- Eu sinceramente não sei responder quais as minhas intenções com ela... Mas posso dizer o que eu sinto por ela: amor... Como jamais antes eu senti na minha vida.
Olhei-o com ternura. Como ele podia ser tão perfeito? E entrar justo na minha vida?
- Nunca ouvi algo tão sincero na minha vida. – disse Sean. – Tampouco corajoso.
- Tem certeza que você é só o motorista? – perguntou Estevan. – Duvido que alguém a olhe com tanto zelo e carinho quanto o senhor.
- E duvido que alguém possa amá-la tanto quanto você. – disse Sean lhe entregando a chave do carro.
Estevan olhou para a chave na sua mão. Sean disse:
- Estarei esperando por vocês aqui... O tempo que for necessário. – ele olhou diretamente para mim. – Caso haja qualquer problema, estarei na frente do prédio onde fomos procurar por Estevan naquele dia.