Capítulo 57
1770palavras
2022-12-27 10:35
- Sua mãe era uma mulher doce, gentil... Não acho que ela realmente gostava do papel de rainha... Ou de mulher de Stepjan Beaumont.
- Mas ela foi prometida a ele...
- Sim, ela vinha de uma família de muitas posses, embora não com títulos.
- Como você a conheceu?
- Eu... Fazia a segurança dela.
- Você era o guarda costas da minha mãe? – perguntei atônita.
- Sim.
- Por que não me contou antes?
- Por que... Também tinha dúvidas se poderia confiar em Vossa Alteza.
- Quais os lugares que minha mãe ia? O que ela mais gostava de fazer?
- Ela era jovem e cheia de vida. Mas se limitava a estar preparada o tempo inteiro para ter um filho.
- Isso é a coisa mais triste de tudo... E acho que por este motivo eu não perdoo meu pai.
- Ela se preocupava com isso.
- E você sabe como ela se sentia com relação aos abortos?
- Triste, culpada...
- Você... Conversava com ela? Ou a relação de vocês era estritamente profissional?
- Era como a que eu tenho com Vossa Alteza.
- Então vocês se falavam sobre tudo.
- Não exatamente sobre tudo...
- Ela gostava do meu pai?
- Eu...
- Por que tanta dúvida, Sean?
- Eu... Creio que não. Isso ela nunca me falou, Alteza.
Ele ficou visivelmente confuso e abalado ao falar sobre aquilo.
- O que ela mais gostava de fazer?
- Pegar sol no jardim.
- Eu quero saber o que ela mais gostava de fazer na vida dela... – perguntei novamente, entusiasmada.
- Pegar sol no jardim. – ele repetiu.
Quem se satisfazia sendo feliz ao pegar sol no jardim? O quão triste era a vida da minha mãe?
Eu tinha tantas perguntas... Mas o carro parou em frente ao Rock Bar e eu já não tinha certeza se descia para concretizar meus planos ou continuava a ouvir sobre minha mãe. Sean era a primeira pessoa que me falava sobre ela.
- Vamos continuar esta conversa depois.
- Eu já falei tudo que sabia.
- Não... Você sabe que não, Sean.
Eu desci e bati na porta do Rock Bar. Foi Théo quem atendeu. Ficou surpreso ao me ver:
- Satini? – ele olhou para o carro. – Mia não veio?
- Não...
- Entre.
Ele abriu a porta e eu o segui. Samuel estava tocando com o restante da banda. Era um ensaio. Quando me viu ele logo parou. Eu não queria atrapalhar. Sabia que aquilo era importante para ele.
- Théo, eu soube o que está acontecendo com você e Mia.
Ele me encarou confuso:
- Eu... Vou assumir ela e o bebê.
- Você tem certeza que é isso que quer?
- Eu tenho. Eu gosto de Mia... Jamais a deixaria assumir isso sozinha.
- Eu... Espero que dê tudo certo.
Samuel me deu um beijo no rosto e parou ao nosso lado.
- Por que a família dela não aceita? Eu não sou um homem pobre. Sei que ela tem muitas posses, mas...
- A família dela é complicada... Você tem uma base por Alexander.
- Por que ele trabalha para você se eles têm dinheiro e ela vem de uma família abonada?
- Porque... Nossos pais são amigos. E confiam nele para estar comigo.
- E ele se dispõe a isso?
- Ele trabalha em outra coisa quando não está comigo. – falei tentando ser convincente.
- Sinceramente, não quero falar sobre a Bela Adormecida. – debochou Samuel.
- Nem eu... – confirmei. – Mas posso falar de Mia. E eu digo que ela é uma garota especial... Muito especial.
- Eu sei. Nunca duvidei disso.
- E se você fizer qualquer coisa para magoá-la, eu mando matá-lo.
Eles riram. Mas eu não estava brincando.
Théo saiu e Samuel me encarou:
- Você aqui, sem combinarmos nada... A que exatamente devo a honra?
- Negócios.
- Negócios... Sempre negócios. Quando vai me procurar e dizer que está apaixonada por mim e que não resiste aos meus lindos olhos verdes? – ele brincou.
Nunca! Claro que pensei, mas não falei.
- Vamos... – ele disse indo até uma mesa.
- Hoje não temos os seus comparsas?
- Não são meus comparsas, são meus amigos. E só não estão aqui porque não planejamos este momento. Senão eles estariam sim. Ainda assim vou ouvi-la sem eles estarem por perto, como deveria ser, já que veio aqui a negócios, não é mesmo Satini? Ou teria outro motivo que eu não estou sabendo?
- Sam, os motivos são mesmo negócios.
- Então fale.
- Meu pai falou que haverá um baile no castelo. A princesa conhecerá o seu futuro marido neste dia e será coroada, creio eu.
- Um baile? Ela não conheceria o futuro marido no dia do casamento, por mais ridículo que isso possa parecer?
- Pois parece que tudo foi antecipado. Isso não o deixa curioso? Por que casá-la às pressas?
- Sim... – ele falou pensativo.
- Eu acho que nós deveríamos sequestrar a princesa.
Ele me olhou atentamente e disse:
- “Nós”?
- Sim, eu quero ajudar.
- Por que acha que devemos sequestrar a princesa? O que isso nos ajudaria na causa, Satini? Eu não entendo aonde você quer chegar. Nossa intenção nunca foi roubar a filha do rei Stepjan. Nós só queremos ele fora do poder, nada mais.
- Sam, eu acho que sequestrá-la seria perfeito. Vocês pediriam um resgate, que certamente ele não pagaria e isso envolveria toda a mídia. Todo o mundo saberia quem é o rei Stepjan Beaumont.
- De tudo que você falou, a minha dúvida é: como você sabe que ele não pagaria para ter a filha de volta?
Sean pegou uma cadeira e sentou-se junto de nós. Eu e Samuel ficamos encarando-o pasmos. Eu nem vi que ele estava ali.
- Desculpem eu estar me intrometendo, mas posso responder a pergunta do rapaz. Eu não gostaria de estar ouvindo a conversa de vocês, mas infelizmente eu estava e não posso ficar quieto. A garota tem razão. O rei não pagaria pela vida da filha.
- Como você pode afirmar isso? Ou melhor, como “vocês” dois podem afirmar com tanta certeza?
- Eu trabalho para a alta sociedade de Avalon a minha vida inteira. Sempre fui motorista de homens poderosos da corte do rei Stepjan. Sempre fui discreto, calado e fingia não ouvir nada. Mas meu coração sempre foi do lado oposto de Avalon. Eu não pertenço a Coroa Quebrada... Tampouco a parte de Avalon que apoia as atrocidades deste rei caricato e ridículo. Mas eu nasci neste reino e quero sim que a coroa se junte novamente e que possamos ter paz, como quando o pai do rei Stepjan era o soberano.
- Isso quer dizer que você apoia a causa da Coroa Quebrada?
- Eu apoio qualquer coisa que seja contra o rei Stepjan. – ele confessou.
- Eu... Não sabia que você entendia tanto sobre isso, Sean. – me ouvi falando.
- Nem eu sabia de seus interesses revolucionários e anti monarquistas, senhorita.
- Eu não sou anti monarquista. Eu só quero o rei Stepjan fora do poder. Ele é excêntrico, egoísta, individualista e tantos outros “istas” ruins possam haver na dicionário.
- Quer que a princesa assuma o poder? – perguntou-me Sean.
- E seu dissesse que não tenho certeza de que Emy Beaumont morreu?
Os dois me olharam perplexos:
- O que exatamente você sabe, Satini Kane? – perguntou Samuel.
- Eu não sei... Eu suponho.
- Com base em quê?
- Nos meus estudos sobre Avalon e os Beaumont.
- Eu confesso que não estou entendendo sobre por que e aonde você quer chegar.
- Ela quer chegar no ponto que o mundo saiba que Avalon existe no mapa. Satini quer os olhares da mídia neste reino. E isso pode ser atraído com o sequestro da princesa. A Coroa Quebrada e sua história ganhará visibilidade. Então o rei Stepjan não poderá agir como bem entender... Por que o mundo inteiro estará em Avalon, querendo saber como a princesa será resgatada.
- E então acabarão conosco.
- Não exatamente. – eu continuei. – Ele não pagará pela filha.
- Claro que pagará.
- Não pagará. – confirmou Sean. – Ele não quer a filha no poder. Nunca quis, assim como não queria Emy Beaumont.
- Como podem afirmar isso?
- Porque convivemos com pessoas que tem acesso ao castelo e sabem desta informação.
- Que seria o pai de Satini? – ele questionou.
- Não só ele... Como eu disse, já trabalhei para vários membros da Corte Real. E se você não sabe que o rei Stepjan não dá a mínima importância para a filha é porque a Coroa Quebrada não sabe nada sobre Avalon.
- Como posso confiar em vocês?
- Da mesma forma como estamos confiando em você. – eu disse.
- Satini, por mais que eu goste de você, tenho medo de entrar nesta situação e dar tudo errado. Sequestrar a princesa é algo bem sério.
- Já estiveram dentro do castelo?
- Não... Mas já tivemos uma pessoa de confiança lá dentro.
- Quem? – eu perguntei.
- Eu não posso dizer. Isso só quem sabe são os mais fortes membros da liderança da Coroa Quebrada. Se eu dissesse, teria que matá-la.
Eu coloquei minha mão sobre a dele:
- Eu sei que você não seria capaz disto.
- De matá-la, não. Mas de não lhe dizer quem é a pessoa, sim.
Isso me deixou intrigada... Quem estava, ou esteve, infiltrado no castelo de Avalon?
- Então esta pessoa deve ter lhe falado sobre a relação do rei com a filha. – tentei.
- Na verdade, ainda não. Mas posso condicionar aceitar a ideia de vocês quando esta pessoa nos disser o que sabe.
- Então a suposta pessoa ainda está no castelo? – perguntou perplexa.
- Eu não disse isso.
- Aguardaremos, Sam. – disse Sean. – Acho que está sendo bem sensato.
- Esta decisão não cabe somente a mim... Há outras pessoas que lideram comigo.
- Eu... Entendo.
- E o túnel que você falou que havia. Onde fica? Isso nos deixaria um pouco mais seguros para tentar esta invasão. Caso contrário, seria suicídio. O exército de Avalon é preparado para matar quem tem uma tatuagem como a minha.
- Aguardo você pensar sobre o que eu falei, bem como as informações sobre a pessoa de confiança do Coroa Quebrada dentro do castelo. Depois eu falo sobre o túnel.
- Não há sequestro sem o túnel. – ele disse.
- Combinado.