Capítulo 56
1590palavras
2022-12-27 10:34
Tudo estava saindo conforme o planejado. Meu pai havia aceitado a festa em forma de baile, onde eu conheceria o meu futuro marido. Este era o único jeito de eu poder ser sequestrada em segurança de dentro do castelo de Avalon.
E eu não poderia dar esta tarefa a ninguém além de Samuel Leeter. Ele era a única pessoa que eu confiava que me sequestraria e não me faria nenhum mal, por mais que ele odiasse a princesa. Quando ele soubesse que ela era eu, sabia que ele não seria capaz de me maltratar, por mais furioso que ficasse. No fim, eu poderia realmente lhe ajudar, pois eu queria que eles pudessem sim ter acesso ao castelo e eu era a melhor fonte possível, pois morava lá dentro.
Jogaria na mídia o sequestro e depois o mundo estaria de olho em Avalon... E no rei Stepjan que não pagaria para resgatar a filha. Eu tinha absoluta certeza de que ele não faria isso. Em primeiro lugar porque ele realmente queria que eu morresse. E seria pelos membros da Coroa Quebrada, o que faria com que ele se sentisse fortalecido, jogando aos quatro ventos o quanto aquele lado de Avalon era ruim, vingativo e violento.
Mas no fim, todos saberiam que ele não pagou pelo resgate da própria filha. Que tipo de pai faria isso? O tipo que é capaz de matar a própria irmã e o pai a fim de colocar em sua cabeça uma coroa que não lhe pertencia.
Então eu iria aos meios de comunicação dizer que Emy Beaumont estava viva. E acabaria com o reinado de meu pai, Stepjan Beaumont, colocando suas mentiras perante o mundo inteiro.
E eu esperava que minha tia, quando soubesse que estava segura, aparecesse para tomar seu lugar como a primeira rainha de Avalon. Sim, aquela coroa era dela por direito... Não minha.
Como Sean me disse, eu era apenas uma garota conhecendo o mundo. E eu ainda tinha muito a fazer... Eu poderia auxiliar com minhas ideias inovadoras para o nosso reino, mas eu ainda não tinha certeza se estava preparada para comandá-lo. Tudo que eu queria era ser feliz... Nada mais.
Naquela tarde eu decidi ir ao Rock Bar procurar Samuel. Não tinha certeza se o encontraria lá, mas acho que se eu fosse até a Coroa Quebrada ele não ficaria nada satisfeito e então eu poderia pôr em risco tudo que havia conquistado até o momento.
Fui ao quarto de Mia antes de sair:
- Mia, eu vou ir até a Travessia. Quer ir comigo?
- Não. – ela disse secamente.
- Mia, eu fiz algo que não sei?
- Não, está tudo bem. – ela disse e eu tive a certeza de que ela estava mentindo.
- Nem nos falamos esta semana. E eu tenho certeza de que você não recusaria ver Théo de forma alguma.
Ela trancou a porta com a chave e sentou na cama, me encarando.
- O que houve? Eu estou bem preocupada agora.
- Você sabe que eu só tenho você para conversar, não é Satini?
- Assim como eu só tenho você... Mas às vezes eu omito algumas coisas Mia... Para lhe proteger.
Ela deu de ombros e continuou:
- Estou segurando isso dentro de mim há dias...
- Sobre sua fuga?
- Também... Agora mais do que nunca eu vou fugir.
- Por quê?
- Eu... Estou grávida.
Eu pensei ter ouvido errado, mas infelizmente não. Mia, minha amiga, minha irmã, estava grávida de Théo, que havia conhecido a pouco mais de dois meses. O que estávamos fazendo com nossas vidas? O que eu fiz com a vida da minha amiga?
- Eu... Não sei o que dizer... A não ser me culpar.
Ela me olhou:
- Como assim se culpar, Satini?
- Por ter levado você para junto de mim nesta loucura que é fora dos muros do castelo. Foi tudo minha culpa...
- Não há culpados, princesa. Eu sou mais velha que você, esqueceu?
- Nem um ano... Então isso não conta.
- Eu já tenho dezoito. Sou responsável por meus atos... Aliás, eu sempre fui mais responsável e madura do que você.
- Sim, eu não posso negar, Mia. Quantas vezes você me conteve, em várias situações.
- Mas simplesmente Théo mexeu com tudo dentro de mim, entende?
- Claro que entendo, Mia. Eu sei exatamente do que você está falando.
- Eu não quero esta vida dentro do castelo... Não quero continuar o legado da minha mãe, servindo a realeza. E não se sinta ofendida, Satini. Não é por você... Mas eu não a vejo somente como a princesa de Avalon. Eu a vejo como a minha irmã... Até mais do que a minha amiga.
- Eu sei...
- Eu quero viver a vida fora daqui. Eu quero viver com Théo e se não der certo com ele eu vou continuar a minha vida lá fora.
- Ele sabe do bebê?
- Sim...
- Você não contou pelo computador?
- Não... Eu o vi.
- Como saiu?
- Algumas mentiras e deu tudo certo.
- E como ele reagiu?
- Nós vamos assumir a criança... Juntos.
- Vocês nunca se cuidaram para isso não acontecer?
- Algumas vezes sim, outras não... Era para acontecer desta forma.
- Eu mesma não me cuidei com Estevan...
- Mas tomou a pílula do dia seguinte, então não há possibilidade de ter um filho dele.
- Mas isso serve como lição...
- Eu não estou tão chateada com o filho, se é que me entende. Sei que talvez não seja a hora, mas se não fosse assim não tenho certeza se eu seria capaz de deixar tudo isso.
- Sua mãe sabe?
- Não da gravidez. Mas sabe sobre Théo. Alexander contou.
- Claro, ele não ia deixar de fazer isso. – ironizei.
- Mas ela não se importou. No fim, foi bom revelar a ela meus sentimentos e minha vontade de me unir a ele.
- Mas... O que ela achou disso tudo?
- Disse que nos conhecemos há pouco tempo e que talvez eu não esteja tão apaixonada quanto acho. Mas também me alertou que sair do castelo será um grande problema, como eu já previa. Ela sabe que eu sou quase tão prisioneira quanto você...
- Sim... Infelizmente esta é a verdade.
- Então, eu não tenho outra alternativa a não ser realmente fugir.
- E vai mesmo fazer isso?
- Vou... Tenho absoluta certeza.
- E eu vou apoiá-la... Independente da decisão que você tomar.
- Eu sei... Desculpe por não ter falado antes.
- Eu estava tentando me reerguer esta semana. E consegui. Estou de pé e preparada para a próxima etapa.
Ela riu:
- Só lamento não estar aqui ao seu lado quando você se tornar a rainha de Avalon.
- Não lamente... Tudo acontecerá com tiver que ser.
- Eu não vou até o Rock Bar hoje.
- Sabe se Sam está lá?
- Provavelmente sim. Ele costuma ensaiar nas tardes dos finais de semana lá.
- Vou indo então.
Dei um beijo nela e perguntei:
- Quando será a fuga?
- Prefiro não dizer... Quero que você também finja surpresa.
- Eu vou vê-la sempre, acredite, independente de onde você estiver.
- Não estarei na Coroa quebrada. Théo mora na Travessia. Mas a maior parte do tempo ele fica lá. Além de ser o melhor amigo de Samuel ele é o braço direito dele.
- Eu imaginei isso.
- Théo e sua família tem posses... No entanto não apoiam o rei Stepjan.
- Mia, você nunca poderá contar a verdade.
- Eu jamais contarei, Satini... Nunca.
- Obrigada.
Eu desci rapidamente para encontrar Sean. Ele já me esperava dentro do carro, escutando música num volume baixo. Assim que eu entrei ele desligou.
- Por que fez isso, Sean?
- Isso o quê?
- Desligou a música.
- Para não importuná-la, Alteza.
- De forma alguma, pode escutar. Eu adoro música e estou aprendendo a valorizar outros estilos além dos que me foram apresentados a vida inteira, acredite.
Ele sorriu e ligou novamente. Depois deu a partida no carro.
- Para onde, Alteza?
- Travessia, Rock Bar.
- Ok.
Ficamos um tempo em silêncio, depois ele perguntou:
- Alexander estava importunando-a naquele dia?
- O fato de ele esta vivo me importuna.
Ele riu:
- Isso é forte.
- Verdadeiro. – corrigi.
- Encontrará o jovem Samuel hoje?
- Sim...
- Mas não na Coroa Quebrada?
- Não...
- Entendo... – ele disse percebendo que eu só falava em monossílabos.
- Eu vou conhecer meu futuro marido dentro de um mês. – confessei.
- Nossa, isso foi mais rápido do que era para ser?
- Só dois meses. – eu ri ironicamente. – Tenho medo de acordar amanhã vestida de noiva e anunciarem que o príncipe do raio que o parta está me esperando.
Ele riu:
- Não duvidaria, Alteza.
- Eu pedi ao meu pai um baile para eu conhecê-lo antes. Será em um mês. Depois disso o casamento. Pelo menos terei tempo para ver quem ele é antes...
- Antes... – ele incentivou.
- Eu não sei se devo confiar em você, Sean.
- Por que, Alteza?
- Porque você não confia em mim.
- Como assim?
- Se confiasse, me falaria o que sabe sobre a minha mãe.
Ele me olhou de relance.
- Sabia que alguém conta todos os meus passos para meu pai?
- E você não acha que sou eu, não é mesmo?
- Eu sinceramente não sei.