Capítulo 53
1617palavras
2022-12-27 10:29
Quando cheguei no carro, Sean perguntou:
- Podemos partir?
- Sim. – confirmei vendo Samuel observando-nos saindo.

Sean dirigia atentamente e eu fiquei em silêncio ao lado dele, mesmo sabendo que ele devia estar bem curioso quanto a tudo que estava acontecendo. No entanto ele só disse:
- Ele é um bom garoto.
Fitei-o e perguntei:
- Sam?
- Sim... Talvez o outro também. – ele me olhou de relance.
Escorei minha cabeça no banco e suspirei:

- Estevan não vai me perdoar nunca...
Ele riu:
- Acho que você está sendo muito precipitada, Alteza.
- Ele me disse com todas as letras, Sean. Eu fui uma burra...

- Estevan é o do prédio, que sumiu sem deixar recado?
- Sim. – confirmei.
- Mas... Qual dos dois é o seu namorado?
- Nenhum. – confessei e comecei a rir. Realmente era engraçado tudo aquilo. – Ontem eu estava trancada num castelo. Hoje eu ando livremente por Avalon e até conheci a Coroa Quebrada. E terminei com dois namorados antes de tê-los.
- É bom que Vossa Alteza esteja se divertindo.
- Eu não estou me divertindo, Sean. – falei seriamente. – Eu estou apaixonada por Estevan.
- Derramou lágrimas por ele duas vezes. – ele observou.
- Sabia que eu não costumo chorar?
- Só por ele? – ele deu um meio sorriso irônico.
- Acho que sim... – suspirei.
- Se ele a faz chorar, seria o ideal para Vossa Alteza?
- Sim... É ele e eu sei disto... E sei exatamente porque ele é o único que consegue fazer meu coração querer pular fora do meu corpo. E também o único por quem minhas lágrimas não hesitam em cair.
- Não se preocupe... No fim tudo vai dar certo e sair como Vossa Alteza desejou. – ele disse.
- Da mesma forma como quando desejei que Alexander tomasse uma surra até quase morrer? – o questionei curiosa.
- Creio que talvez sim.
- Sean, você teve algo a ver com o que aconteceu com Alexander?
Ele me encarou:
- Talvez, Alteza.
Sean, quem é você? Eu mal o conheço e você me trata tão bem... E eu tenho quase certeza de que foi você que mandou baterem em Alexander. E isso por foi mim. Senti algo inexplicável. Eu já tinha percebido que ele se importava comigo de alguma forma. E nunca alguém havia feito algo por mim como ele fez, sabendo tão pouco sobre a minha pessoa. Seria minha sorte tê-lo ali... Ou aquilo tudo era planejado? Foi meu pai que o escolheu a dedo para ser meu novo guarda-costas. Talvez Sean só quisesse a minha confiança... E depois me matasse. Ou pode ser que ele contasse ao meu pai tudo que eu fazia, embora eu soubesse que meu pai pouco se importava sobre isso.
- O que você acha de eu ter ido até a Coroa Quebrada? – perguntei.
- Como Vossa alteza estava com o garoto, acho que não foi um grande risco.
- Por que acha que eu tenho interesse em ir até lá, Sean?
- Se não for pelo garoto, já que Vossa Alteza gosta do outro, seria por curiosidade de conhecer a verdadeira Avalon?
- Acreditaria se eu dissesse que tenho interesse de depois da minha coroação unir as duas metades da coroa novamente?
- Acreditaria. Não espero menos de Vossa Alteza. É inteligente, sagaz, altiva e consegue tudo que quer.
Eu poderia fazer mil perguntas, mas eu tinha que ir devagar com ele, ou escaparia por entre os meus dedos como Léia.
Demorou até que chegássemos novamente até a outra parte de Avalon. Eu me senti cansada e fechei meus olhos, tentando esquecer o acontecido com Estevan e pensar somente no meu sonho realizado de conhecer a Coroa Quebrada. E eu sabia que Samuel só havia me levado até lá para tentar diminuir minha dor pela perda de Estevan.
- Alteza?
Senti uma batida leve no meu braço e abri meus olhos. Era Sean. Estávamos ainda dentro do carro. Eu havia adormecido.
Desci já na garagem onde ficavam os carros reais. Olhei para a rua e percebi que já estava ficando noite.
- Obrigada, Sean.
- Nos vemos em breve, Alteza. Procure ter uma boa noite de sono e não pensar no que aconteceu. Como eu disse, tudo se resolverá.
Eu sorri e subi as escadas para o primeiro andar, visto que a garagem ficava numa espécie de subsolo. Olhei para alguns guardas de prontidão, mas não pedi para nenhum me acompanhar. Alexander devia estar ainda se recuperando da surra.
Andei pelo corredor que me levaria até a escadaria e ouvi conversas no local onde Léia recebia visitas. Eu sabia que aquilo não tinha nada a ver comigo, mas eu era tão curiosa. Léia não costumava receber muitas pessoas a ali a não ser familiares bem próximos. Ainda assim eles vinham muito raramente.
Abri a porta vagarosamente e vi Alexander e Beatrice conversando. Fiquei completamente confusa e sem palavras, muito menos pensamentos. O que teria Alexander com Beatrice?
Tentei sair sem ser vista, mas não deu certo. Quando fui fechar a enorme porta, ela rangeu. Então abri novamente, fitando-os com um belo sorriso, mas sem conseguir dizer nada. Eu poderia dizer que Beatrice ficou um pouco preocupada com o flagra da conversa. Mas Alexander simplesmente disse ironicamente:
- Me procurando, Alteza?
- Sim, queria me certificar de que você ainda estava vivo.
- Pronto para o próximo round.
- Eu... Soube do que houve com Alexander e vim saber o que realmente aconteceu, princesa. Fiquei preocupada... Com a sua segurança.
Arqueei minhas sobrancelhas e disse sarcasticamente:
- Agradeço sua preocupação comigo, “mamãe”.
Ela ficou visivelmente constrangida. Eu não. Ela tinha me ajudado, mas eu não confiava nela. Muito menos ao vê-la junto daquele ser desprezível que era Alexander.
- Bem, preciso me retirar. – falei saindo e ela acabou indo junto comigo.
Enquanto andávamos lado a lado, ela disse:
- Eu não gosto deste Alexander.
- Não mesmo? – debochei olhando-a de soslaio.
A quem você está tentando enganar, Beatrice? A mim, ninguém engana. Você se acha esperta, mas não é.
- Vai me dizer que Vossa Alteza gosta dele? Se gostasse, não teria pedido minha intervenção ao fato de ele acompanhá-la frequentemente.
- Oh, desculpa por não ter lhe agradecido pela sua intervenção, Beatrice. – ironizei.
- Por que você só fala comigo sarcasticamente? – ela questionou.
- Impressão sua, Beatrice.
- Alteza, eu realmente fiz com o intuito de ajudá-la.
- Eu acredito.
- E gostaria de dizer que Alexander acha que foi você que arquitetou a surra que ele ganhou.
Arqueei minhas sobrancelhas e menti:
- Fui eu.
- Como assim? – ela perguntou preocupada.
- Vai contar a ele?
- Claro... Que não. Por que eu faria isso?
- Não sei... Me diga você, Beatrice.
- Eu não sou amiga dele... Mal o conheço. Mas não gosto dele, como já lhe disse.
- Eu não sou uma boa menina, Beatrice. Eu acabo sendo má com pessoas que cruzam meu caminho tentando me prejudicar de alguma forma. Isso foi só um aviso para Alexander. A próxima vez poderá ser pior... Talvez fatal. Acho que foi uma das únicas coisas que herdei de meu pai: meu lado perverso e desalmado.
Ela não subiu o último lance de escadas comigo. Não tenho certeza se ficou com medo de mim ou se voltou para contar tudo a Alexander. E pouco me importava. Eu estava literalmente me fodendo para os dois. E até queria que os dois estivessem fodendo escondidos, traindo o rei Stepjan.
Eu ri... Alexander, você não sabe como é bom me vingar de você lentamente. Vamos ao próximo nível amanhã. Levantar a suspeita em meu pai que você esteja comendo a vagabunda da mulher dele.
Fui para o meu quarto, tomei um banho quente e deitei na minha cama sem fechar a janela, deixando o ar fresco e a luz da lua adentrarem no recinto. Fechei meus olhos e deixei que as lágrimas escorressem grossas e quentes pela minha face. Eu as segurei por tanto tempo... Agora eu não conseguia mais.
Se eu nunca mais visse Estevan, minha vida ficaria incompleta para sempre. Por que eu fui tão leviana? Sim, Samuel despertava desejos em mim, assim como provavelmente outras mulheres talvez despertassem em Estevan. Mas isso não significava que eu devesse beijar todos os homens que despertassem qualquer coisa em mim. Era ele que eu amava. Era ele que eu queria comigo para sempre. Era ele que eu queria na minha cama, sempre que eu abrisse os olhos pela manhã. Era com ele que eu queria fazer amor para o resto da minha vida. Eram só os olhos dele que eu queria sobre mim, me desejando e me queimando por dentro. Eu não tinha espaço para ninguém além dele no meu coração. E talvez agora ele realmente tivesse ido embora para nunca mais voltar.
Quem teria morrido, que o fez partir de repente, sem lembrar que eu existia? Por que eu sequer perguntei? Eu poderia tê-lo ajudado com a sua dor... Sim, eu não poderia e nem quereria ajudar meu futuro marido com a perda do irmão. Mas eu queria sim poder ajudar Estevan... Porque eu o amava. E porque a dor dele era também a minha. Por este motivo eu não podia mais aceitar aquele casamento arranjado com uma pessoa que eu não conhecia.
Salve-me deste casamento, Estevan... Ou eu terei que pedir para Samuel fazer isso. E eu gostaria que fosse você, meu amor...
Eu sequer sabia mais o que fazer... Minhas certezas viraram incertezas e talvez eu fosse capaz de largar tudo, até mesmo a coroa, por aquele homem que eu mal conhecia.