Capítulo 52
1789palavras
2022-12-27 10:29
Virei para trás e encontrei os olhos de Samuel:
- Eu não acredito que você fez isso por mim... – falei emocionada com a atitude dele para tentar me fazer esquecer o que havia acontecido com Estevan.
- Vamos?

- Sim...
Ele abriu a porta e desembarcou do carro. Eu estava descendo quando senti a mão segura de Sean no meu braço. Ele me encarou:
- Tem certeza de que quer fazer isso?
- Tenho. E espero que fundo do meu coração que você não comente isso com ninguém.
- Eu jamais faria isso.
- Eu sei... – sorri.

- Quer que eu vá junto ou prefere fazer isso sozinha?
- Sozinha.
- Imaginei... Se você não estivesse com ele, eu não aceitaria sua negação e a acompanharia. Mas pelo que percebi, estar com ele neste lugar é mais seguro do que em Avalon com o rei.
- É mais seguro do que dentro do castelo, acredite, Sean. – eu dei um beijo no rosto dele e saí.

Por que eu dei um beijo no rosto do meu guarda-costas? Porque eu gostava dele e nem conseguia entender o motivo? Eu me sentia segura com ele... E percebia que ele tinha afeto por mim. Eu podia ver isso nos olhos dele e na forma como ele agia comigo. No fim, eu encontrei ótimas pessoas no meu caminho. Eu não podia reclamar. Sean seria meu segurança pessoal quando eu me tornasse a rainha de Avalon.
Samuel pegou minha mão e eu o acompanhei pela rua de terra seca e poeirenta. Caminhamos lentamente até a ponte. Eu sentia um frio na minha barriga. Estava muito feliz e completamente excitada em conhecer aquele lugar, do qual ouvi falar a minha vida inteira.
Quando chegamos na entrada da ponte, todos baixaram a cabeça para Samuel, como um sinal de cumprimento. Eu contei oito homens, todos com armas potentes. Andamos pela ponte bem construída e larga para passagem de pedestres, mas estreita para passagem de carros. Paramos no meio da ponte.
- Para o lado de lá. – ele apontou. – Avalon. – Para o lado de cá. – apontou novamente. – A Coroa Quebrada, ou seja, a outra metade de Avalon.
Vi o rio descendo ferozmente sobre nossos pés, com um som que me trazia tranquilidade e não medo.
- Não passam carros? – perguntei.
- Não. Isso nos deixa um pouco mais seguros.
- Por quê?
- Somos fracos perante o exército de Avalon. Mas caso eles entrem no nosso território, terão que vir pela ponte e não poderão usar carros. Então a luta não seria tão desigual. Ainda poderíamos ter uma chance.
- E se vierem pelo ar? – questionei.
Ele sorriu e arqueou as sobrancelhas:
- Você é bem inteligente para uma garota rica que conhece pouco sobre guerras e afins.
- Quem disse que conheço pouco sobre guerras?
- Por que você se interessaria por lutas entre rebeldes e reino?
- Neste caso, os rebeldes fazem parte do reino, mesmo não querendo. A coroa está quebrada, mas ela já esteve unida um dia. Não acha que ela pode ser consertada e voltar a ser uma só?
Ele balançou a cabeça, olhando para a água no leito do rio:
- Não sei se acredito mais nisso. Acho que tudo será muito difícil.
- O que vocês pretendem? Quais seus planos?
- Se eu lhe contar, terei que matá-la depois.
Eu ri:
- Acho que vou arriscar.
Ele tocou no meu rosto:
- Não quero ter que matá-la.
- Não vejo você matando alguém, Samuel Leeter.
Quem imaginaria Samuel Leeter, o guitarrista da banda de rock, lindo, perfeito, com um corpo escultural, olhos verdes, pouco mais de 20 anos matando uma pessoa?
Ele não disse nada.
- Você já matou alguém, Sam? – perguntei um pouco temerosa da resposta.
- Não... Mas estou preparado para quando este momento chegar.
- Por que você é líder disto tudo? Vocês são exatamente metade do povo de Avalon... O que há de pessoas morando aqui? 150 mil... Talvez um pouco mais ou um pouco menos?
- Aqui em torno de 100 mil. Os outros mais de 50 mil estão espalhados por toda Avalon, um pouco na Travessia e um pouco...
- No centro de Avalon, próximo do castelo. Você está me dizendo que há rebeldes infiltrados?
- Não... Estou dizendo que há pessoas que fingem apoiar o rei, mas fazem parte da Coroa Quebrada. Temos aliados na alta cúpula, embora eu ache que na corte nenhum. Então seu pai não corre o risco de ser um dos nossos.
- Não mesmo. Meu pai jamais apoiaria isso. – me ouvi dizendo.
- Me fale mais sobre você, Satini. Eu lhe mostrei de onde eu venho.
- Mas... Não iremos até o outro lado? Não entraremos na Coroa Quebrada?
Ele sorriu e pegou minha mão. Seguimos pela ponte e descemos ao outro grupo armado. Novamente cumprimentaram Samuel respeitosamente.
- Sam, você é muito jovem para ser o líder. – continuei.
- Por que acha isso? Não confia que eu possa liderar um exército rebelde por causa da minha idade? Seria o mesmo que dizer que uma mulher não pode governar Avalon pelo simples fato de ser mulher.
Ele tinha razão. Caso meu pai morresse hoje, eu, mesmo com 17 anos, assumiria o trono como rainha de Avalon. Então a pouca idade não significava nada. Aposto que os rebeldes amadureciam muito mais cedo, especialmente comparando Samuel e Alexander.
- A futura rainha de Avalon é muito jovem e caso o rei morresse, ela assumiria o trono com pouca idade. Além de ser mulher, seria muito jovem.
- Ela não pode assumir, Satini. Ela não está preparada.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Ela não assumirá Avalon.
- Sam...
Eu ia contestar, mas lembrei que eu não poderia fazer discurso em causa própria, ou poderia despertar a desconfiança dele.
- O trono de Avalon foi sabotado. Stepjan o roubou e a princesa não tem direito legal sobre ele.
- Mas ela é a única herdeira.
- Será?
Olhei-o confusa. Mas antes que eu perguntasse qualquer coisa, uma garota veio correndo gritando o nome dele de longe. Caiu, levantou-se e voltou a correr, sendo recebida de braços abertos. Ele a girou no ar e depois a beijou carinhosamente.
- Minha princesa... – ele disse.
- Sam, eu procurei você em todos os lugares. – ela falou ainda no colo dele, me fitando curiosa.
Ela tinha olhos verdes e cabelos loiros e longos. Era magra e a pele era como porcelana. Creio que tinha no máximo uns oito anos.
- Quer saber quem é esta moça bonita? – ele perguntou para ela.
- Quero sim... – ela sorriu.
- Esta é minha amiga... Minha amiga porque ela quer, na verdade. – ele riu. – E ela se chama...
Eu me antecipei e estendi a mão para ela:
- Me chamo Satini.
Ela apertou a minha mão delicadamente e desceu do colo dele, encostando em mim:
- Você é linda. – ela disse.
Eu ri:
- Eu acho que você que é linda.
- Eu sou Emília...
- Minha irmã. – ele falou.
- É um prazer conhecê-la, Emília.
- Você não é daqui. – ela observou.
- Não mesmo... Na verdade, estou conhecendo este lugar.
- Você vai gostar... – ela disse sorrindo.
- Espero que sim.
- Posso levá-la comigo? – perguntou Emília.
- Não mesmo. Hoje Satini só veio conhecer até aqui. – ele me olhou seriamente. – Outro dia ela volta e então conhecerá mais um pouco.
- Não vamos levar ela até a nossa casa? Quero que mamãe a conheça. Ela parece uma princesa.
Eu ri. A garota além de espera era encantadora.
- Quantos anos você tem? – perguntei.
- Oito. – ela disse.
- Hum, então acertei. Quando olhei para você, imaginei que tivesse oito anos.
Ela sorriu e pegou minha mão:
- Vamos comigo.
- Eu disse não, Emília. – falou Samuel firmemente.
- Mamãe disse que não é você quem decide tudo... Que é ela.
Eu olhei-o ironicamente:
- Hum... Pelo visto você é rebelde em casa, Sam Leeter?
- Só um pouco. – ele admitiu sorrindo e separou a minha mão da Emília. – Neste caso, hoje é eu que decido e não nossa mãe, Emília.
- Mamãe disse que quando você tivesse outra namorada que não fosse Isabella ela ficaria feliz em conhecer.
Eu olhei divertidamente para ele. A irmã estava acabando com o forte e decidido Samuel Leeter em segundos.
- A mãe de vocês também é assim, espontânea? – perguntei encarando-o.
- Minha mãe atira muito bem. – falou Emília. – Ela me ensinou a usar a arma. Mas só para me defender.
Fiquei um pouco preocupada. Como assim uma menina de oito anos fazendo uso de uma arma? Era assim que funcionava aquele lugar? Crianças armadas?
- Emília, agora é hora de você se despedir de Satini porque ela vai embora.
- Vou? – questionei-o.
- Sim. – ele confirmou. – Na próxima vez que ela vier, caso ela se comporte, poderá ver você novamente e talvez até conhecer nossa mãe.
Emília não ficou muito feliz com a decisão dele, mas teve que aceitar. Dei um beijo nela e nos despedimos.
- Você volta? – ela perguntou.
- Espero que sim. – falei olhando para Samuel.
- Vou dizer para mamãe que a namorada de Sam é linda como uma princesa.
Eu poderia dizer que não era namorada de Samuel, mas não quis contestar a menina que estava tão feliz. Além do mais, talvez eu nem a visse novamente. Assim que ela se foi, perguntei:
- Pelo visto não vou passar da ponte.
- Já passou da ponte. Se considere uma privilegiada. Nunca eu trouxe alguém tão desconhecido como você aqui.
- Como assim “tão desconhecida”?
- Você sabe exatamente do que estou falando. Eu poderia insistir para você me contar a verdade, bem como seu real sobrenome ou talvez até nome. Mas sei que foi um dia difícil para você. Então vamos pensar numa conversa mais séria e talvez sincera na próxima vez que nos encontrarmos.
- Obrigada por ter me trazido.
- Lembrou dele enquanto esteve aqui?
- Não. – confessei.
- Hum, então há uma chance de eu fazê-la esquecê-lo?
- Sam... Eu não preciso esperar para ser sincera com você sobre isso... Eu sou completamente apaixonada por ele... Desde a primeira vez que o vi.
- Eu não sei se fico completamente decepcionado por você confirmar que o ama ou porque admite que não foi sincera sobre as outras coisas.
Eu abaixei meus olhos:
- Entendi que esta conversa seria no próximo encontro.
- Ok... Esperarei ansiosamente. Por você e pela verdade...