Capítulo 50
1615palavras
2022-12-27 10:28
- Já conhece a praça, Alteza?
- Não...
- É um dos lugares mais frequentados de Avalon. Pelo menos pela classe alta.

Fiquei confusa. Por que Samuel queria me encontrar num lugar como aquele?
- Eu... Tenho um encontro. – avisei.
Ele sorriu:
- Fico feliz.
O encarei enquanto ele dirigia:
- Fica mesmo?

- Claro, Alteza.
Como era bom alguém parecer se importar comigo. Mesmo que ele não se importasse realmente, eu preferia fingir que ele era sincero.
- Seria por acaso com o rapaz de não foi encontrado no prédio?
- Infelizmente não, Sean. Acho que nunca mais vou vê-lo.

Ele demorou um pouco para dizer algo. Afirmou:
- O bom é que Vossa Alteza conseguiu encontrar outra pessoa.
- Não... Eu não consegui encontrar alguém com ele. Mas gosto de Samuel. Então vou pelo menos tentar.
- Pelo curto tempo que tem? – ele questionou.
- Também por isso. Mas tenho interesses políticos com Samuel.
Ele me fitou e percebi que ficou surpreso. Pensei que iria me perguntar algo, mas não. Sean era bem discreto.
- Você soube que Alexander levou uma surra na Travessia?
- Eu... Fiquei sabendo.
- Ele participou dos treinos hoje?
- Pelo que sei sim... Ele é um homem insistente... E forte.
- Lembra que eu disse que gostaria muito de poder pagar alguém para dar uma surra nele?
- Lembro, Alteza. Como esquecer?
- Como pode eu dizer algo e acontecer?
Ele riu:
- Vai ver Vossa Alteza tem este poder.
Fechei meus olhos e disse:
- Eu gostaria de reencontrar Estevan.
Olhei para ele, que arqueou as sobrancelhas, sorrindo:
- Vamos ver se conseguimos dar um jeito nisso.
O encarei confusa. Sean era misterioso às vezes. E eu tinha certeza que ele escondia algo de mim. Ainda assim eu não poderia ir muito rápido com ele. Queria lhe dar um tempo, conquistar sua confiança e depois entrar no assunto sobre minha mãe, meu pai e o passado no castelo antes de eu nascer. Ele tinha muito tempo lá dentro e poderia me esclarecer algumas coisas, já que Léia era tão escorregadia quanto sabão.
- E seu filho? – perguntei de repente.
Ele me olhou de relance, confuso.
- Eu... Não mencionei um filho para Vossa alteza.
- Ah, mencionou sim. Eu posso ser muitas coisas, mas esquecida eu não sou.
- Me refiro ao sexo.
- Então... Não é um filho?
- Não... É filha.
- Quantos anos ela tem?
Ele me olhou novamente:
- Isso é um interrogatório, Alteza?
- Sean, pense que quando eu assumir a coroa, você poderia ser meu segurança particular.
- Mas eu já sou, Alteza.
Eu ri:
- Mas proteger a rainha é diferente de proteger a princesa.
- Eu protegeria Vossa Alteza da mesma forma, acredite. Indiferente da posição que ocupar.
- O que há em eu saber sobre sua vida pessoal? Você sabe parte da minha.
- Menina... Oito anos.
- Oito? Que legal, Sean. Claro que ela mora fora do castelo, não é? E você a visita?
Ele me olhou e eu respondi por ele:
- Claro que não... Não poderia deixar o castelo para isso. – me entristeci. – Se quiser, podemos ver sua família, Sean. Eu não me importo, acredite. Gostaria muito de poder ajudá-lo, assim como você faz comigo.
- Eu só cumpro com meu papel, Alteza.
- Não... Seu papel o limita a simplesmente dirigir para mim. Você não tem obrigação de secar minhas lágrimas, muito menos de me pagar um cachorro quente ou um sorvete de casquinha.
- Vossa Alteza às vezes é um pouco insistente... Para não dizer inconveniente.
Eu ri:
- Ora, Sean, não seja escorregadio como Léia.
- Acho que eu que deveria ser curioso quanto à Vossa Alteza e não o contrário. Sou um simples criado do castelo de Avalon, servo da realeza.
- Não consigo vê-lo desta forma... E eu nem sei porque.
Ele me fitou:
- Não mesmo?
- O conheci há poucos dias e já confio mais em você do que em Alexander, com quem convivi uma vida inteira.
Ele parou o carro e disse:
- Chegamos ao seu destino, Alteza.
- Já?
A conversa estava boa. Mas teríamos tempo para continuar.
- Vou estacionar e ficar próximo.
- Obrigada.
Abri a porta e desci. A praça era grande e tinha pista de skate, bancos espalhados por todos os lados, um enorme playground e árvores frondosas que traziam boas sombras. Alguns espaços tinham uma grama verdejante, outros eram acimentados. E não sei se era por ser um domingo ensolarado que estava lotada de famílias.
Senti mãos me envolverem por trás e senti um pouco de medo. Fiquei imóvel quando ouvi ele dizendo:
- Não imaginei que você viria.
Virei para Samuel e o abracei um pouco envergonhada:
- Mas eu disse que viria.
Ele tentou me beijar e eu me afastei, impedindo-o.
- Está... Tudo bem? – ele perguntou confuso.
- Sim... Só não quero apressar as coisas, Sam. Combinamos um tempo, lembra?
- Mas estamos num encontro, Satini.
- Não somos namorados.
- Tudo bem. – ele levantou as mãos em sinal de trégua. – Será como você quiser. Eu prometi lhe dar um tempo e vou cumprir.
- Obrigada. Para mim isso é bem importante.
Ele vestia uma calça jeans justa, tênis gastos e uma camiseta branca que mostrava seus músculos sob ela. Acho que Samuel era lindo de qualquer jeito que se vestisse. E eu já havia visto ele nu e poderia garantir que ele era zero defeitos.
- Eu... Nunca estive aqui. – confessei.
Ele me olhou curioso:
- Como assim? Quem em Avalon não conhece esta praça? Se você mora para os lados do castelo, não há como nunca ter vindo aqui.
- Eu... Saio pouco de casa. Meu pai é muito exigente com meus estudos.
- Hum... Mas deixa você sair todas as noites, inclusive na Travessia?
Porra, como eu era burra. Samuel não era um idiota. Enganar a ele era mais difícil do que mentir para Alexander eu acho. Eu não poderia subestimá-lo:
- Para isso eu tenho o guarda-costas. – tentei.
- O que exatamente seu pai faz?
- O combinado não era falar sobre nós e não os negócios?
- Eu não sabia que sua família, especialmente seu pai, poderiam fazer parte dos nossos negócios.
Senti meu coração bater mais forte. Ele viu meu nervosismo repentino e perguntou:
- Há algo que você me esconde, Satini Kane?
- Todos temos nossos segredos, Sam... Não acha?
- Alguns mais que os outros, não é mesmo?
O encarei e ele continuou:
- Já tentou digitar meu nome no Google?
- Não... – confessei.
Ele riu:
- Acho que deveria tentar. Eu apareço lá. Não sou como seu namoradinho... Nem como você.
- Sam, acho que eu devo ir embora.
- Se sente ameaçada ou encurralada de alguma forma por mim, Satini?
- Sim... – confessei.
Achei que ele fosse insistir, mas não. Ele disse:
- Me desculpe.
Respirei aliviada. Se continuasse eu teria realmente que ir embora. E eu gostaria muito de aproveitar aquela praça ao lado dele.
Ele pegou minha mão e olhou para nossos dedos enlaçados:
- Posso?
- Sim... – assenti.
Aquilo não tinha nada demais.
Ele começou a andar comigo. Eu observava tudo atentamente.
- Já estive em outras praças... Só para constar. – falei tentando convencê-lo.
Ele riu:
- Tudo bem.
- Não é complicado para você vir aqui?
- Por quê?
- Por ser... Da Coroa Quebrada. E não um simples morador do lado de lá, mas alguém que tem liderança.
Ele pensou um pouco e disse:
- Sabe por que não? Porque ninguém aqui me conhece, a não ser quem vem do mesmo lugar que eu.
- Entendi...
- Se um dia você for até a Coroa Quebrada, verá que todos sabem quem eu sou. Mas aqui eu consigo andar livremente sem ser reconhecido.
- Vem para cá quando quer ficar anônimo?
- Não seria exatamente isso. Claro que já fui reconhecido como sendo de lá... Mas nunca como sendo o líder.
- Como pode liderar metade do reino de Avalon contra o rei sendo ainda tão jovem?
- Digamos que eu tenho este legado por direito.
- Não entendi...
Ele sorriu:
- É bom nem entender ou se envolver nisso, querida.
- Mas... Eu gostaria.
- Não, não gostaria, acredite. É tudo muito mais complicado e complexo do que você imagina.
Encarei-o confusa:
- Mas se você quer se relacionar comigo de alguma forma, não pode mentir, Samuel...
Ele parou e me fitou profundamente. Depois passou o dedo sobre minha bochecha, descendo para meus lábios, onde se demorou num carinho:
- Quando você me falar a verdade sobre a sua pessoa, saberá sobre mim.
Tentei abrir a boca para contestar, mas ele me beijou, mesmo sem o meu consentimento. Eu fui pega de surpresa. Realmente não era minha intenção que aquele encontro passasse de um passeio sob a luz do sol. No fim, ter andado de mãos dados com Samuel era mais um desejo realizado. Então eu correspondi ao beijo, porque meu corpo tinha extrema dificuldade de dizer não a ele. E talvez fosse hora de admitir que eu poderia tentar algo com ele, já que Estevan havia desaparecido e nunca mais retornaria.
Quando ele me soltou, olhei para os lados e quase meu coração parou quando vi Estevan parado a pouco metros, sozinho, observando-nos. Fechei e abri os olhos várias vezes para ter certeza se não era coisa da minha mente... Mas ele continuou ali, com seus olhos mel pousados fixamente nos meus.
Eu quero morrer aqui e agora. Foi a única coisa que passou pela minha cabeça.