Capítulo 49
1921palavras
2022-12-27 10:27
Samuel estava no bar e percebi nos seus olhos o quanto estava furioso. Sentei ao lado dele:
- Como você suporta este homem? – ele perguntou.
- Eu não suporto. – confessei.

- Nós o ajudamos e ele ainda pensa que mandamos fazer isso? Ele tentou me matar dias atrás, lembra?
- Como esquecer?
- Ele é um homem sem nenhum tipo de caráter. Queria brigar comigo, mas usaria uma arma e não os braços. Covarde. E ainda teve e petulância de me chamar de garoto.
Eu coloquei minha mão sobre a dele, que estava sobre o balcão. Ele fitou-a e depois enlaçou seus dedos nos meus. Meu coração palpitou e eu senti um frio na barriga. Eu queria não ter dúvidas, não sentir nada por Sam... Mas eu sentia. Embora não fosse nada comparado ao amor que eu sentia por Estevan, Samuel me tocava de alguma forma que eu não conseguia explicar.
Antes que eu pudesse negar, fui pega de surpresa. Ele simplesmente me puxou para perto e me beijou, sem soltar nossas mãos enlaçadas. Com a mão livre ele me segurou firme nas costas, colando nossos corpos. Os lábios dele eram convidativos, quentes e me consumiam com fúria. Claro que eu poderia me afastar e dizer que eu não queria. Mas por que mesmo eu não queria? Ah, lembrei... Por causa de um homem que foi embora sem me dar satisfações depois de me fazer viver a noite mais perfeita de toda a minha vida. Satini Kane esqueça a “noite perfeita” e foque no “foi embora sem dar satisfações”.
Quanto tempo eu tinha mesmo antes de casar (ou tentar fugir) de um desconhecido que seria meu marido? Quatro meses... Só isso. Então eu deixei que a língua de Sam invadisse meu interior e me entreguei naquele beijo. Porque eu não poderia negar que eu ardia de desejo por ele. E não havia como ser diferente... Ele era simplesmente o homem mais sexy que eu já havia visto em toda a minha vida. E também o mais seguro de si. Puxei seu pescoço, aprofundando o beijo ainda mais. Agora eu queria a boca dele, seus lábios inteiramente para mim...

- Você vai embora agora. – senti a mão de Alexander me puxando.
Porra, como aquele homem havia renascido das cinzas para me tirar daquele beijo de perder o fôlego? Que parte ele não entendeu do “eu odeio você com todas as minhas forças”?
Fiquei num impasse enquanto Alexander me puxava por uma mão e Samuel sem soltar a outra. Sério que iriam me disputar, arriscando me dividir ao meio?
- Deixe de ser ridículo e solte ela. – falou Isabella para Samuel, já ao nosso lado.

Percebi que todos os olhares estavam sobre nós. Puxei meus braços com força, me soltando.
Fitei Samuel e lhe dei um beijo rápido nos lábios e depois falei no seu ouvido baixinho:
- Nos encontramos amanhã.
Fui sem olhar para Alexander. Antes que eu saísse na porta, Samuel me puxou e disse:
- Se ele fizer qualquer coisa com você, eu o mato... Eu juro.
- Eu sei me defender dele. – pisquei. – Não se preocupe.
- Espero que sim.
- Não tenho piedade de homens como ele, acredite.
Ele me puxou e me deu outro beijo. Não foi um beijo de língua, mas também não foi tão rápido quanto um selinho.
Eu ri e soltei a minha mão da dele lentamente enquanto o fitava. Aquele homem me encantava de todas as formas. Eu me sentia segura ao lado dele, como se Samuel pudesse me proteger de tudo e todos.
Quando cheguei ao carro esperei por Alexander, que vinha apoiado em Mia. Senti pena da minha amiga. Meu pai era um homem horrível, mas o irmão dele não era muito melhor.
No entanto o pior de tudo é você achar que conhece uma pessoa porque conviveu com ela toda uma vida e depois ela se mostra um monstro, como Alexander. Será que ele sempre foi assim e eu nunca percebi? Ou ele mudou por algum motivo que eu jamais saberia? Ele dizia que me amava, mas quem ama jamais faria tudo que ele fazia comigo. Eu não acreditava nos sentimentos dele e em nada do que ele me dissesse.
Abri a porta e sentei no banco de trás. Sequer sabia se ele conseguiria dirigir, pois mal conseguia andar. Mas dei de ombros. Os olhos dele encontraram os meus no retrovisor enquanto eu passava batom. Foda-se, Alexander. Meu batom é mais importante que você, seu otário.
Ele dirigiu até o castelo, mudo, sem dizer uma palavra. Porra, aquele homem não desistia nunca. E nada o derrubava. Acho que quem quisesse acabar com ele teria que dar um tiro e não uma surra. Ele era resistente a porradas. Todo quebrado, mas de pé. Em dias estaria normal novamente e pelo que eu conhecia dele, caçando o culpado. Ou tentando me punir por achar que eu fiz aquilo.
Assim que estacionamos na garagem eu chamei um guarda real e pedi que me acompanhasse até meu quarto. Não queria correr o risco de ter que falar com Alexander ou me justificar.
No domingo acordei mais tarde que o normal. Não me preocupei com o desjejum. Na noite anterior já avisei que não queria ser incomodada por nenhum motivo na manhã de domingo.
Olhei no relógio e já eram dez horas. Tomei um banho demorado e coloquei meus cremes específicos para todas as partes do corpo. Mandei chamar uma manicure e uma cabeleireira. Pintei as unhas, cortei um pouco os meus cabelos e dei um trato no visual. Eu estava precisando daquilo. Desci quando faltavam alguns minutos para o meio dia.
Meu pai adentrou na sala de jantar íntima exatamente no horário, como geralmente fazia. Beatrice atrasou-se um minuto, pelo que vi no relógio. Achei que ele fosse reclamar, mas não o fez. Claro, ela podia tudo.
- Como foi de viagem? – perguntei curiosa.
- Bem.
- E como foi o funeral?
- Não costumam ser bons, não é mesmo?
- O rei e a rainha deviam estar muito tristes por perder um filho.
- Creio que sim.
Pelo visto ele não queria muito falar sobre aquilo. Olhei para Beatrice, que parecia concentrada no seu almoço. Eu estava com fome, pois não havia tomado café da manhã. Mas se havia algo que eu detestasse mais do que frutos do mar eu não lembro. Meu pai sequer sabia o que eu gostava ou não. O almoço era preparado de acordo com os gostos dele. Já foram servidos inclusive pratos aos quais eu era alérgica e nem sei se não havia sido proposital para eu ter uma crise.
- Seu futuro marido assumirá o comando do reino em poucas semanas. – ele me disse seriamente.
Sim, eu queria muito falar sobre aquilo. Mas não disse nada. Esperaria pelo que ele me diria.
- Então a princesa se casará com um rei e não mais um príncipe? – perguntou Beatrice.
- Exatamente. Sabe quando você planeja algo a vida inteira e simplesmente sai muito melhor do que deveria? – ele falou sem se conter.
- Se queria tanto que eu casasse com um rei, por que não me ofereceu ao irmão do meu futuro marido? – perguntei curiosa.
- Ele já estava comprometido.
Ah, sim, explicado. Fiquei com a segunda opção.
- O senhor... Viu meu futuro marido?
- Claro que vi.
- E... Como ele estava?
- Fico feliz que se preocupe com ele.
Arqueei minhas sobrancelhas. Sério que ele ficava feliz com alguma coisa?
- Ele estava muito abatido. Parece que ele tinha uma boa relação com o irmão.
- O irmão que morreu era casado?
- Sim.
- Tinha filhos?
- Não.
Beatrice me olhou. De certo preocupada com as tantas perguntas que eu fazia.
- Vou viajar na próxima semana para lá novamente. Eu e o rei trataremos do casamento. Concordamos em antecipar. Ele acha que o príncipe precisa de alguém ao seu lado para ajudá-lo, tanto com a morte do irmão quanto com o peso de ser rei tão jovem.
- Tão jovem seria quantos anos?
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Vinte anos.
Vinte anos? Meu futuro (ou não) marido seria rei aos 20 anos? Sim, muito jovem para assumir tamanha responsabilidade. Será que seu pai não poderia esperar um pouco mais? E ainda contavam comigo, uma desconhecida, para auxiliá-lo em sua dor da perda e a reinar? Porra, eu só tinha 17 anos. Eu não sabia nada sobre ajudar alguém a ser rei... Mas eu sabia sobre perdas de pessoas que se ama. E nisso eu poderia ajudar. Mas o fato é que eu não estaria com ele. Minha fuga estava decidida naquele momento.
- Antecipar em quanto tempo? – perguntou Beatrice curiosa.
- Não sei ao certo. Vou deixar a escolha nas mãos deles. Saberão o que é melhor.
- E vossa Majestade não sabe o que é melhor para sua filha? – perguntei.
- Você é mulher, Satini. Fará o que a família de seu marido decidir.
- Desde quando uma família que sequer conheço decide pela minha vida e meu futuro?
- Desde quando você me desafia desta forma? – ele me encarou furioso.
- Me desculpe, meu pai.
Eu não queria pedir desculpas. Mas desafiá-lo a esta altura poderia me prejudicar muito. Eu só pensava em ele me castigar e não me deixar mais sair. Então seria impossível planejar minha fuga e meu próprio sequestro. E eu estaria em poucos meses casada com o desconhecido príncipe num lugar que eu nunca vi em toda a minha vida.
- Posso me retirar? – pedi.
- Sim. – ele autorizou.
Levantei e fui para o jardim. Eu já estava pronta para o encontro da tarde... Horas antes de ele começar. Sentei-me debaixo de um pergolado e fechei meus olhos. O dia estava bonito e tinha sol, mas não tão calor quanto nos últimos dias.
Eu felizmente não vi Alexander. Esperava que ele estivesse péssimo ou quebrado algum osso. Mas acho que se isso tivesse acontecido eu já teria sabido.
Fiquei ali, olhando no relógio e torcendo para o tempo passar mais rápido. Estava usando um vestido branco fluído com tecido espesso e um sandália que mostrava os meus pés brancos devido à falta de sol.
Não havia visto Mia e de alguma forma pensei que ela pudesse estar chateada comigo por eu pouco ter me importado com o fato de Alexander ter se machucado. Só esperava que ela também não pensasse que fui eu a responsável pela surra que ele tomou.
Afinal, quem havia feito aquilo? Ele sequer conhecia alguém em Avalon que não fosse do castelo. Eu acreditei que não havia sido Samuel. Ele realmente não parecia o tipo de homem que paga alguém para fazer o serviço sujo por ele. Acho que se ele quisesse realmente machucar Alexander, faria com suas próprias mãos.
Fui até o carro trinta minutos antes do horário combinado. Quando vi Sean, meu coração aqueceu. Eu gostava dele. Além de lhe dar o meu melhor sorriso, quase o abracei. Era tão bom ter ele ali no lugar de Alexander.
- Aonde vamos hoje, Alteza? – ele perguntou abrindo a porta para mim.
Fechei a porta que ele abria e sentei na frente, ao lado dele:
- Praça principal de Avalon, por favor.
Ele sorriu e ligou o carro.
- Está melhor hoje, Alteza?
- Sim... – falei recostando minha cabeça para trás, tranquilamente. – É sempre bom estar sendo conduzida por você, Sean.
- Obrigado, Alteza.