Capítulo 48
1941palavras
2022-12-27 10:27
Só podia ser brincadeira. A folha estava em branco. Isabella estava me subestimando, brincando comigo.
- Excelentes informações, melhor hacker de Avalon. – falei balançando a folha em branco.
- Quem você pensa que eu sou, garota? – ela perguntou furiosa. – Acho que tenho tempo para procurar pessoas inexistentes como você?

- Como assim inexistentes?
Embora eu já tivesse tentado verificar algo sobre ele e não ter encontrado nada, não me passou pela cabeça que ela não conseguiria.
- Seu namoradinho mentiu o nome para você.
- Mas...
- Delacroix é um sobrenome bem comum em alguns países, embora não aqui. Mas Estevan Delacroix não existe... Assim como Satini Kane. – ela riu ironicamente: - Quer mesmo dar uma chance a ela, Sam?
Ele me olhou:

- Estevan Delacroix? Acha que ele vale uma informação tão preciosa quanto a que você está tentando me dar?
Os olhos dele não estavam doces, tampouco sarcásticos. Eu não pude identificar o que se passava na cabeça dele.
- Poderia nos deixar a sós, Isabella? – ele pediu.
- Somos um grupo, Sam... Não pode simplesmente me mandar embora. Eu devo participar da decisão sobre ela e você sabe disso. Ela nos engana... E você finge que está tudo bem...

- Agora, Isabella. – ele falou em tom alto e ela calou-se e saiu.
Eu fiquei com um pouco de medo. Lembrei das várias vezes que Alexander havia me tratado daquela forma.
- Eu não sou assim... – ele se explicou, como que adivinhando meus pensamentos. – Falei como líder do grupo e não como amigo dela.
- Entendo... – falei sem ter certeza se realmente entendia. – Eu não gosto de homens que tratam as mulheres da forma como você a tratou.
- Dentro do grupo ela tem que aceitar minhas ordens. Eu sei o que é melhor. Se eu não fizesse isso, ela não entenderia de forma alguma. Eu a conheço. Muitas vezes ela leva o pessoal mais a sério que o profissional.
Eu dei de ombros. Não sei se aquilo me convenceu ou não.
- Pois bem, Satini Kane, fantasma no sistema de dados do mundo inteiro, que troca uma informação importantíssima sobre Avalon em nome de uma pesquisa sobre um homem que também não se encontra nos dados da internet. Eu estou começando a achar tudo isso muito estranho, se é que me entende.
- Eu poderia escolher qualquer nome, não é mesmo?
- E escolheu o dele. Será que ele não poderia lhe dar informações verdadeiras em vez de fazê-la trocá-las por um grande favor? Que tipo de homem ele é, afinal? Não me parece do tipo confiável.
- Sam, eu realmente não quero falar sobre isso.
- Então por que trouxe o nome dele aqui para dentro? Acha mesmo isso certo? Este homem levou você daqui... Ele...
- Sam... Você disse que não devemos levar assuntos pessoais para junto dos profissionais, lembra-se?
Ele me fitou confuso.
- Eu não quero e não preciso lhe expor minha vida pessoal. Quero ajudar e pronto. Pedi um favor, ela fez. Agora é a minha parte e depois a sua. E estamos quites.
- Satini, eu gosto de você. E eu não sou um mentiroso.
- Sam... Por favor...
- Eu vou dar um tempo para você. Sei que nos conhecemos há pouco... É tudo muito recente. Mas eu nunca fiquei tão louco por uma mulher como eu sou por você.
Dizer não para Samuel não era nada fácil. Não que eu tivesse qualquer tipo de compromisso com Estevan... Pelo contrário, além de não termos nada, ele ainda havia mentido para mim e ido embora sem me dar satisfações. Mas ainda assim eu sentia que me envolver com Samuel Leeter em nada resolveria meus problemas e sequer tenho certeza se mudaria os meus sentimentos por Estevan.
No entanto o que eu disse foi:
- Me dê um tempo, Sam... Eu preciso.
Ele sorriu:
- Estou feliz por não ter recebido um “não”.
Eu ri:
- Você é insistente.
Ele pegou a minha mão.
- Será tudo isso por que fui a primeira mulher que o rejeitou? Se você tem tantas garotas a seus pés, e eu tenho certeza de que tem, por que eu?
- Se eu disser que não sei explicar, você acreditaria em mim?
Sim, acreditaria, Samuel. Eu mesma não sei explicar como fui me apaixonar por Estevan, um mentiroso, que eu mal conheço, que vi tão poucas vezes e que sequer sei o que ele gosta ou não gosta, onde mora, se tem família... Um puto de um mentiroso que faz eu derreter como manteiga no fogo quando me beija e faz minha calcinha molhar quando simplesmente me olha com seus olhos cor de avelã. A porra de um homem que faz sexo até você não aguentar mais e diz que a ama e depois vai embora sem sequer dizer adeus.
- Talvez eu acredite, Sam.
- Acho que agora podemos falar sobre o castelo e o rapto da idiota da princesa de Avalon.
- Idiota? – perguntei sarcasticamente, mas ao mesmo tempo sentindo uma dor dentro do meu peito.
Era isso que ele achava de mim? Há minutos atrás dizia que gostava de mim... Não, ele gostava de Satini Kane, uma mentirosa que não existia. Ele jamais se apaixonaria por Satini Beaumont, essa era a verdade.
- Idiota... Acha mesmo que ela vai fazer qualquer coisa para ajudar Avalon?
- E por que você acha que não? Sequer a conhece.
- Se ela quisesse fazer realmente algo por Avalon, estaria nas ruas, buscando alianças, tentando saber o que se passa fora da sua bolha. Ela não passa de outra Beaumont que será assassinada pelo rei Stepjan Beaumont.
- E vocês deixarão isso acontecer novamente?
- Sim... Por que interviríamos nisso?
- Porque ela vai ser a rainha... Poderiam tentar alianças, como você mesmo disse. Você é jovem, ela é jovem... Talvez tenham ideais semelhantes.
Ele riu ironicamente:
- Jamais teríamos ideais semelhantes.
- Por que você acha isso?
- Porque ela não sabe o que acontece aqui fora. Então certamente ela não tem o mesmo pensamento que eu ou a Coroa Quebrada.
Sim, ele não sabia que a princesa estava do lado de fora, justamente fazendo aquilo que ele não acreditava que ela faria. Talvez quando ele descobrisse quem eu realmente era não ficaria tão puto comigo.
Olhei atentamente para ele. Não tenho certeza se ele teria coragem de me matar. Mas também nunca imaginei que Alexander poderia um dia tentar me estuprar. Então era muito complicado confiar em qualquer pessoa ou mesmo acreditar nelas sem saber quem realmente eram.
- O que acha de sairmos amanhã à tarde?
Olhei-o surpresa e fiquei pensando sobre aquele convite inesperado.
- Parece estranho, mas quero ver você fora daqui, ou do Avalon Club. Parece que você tenta se esconder às vezes... E não estou falando da falta de dados nas pesquisas.
- Por que eu me esconderia?
- Não sei... Me diga você.
- Sam...
- Vamos, Satini... Não me diga não. Só quero vê-la na luz do dia, como uma pessoa normal. A noite mexe com os hormônios da gente, acredite. Quero ter certeza se eu vou gostar menos de você vendo o sol iluminando seu rosto.
Eu ri:
- Não tenho como dizer não...
- E não falaremos de “negócios”.
- E o que seriam estes negócios?
- Princesa, Avalon, Rei, Coroa Quebrada.
- Acho que Coroa Quebrada não chega a ser negócio... É sua vida pessoal.
- Hum, então quer falar sobre vida pessoal?
- Talvez...
- Encontro você às 16 horas na praça principal de Avalon.
- Ok... – falei sem ter noção de onde ficava este lugar.
- Devo vestir o que? – perguntei seriamente.
Ele riu:
- Você se preocupa muito com isso.
- Medo de parecer uma mendiga... Ou uma prostituta.
- Você jamais se pareceu com uma mendiga ou prostituta.
Eu ri ironicamente. Você e Estevan são completamente diferentes, Samuel. E talvez por isso me balançavam tanto, cada um da sua maneira.
Suspirei:
- Ok, estarei lá.
- Agora vamos falar sobre a passagem secreta dentro do castelo. Voltaremos aos negócios sem falar sobre a nossa vida pessoal... E meu sincero interesse em você.
Porra, neste caso é melhor falarmos sobre nossos sentimentos, Samuel. Eu sei que tem um túnel, mas eu não tenho noção de onde ele fica.
Thor parou ofegante na nossa frente, com semblante preocupado.
- O que houve? – perguntou Samuel já levantando, em alerta.
- O segurança dela...
- O que houve? – questionei preocupada.
- Ele está todo quebrado no chão. Levou uma surra.
- O quê?
Só podia ser brincadeira. Saí imediatamente para a rua, acompanhada dos dois. Encontrei Alexander na calçada, jogado no chão, perto do carro. Havia sangue próximo dele e nele. Ele não estava morto... Eu vi a barriga dele mexendo enquanto ele respirava.
Deus, o senhor é tão bom assim comigo? Poderia ter sido um pouquinho melhor e terminar o serviço. Este homem não tem nada de bom a oferecer. E é um perigo a solta... Para qualquer mulher que cruzar seu caminho.
Thor e Samuel o levantaram pelos braços e o levaram para dentro do Rock Bar. Assim que os dois entraram eu fiquei parada na porta e olhei atentamente para todos os lados. Sim, eu ainda tinha esperanças de um dia rever Estevan, nem que fosse ali, naquela rua, de onde um dia ele me resgatou. Mas não... Estevan havia sumido e nunca mais voltaria, esta era a verdade.
Eu deveria ter ficado preocupada com Alexander? Talvez... Mas procurar Estevan era mais importante. Eu desejei muito que Alexander levasse uma surra. E misteriosamente aquilo aconteceu. E não, eu juro que não paguei ninguém para fazer aquilo, embora fosse meu desejo.
Ele era tão arrogante que aposto que falou algo que ofendeu alguém e levou o que merecia.
Quando entrei novamente no Rock Bar ele já estava sentado numa cadeira e estavam tentando acordá-lo. Samuel era uma boa pessoa. Ele não precisava e não deveria ajudar Alexander... Ainda assim o fez.
E Mia, que não aparecia?
- Alguém avisou Mia? – perguntei.
- Sim... Foram avisar. – disse Samuel.
Mia veio em seguida. Alexander chamou a atenção de todos que estavam no local. Cruzei meus braços e fiquei imóvel, vendo tudo acontecer sem dar um passo sequer para ajudar. Ele estava com o rosto inchado e bem machucado. Depois de um tempo, talvez mais de trinta minutos, ele já estava consciente. Samuel e Théo colocaram gelo e alguns antissépticos no rosto dele e lhe deram analgésicos.
Ele me olhou com os olhos inchados e pequenos. Sequer sei se ele conseguia me enxergar:
- Me diga que você não tem nada a ver com isso, princesa.
Idiota, vai mesmo me expor desta forma?
- Infelizmente não, meu príncipe. – falei em tom irônico.
Não sei se ele acreditou. Eu até preferia que pensasse que era eu, assim talvez não tivesse coragem de fazer novamente nenhuma maldade comigo.
- Não fomos nós. – disse Théo enquanto ele o encarava.
- Posso lhe garantir que se fosse algum dos nossos você não estaria vivo para contar a história. – falou Samuel. – Não costumamos ser tão piedosos.
- Idiotas... – ele falou num fio de voz. – Todos traidores do rei.
- Prefiro que tire o seu irmão daqui agora mesmo ou eu vou matá-lo com as minhas próprias mãos. – disse Samuel olhando para Mia e saindo com as mãos fechadas, furioso.
Mia me olhou preocupada. Eu fui até Samuel. Definitivamente, eu não ajudaria Alexander. Eu estava literalmente me fodendo para ele.