Capítulo 47
1809palavras
2022-12-27 10:26
- Então tinham? Você estava com ele há quanto tempo?
- Sam, eu não quero falar sobre isso.
- Como assim não quer falar sobre isso? Eu achei que estávamos nos envolvendo... E não me diga que eu me enganei e que o sentimento foi só da minha parte... Porque eu senti que você estava correspondendo...

- Você não estava enganado. – admiti. – Mas sobre Estevan... Eu...
- Ele veio aqui por você naquela manhã que eu os encontrei conversando?
- Sim... Creio que sim.
- E ele sabia que você estaria aqui naquela noite?
- Não.
- Você gosta dele?

- Sim. – confessei. – Mas eu não vou voltar a vê-lo.
Ele balançou a cabeça:
- Por que vocês mulheres tem que ser tão complicadas?
- Sam, eu não quero falar sobre Estevan... Principalmente com você. Passou. Eu nunca mais vou vê-lo... Acabou. Foi uma aventura na minha vida. E ele se foi tão rápido quanto chegou.

- Ele veio até a Travessia naquela moto que vale mais que a minha casa e levou você. O que discutíamos antes dele chegar? Ah, lembrei, tomarmos o castelo. Afinal, sua amiga é a princesa de Avalon. – ele ironizou.
Eu o fitei sem dizer nada.
- Que importância você deu a tudo, Satini?
- A mesma que você deu ao que eu falei naquele dia: nenhuma.
- Como assim?
- Qual seu problema em me levar na Coroa Quebrada?
- Qual sua cisma de conhecer aquele lugar?
- Pelo que sei não é proibido.
- Então você não precisa de mim para levá-la até lá, não é mesmo?
- Eu quero que seja com você.
- Eu também queria que muitas coisas fossem “comigo”, Satini. Mas você é mais misteriosa que a princesa de Avalon. E desvendá-la não tem sido nada fácil para mim. Ainda assim eu tento... Porque você fica dentro da minha cabeça e não me deixa pensar em outra coisa.
O encarei. Aquilo era uma declaração? Não, Sam... Eu não posso. Você é a pessoa por quem eu mais gostaria de me apaixonar e abandonar tudo. Mas é tarde... Estevan chegou primeiro e roubou meu coração. E eu não quero ter que dizer não para você... Não mesmo. Porque eu gosto de você... Você mexe comigo de alguma forma. Mas eu só posso voltar a pensar em me envolver com alguém quando Estevan não mais estiver nos meus pensamentos, no meu coração, na minha pele, na minha alma...
- Eu sinto muito por tudo. – foi a única coisa que eu consegui dizer.
Isabella sentou-se sem ser convidada. Eu já não sabia se aquilo era sorte ou azar.
Ela me encarou e debochou:
- Se não é a garota que não existe nos dados mundiais e que pensa em nos levar para dentro do castelo.
- Jamais me passou pela cabeça que vocês fossem recusar. – falei.
- Ninguém aqui recusou. – reclamou Samuel.
- Claro que recusaram. Sequer quiseram me ouvir.
- Por que confiar em você. Nós não a conhecemos... Não há nada sobre você em lugar algum. E isso é praticamente impossível...
- Pois bem, você está falando com a pessoa que mais entende disso. – explicou Samuel. – Isabella já hackeou o sistema de segurança do castelo várias vezes.
- Agora você realmente me impressionou, Isabella. – falei cruzando meus braços – Achei que ninguém poderia conseguir isso.
- Eu posso. No entanto achei mais fácil entrar dentro do sistema do castelo de Avalon do que saber qualquer coisa sobre você. – ela tentou me intimidar.
- Não tenho rede social, não tenho telefone, tenho um guarda costas e minha família é simplesmente obcecada com a minha segurança.
- Por que será que eu não consigo acreditar em nada do que você diz? – ela me encarou seriamente.
- Sua amiga princesa vai casar junto com a coroação. – disse Samuel recostando-se confortavelmente na cadeira, colocando as mãos para trás do pescoço.
- Eu... Ouvi falar sobre isso. – falei.
- Ela deu uma entrevista para uma revista bem conhecida em Avalon.
- Sim, para uma repórter que nunca ninguém ouviu falar. – continuou Isabella.
- Já foi tirar a ficha dela na internet também? – ironizei. – Ela é uma fantasma, como eu?
- Não... Só você é fantasma. Eu a encontrei sim.
- E quais os planos para a coroação da princesa? – perguntei.
- Como assim? – Samuel questionou.
- Não pensam em raptá-la ou algo do tipo?
Ele riu:
- Por que faríamos isso?
- Para pedir algo em troca para o rei.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Você acha mesmo que é possível entrar no castelo de Avalon? – ele perguntou sem demonstrar muita seriedade.
Isabella riu:
- Vai dizer que tem uma passagem secreta agora?
- E se eu disser que tem?
Ela gargalhou. Fiquei furiosa. Samuel colocou as mãos sobre a mesa e me encarou seriamente:
- Afinal, quem é você, Satini?
- Eu não sou tão bondosa quanto vocês pensam. Não entregaria o ouro e o grande segredo que tenho escondido por nada. Claro que eu quereria algo em troca.
Os dois me olharam curiosos:
- O que seria, visitar a Coroa Quebrada? – ele perguntou.
- Eu não acredito em você, garota. – continuou Isabella.
- Eu quereria duas coisas. Uma sua, Samuel e outra de Isabella.
- Você só pode estar brincando. – ela disse levantando, não dando a mínima credibilidade ao que eu dizia.
- Espere... – Samuel puxou a mão de Isabella fazendo-a sentar novamente. – Nos prove que não está mentindo e podemos pensar.
- Primeiro Isabella faz o meu favor. Depois eu mostro que estou certa e provo sobre a passagem secreta. E em seguida conheço a Coroa Quebrada e participo do plano de invasão.
- Você não vai desistir, não é mesmo? – perguntou Samuel.
- Não... Porque eu realmente quero ajudar.
- Por isso que quer pagamentos pela ajuda? Poupe-nos. – ela disse.
- O que você quer de Isabella? – questionou Samuel interessado. – Eu vou lhe dar uma chance de provar que não mente.
Senti meu coração bater mais forte. Já começava a pensar que ele jamais acreditaria em mim.
- Você não está falando sério. – bradou Isabella encarando-o. – Ela mente... Sequer existe registro desta mulher em lugar algum... Ela mente até o próprio nome.
- Por que isso comigo? – perguntei inocentemente.
- Será que é por que está tentando se aproximar do líder da Coroa Quebrada e futuro rei de Avalon?
Eu dei de ombros. Ele até poderia liderar a Coroa Quebrada e toda sua rebeldia contra o castelo e a elite, mas sobre ele ser o futuro rei de Avalon já era demais. Era muita pretensão deles. Só existia lugar para uma rainha... E era eu. Eu era a herdeira da coroa.
- Futuro rei? – eu ri. – Por que será que não consigo imaginar uma coroa na sua cabeça?
Ele se atirou para trás displicentemente:
- Nem eu consigo... Mas não custa tentar.
- Muita pretensão da sua parte, não acha?
- Sinceramente, não.
O encarei sem saber exatamente o que dizer. Os planos deles iam muito além de entrar no castelo ou sequestrar a princesa. E eu saberia de tudo, uma hora ou outra.
- Agora vamos, peça o que quiser para Isabella. Se for pesquisa, ela lhe ajudará.
- Sim, é isso mesmo. – confirmei.
- Fale o nome... – ele pediu.
- Eu... Gostaria que fosse a sós... – falei.
- Como assim? – ele questionou confuso.
- Não quero que você se envolva nisso. Por isso cada um com a sua tarefa.
- E aposto que a minha é levá-la até a Coroa Quebrada.
- Sim... Mas já entendi que antes preciso provar sobre a passagem secreta.
Ele levantou-se:
- Ok, Isabella irá ajudá-la.
Ele saiu e ela me encarou:
- Não gosto de você.
Porra, quanta sinceridade! Vou retribuir:
- Também não gosto nenhum pouco de você. Mas vocês precisam de mim e eu de um favor seu.
- Quem você quer achar?
- Estevan Delacroix.
Ela riu e balançou a cabeça:
- Sério que quer achar um namoradinho seu?
- É importante para mim.
- Ok, vou para minha sala e já retorno com toda a ficha dele. – ela piscou. – E pelo visto você sai daqui hoje mesmo com a obrigação de nos dar a informação mentirosa que você inventou sobre passagem secreta.
Levantei e fui até o bar, onde Samuel estava sentado com duas garotas conversando animadamente. Eu já sabia que no Rock Bar havia uma sala onde Isabella fazia suas pesquisas. Então a Coroa Quebrada não era o único QG deles.
Assim que sentei, ele as dispensou.
- Não sei como consegue dispensá-las tão educadamente. – eu disse. – Dá até a impressão de que realmente vai procurá-las depois.
- Mas o que a faz pensar que não vou? – ele perguntou sarcasticamente.
Olhei no fundo dos olhos verdes dele e disse:
- Nada me faz pensar que não irá.
Ele pegou minha mão gentilmente e disse:
- Até poderia ir... Mas não com você aqui.
- Vou fingir que acredito. – eu ri.
- Você foi a primeira garota que me deixou para subir numa moto e ir embora com outro homem.
- Nunca lhe disseram não, Samuel Leeter?
- Até agora, nunca.
Será que é por que você é absolutamente lindo e perfeito? Ou será que é por que fala bem e é convincente. Se não fosse por Estevan, eu quase teria perdido a minha virgindade com você sem sequer conhecê-lo direito.
- Mas me diga, o que achou da entrevista que a princesa de Avalon deu? Eu ainda não vi. Fiquei curiosa. – mudei de assunto.
Ele continuou com a mão na minha e passou o polegar sobre ela, acariciando levemente. Eu acho que não deveria sentir nada, mas meu coração acelerou um pouco ao toque dele.
- Acho que ela finge ser uma feminista para agradar o povo e tentar redimir o que foi feito com Emy Beaumont.
- Mas ela não teve culpa do que o pai fez.
- Então quer dizer que para os lados do castelo também desconfiam que o rei possa ter feito algo contra a irmã?
Eu retirei a minha mão da dele, delicadamente:
- Sim...
- Dentre tantas coisas, confesso que a achei corajosa em assumir um casamento com um homem que sequer conhece. Quem faria isso nos dias atuais?
- Abrir mão da própria vida e felicidade em nome de Avalon?
- Eu não disse exatamente isso.
Isabella chegou com uma folha na mão e disse:
- Aqui está a pesquisa que me pediu, Satini Kane.
Senti meu coração bater forte, querendo deixar meu peito e peguei a folha das mãos dela quase em desespero.