Capítulo 46
1863palavras
2022-12-27 10:25
- Sean, como você sabia que eu precisava de ajuda? – perguntei enquanto saía com ele pelo corredor do segundo andar, sem saber exatamente para onde.
- Não sou só o motorista, Alteza! Lembre-se que ainda sou da guarda real.
- Eu acho que você é o meu anjo da guarda. – eu empurrei ele com meu corpo, brincando, grata por ele estar ali.

- Bem que gostaria, mas não sou.
- Meu pai não poderia ter escolhido pessoa melhor para proteger.
- Não foi escolha dele, Alteza. Foi do capitão da guarda.
- Hum...
Eu fiquei um pouco curiosa ao ver que não fui eu que o conduzi para a escadaria e sim ele que tomou a frente. Guardas sem ser os de dentro do castelo não sabiam onde ficava nada ali dentro.
Quando chegamos ao topo da escadaria do segundo andar, próximo da subida para o terceiro, perguntei:

- Você já foi da guarda interna do castelo?
Ele me olhou por alguns minutos e disse:
- Sim... Mas já faz muito tempo. Nada muda neste castelo... Pelo menos nos últimos cem anos.
O que mais você me esconde, Sean? Você sabe muito mais do que aparenta. Você já trabalhou aqui dentro. Por que foi para a guarda externa se um dia foi de confiança e trabalhava dentro do castelo?

- Obrigada pela ajuda, Sean. Eu sou muito grata.
- Precisa tomar cuidado com Alexander, Alteza. Parece-me que ele não é muito confiável.
- Não... Não é.
- Eu... Preciso ir.
Subi para o terceiro andar e ele ficou conversando algo com o guarda que estava de prontidão no topo da escada. Fiquei curiosa com a atitude de Sean. Como ele estava lá justo quando eu precisei dele? Como eu poderia arrancar qualquer coisa daquele homem?
No sábado à noite eu me preparei para ir ao Rock Bar, conforme havia combinado com Mia. Ela marcou com Théo, mas preferiu não combinar nada com Samuel porque tinha certeza de que ele estaria lá.
Desta vez não usei um vestido. Havia comprado uma calça escura, que não era jeans (eu havia detestado aquilo, definitivamente não havia sido uma boa experiência), mas tinha uma pegada menos social. Uma blusa branca com um decote amplo, que mostrava meu colo, mas não deixava meus seios querendo pular para fora, como os da fã de Samuel Leeter no outro dia.
Assim que encontrei Mia na escadaria ela me olhou e disse:
- Gostei, Princesa...
- E nem precisei de ajuda da minha personal stylist.
- Eu me inscrevi numa faculdade de moda. – ela disse enquanto descíamos.
- Por que não me disse antes, Mia?
- Eu... Fiquei um pouco receosa que você ficasse chateada.
- Por que eu faria isso?
- Porque se eu for estudar fora de Avalon, você ficaria sozinha.
Eu ri amargamente:
- Esqueceu que eu vou casar?
- Pensei que isso não aconteceria mais. Que a decisão já estivesse tomada.
Eu suspirei:
- Sabe o quanto é difícil planejar seu próprio sequestro para fugir do casamento?
Ela gargalhou:
- Imagino, alteza.
Eu passei meu braço sobre o ombro dela e disse enquanto chegávamos na garagem:
- Eu só quero que você seja feliz, Mia. Se você estiver feliz, eu estarei também. E vou ganhar dicas de moda valiosíssimas.
Ela sorriu:
- Sim.
- E espero que você mude radicalmente sua forma de tentar me vestir para as baladas. – eu brinquei.
- Chega disso... – ela riu também. – Basta você ser Satini Kane... Beaumont, ou seja lá o que você quiser. Não precisa se parecer com todo mundo.
Alexander já nos esperava dentro do carro. Antes que ele saísse para abrir a porta para mim, entrei rapidamente, sentando-me no banco de trás.
- Rock Bar? – ele perguntou ironicamente.
- Sim. – confirmei. – Temos um encontro. E estou com a bolsa cheia de preservativos. – pisquei.
Idiota! Eu não me atrevia a olhar no retrovisor, pois sabia que estava voltado exatamente para mim. Eu sentia o olhar dele ardendo no meu corpo.
Parece que naquela noite demoramos mais tempo para chegar ao nosso destino. Acho que ele dirigiu mais devagar de propósito. Que se dane! Eu chegaria e isso que importava. Assim que o carro ingressou na rua principal da Travessia, eu peguei um batom da bolsa e retoquei meus lábios com um tom vermelho vivo.
Olhei no espelho e ele me fitava. Atirei um beijinho para ele e pisquei. Sofra pensando que alguém estará me fodendo o tempo inteiro lá dentro.
Descemos do carro e antes que eu abrisse a porta ele já estava ao meu lado, me oferecendo a mão que obviamente eu recusei.
- Saiba que seu pai já retornou. – ele me disse.
- E eu perguntei? – encarei-o. – Acha que sabe mais sobre meu pai do que eu?
Ele não respondeu. Eu e Mia nos dirigimos para a entrada do bar. Havia só um casal na nossa frente. Pouco fila. Em minutos já estávamos no interior do bar. Samuel estava tocando no palco com o restante da banda. Havíamos nos atrasado mais que o previsto. Mas pouco importava.
Logo Théo veio nos receber, beijando Mia apaixonadamente. Confesso que invejei minha amiga. Pensei que eu poderia estar ali com Estevan. Poderia? Não sei... Mas pelo menos podia sonhar com isso. Afinal, a minha vida era só expectativas e sonhos... Nada mais.
Théo nos ofereceu uma mesa e sentou conosco algum tempo. Ele não conseguia ficar ali integralmente, pois era frequentemente chamado para resolver uma coisa ou outra.
Fiquei olhando para Samuel. Acho que eu entendia porque algumas garotas eram meio fanáticas por homens que tocavam em bandas. Era realmente algo sexy. E Samuel Leeter era simplesmente a definição de sexy. Mas não, ele não olhou para mim uma única vez sequer. E eu não tenho certeza do que isso me causou.
Percebi Isabella adiante, sentada com outras mulheres numa mesa, bebendo e vez ou outra focando no guitarrista. Eu até fui uma rival dela há algum tempo atrás. Acho que agora eu não era mais. E não sei se eu falava por Samuel ou por mim mesma. Desde que eu tive aquela noite com Estevan foi como se tudo tivesse mudado na minha vida... E nada mais voltaria a ser como antes. Eu já não mais aceitava a hipótese do casamento arranjado... E não sei se teria coragem de fazer sexo com outro homem sem comparar com tudo que vivi com ele.
Sim, justo eu, que queria transar como se não houvesse amanhã. Eu queria experimentar tudo que fosse possível numa relação sexual, tinha tantos desejos e planos... No fim, tudo que fiz foi ficar entregue a Estevan de corpo e alma, sem pouco conseguir fazer e muito mais receber. Não tive tempo hábil de repetir nossa noite, retribuir todos os orgasmos que ele me fez sentir... Eu ainda o desejava ardentemente, como se só de pensar nele meu sangue entrasse em ebulição. Eu tinha curiosidade sobre sexo entre três pessoas. E achava que se surgisse a oportunidade, eu faria sem pensar muito, por pura experiência e luxúria. Mas só de pensar em outra pessoa tocando Estevan Delacroix eu já sentia raiva e vontade de matar com minhas próprias mãos. Quem era eu, afinal? Eu já era muito mais Satini Kane do que Satini Beaumont.
A banda já havia saído e eu nem havia me dado conta, ali, perdida nos meus próprios pensamentos, tão longe quanto o homem que os perturbava.
Procurei Samuel com os olhos e ele estava com Isabella. Pouco se importou comigo. Théo estava conversando com alguns homens e eu me perguntei o que estava fazendo ali.
- Você ficou chateada que ele não veio vê-la? – Mia perguntou.
- Mia, eu preciso lhe contar uma coisa.
- O quê? – ela perguntou curiosa.
- Acreditaria se eu contasse que não encontrei nada sobre Estevan Delacroix na internet?
Ela me olhou e sorriu:
- Quer mesmo falar sobre isso agora?
- Mia, ele não existe no Google.
Ela riu:
- Como assim ele não existe no Google?
- Estevan Delacroix é um fantasma, assim como Satini Beaumont.
- Vai ver ele também é um príncipe prisioneiro, como você. – ela brincou.
- Mas quando pesquisei o meu nome, encontrei vários dados sobre os Beaumont, inclusive meu pai. No entanto Delacroix não tem nada a ver com ele, entende?
- Vai ver o Delacroix é tão real quanto o Kane. – ela arqueou as sobrancelhas.
- Acha que ele seria capaz de mentir para mim?
- Você não mentiu para ele?
Chegaram duas bebidas para nós. O barman sorriu e disse:
- Por conta da casa, enviadas por Sam Leeter.
Eu procurei-o e nossos olhos se encontraram. Baixei minha cabeça na direção do coquetel que eu lembrava ter sido servido para mim na primeira vez que o encontrei no Avalon Club. Bebi e tentei esquecer um pouco os meus pensamentos insistentes sobre Estevan.
- Se importa se eu roubar minha namorada um minuto enquanto estou com tempo? – perguntou Théo.
- Claro que não... Fiquem juntos... Aproveitem, afinal, sabemos que cada momento de liberdade é valioso. – eu sorri.
Eles saíram e não levou um minuto para um homem que eu não havia visto no recinto sentar-se ao meu lado, sem sequer pedir permissão.
- Eu estava só esperando ela sair para poder ficar a sós com você, princesa.
- Que porra de mania que vocês têm de me chamar de princesa?
Ele me olhou confuso:
- Parece ofendida.
- Ofendida não seria a palavra certa. Maçante... Esta é a palavra.
- Pelo visto a cantada de princesa não cola.
- Não... Pelo contrário. Deixa-me puta da vida... Alteza soa melhor.
Ele riu alto.
- Com licença, mas este lugar já está reservado para mim. – disse Samuel firmemente.
O homem levantou-se e fez uma reverência:
- Vossa presença está sendo requisitada pelo Rei, Alteza. Retiro-me, pois aqui nesta mesa sou um mero plebeu. – ele disse sarcasticamente.
Confesso que não sabia se ele falava sério ou se aquilo era um tipo de brincadeira. Preferi pensar que era um deboche. Se soubessem que eu era a princesa de Avalon não estariam agindo normalmente. O próprio Samuel havia dito que se eu fosse a princesa ele mesmo me mataria. Será que ainda teria coragem de acabar com a minha vida, me conhecendo um pouco melhor como agora?
- Alteza? – ele sentou-se rindo ironicamente.
- Rei? – falei seriamente.
- Fiquei na dúvida se ele também a sequestraria.
Eu não respondi nada. Ele continuou:
- Ainda estou tentando entender se foi um sequestro... Afinal, ele não obrigou você a subir na moto. Você fez isso porque quis, sem nem ao menos ver quem ele era.
- Sam...
- Hum, agora sou “Sam”... Diga-me pelo menos que o conhecia.
- Sim...
- Eu não acredito! – ele balançou a cabeça. - É claro... O homem daquela manhã. O seu amigo riquinho que me julgou.
- Depois de ter sido julgado. – revidei. – Não foi ele que começou, foi você.
- O que você tem com ele, afinal?
Eu respirei fundo e confessei:
- Nada mais...