Capítulo 45
1354palavras
2022-12-27 10:25
O restante do dia foi revirando o castelo atrás de uma porta ou algo que indicasse uma passagem secreta dentro do castelo de Avalon. E estava ficando cada vez mais complicado encontrar aquilo.
Na quinta-feira, eu e Mia fomos ler na biblioteca. Eu jamais conseguia ler na companhia dela, porque ficávamos muito mais falando do que prestando atenção nas palavras dos livros.
Contei a ela que Estevan havia ido embora e ela sofreu comigo. Mas minha amiga, como ninguém mais, sabia o quanto eu era forte e dava a volta por cima em qualquer situação.
Sentamos à mesa de pesquisa enquanto folheávamos revistas de vestidos de noiva. Sim, nossa leitura acabou nisso.
- Mia, quando você vai ver Théo novamente?
- Marcamos de nos encontrar no sábado.
- No sábado? Onde?
- Rock Bar.
- Mia, como você marcou isso? – perguntei curiosa.
Mia saía menos que eu do castelo.
- Eu... Estou usando um dos computadores do castelo. – ela abaixou a cabeça.
- Com a sua senha?
- Sim...
- E... Se alguém ver? Sabe que todos os dados aqui são rastreados... Não tem medo?
- Eu pouco me importo. O que Alexander vai fazer? Prender-me no alto de uma torre? Com todo respeito, Alteza, mas eu não sou a princesa.
- Sim... Eu confesso que tenho medo de ele me prender no alto da torre e eu ter que esperar o príncipe me tirar. – ri alto. – Porque seu irmão é o sapo nesta história, acredite.
- Eu concordo com você. – ela piscou. – Mas eu acho que ele está envolvido com alguém.
- Como assim?
- Não sei... Ele está diferente nos últimos dias.
- Não vi nada disso... Continua o mesmo ser... Repugnante. Com todo respeito, amiga.
Gargalhamos. Eu senti falta de poder rir com ela de coisas sem sentido. Mas então perguntei novamente:
- O que você percebe de diferente nele, Mia?
- Escorregadio, some do nada... Por vezes amedrontado.
- Alexander amedrontado? – Eu precisava saber o que estava acontecendo e usar isso a meu favor... O que quer que fosse.
Eu estava obcecada com a minha vingança e enquanto eu não fizesse isso não ficaria em paz comigo mesma.
- Como você fala com Théo? – perguntei. – Chat?
- Sim...
- Mas não usa o seu nome?
- Não.
- Há quanto tempo você faz isso?
- Alguns dias.
- E não foi questionada por ninguém sobre o uso do computador para se comunicar com alguma pessoa de fora do castelo?
- Não...
- Para onde vão estas gravações do uso da internet, afinal? Será que para a guarda real? – me questionei.
- Creio que sim... Não é lá que fica a sala de segurança tecnológica também?
- Poderia me dar sua senha e seu user?
Ela me olhou amedrontada:
- O que você vai fazer?
- Preciso muito amiga... É um caso de vida ou morte.
- Como assim?
- Eu preciso pesquisar sobre Estevan.
- Achei que isso estava acabado, princesa.
- Só depois que eu tentar a pesquisa.
- Tudo bem. – ela anotou num pequeno papel o usuário e senha dela.
- Outra coisa, Mia.
- Outra? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Quero ver Samuel.
- Como assim?
- Preciso vê-lo. Tenho planos para colocar em ação. E são benéficos para ele, acredite.
- Não vai voltar a ideia de festa e tudo mais dentro do castelo colocando sua própria segurança em risco, não é mesmo, Alteza?
- Eu vou.
- Você não pode...
- Preciso.
- Alteza, eu espero não estar mais dentro do castelo quando isso acontecer.
- Daí você estará do lado de fora, tentando invadir.
Ela me olhou atentamente. Eu continuei:
- É isso e você sabe que não estou mentindo.
- Tenho medo... Por você.
- Eu sei o que estou fazendo. Eu não posso casar.
- Eu sabia que isso iria acontecer.
- E não é por Estevan, acredite...
- A quem você está tentando enganar?
Eu suspirei e levantei:
- Vou à sala de computadores.
- Quer mesmo que eu marque com Samuel?
- Rock Bar, sábado à noite.
- Espero que você não seja sequestrada novamente por uma moto.
Eu ri:
- Infelizmente acho que não... Mas se ele me pedisse, eu partiria com ele para qualquer lugar.
- E Avalon?
- Eu voltaria antes da morte do rei. – pisquei.
- Boa sorte, princesa.
- Obrigada, vou precisar.
Tínhamos uma sala no castelo específica para pesquisas. Lá havia alguns computadores de última geração bem como notebooks. Não podiam se retirados dali e o acesso a internet não era dos melhores. Havia usuário e senha e tudo que ficasse digitado, mesmo pesquisa no Google, era arquivado e enviado para análise.
Meu pai temia tudo e todos por isso fazia isso. Realmente entrar no castelo de Avalon, passando pela guarda real e tudo que meu pai tinha para proteger sua fortaleza era praticamente impossível. Ele tinha uma espécie de síndrome do pânico de ser assassinado. Por isso tinha algumas manias bem estranhas e questionadas mundo afora. Não dava para duvidar... Afinal, não seria o primeiro rei ou presidente e ser assassinado.
Abri a ferramenta da pesquisa e senti um frio na barriga ao digitar: “Estevan Delacroix”.
Enquanto a pesquisa carregava, eu me sentia ainda mais ansiosa. Mas qual minha surpresa quando encontrei uma única frase: “Nenhum resultado encontrado para sua pesquisa.”
Como assim? Não poderia estar certo. Digitei novamente e o mesmo resultado.
- Quem é você, Estevan Delacroix? Qualquer pessoa está no Google. Menos...
Digitei Satini Beaumont. Abriram várias páginas de pesquisa para o “Beaumont”. Mas zero para “Satini Beaumont.”
Encostei minha cabeça na mesa. O que estava acontecendo? Aquilo não era normal. Estevan Delacroix não existia... Assim como Satini Beaumont.
Digitei: “Satini Kane”. Nenhum resultado encontrado... Até porque Satini Kane não existe.
- Eu poderia apostar que era você que estava conversando com ele.
Virei e vi Alexander atrás de mim, com os braços cruzados, como que querendo uma explicação de mim.
- Me vigiando? – tentei parecer calma.
- No chat... Era você?
Não, é sua irmã, idiota. Mas claro que eu não entregaria Mia.
- Então está marcando encontro? Samuel Leeter, não é mesmo?
- E se for? Você não tem nada a ver com a minha vida... E não manda em mim.
- Você não pode fazer pesquisa deste tipo aqui, muito menos se comunicar com alguém de fora do castelo. E Vossa Alteza, mais do que ninguém, sabe que isso é estritamente proibido.
Levantei e olhei nos olhos dele:
- Então me denuncie.
Estava saindo quando ele me puxou pelo braço:
- Quem é Estevan Delacroix? Existe outro homem além de Samuel Leeter?
- Caso não tenha entendido claramente: eu não lhe devo satisfações.
- Vou avisar seu pai.
Eu gargalhei:
- Meu pai está pouco se importando comigo. Ele tem coisas mais importantes para resolver do que as “fodas” da filha. Acha mesmo que ele vai lhe dar atenção?
- Sua vagabunda... Eu aposto que é o homem que sequestrou você na moto. Você dormiu com ele também?
- Sim, Alexander... Eu dormi com ele. Fizemos sexo naquela noite por tantas vezes que nem pude ser capaz de contar. Ele me comeu de quatro, por trás, no chuveiro, na mesa, no sofá...
- Vagabunda... Mil vezes vagabunda. – ele disse com fúria, quase sem voz de tão bravo que estava. Eu pude ver ódio nos olhos dele.
- Vou dormir com toda Avalon, menos com você. Sabe por quê? Por que você não é homem suficiente para mim.
Ele levantou a mão para me bater e eu a segurei, cuspindo na cara dele. Neste momento a porta se abriu com força e lá estava Sean.
- Alteza, o carro está pronto, como me pediu. – ele disse seriamente.
Olhei-o confusa. Eu não havia pedido o carro. Eu não sairia do castelo naquele dia.
Alexander imediatamente me soltou e não virou para Sean. Continuou de costas, mas limpou o rosto por onde escorria minha saliva.
- Vamos, Sean... Estou atrasada. – eu disse saindo.