Capítulo 43
1487palavras
2022-12-27 10:24
O almoço no restaurante indicado por Sean era realmente maravilhoso. Eu adorava comida italiana, mas raramente tínhamos aqueles pratos no castelo. Eu ri sozinha quando lembrei que havia uma pessoa paga para provar todos os alimentos dentro do castelo antes de serem servidos para mim e meu pai e a fim de evitar qualquer tipo de envenenamento. No entanto cá estava eu, comendo numa típica cantina comida servida diretamente na mesa, por uma pessoa que eu nunca vi em toda a minha vida.
Sean era divertido. Eu já gostava dele, mesmo sabendo que confiar em qualquer pessoa era impossível. Ele era gentil e parecia sempre querer fazer tudo corretamente. Eu sentia algo nos olhos dele que eu não conseguia explicar... Como se fosse segurança. Eu sentia que junto dele eu poderia ser eu mesma e ainda assim contar com alguém que me protegeria.
Não entendia como aquele homem ficou escondido tanto tempo na guarda real, muito menos porque meu pai o escolheu para ocupar o lugar de Alexander.

Quando voltamos para o carro Alexander nos aguardava. Entramos em silêncio e voltamos para o castelo, onde ele fez questão de dirigir, deixando Sean na carona. O típico machista. Como eu odiava aquele homem.
Na tarde de chuva, me dispus a procurar uma passagem secreta, que sequer sabia se era uma porta, explorando vários lugares do castelo de Avalon, tanto os que eu conhecia quanto os que eu não havia estado ainda. Eu sabia que ela estava ali em algum lugar e encontrá-la era só uma questão de tempo. E os túneis seriam a minha forma de fuga. Eu não tinha intenção de me casar com homem que eu não conhecia, futuro rei de não sei que porra de lugar.
A noite chegou e eu decidi subir para o meu quarto. O fato de meu pai não estar no castelo me deixava um pouco insegura com relação a Alexander, mesmo com todas as ordens que eu havia dado aos guardas sobre não querer a presença dele. Eu sabia que ele seria o futuro capitão deles e por isso tinha motivos para não me atenderem em detrimento disso: medo de represália por parte de Alexander quando tomasse seu posto.
Quando eu estava me encaminhando para o terceiro lance de escadas Alexander estava escorado no parapeito do corredor, com os braços cruzados.
Eu o encarei. Já não tinha certeza se o que eu sentia por ele era ódio, repulsa ou medo. Fingir que ele não estava ali não resolveria o meu problema. Ele não me deixaria passar de uma forma ou de outra sem tentar me importunar primeiro.
Parei e perguntei:

- Está tudo bem, Alexander?
- Por acaso não deveria estar, Alteza? – ele perguntou olhando para o guarda de prontidão um pouco mais adiante.
Você tem medo, não é mesmo, Alexander? Aproveita-se das mulheres, mas sabe que com homens você não pode. Como eu queria que você levasse uma surra bem dada... Ideia passando pela minha cabeça: pagar alguém para ensinar Alexander a ser homem e não bater mais em mulheres.
Então eu tentei passar por ele, que logo se retesou:

- Pretende sair hoje à noite, Alteza?
- Não, por mim você está dispensado. Para todo o sempre. – eu sorri debochadamente.
- Espero que seu marido tenha pulso para dominá-la.
- Ninguém me domina, a não se na cama, meu caro. – eu pisquei.
Ele abriu a boca para falar algo, certamente uma ofensa, mas não continuou.
- Boa noite, Alexander. – eu disse dando um passo adiante. – Tente não sonhar comigo, afinal, só assim poderá me ter.
- Farei você engolir suas palavras.
Arqueei minhas sobrancelhas:
- Estou morrendo de medo! – ri debochadamente. – De você só quero engolir palavras nojentas e ofensivas. De outros homens gosto de engolir coisas bem melhores. – pisquei e subi sem olhar para trás.
Era assim que seria minha vingança: falando coisas que machucassem diretamente o coração dele.
Tomei um banho e deitei. Ainda me tomava o pensamento onde seria o túnel escondido dentro do castelo, que levava para o lado de fora. Mas Estevan... Ah, Estevan tomava cada segundo das minhas noites, desde o dia em que o conheci. Eu não queria parecer uma mulher que não o deixaria em paz. Mas já havia esperado muito mais tempo do que eu suportava. Então amanhã eu iria vê-lo. Ou poderia morrer de amor.
Na manhã seguinte fiz o desjejum fora do meu quarto, na sala de jantar, sozinha. Acordei bem cedo. Antes que Mia ou Léia fossem me procurar, eu já estava à procura de Sean. Quando cheguei na garagem ele ainda não estava a postos. Pedi que um guarda o chamasse.
Logo ele apareceu, vestido impecavelmente.
- Alteza, bom dia. – ele disse curvando-se gentilmente.
- Desculpe querer sair tão cedo, Sean. Mas eu não gostaria de ter Alexander metido dentro do carro sem ser convidado novamente.
- Entendo, Alteza.
Ele se pôs na minha frente a abriu a porta do carro para mim.
- Obrigada, Sean.
Sentei-me e esperei ele partir. Assim que saímos de dentro dos domínios do castelo de Avalon, senti meu coração bater um pouco mais forte. A simples possibilidade de encontrar Estevan mexia comigo de todas as formas.
- Para onde, Alteza?
- Bem, eu não sei exatamente, Sean. Mas, naquela noite em que sumi, eu estava com uma pessoa...
Fiquei apreensiva em contar ou não a ele. Mas Sean me passava tanta confiança. Era ele que estava ali e o único que poderia me ajudar a encontrar Estevan novamente. Então continuei:
- Estive num loft, de onde eu conseguia ver o topo do castelo de Avalon. Mas já não faço ideia de onde poderia ser... Andei por tantas ruas e acabei chegando naquela praça onde você me encontrou. Eu preciso encontrar o lugar novamente.
- Posso tentar ajudá-la. Vamos entrar em cada rua de onde podemos ver o topo do castelo de Avalon, até Vossa Alteza encontrar o que procura.
- Obrigada.
E realmente ele ficou rodando rua por rua enquanto eu tentava encontrar o prédio alto onde Estevan estava hospedado.
O ar condicionado do carro estava ligado e ainda assim estava calor ali dentro. O sol quente que saiu depois da chuva torrencial do dia anterior fez a temperatura ficar alta e desconfortável.
Já passava das dez horas da manhã quando avistei o prédio onde ficava o loft.
- Encontrei. Ali. – apontei sentindo meu coração bater descompassadamente.
- Vou estacionar, Alteza.
- Não, Sean. Eu desço e depois você procura um lugar para estacionar. – falei não contendo minha ansiedade. – E... Eu vou demorar.
- Sem problemas, Alteza.
Ele parou o carro e eu desci rapidamente. Subi até o décimo andar e apertei a campainha já pensando em como ele reagiria quando me visse e se eu conseguiria não me jogar nos braços dele.
Demorou até que a porta fosse aberta. Uma mulher mais velha atendeu. Olhei o número na porta para ter certeza de que eu estava no lugar certo.
- Procura alguém? – ela perguntou sem abrir a porta totalmente.
- Sim... O homem que está hospedado aqui... Estevan Delacroix.
- Sim... Ele não está mais hospedado neste loft. – ela disse. – Estou inclusive fazendo a limpeza para entregar ao próximo locatário.
- Como assim? – perguntei não entendendo se aquilo realmente estava acontecendo.
- Não tenho maiores informações. Só faço o a limpeza. – ela disse sorrindo gentilmente.
- Obrigada.
Ela fechou a porta e eu me escorei na parede, sentindo meu coração aos saltos dentro do meu peito. Como assim ele não estava mais hospedado ali?
Não satisfeita com a resposta dela desci até a recepção e perguntei à atendente:
- Poderia me dizer se Estevan Delacroix realmente devolveu o loft?
- Um minuto... – ela disse olhando no computador.
- Sim, as chaves foram devolvidas e o apartamento liberado.
- Ele... Vai voltar?
- Eu não sei dizer... – ela me olhou parecendo estar com pena de mim. – Mas eu creio que não. Ele ficou por aqui pouco mais de um mês.
- Pouco mais de um mês?
- Sim, estava hospedado num dos apartamentos e os amigos no outro. Ele fechou a locação e pagou para todos.
- Você... Sabe onde ele mora, como posso encontrá-lo? – perguntei tentando não parecer desesperada.
- Não... Infelizmente não. Mas se quiser me deixar seu contato, posso avisar, caso ele apareça.
Eu não tinha como ser contatada... Se tivesse não teria perdido Estevan daquela forma.
- Obrigada... Mas está tudo bem.
Sai olhando para o chão, não tendo certeza do que pensar. Estevan havia partido... E talvez para sempre. Por que ele havia feito aquilo? Havíamos passado uma noite perfeita juntos. Eu tinha certeza que havia sido especial para ele também. Então por qual motivo ele partiu, me deixando? E seu eu nunca mais o encontrasse? Como eu poderia viver sem meu príncipe?