Capítulo 36
2461palavras
2022-12-24 14:55
- Agora você vai nos colocar dentro do castelo? Quem é você, Satini Kane? – perguntou Isabella.
Eu não sei se ela foi irônica ou estava confusa e preocupada.
- Eu só tentei ajudar... Se vocês não querem, tudo bem. Pensam que não é um risco para mim?
- Se é tão arriscado para você, por que está propondo isso? Seu desejo de conhecer a Coroa Quebrada é tão grande assim? – perguntou-me Samuel.
- Eu sinceramente não tenho nada a perder. – falei.
- E se o rei souber... E a punir?
Dei de ombros:
- Como eu disse, não tenho nada a perder.
- Sabe o que eu acho mais engraçado, minha cara Satini Kane? Você literalmente não existe... Eu procurei por seu nome em todos os lugares possíveis na web... E é como se você fosse um fantasma. E eis uma situação que eu nunca vi na minha jovem vida. Nunca houve uma pessoa sequer que eu não tenha encontrado até hoje, por mais secreta que fosse sua vida. Será você o meu maior desafio? – questionou Isabella indagadora.
Mia apertou a minha mão e disse:
- Satini, acho que está na hora de irmos.
- Mas... Vocês acabaram de chegar. – disse Samuel confuso.
Mia levantou e me puxou da cadeira pela mão. Por que ela ficou tão preocupada?
Olhei para Samuel... Sim, eu queria ajudar. Mas não tinha certeza se queria ir para inquisição com toda aquela gente.
Théo saiu confuso atrás de mim e Mia:
- Aonde vocês vão? O que houve, Mia? – ele perguntou confuso.
- Precisamos ir...
- Elas são loucas... Eu não disse? Duvido que seja verdade qualquer coisa que saia da boca destas duas. – gritou Isabella. – Tudo que vocês querem é Samuel e Théo. Nada mais. Pouco se importam com a causa da Coroa Quebrada... Aliás, por que se importariam? Eu vou descobrir quem vocês são... Nem que seja a última coisa que eu faça.
Paramos perto da porta. Samuel já próximo de mim. Ele pegou a minha mão e me encarou:
- Eu quero muito acreditar em você, Satini.
- Mas não acredita. – falei tristemente.
- Eu... Não sei.
- Por que me trouxe para junto de todas estas pessoas?
- São meus amigos. São as pessoas que lutam comigo todos os dias... Há muitos anos.
- Muitos anos? Quem é você, Samuel Leeter? – perguntei curiosa e confusa.
- Eu sou o líder da Coroa Quebrada.
Como seu eu não suspeitasse. E eu sou a princesa de Avalon, muito prazer. Vai me matar agora ou depois? Eu o encarava enquanto os pensamentos me consumiam. E então ele me beijou. E não se importou que todos estivessem olhando, nem mesmo Isabella. Eu não conseguia ser imune a ele. E nem tinha motivos para isso. Deixei minhas mãos passarem pelo seu pescoço e aproveitei cada minuto dele junto de mim. Samuel não tinha somente beleza exterior. Ela era tudo que se podia desejar num homem: forte, corajoso, idealista e... Líder. Poderíamos governar juntos se não fôssemos de lados opostos. O que ele não sabia era que eu estava do lado dele. Eu já não suportava mais a forma como meu pai conduzia tudo, muito menos a minha vida. Era hora de Avalon não ser mais dividida e se transformar em uma só. E eu era o futuro de Avalon. No entanto poderia tentar ser o presente e não somente o que vem depois.
- Realmente precisamos ir. – eu disse confusa ainda com o beijo, tudo que houve e o pouco tempo que ficamos ali.
- Agora, Satini. – disse Mia seriamente.
- Sam... – eu perguntei docemente, recebendo toda a atenção dele e seus olhos verdes dentro dos meus.
- Fale...
- Quando eu vou conhecer o seu mundo?
- Eu... Ainda não posso fazer isso.
Eu fiquei decepcionada. Como não? O que ele queria mais de mim?
- Vamos, Mia. – falei me dirigindo à saída.
Ele pegou minha mão e disse:
- Não é por mal... Entenda o meu lado. É muito cedo.
- Tem um tempo para isso? Você só pode estar brincando... Se soubesse tudo que eu me arrisquei vindo até aqui. E o quanto foi difícil falar tudo que eu falei. E agora simplesmente não cumpre o acordo?
- Satini...
- Esqueça.
Eu não sei se estava furiosa ou triste. Mas eu não entendia o motivo de ele não me levar até lá, depois de tudo que eu havia feito por ele. Ou melhor, pelo meu objetivo de ganhar a confiança dele.
Saímos de Rock Bar pouco tempo depois que entramos. Alexander estava escorado na porta do carro, mexendo no celular. Ele também ficou surpreso quando nos viu, arqueando as sobrancelhas. Também não esperei que Samuel fosse atrás de nós.
- Ora, ora, o que temos aqui... O jovem rebelde. – ironizou Alexander.
- Boa noite, Bela adormecida. – ele respondeu no mesmo tom, com um sorriso eu não sei se lindo de viver ou sarcástico de morrer pela forma mordaz com que as palavras saíram da sua boca. – Ou seria Cinderela?
O olhar de Alexander foi raivoso, odioso, cruel. E eu sabia o quanto aquele homem com cara de anjo poderia ser perverso e repugnante. Samuel era tão forte e seguro. Se ele soubesse o que passei nas mãos de Alexander... Eu não poderia me vingar com um soco, mas ele poderia fazer isso por mim. E como eu queria ver Alexander levando uma surra de Sam ou qualquer outro homem.
Não pude evitar de rir, não sei se pela forma como Sam o tratou ou por ter imaginado na minha mente Alexander levando uma surra bem dada.
- Pode ter certeza de que nunca mais Satini colocará ninguém para dormir. – ele disse me olhando.
Mas Samuel também voltou os olhos para mim, curioso:
- O que ele fez para você? – ele questionou.
Passou-me pela mente a noite que acordei com Alexander e suas mãos em torno do meu pescoço, apertando-o de forma tão forte que eu quase fiquei sem ar. Sim, eu queria me vingar, mas não seria Sam que faria isso. Eu faria... De forma lenta, gradual, acabando com ele um pouco a cada dia.
- Nada que eu não possa fazer pior, Sam. – eu falei tentando sorrir despreocupadamente.
Então eu abracei Samuel, passando minhas mãos em volta do seu pescoço. Vamos começar esta vingança, Alexander. E não, não estou usando Sam. Porque ficar perto dele me faz bem. Falei em seu ouvido, para que ninguém nos ouvisse:
- Quando você estiver preparado para me levar à sua casa, me avise. Então poderemos nos ver novamente.
- Você não pode fazer isso. Não pode condicionar nós dois a isso.
- Eu acho que posso. – soltei-o e o encarei no fundo de seus olhos verdes, que tanto me inebriavam.
Eu sabia que Alexander não faria nada. Ele estava sozinho ali enquanto Samuel estava não só rodeado de amigos, mas dentro do seu mundo praticamente. E eu tinha certeza dos sentimentos de Alexander por mim. Não tenho certeza se era amor, mas ele me queria, me desejava ardentemente. E o fato de eu estar nos braços de outro homem certamente o feria... Não sei se dentro do seu coração ou somente seu orgulho ferido por uma rejeição.
Só não sei se conseguiria dar conta de tudo: vingança contra Alexander, tentar convencer Samuel... Até ontem eu era só uma princesa presa no castelo. Hoje eu tentava controlar tudo de forma manipuladora usando não só minha inteligência, mas também o meu corpo.
- Vamos? – falou Alexander. – Acho que a brincadeira com os rebeldes encerrou por hoje.
Todos se encararam de forma tensa. Como aquilo acabaria? Bem, pois Alexander não me seguiria para sempre.
- Eu vou encontrar Théo novamente. – disse Mia. – E você terá que aceitar isso, Alexander.
Alexander olhou confuso para a irmã e depois para Théo. Eles estavam um pouco afastados, mas então Théo pegou a mão dela.
- Eu gostaria de namorar sua irmã.
Eu achei não só corajosa, mas fofa a atitude de Théo. Como se ele pouco se importasse com tudo que estava acontecendo... Mia era o mais importante para ele. E eu bem sabia que toda a situação que se criava ali não era por Mia e sim por mim. Nunca foi ciúme da irmã... Sempre foi de mim. E ela acabou sendo prejudicada por estar junto, só isso.
Todos olharam para Alexander, esperando uma reação dele, que pensou por um longo tempo e disse:
- Eu só quero ver como será quando você visitar nossa casa... E conhecer nossa família. – ele disse ironicamente. – Está preparada para isso, Mia?
Sim... Era um problema... Um grande problema. O fato de Mia estar ligada a mim a prejudicava tanto quanto eu estava e todos ao meu redor. Como ela teria um namoro normal com uma pessoa se ela morava num castelo onde ninguém podia entrar? Ela poderia por um tempo vê-lo por lugares diferentes em Avalon. Mas se o relacionamento ficasse mais sério, mais cedo ou mais tarde ele quereria conhecer a família dela e o lugar onde morava. E então tudo estaria acabado entre eles. E Alexander sabia disso. Eu só não tinha certeza se ele se preocupava realmente com os sentimentos da irmã ou falou aquilo para magoá-la.
- Acho que por enquanto eles só querem se ver... E isso basta. Além do mais, Mia não se esconde e não acho que isso seja um problema. – arrisquei. – O amor supera tudo...
- Não quero que sejamos inimigos. – disse Théo.
- Quantos anos você tem? – perguntou Alexander para ele.
- Vinte e um.
- Minha irmã tem dezoito.
Théo sorriu ironicamente:
- Sim, eu sei. Por isso mesmo perguntei a ela antes o que achava e recebi a resposta de que sim... Ela também quer iniciar um relacionamento mais sério comigo.
- Sabe o que isso implica, Mia? – ele perguntou olhando para ela seriamente.
- Estou disposta a tentar, Alexander. Mesmo sabendo tudo que isso implica. – ela disse firme.
Como eu me senti culpada novamente. Estar junto de mim era complicada para todo mundo. Eu precisava tentar ajudar minha amiga mais cedo ou mais tarde.
- Até parece que vocês escondem um grande segredo. – disse Samuel observando tudo que acontecia.
Alexander gargalhou debochadamente:
- Acha mesmo?
- Alexander, eu realmente gosto da sua irmã. – tentou Théo.
- Como você gosta dela? Conheceram-se “ontem”... – ele disse.
- Por que você faz questão de dificultar as coisas? – eu perguntei. – É tão simples dizer que concorda... Eles ficarão junto igual. Só querem que você aprove... Isso não significa que se você disser não eles pararão de se ver. Aposto que Léia ficará feliz em saber que Mia encontrou alguém que ela goste...
- Eu não posso aprovar isso. – ele disse. – Por tantos motivos que você saberia listar também, Satini.
- Diga sim, Alexander... – eu pedi.
- Não. – ele falou firmemente. – Eu não aprovo.
- Como Satini falou, isso não mudará nada. – falou Mia. – Eu só não gostaria de ter que fazer tudo pelas suas costas. Eu não entendo porque você se transformou nesta pessoa, Alexander.
- Eu sou o único aqui que ainda está consciente. Vocês duas já perderam as suas...
- Nós tentamos... – disse Théo. – Mas como Mia mesmo disse, não se tratava da sua aprovação. Ainda assim não quero vê-lo com um inimigo.
- Somos inimigos, você querendo ou não, Théo. E isso não se trata somente da minha irmã. – disse Alexander me olhando seriamente.
- Quem sabe você fala mais claro e resolvemos isso de uma vez por todas? – disse Samuel.
- A conversa não é com você. – Alexander destilava ódio. – Está fazendo isso por causa de Satini? Ela não vale isso tudo, acredite.
Senti uma dor horrível no meu coração quando ele falou aquilo. Não pelo que ele pensava sobre mim, mas a forma como ele queria que todos pensassem. Denegrir a minha imagem, tentar fazer de mim perante todos a pessoa que ele queria e acreditava que eu era.
- Como você pode ser assim? – perguntei.
- Não comece uma briga que você não pode terminar, Alexander. – falou Samuel.
- Acho que eu posso... – ele continuou.
- Chega! – Mia gritou. – Hora de irmos.
- Eu concordo com Mia. Hora de irmos. E sua opinião sobre mim não importa, Alexander. E entendo que eu não valha para você... Pelo simples fato de não ter lhe escolhido.
Ele me olhou e vi nos olhos de Samuel a aprovação pela minha resposta.
Como eu estava cansada daquilo tudo. Eu queria fugir de tudo e todos. Nada havia saído como o planejado nos últimos dias. Eu sei que eu precisava ter paciência para esperar, mas eu não conseguia. Era mais forte que eu querer que as coisas se resolvessem depressa.
Alexander abriu a porta de trás do carro e fez uma reverência para mim:
- A seu dispor, Alteza.
Fiquei furiosa, mesmo sabendo que ele não deixaria passar em branco, inclusive ele havia dito que faria aquilo.
Num ímpeto eu não entrei no carro. Segui sozinha pela calçada, deixando todos para trás.
- Aonde você vai? – perguntou Alexander.
- Preciso respirar... Longe de você.
- Satini... Não pode andar por aí sozinha. Eu vou com você. – disse Samuel, vindo na minha direção.
Eu virei e disse:
- Não, Samuel. Eu não quero companhia. Você também não confia em mim.
Ele parou e não me seguiu.
- Você vai ser sequestrada ainda. – gritou Alexander. – E eu não vou resgatá-la.
Mal ele sabia que tudo que eu queria era ser sequestrada. Olhei no relógio. Ainda eram 21 horas e parecia que eu havia ficado horas naquele lugar.
Tinha muitas pessoas pela rua da Travessia, um lugar composto majoritariamente por casas noturnas e bares diversos, sendo uma boa opção para noite de qualquer pessoa que não estivesse disposta a pagar tão caro como pelo Avalon Club.
Ouvi o barulho potente de uma moto vindo ao longe e em pouco tempo ela estacionou no meio da rua, próxima a mim. Era grande, vermelha, imponente, chamando a atenção de todos. Eu parei imediatamente. O capacete escuro não deixava aparecer o rosto do condutor. Mas pela forma como meu coração batia dentro de mim, eu sabia quem estava ali. O meu príncipe, o meu salvador... E ele não estava num cavalo branco. Ele tinha uma moto gigantesca vermelha.
Ele só acelerou forte, chamando a atenção de todos à volta. Eu não pensei duas vezes. Fui até ele e subi na carona.