Capítulo 28
2177palavras
2022-12-24 14:51
Passei os dedos nervosamente sobre a capa e ouvi uma batida na porta. Logo em seguida apareceu Mia, sem esperar que eu mandasse ela entrar. Mas sempre foi assim. Mia teve passagem livre para o meu quarto a vida inteira. Então por que naquele momento eu me senti um pouco invadida? Procurei esconder o diário de minha tia. Por sorte ela não notou. Simplesmente me olhou e disse:
- Alteza... Você está absolutamente perfeita.
- Obrigada, Mia. Você também está fabulosa.
- Alexander está nos esperando lá embaixo.
- Eu... Já estou descendo. – avisei.
Por sorte ela virou as costas e saiu. Onde eu colocaria aquilo para que não fosse encontrado? Óbvio, no mesmo lugar que encontrei. E foi isso que fiz, devolvi o diário ao lugar onde achei. Uma última olhada no espelho e saí. Não houve um guarda real que conseguiu não virar para me observar enquanto eu andava pelos corredores do castelo de Avalon. E aquilo surtiu um poder incrível dentro de mim que eu nem imaginei que tivesse.
Quando cheguei ao térreo Alexander e Mia estavam ao final da escada, esperando por mim. Claro que ele ficou imóvel quando me viu. Segui passando por ele sem dizer nada, ignorando-o por completo.
Enquanto nos dirigíamos para a saída, Mia disse:
- Esqueci minha bolsa... Podem esperar um minuto?
- Esperamos no carro, Mia. – eu disse continuando.
Esperei que ele abrisse a porta para mim, mas ele não o fez. Encarou-me e disse:
- Você quer foder com toda a minha vida?
- Não, Alexander. Se eu quisesse acabar com você não teria passado um bom tempo escondendo com maquiagem as marcas que você deixou no meu pescoço.
- Alteza... Falei com seu pai hoje.
- E pelo visto não resolveu, ou você não estaria aqui, não é mesmo?
- Não...
- O que você disse ao meu pai, Alexander? Que se revoltou comigo e “bateu uma” em mim para desestressar? Ou talvez confirmou a ele que tentou acabar com minha vida... Já pensei que você possa ter sido mandado por ele.
- Ele não aceitou a minha saída. Disse que vou começar os treinamentos para a guarda real na próxima semana. Quando você for coroada eu vou receber das mãos dele o título de capitão da guarda do castelo de Avalon.
- Devo aplaudir? – ironizei.
- Eu sequer sei se quero esta tarefa de ser capitão da guarda.
- Acho que combina com você: eles costumam ser completamente devotos ao meu pai e facilmente corrompidos. Juram defendê-lo com a própria vida. E é isso...
- Juram fidelidade também à princesa... E futura rainha.
Eu gargalhei:
- Quando eu me tornar rainha a primeira coisa que farei é acabar com você, Alexander.
- Vai me “banir”?
- Não... Talvez me dar “ao desfrute” com todos, menos com você.
- Você não vale nada mesmo... – ele se atreveu.
Bati na cara dele com toda minha força:
- Talvez sejamos da mesma laia... Com uma diferença: eu não gosto de você... E nunca vou gostar.
- Quem disse que eu gosto de você, Princesa?
- Está escrito nos seus olhos... E você não pode negar.
- Você é muito petulante... E convencida.
- E você é o homem que tentou me estuprar. – falei abrindo a porta e sentando no banco.
Ele sentou-se em segundos no banco do motorista e ajustou o espelho de forma que pudesse me ver.
- Alteza, eu não quis machucá-la... Foi sem querer. Eu juro... Não queria jamais ter deixado marcas no seu pescoço.
- Alexander, você não entende que as marcas do meu pescoço é a menor das coisas que você me fez? Elas estão saindo... Em dias não existirão mais. No entanto as que você deixou na minha mente e no meu coração nunca se apagarão.
- Eu nunca vou me perdoar, Satini...
Mia entrou no carro ao lado dele e nos olhou:
- Já vi que o clima está tenso por aqui. – ela observou.
- Podemos ir? – pedi.
- Sim... – ele disse ligando o carro.
Assim que partimos eu já nem lembrei que Alexander estava dirigindo. Tinha que me acostumar com a presença dele e talvez usar novamente meu amigo que me prometeu o mundo. Eu só teria o mundo se Alexander estivesse fora dele. Se eu daria boa noite Cinderela para ele novamente? Claro que sim. Quantas vezes fossem necessárias.
O caminho até a Avalon Club foi em silêncio. Estávamos cada um imerso em seus próprios pensamentos. Eu imaginava que Mia devia estar tensa em função de reencontrar Théo depois do que houve entre os dois na semana anterior. Eu estava com o coração acelerado por saber que eu reencontraria o lindo e sexy Samuel Leeter. E Estevan? Algum dia eu o reencontraria? “Estou em um loft, perto do castelo”. Quantos loft’s havia perto do castelo? Procurá-lo em cada um deles era absolutamente impossível... Ou não!
Quando chegamos em frente a casa noturna, Alexander estacionou para descermos e foi sozinho deixar o carro no subsolo.
- Está ansiosa? – perguntei a Mia.
- Um pouco. Não sei exatamente como olhar para ele... O que dizer.
- Seja você mesma e tudo dará certo. Você já me disse isso, lembra? – eu sorri, tentando acalmá-la.
- Sim... – ela sorriu também, mais confiante.
Não entramos na fila porque sabíamos que não precisava. Olhei para todas as pessoas próximas e depois voltando meus olhos para o vai e vem nas calçadas próximas.
- Está... Procurando alguém? – ela perguntou.
- Sempre... – falei tristemente. – Mas parece que ele só vem quando o destino decide... Quando eu não estou esperando por ele, sabe?
- Vai que ele é realmente o seu príncipe encantado... O que o destino escolheu para você, amiga.
- Talvez... Mesmo que no fim, não possamos ficar juntos.
- Não vejo você casando com um desconhecido e deixando seu verdadeiro amor partir. Você não é uma pessoa que desiste fácil do que quer.
- Mas sou a pessoa que tem muito claro meus objetivos.
- Mas não abre mão de nada do que deseja.
- Então talvez eu possa casar com o príncipe e manter o meu verdadeiro amor como amante. – eu ri. – Seria engraçado, não? Mas ao mesmo tempo não seria tão surpreendente, afinal, os reis sempre costumam ter amantes.
- Menos o seu pai.
- Menos o meu pai. – eu ri melancolicamente.
Em pouco tempo Alexander chegou e nos guiou rapidamente para dentro da Avalon Club. Eu gostava daquele lugar. Sentia-me bem lá dentro. Fazia-me parecer uma pessoa normal e sem problemas. A música realmente me fazia esquecer tudo de dentro do castelo. E ver tantas pessoas me dava esperança de não ter que conviver com as tão poucas que eu vivia. Jamais alguém poderia pensar que uma vida como princesa pudesse ser privada de tantas coisas simples. Eu era rodeada de um mundo de luxo, dinheiro, qualquer coisa que eu quisesse eu poderia comprar. Mas nem tudo que eu podia ter. Rodeada de pessoas que eu pouco conhecia. Confiava somente em Mia e Léia. E saber que meu próprio pai não queria o meu bem estar e felicidade me fez ter menos fé ainda na humanidade. Eu era uma garota de 17 anos que precisava ficar esperta para me manter viva... Ou eu teria o mesmo futuro de Emy Beaumont.
Eu poderia fingir que queria dançar e estava ali para aquele fim. Mas abri caminho entre a multidão, me encaminhando ao bar. Eu estava segura sendo eu mesma, usando as roupas que eu me sentia bem e não tentando me parecer com todos os outros.
Mia e Alexander me seguiam. Ela porque sabia exatamente o que eu estava procurando. E ele porque faria tudo para me impedir de ser livre e feliz.
Quando vi Samuel, senti meu coração bater mais forte. Ele estava sentado no bar, como acho que sempre fazia. Nunca o vi dançando no meio da multidão. Na verdade nem o imaginava fazendo aquilo. Eu poderia dizer que ele não estava melhor do que a última vez que eu o vi. Mas estaria mentindo. Que porra de homem perfeito era aquele? Os cabelos estavam para o lado, ao mesmo tempo bagunçados propositalmente. Ele vestia uma camiseta preta justa, que marcava cada parte do seu corpo e um jeans escuro que destacava suas coxas. A barba estava crescendo... O que lhe dava um ar ainda mais sexy. Ele tinha uma beleza que eu nunca vi igual, pelo menos não ao vivo. Théo estava ao lado dele, vestindo uma camiseta azul Royal que o deixava muito bonito também. Céus, será que só se paria aquele tipo de homem na Coroa Quebrada? Por isso mesmo teríamos que tirá-los de lá... E fazer as moças ricas também felizes. Porque para os lados do castelo nada se comparava àqueles dois deuses.
Eu fui até ele e fiquei um pouco apreensiva enquanto os olhos dele me acompanhavam. Quando cheguei perto tentei lhe dar um beijo no rosto, mas o desgraçado virou bem na hora e acabou pegando diretamente na sua boca grossa e convidativa. “Me faça sua agora mesmo, Samuel Leeter”, pensei intimamente. Mas o máximo que meu corpo fez foi deixar minhas bochechas coradas. Ele riu. Alexander não os cumprimentou, ficou parado, como se fosse parte da decoração. Mia sentou-se ao lado de Théo, pouco se importando com o irmão. Mas não o beijou na boca. Foi um simples beijo no rosto.
- Como está? – ele perguntou.
- Bem...
- E deu tudo certo na volta?
- Sim.
- Quer beber algo?
- Nada de bebidas. – disse Alexander. – Acha mesmo que vou deixar você dopá-la como fez comigo?
Samuel olhou confuso.
- Ele não tem nada a ver com isso. – eu disse. – Fui eu e você sabe.
- Tentamos ajudar, só isso. – disse Théo.
- Ajudar tirando as roupas delas? – ele perguntou irônico.
- Eu não tirei... Ela mesma tirou. – provocou Samuel.
Eu não havia sentado ainda. Coloquei a mão no peito dele e olhei em seus olhos:
- Não, Samuel, por favor. – pedi. – Pode ficar pior.
E então, por obra de destino, a garota que eu havia pago na semana anterior apareceu na frente de Alexander e lhe deu um beijo, sem dizer nenhuma palavra. E eu não precisaria pagá-la para fazer aquilo? Seria muita sorte... Eu não estava tão acostumada com este tipo de sorte na vida.
Esperei até que ele resolvesse o que fazer. Então em pouco tempo ele disse:
- Ficarei aqui próximo. E estou de olho nas duas.
Dizendo isso ele finalmente saiu com a garota pela mão. E eu rezei para que ela não dissesse que eu paguei-a na semana anterior. Tive medo do que ele poderia fazer comigo novamente.
- Enfim, sós. – disse Samuel.
- Espero que ela leve ele para bem longe.
- Ele ficou muito bravo?
Eu suspirei:
- Prefiro não contar como foi... Não quero lembrar.
- Foi tão horrível assim?
- Um pouco pior do que você imagina.
- Vamos sair daqui. – disse Théo com Mia pela mão.
- Não desapareça me deixando sozinha com seu irmão... Por favor. – implorei para Mia.
- Quem sabe tentamos despistá-lo? – sugeriu Théo. – Vocês duas saem e nós iremos atrás depois de um tempo. Ele vai ficar confuso... Não saberá a quem seguir.
- E ficará ainda mais em dúvida se cuida de vocês ou fica com a garota. – disse Samuel sorrindo.
- Achei a ideia perfeita. – falei.
- Já estou indo... – disse Mia saindo rapidamente.
Esperei Mia entrar na pista no meio da multidão e fui logo atrás dela. Ele não estava olhando para nós. Conversava com a garota. Bem que os dois podiam começar a namorar. Isso me aliviaria um pouco e me tiraria um peso das costas, que era tê-lo comigo o tempo inteiro.
Procurei por Mia e não encontrei-a mais. Fiquei perdida, olhando para todos os lados, sem saber para onde ir. A música era alta, as luzes piscantes me deixavam um pouco tonta... Mas senti braços fortes me segurando por trás. E eu reconheci o cheiro de Samuel enquanto ele grudava o corpo no meu, seguindo o ritmo da música, porém num movimento bem mais lento. Coloquei minhas mãos nas dele, que enlaçavam a minha cintura. Ele era tão lindo e perfeito... E estava ali comigo. Era tudo que eu queria. Ter a sensação de ser normal... E com alguém ao meu lado que me trouxesse coisas boas... E me despertasse desejos.
No início eu me aproximei dele porque queria conhecer a Coroa Quebrada. Agora isso não tinha tanta importância. Ele era divertido, bem humorado e se parecia comigo em muitas coisas. Não ficava quieto, dizia o que pensava e tinha grandes objetivos na vida, embora eu não soubesse exatamente quais. Era também era um líder... E jovem. Talvez em alguns anos estaríamos lutando em lados opostos. Ou se estabelecêssemos laços afetivos, poderíamos fundir Avalon numa só.