Capítulo 26
1807palavras
2022-12-24 14:49
- A... Entrevista. – ela falou confusa e um pouco receosa.
- O que você quer saber sobre mim para publicar, Beatrice?
- Eu... Vou gravar. – ela falou, pegando o celular.

- Não. Você vai escrever. – eu disse firmemente. – Eu não posso de forma alguma ser exposta. Nem a minha voz.
- Mas... Eu jamais exporia a entrevista desta forma... Ou mesmo a sua voz, Alteza.
- Não... Como meu pai sempre diz: “pela minha segurança”. Foram 17 anos me escondendo do mundo para agora correr risco de colocar tudo a perder por uma entrevista.
- Eu... Entendo, Alteza. Será como preferir.
- Então estou pronta.
- Eu gostaria de saber como vossa Alteza vê a questão do casamento arranjado, com uma pessoa que não conhece, sabendo apenas de fato que ele também é da realeza.

- Eu vejo como algo normal para alguém na minha posição. Casamentos arranjados sempre foram comuns entre a realeza, desde sempre, visando negócios e alianças políticas. Eu faço isso pelo bem de Avalon.
- E acha que pode vir a se apaixonar por seu futuro marido?
- Quem sabe? Talvez sim, talvez não... Mas ainda assim nada mudaria o fato de ele ser meu marido e eu o respeitarei, conforme os votos sagrados do matrimônio, exigindo por parte dele o mesmo. Não me sinto menos por casar com um homem que não conheço, por fazer parte de um acordo desde que nasci. Eu sou uma Beaumont, herdeira da coroa de Avalon por direito e nada nem ninguém poderá tirar isso de mim. Sacrifícios sempre foram feitos em nome da coroa e do bem estar do povo.
- Então Vossa Alteza vê o casamento como um sacrifício?

- Não tanto quanto o de minha finada mãe, que teve seis abortos tentando engravidar, porque ter um filho homem era o desejo de meu pai. Eu fui a única gravidez que ela levou até o fim. E quando nasci, ela morreu. Eu sou um milagre da vida... E sou grata pelo destino em ter me colocado exatamente neste lugar. Considero-me apta a assumir o trono quando meu pai vier a falecer. Eu nasci para isso. Eu sou mais forte do que muitos homens e garanto governar Avalon melhor que qualquer rei que já tenha existido. Sobre meus ombros está a responsabilidade de ser a primeira rainha a assumir o poder desde que este reino é reino. E assim será... Nada nem ninguém tirará a coroa das minhas mãos, como talvez um dia tenha sido feito com minha tia, Emy Beaumont.
- Eu... Não sei se entendi.
- Então não publique o que possa não ter entendido, Beatrice. – levantei. – Acho que já falei tudo que tinha que falar sobre o casamento... E minha herança, que é a coroa de rainha. Serei coroada princesa de Avalon no dia do meu casamento. Mas a tiara não é meu destino... E sim a coroa. E espero ansiosa por este dia.
- Eu... Não sabia sobre sua ansiedade em governar Avalon.
- Eu também não... Até perceber o quanto eu posso ser melhor que meu pai e qualquer outro rei que tenha existido. Qualquer mulher poderia ter sido rainha antes de mim... Mas o destino quis que eu, Satini Beaumont, fosse a primeira. Deixarei minha marca eterna em Avalon... Não como a melhor rainha, mas como a melhor governante que este lugar já viu.
- Posso finalizar desta forma?
- Claro... Desde que não mude nada das minhas palavras. – eu sorri e saí.
Beatrice era falsa e eu conseguia fingir muito bem. Tudo que falei era o que eu realmente sentia. Então eu não me importava com o que o povo ouviria falar sobre mim pela primeira vez. Não queria que me vissem como uma princesa fraca. Eu estava preparada para ser a rainha... Pelo menos teria tempo hábil até meu pai tentar me dar o golpe, como talvez tenha feito com a irmã um dia. Eu cheguei a imaginar que ele não seria capaz de fazer aquilo... Até ouvi-lo na biblioteca. Mesmo que ele tivesse um filho homem, seria o segundo na linha de sucessão. Então ele teria que se dar ao trabalho de me matar para que o herdeiro masculino assumisse. Que porra de machismo existia com os Beaumont?
Depois da entrevista fui até o jardim, tomar um sol. Sentei-me confortavelmente e logo Mia apareceu com uma bandeja com um copo de suco.
- Sente-se. – eu pedi.
Ela sentou ao meu lado, na mesma espreguiçadeira que eu, tentando evitar me olhar nos olhos.
- O que houve lá? – perguntei.
- Alteza...
- Mia... Você fez ou não fez?
Ela me olhou nos olhos então e disse:
- Sim.
Eu bati palmas e sorri e percebi que ela ficou um pouco menos tensa.
- Achei que você iria me matar...
- Mia, eu jamais criticaria você... Já tem 18 anos, sempre foi uma garota responsável. Se você decidiu que era a hora, acredito que tenha sido mesmo.
- Satini... Eu nunca pensei que fosse acontecer assim... Eu conheço Théo há tão pouco tempo. Sempre imaginei que seria com alguém que eu amasse, meu namorado, talvez meu marido...
- Não importa, Mia. Se você gostou é o que importa. Não tem que ser com alguém especial, que você conheça a não sei quanto tempo porque todo mundo diz que tem que ser assim. Tem que ser com alguém que você ache que vai ser bom e pronto.
- Eu estou gostando dele...
- E isso é bom, Mia. Eu também gostei dele. E acho que ele gosta de você.
- Ele é diferente do que minha mãe quer para mim.
- E o que sua mãe quer para você? Alguém da corte, que talvez não a faça feliz? Você não tem esta obrigação, minha amiga. Você pode viver como quiser e ser de quem decidir.
- O tempo dirá o que será da nossa relação. Mas eu não me arrependo.
- E nem deve... Mas agora me conte... Como é?
Ela riu:
- É muito bom...
Eu bati palmas:
- Sempre achei que eu faria isso primeiro que você.
- Eu também...
- Você sempre foi tão conservadora... Para ver que a paixão tira a razão de qualquer um.
- E com você, como foi?
- A noite mais louca de toda a minha vida. – confessei e me recostei na espreguiçadeira, colocando meus braços sob a minha cabeça.
- O beijo entre você e Samuel foi... Apaixonado.
- Foi bom... Embora eu tenha ficado um pouco tensa com a ex-namorada dele, acabou que nos entendemos melhor depois que ela se foi.
- Ela não é mais namorada dele. Théo deixou bem claro.
- Não importa... Ela se acha a dona dele. E não sei se estou disposta a competir com pessoas do tipo dela. Afinal, eu não vou ficar com ele no final e ambas sabemos disto.
- E se você se apaixonar por Samuel no fim? Se casaria igual com o seu desconhecido e prometido príncipe?
- Sim.
- Satini...
- Nada fará eu fugir do casamento, Mia e você sabe disto. Eu vou ter o meu tempo disponível para tentar ser uma pessoa normal e fazer coisas que pessoas normais fazem. No fim, vou casar, conforme me foi destinado desde que nasci. Eu nunca fugi disto e você sabe muito bem. Embora ache às vezes estranho tudo isso e confuso, sei que é o correto.
- Diz isso porque seu coração ainda não conheceu o amor, Alteza. Quando isso acontecer, voltamos a ter esta conversa.
- Eu quero conhecer o amor... A paixão e todos os sentimentos que eu puder. Já provei do ódio... E ele é horrível... E gera um desejo incontrolável de vingança.
- Que horrível! O que houve?
- Deixe para lá... Não quero envolver você em coisas ruins. Vamos falar das coisas boas... Tipo o seu namorado.
- Não sei se somos namorados... – ela sorriu envergonhada.
- Em breve serão.
- E talvez você e Samuel também.
Eu suspirei:
- Samuel é como um sonho de toda garota. E eu talvez tivesse me entregado a ele, se não fosse Alexander aparecer.
- Sério? Você teria feito isso?
- Eu acho que sim... Senti muito desejo de ser tocada por ele... Como nunca senti antes, acredite.
- Você sim precisa ter cuidado.
- Por ele ser Samuel, rei da Coroa Quebrada?
- Não... Para ele não quebrar o seu coração.
- Meu coração não pertence a Samuel, Mia... Eu já achei o dono dele.
- Não me diga que é o dono do piercing.
Eu sorri:
- É ele... Eu tenho certeza.
- Quando eu vou conhecê-lo?
- Eu não sei... Mas o destino colocou ele naquele lugar, junto de mim novamente.
- E se fosse por ele... Você fugiria do casamento?
Eu ri:
- Por nada, nem por ninguém. Nem por Estevan.
- Você o beijou?
- Não... Ele é tão... Acho que tímido seria a palavra. Ele é exatamente o oposto de Samuel.
- Você sempre foi tão segura de si, certa de suas vontades e decisões... Como pode se interessar por um rapaz tímido quando tudo que quer é alguém que tire sua roupa e faça amor com você como se não houvesse amanhã?
Eu ri:
- Acho que tudo é culpa dos olhos dele... E da carinha de bebê da mamãe que ele tem.
Ela levou as mãos ao rosto:
- Carinha de bebê da mamãe?
- Sim... Dá vontade de pegar ele no colo e trazer para morar comigo.
- Nunca pensei em você se interessar por um homem deste tipo...
- Eu sempre disse que o homem para me conquistar tinha que me tratar bem... E isso nunca vai mudar. – falei seriamente. – Ele tem que ser gentil, se importar comigo, entende?
- E não tem que ter pegada, não?
Eu ri alto:
- Claro que sim... Isso é essencial. Chega de beijos escondidos pelos corredores com guardas tremendo de medo.
- Ainda quero ver a cara deles quando souberem que beijaram a futura rainha.
- Sexta-feira iremos ao Avalon Club novamente. – eu garanti.
- Alexander está muito estranho. Não comentou nada sobre ter dormido a noite inteira. Eu não sei se ele realmente sabe o que aconteceu ou não.
- Mia, se não se importa, eu não quero falar sobre ele.
- Eu preciso contar uma coisa antes... Sobre ele.
Suspirei, tentando não ser grosseira com ela. Mas ela deu de ombros:
- Ele está com a boca muito inchada. Parece que foi mordido... Parecem marcas de dentes na boca dele.
Eu ri:
- Sério?
- E eu estou pensando em que momento ele conseguiu beijar... Ou ser mordido por alguém.
- Talvez tenha pego alguém a força...
- Alexander não faria isso...
- Será?