Capítulo 24
1823palavras
2022-12-24 14:48
- Vamos tentar jogar um pouco de água nele. – ele tentou.
- Mas ele está no carro...
- Vamos trazê-lo para dentro.

Eu levantei e ouvi e senti meu vestido rasgando por toda a extensão das costas. Suspirei. Eu imaginei que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde.
Samuel riu:
- Menina do rock em apuros.
- Eu disse para Mia que esta roupa não ia dar certo... Eu mal conseguia respirar dentro dela. E agora?
- Posso conseguir algo para você.
- Sério?

- Sim... Temos um camarim com algumas roupas. Não sei se acompanhará o seu estilo... – ele ironizou.
- Acredite, este não é meu estilo. Então qualquer coisa que você tiver, vou aprovar.
Segui-o pelo corredor atrás do palco novamente. Quando passamos pela porta onde Mia estava anteriormente foi possível ouvir gemidos pelo lado de fora. Certamente minha amiga havia perdido a virgindade naquela noite... E havia durado até amanhecer o dia.
Fiquei envergonhada quando fui encará-lo e seus olhos já estavam sobre os meus.

- Eles estão se divertindo pelo visto. – ele observou.
- Nitidamente sim. – tentei não parecer tão chocada.
Ele abriu uma porta ao lado de onde Mia estava com Théo. Lá tinha uma arara com algumas poucas roupas. O zíper do vestido era atrás e eu não conseguiria abrir sozinha. Céus, eu teria que pedir ajuda para ele tirar o meu vestido.
- Que horas são? – perguntei.
- Onze. – ele disse olhando no relógio.
- Até que o tempo passou rápido.
- Sim...
- Você... Poderia fazer o favor de abrir o meu vestido? – perguntei tentando não parecer apavorada.
- Com todo prazer.
Os olhos dele me encaravam desejosos, como se ele fosse me devorar. E aquilo causava em mim sensações estranhas, vontades que eu sempre tive e nunca me passou pela cabeça admitir. Pensei em tê-lo sobre o meu corpo... Esmagando-me com seu peso, entrando em mim avassaladoramente. Eu era uma puta pervertida.
Ele abriu o zíper vagarosamente, tocando com seu dedo a minha pele macia enquanto descia. Achei que ele pararia por ali, mas não. Ele retirou o vestido, passando os braços pelo meu corpo, roçando meus seios com seus braços, que ficaram rígidos ao toque dele. Quando percebi meu vestido estava no chão e eu somente com minhas roupas íntimas, parada enquanto ele me olhava. Eu precisava ter pressa. Ainda havia um mínimo de esperança de chegar a tempo para o almoço com o rei Stepjan Beaumont.
Ele beijou meu ombro, comigo ainda de costas para ele. Depois foi descendo lentamente com beijos molhados, fazendo meu corpo estremecer a cada toque. Fiquei imóvel. Foda-se o meu pai. Foda-se o almoço que pode estar envenenado. Foda-se Beatrice. Foda-se a merda da vida que eu levava. E foda-me, Samuel.
Virei-me para ele abruptamente, surpreendendo-o ao deixar sua boca exatamente na altura dos meus seios. Ele levantou seu corpo, me encarou e eu me aproximei ainda mais, deixando claro que eu queria aquilo.
- Que porra... Tá acontecendo... Aqui?
Vi Alexander na porta, segurando-se, a ponto de cair. Corri até ele, deixando que se apoiasse em mim. Com a irmã dele gemendo e rangendo a cama furiosamente no quarto ao lado, como ele chegou exatamente a mim?
Levei-o até uma cadeira que tinha ali.
- Vou buscar água. – disse Samuel.
- Não vamos jogar água nele. – falei.
- Vou pegar água para ele beber.
- Que porra... Você faz nua? O que... Aconteceu comigo?
Peguei rapidamente um vestido branco maior que o meu número e joguei por cima do meu corpo. Empurrei com o pé o vestido estragado. Alexander estava com a cara péssima.
Logo Samuel veio com água e ofertou a ele, que bebeu tudo de uma vez.
- Chame, Mia, por favor. – pedi. – Nós precisamos voltar para casa.
- Sim...
Ele saiu rapidamente. Levou em torno de dez minutos para Mia chegar, ainda ofegante. Vi em seu semblante o quão preocupada ela ficou ao ver Alexander naquele estado.
- A parte boa é que ele provavelmente não vai lembrar de nada depois. – disse Théo.
- Mas a minha consciência vai. – falei tristemente.
- Você vai superar isso. – disse Samuel colocando a mão sobre o meu ombro.
- Vamos levá-lo até o carro e rezar para que ele consiga ligar o carro e partir. – disse Théo.
- Ele não vai conseguir. Acho melhor vocês ficarem por aqui. – comentou Samuel. – É perigoso ele dirigir assim.
- Elas precisam estar em casa ao meio dia... Isto? – Théo olhou para Mia, que me encarou.
- Faremos o possível para que sim. – ela disse.
- Obrigada. – falei somente abrindo minha boca, sem emitir som.
Eles ajudaram Alexander a se levantar. Embora um pouco cambaleante, ele parecia estar bem. Samuel e Théo o colocaram no carro, no banco do motorista.
Eu estava indo para a porta quando Samuel me puxou, trazendo-me para junto de seu corpo. Olhei para cima, encontrando os seus olhos verdes imersos nos meus.
- Depois de tudo que aconteceu hoje, você não sai daqui sem eu beijar você.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa ou me opor, ele já estava com a boca na minha. Os lábios de Samuel era macios, grossos e enquanto sua língua tocava na minha, eu sentia o sabor dele junto do meu. Era meu primeiro beijo com alguém que realmente me interessava. Talvez por isso foi tão bom. Seus lábios devoravam os meus e eu senti um calor emanando do meu corpo e indo para minha intimidade, como seu eu precisasse de muito mais que aquilo. Seria normal? Ou meus hormônios adolescentes estavam em crise existencial?
- Precisamos ir. – ouvi Mia dizendo.
Ele me soltou a contragosto e eu entrei no carro. Ele abriu a porta novamente e me deu outro beijo, terno, nos lábios.
- Quero ver você novamente.
- Eu... Não sei se será possível. – lamentei.
Acho que nunca mais eu veria Samuel... Ou Estevan, ou qualquer coisa que estivesse fora dos muros do castelo de Avalon.
- Será sim... Nos encontramos na Avalon Club... Na próxima sexta.
- Samuel...
- Estarei lá, esperando por você.
- Eu...
- Por que eu estou tonto e confuso? – ouvi Alexander falar ligando o carro.
- Estarei esperando você, princesa. – ele piscou o olho.
Eu sorri. Não poderia dizer não ao meu príncipe safado.
Enfim, Alexander conseguiu mover o carro do lugar e estávamos indo em direção ao castelo, mesmo que ainda muito longe dele.
Era raro ele ficar em silêncio, mas naquele momento ele estava. Eu nem sei se ele havia se recuperado completamente recuperado do boa noite cinderela. Sim, eu era uma menina má e inconsequente... E certamente seria punida... Pelo próprio Alexander.
Por sorte chegamos ao castelo faltando dez minutos para o meio-dia. Corri o mais rápido que eu pude até o meu quarto, acompanhada de Mia. Enquanto eu tirava a roupa ela já me trazia outro vestido, que ia colocando em mim. Borrifei perfume e ela deixou meus sapatos prontos para serem calçados enquanto fazia um coque desarrumado nos meus cabelos. Deu-me um beijo e disse:
- Corra...
Eu saí voando pelas escadas, chamando a atenção de toda a guarda. E entrei na sala de jantar exatamente às doze horas, cumprimentando meu pai e minha assessora de imprensa/madrasta.
- Achei que se atrasaria. – observou meu pai.
- Jamais, meu pai. Nunca...
Desta vez Beatrice não estava próxima de meu pai e sim ocupando um lugar ao longo da mesa, tendo a mesma distância entre mim e ele. Aquele seria seu lugar oficialmente? Eu nem tinha tempo para pensar sobre Beatrice ou as atrocidades de meu pai. Eu estava tão cansada que tudo que eu queria era acabar logo com aquilo e dormir.
- Beatrice acha que você deve dar uma entrevista e publicarmos numa revista de grande circulação, sobre o que você pensa com relação ao casamento. – disse meu pai.
- Isso nunca foi o combinado. Não seria absoluta discrição até o dia da coroação e casamento? Por que isso agora?
- Também não era o combinado você sair por Avalon como se fosse uma desconhecida e ainda assim aconteceu. – ele observou.
Respirei fundo. Será que realmente havia sido ideia de Beatrice? Ou de meu pai. Por que trazer a tona uma princesa que nunca foi conhecida pela imprensa até aquele momento? Os planos sempre foram claros e agora parecia que estavam mudando. Qual seria o próximo passo? Cancelar o casamento... Ou a coroação, o que era mais provável.
- Se vocês acham que é o melhor para mim, aceito. – falei tentando encurtar a conversa e não estender ainda mais o meu tempo com eles.
- Que bom que achou uma boa ideia. – ela disse sorrindo.
- Eu não disse que achei uma boa ideia. – encarei-a friamente, vendo seu sorriso se desfazer.
Foda-se você também, Madrasta má. Agora eu entendia porque tradicionalmente toda princesa tinha uma madrasta má... Era porque elas realmente existiam... Caçadoras de reis em nome de uma tiara de brilhante na cabeça. Totalmente falsas e artificiais.
Por sorte meu pai não falou nada e ela não revidou. Nos limitamos a comer. Eu não sentia fome. Sempre aos domingos meu apetite não existia... Acho que pela tensão do momento. Também não era colocado na mesa nada do que eu gostava e sim as preferências do meu pai, que obviamente não eram as minhas.
Assim que ele pediu licença e levantou-se, eu pedi permissão para retirar-me.
- Podemos conversar logo mais sobre a entrevista? – pediu Beatrice.
- Será que podemos deixar para amanhã? Eu não estou me sentindo muito bem hoje... Estou um pouco cansada e gostaria de repousar em meus aposentos. – falei como uma princesa, sorrindo encantadoramente. Como eu conseguia ser assim tão falsa?
- Tudo bem. Amanhã então?
- Claro. Será um prazer recebê-la na sala de imprensa, Beatrice. – falei deixando claro que intimidade estava fora da nossa relação.
- Obrigada, Alteza. – ela disse curvando-se.
Eu sorri e saí. Fui imediatamente para o meu quarto. Entrei na banheira e deixei a água quente subir aos poucos até encobrir todo o meu corpo. E fechei meus olhos, tentando relaxar, ainda sentindo os beijos de Samuel pelo meu corpo e os olhos de Estevan sobre mim.
Acho que acabei cochilando ali, deitada na borda da louça branca. Levantei, com o corpo ainda cheio de espumas e sequei-me. Coloquei uma camisola confortável e deitei na minha cama macia e perfeita. Senti meu corpo pronto para repousar por muito tempo. No fim, tudo havia dado certo, por questão de minutos.
Acordei sentindo um aperto no meu pescoço e o ar faltando em meus pulmões. Tentei levantar, mas fui impedida com a força da mão que afundou ainda mais, me machucando. Adeus, Avalon... Provavelmente meu pai encomendou minha morte mais cedo do que eu esperava.