Capítulo 19
1968palavras
2022-12-11 07:01
A parte de Théo estar cursando a faculdade estava compreendida agora.
Ele nos ofereceu uma mesa bem na frente do palco.
- Onde está Samuel? – perguntei.

- Ele está se preparando para entrar no palco.
Percebi que havia bastante gente. Estava quase cheio o local. E por que aquela mesa, que eu poderia dizer que era a de melhor localização, estava vazia?
- Reservou este lugar para elas? – perguntou Alexander.
- Sim... “Para elas”... – ele disse.
- Como sabia que elas viriam?
- Satini garantiu. – ele disse piscando para mim.

Bem, então ele havia falado com Samuel sobre o ocorrido na casa noturna. E Samuel falou sobre mim. Isso me deu uma pontinha de felicidade, embora eu não quisesse mais me iludir com nada. Eu tinha tantos problemas para resolver agora que me apaixonar e conhecer o amor da minha vida havia ficado para escanteio. Acho que eu ia ficar só com o sorvete de casquinha derretido... E a parte do carro seria no de Alexander mesmo. Os desejos do que fazer nestes meses foram ficando tão pequenos quanto o sentimento que eu começava a nutrir por meu pai.
- Você vai mesmo ficar aqui a noite toda? – perguntou Mia para o irmão.
- Vou. – ele garantiu.
Ah, não vai mesmo... Pensei comigo mesma.

Pedi um drinque e em pouco tempo as luzes ficaram mais fracas, voltando-se para o palco. E ela estava ele: Samuel Leeter, ainda mais lindo do que lembro de tê-lo visto naquela outra noite. Vários aplausos e assobios começaram antes mesmo de eles começarem a tocar. Sim, tinha alguns outros homens junto, mas eu não consegui prestar atenção neles. Ouvi gritinhos ansiosos de algumas garotas e palavras como “Lindo”, “gostoso”...
- É normal... – disse Alexander me vendo confusa. – Loucas... Histéricas.
- Eu... Vou ao banheiro. – disse Mia. – Vem comigo, Satini?
- Não... Por nada no mundo. – falei não retirando meus olhos do guitarrista, na torcida para que ele me visse.
Alexander ficou na dúvida entre ir com a irmã e me deixar sozinha, ou ficar comigo e deixar a irmã sem cuidados. Então ele optou por ficar comigo, infelizmente.
Mas eu não me importei. Quando meus olhos encontraram os de Samuel Leeter eu senti algo dentro de mim que me deixou confusa. Ele abriu um sorriso, que não pude deixar de retribuir. Não tenho certeza se ele era só o meu passaporte para a Coroa Quebrada... Aquele sorriso lindo me deixava completamente rendida.
- Ele faz isso para todas. – disse Alexander. – Acha mesmo que ele não dormiu com metade das garotas que estão aqui?
Eu não me importei com as palavras dele. Eu só queria ver o que ele sabia fazer com aquela guitarra que ele carregava tão seguro. E já que dormiu com metade delas, que fizesse o mesmo comigo.
Então eles começaram a tocar. E eu percebi que ele realmente era muito bom no que fazia. Algumas pessoas começaram a dançar. Eu gostei do ritmo, embora soubesse bem pouco sobre. Mas dava vontade de me balançar e conseguia entrar na minha mente e coração de forma agradável. Não sei se era porque ele tocava perfeitamente ou porque rock era algo bom mesmo.
Mas pensei no que faria quando ele descesse dali e acabasse o show. Sentaria junto de mim, Mia e Alexander? Certamente não.
Curti ao máximo a música, que todos cantavam junto, menos eu, que não conhecia. Pedi mais uma bebida enquanto Alexander tomava água. Mia não voltou e ele não percebeu ou fingiu não se dar conta. Procurei Théo com os olhos e também não o encontrei. Sorri. Mia estava aproveitando. Acho que eu precisaria ir ao banheiro em breve também. Só assim me livraria dele.
Pedi outra bebida e o show acabou. Samuel desceu e algumas garotas o cercaram. Ele atendeu todas com sorrisos e eu não conseguia deixar de olhá-lo.
Enfim, ele conseguiu chegar até mim:
- Tive esperanças que viesse...
Eu levantei e dei um beijo no rosto dele.
- Seja bem vinda, Satini Kane.
- Obrigada...
- E você também irmão. – ele sorriu ironicamente para Alexander. – Um prazer vê-lo aqui.
Alexander ficou furioso, mas não disse nada. Tomou um gole de água e eu tinha quase certeza que ele tinha vontade de esmurrar a cara linda de Samuel.
- Eu... Gostei da música. – falei.
- E do lugar?
- É... Diferente. Mas um diferente bom.
- Fiquei com medo que fosse muito diferente do que está acostumada... E que ficasse um pouco chocada.
- Claro que ela ficou. – se meteu Alexander.
- Quer... Vir comigo até o bar? – ele perguntou.
- Não, ela não quer. – ele disse.
- Eu... Acho que Mia precisa de ajuda, Alexander. Ela não aparece aqui há um bom tempo. Será que não foi raptada? – ironizei.
Mas por incrível que pareça aquilo o deixou confuso. E acho que ele realmente ficou com medo do que poderia ter acontecido com Mia.
- Não saia daqui. – ele mandou.
Levantou e saiu. Samuel riu:
- Você sempre traz o guarda-costas?
- Infelizmente sim. – falei revirando os olhos em desagrado.
- Então... Não vamos poder conversar a sós? Nunca?
- Bem, eu tenho um plano. Mas pode demorar um pouco.
- Eu vou para mais um bloco depois.
- Um bloco? – perguntei curiosa.
- De música. – ele riu.
- Entendi... Neste meio tempo ponho meu plano em prática.
- Posso saber o que você vai fazer?
- Depois eu conto... Caso dê certo.
Uma garota veio até ele. Usava um vestido curto e tinha longos cabelos loiros que caíam por seus peitos e os seus seios quase à mostra. Eu não mostrava os meus seios, mas cada curva do meu corpo estava exposta e eu me senti quase nua. Então sentei enquanto ela dizia:
- Sam, eu amo você.
- Que bom que admira meu trabalho. – ele disse simpaticamente.
- Pode me levar embora depois do show?
- Para onde?
- Para onde você quiser. – ela disse sedutoramente.
Ele sorriu:
- Eu tenho um compromisso...
- Que pena... Se mudar de ideia, estou disponível.
- Ok... – ela disse me olhando e saindo não muito satisfeita.
- Isso é estranho. – eu falei olhando para ele.
- Estou acostumado.
- E costuma levar todas embora? – perguntei curiosa.
Ele riu alto:
- Nem sempre. Só as que moram mais perto.
Arqueei minhas sobrancelhas sem ter certeza se ele estava falando sério ou brincando.
Alexander voltou com Mia, sozinha. Ela sentou-se furiosa na cadeira, cruzando os braços:
- Quando você vai crescer, Alexander?
- Quando você crescer. – ele afirmou.
- Acho que elas estão bem crescidinhas. – disse Samuel.
- Você não deve se intrometer. É conversa de família.
- Que bom... Então estou fora. – observei.
- Não mesmo... Sou responsável por você. – ele alegou.
- Não mesmo... Você disse que não são irmãos. – ironizou Samuel.
- Ela sabe do que estou falando, não é mesmo, Satini?
- Não... Realmente não sei, Alexander.
Alguém bateu no ombro de Samuel e disse:
- Vamos? Está na hora.
- Eu preciso voltar ao palco. – ele falou tomando um gole da minha bebida. – Nos encontramos depois.
Enquanto ele se dirigia ao palco virou de costas e disse:
- Se quiser, a levo embora depois Satini.
Eu sorri e ele piscou.
- Eu não vou me demorar aqui. – disse Alexander de mau humor.
- Vou ao bar. – falei me levantando e sentindo os olhos dele me seguindo.
Pedi uma bebida forte ao barman, que logo me entregou um copo com algo transparente, que eu não fazia ideia do que fosse. Aproveitei um minuto de distração à minha volta e coloquei os dois comprimidos dentro da bebida.
Voltei para a mesa e sentei bem próxima a Alexander, que permanecia irredutível. Encostei minhas pernas na dele, que me olhou atentamente.
- Mia, será que poderia pegar uma água para mim? – pedi. – Acabei esquecendo.
Ela me olhou confusa, mas foi. Alexander me fitou arqueando a sobrancelha:
- Vai dizer que quer me seduzir agora, princesa?
- Sim... Eu quero.
Ele me olhou atentamente:
- Você é louca, Satini.
- Eu quero beber isso com você, Alexander... Mas não aqui... No carro.
Ele me olhou perplexo:
- Acha que eu faria isso?
- Acho... Eu sei que você me quer.
- E por que você me quereria agora? Acabei de ver a forma como você olha para o otário do guitarrista.
Levantei e andei dois passos. Virei a cabeça e disse:
- Espero você no carro.
Fui andando até a porta torcendo para que ele me seguisse. Era um risco ele não cair no meu plano. Mas se eu não tentasse, não teria chance de dar certo. Eu sabia que quando ele acordasse, me mataria. Mas que entrasse na fila... Não seria o primeiro a querer o meu pescoço. Aliás, eu acho que tinha até lista de espera para me matar. Então eu faria ele dormir e beijaria Samuel Leeter ante de ser enterrada.
E eu estava certa. Ou meu poder de sedução era muito forte ou ele gostava realmente de mim. Até me senti um pouco culpada pelo que estava preste a fazer. Mas então lembrei da forma como ele me tratava e das coisas horríveis que ele me falava. E tive a certeza de que ele merecia dormir por um tempo e me deixar viver a vida, assim como sua irmã também precisava fazer aquilo.
Ele abriu a porta do carro e eu entrei no banco da frente, colocando a bebida no console do para brisa.
Ele me olhou confuso:
- O que você quer?
- Eu quero você... E uma bebida... Nada mais.
- Satini, eu não acredito em você...
Eu fui em direção a ele e peguei seu rosto com minhas mãos, lhe dando um beijo leve nos lábios. Em segundos ele me apertou, tomando-me em seus braços e colocando sua língua quente dentro da minha boca. Era só um plano, mas o beijo fazia parte dele... E que ele beijava bem eu não podia negar. Então quando vi eu estava entregue a Alexander, sentindo suas mãos passeando pelas minhas costas e chegando nas minhas nádegas. Emaranhei seus cabelos louros e quase compridos em meus dedos e o puxei para perto de mim, sentindo meu corpo estremecer ao toque dos dedos dele na minha pele.
Afastei-me abruptamente. Eu não podia fazer aquilo. Eu não queria fazer aquilo. Era Alexander que estava ali...
Fiquei em silêncio, tentando recuperar meu fôlego. Depois fingi beber um pouco do que tinha no copo.
- Preciso disso. – ele falou pegando o copo da minha mão e tomando tudo de uma vez. – Isso é... Vodca. – fez uma careta.
Eu ri. Acho que raramente ele bebia. E eu não tinha ideia do que havia ali dentro. Desculpe-me... Pensei.
- Pela primeira vez... Eu senti que você retribuiu o meu beijo. – ele disse me olhando nos olhos.
- Eu... Não... – fiquei confusa.
- Eu sei que você está comprometida... E ao mesmo tempo que não se importa com o que vier a acontecer antes. E jamais foi minha intenção casar com a futura rainha de Avalon.
- Então quais são suas intenções, Alexander? Me “foder”? – perguntei provocante, sabendo que ele odiava aquele palavreado vindo da minha santa boca de princesa.
- Por que você insiste em falar como uma... Qualquer? Quero... Você... Mais do que deveria.
Comecei a falar coisas aleatórias e em poucos minutos ele recostou a cabeça no banco adormecido feito um bebê. Abaixei um pouco o assento para ele ficar mais confortável... Acho que eu não era tão má.
- Boa noite, meu príncipe!