Capítulo 20
2134palavras
2022-12-11 07:02
Abri a porta do carro e desci. Dei uma última olhada, só para ter certeza de que ele realmente estava dormindo. Bati a porta e me virei rapidamente, batendo meu corpo abruptamente em alguém. Levantei meus olhos e meu coração quase parou de bater enquanto segurei minha respiração por alguns segundos, tentando não surtar. Era ele... Ali, naquele lugar. O bondoso e parece que mais lindo que na noite anterior... Estevan. Ele me fitou e estávamos tão próximos que nossos corpos quase se tocavam. Eu consegui dizer:
- Me desculpe...
- Você? Eu conheço você... E conheço também o brinco que você usa no seu nariz. – ele balançou a cabeça confuso.

Afastei-me, dando um passo para trás e tentei me recompor. Percebi que ele estava novamente acompanhado de dois homens. Não tenho certeza se eram os mesmos da noite anterior, pois mal consegui prestar atenção em qualquer coisa sem ser ele.
Parece que estávamos hipnotizados. Os olhos dele também não conseguiam desviar dos meus.
- Estevan, vamos? – falou um deles.
- Podem ir andando... Eu já vou. – ele falou sem olhá-los, ainda me encarando.
Eu poderia dizer mil coisas... Mas por que as palavras morriam nos meus lábios? Eu não conseguia falar nada, das tantas coisas que pensei quando o reencontrasse. E eu não era aquele tipo de pessoa, pelo contrário, eu costumava falar até mais do que devia.
Ele me olhou atentamente, da cabeça aos pés e depois falou:

- Quando eu me referi a você tentar arranjar um emprego eu não quis dizer que devia cair no primeiro que aparecesse... Eu... Não quero me meter na sua vida, sequer a conheço... Mas... Poderia tentar fazer outra coisa... Parece tão jovem para... Vender o próprio corpo nas ruas.
Como assim? Eu ri incrédula, sem conseguir desviar os olhos dele:
- Você... Está me chamando de prostituta?
Ele não disse nada. Bati na cara dele:

- Seu otário... Eu não sou uma prostituta.
Ele levou a mão ao rosto, completamente confuso. Ouvi risos dos seus amigos... Aquilo não era uma brincadeira e sequer engraçado. Eu não era uma mendiga, muito menos uma prostituta.
- Quando você me confundiu com uma mendiga, eu não disse nada... Achei gentil da sua parte tentar me ajudar. Agora você acha que me prostituo? Por quê? Por causa da roupa que eu visto?
Ele pareceu querer dizer algo, mas não disse. Percebi que o rosto dele ficou imediatamente vermelho, pois ele tinha a pele bem branca e pelo visto sensível, afinal eu já dei vários tapas na cara de Alexander e ele nunca nem ficou marcado. Apesar de Estevan ter tido uma atitude horrível comigo, eu fiquei um pouco arrependida do que fiz.
- Eu... Não quis julgar.
- Mas julgou... O tempo todo, desde que me viu pela primeira vez.
- Me desculpe... Você tem razão. Eu julguei.
Eu balancei a minha cabeça, confusa. Era um misto de emoções que eu sentia... Ou que ele me causava. Acho que eu esperava que ele fosse um príncipe... No sentido de bondoso, gentil, lindo... É isso que se espera de um príncipe, pelo menos nos filmes. Eu nunca tinha conhecido um de verdade. No fim, ele não era nada daquilo. Era um homem normal, como todos os outros. Talvez Alexander não fosse tão horrível. Talvez Samuel fosse mais real que Estevan, pois não fingia ser algo que não era. Mas acho que Estevan também não fingir ser quem não era... Ele simplesmente era daquele jeito e eu sequer o conhecia. Também não podia julgá-lo. Ele só não era da forma como eu o imaginei.
- Eu... Preciso ir... – disse sem me mover.
Eu nem tinha para onde ir... Ou tinha? E por que eu não consegui andar?
- Eu... Realmente peço mil perdões.
- Talvez eu tenha errado na roupa para vir neste lugar. – dei um sorriso um pouco mais gentil, tentando me acalmar enquanto meu coração desacelerava.
- Eu... Achei que ficou legal você ter colocado meu brinco no seu nariz... – ele sorriu um pouco sem jeito, arrancando toda a muralha que eu tentei colocar entre nós depois de ele me chamar de prostituta. – Quis dizer que ficou bom... Bonito em você.
Se eu estava confusa (e eu realmente estava)... Ele parecia estar pior que eu. Porém eu vinha de dentro de um castelo. Eu não conhecia ninguém aqui fora. Eu não sabia lidar com os homens, muito menos com os sentimentos. Mas e ele? Já não devia saber melhor como cortejar uma mulher? Seria cortejar o nome certo?
- Você... Mora por aqui? – perguntei de repente, tentando puxar conversa para ele não se ir tão rápido quanto como chegou.
- Não... Bem longe daqui. E você?
- Também... Longe.
- E... Nos encontramos aqui... – ele sorriu. – Eu sou Estevan...
- Satini. Desculpe... Pela bofetada. Mas fiquei muito brava.
- Eu entendo... E a desculpo. Estou me sentindo péssimo. Eu realmente não sou este tipo de pessoa que aparentei ser. Gostaria realmente de me redimir.
Estevan, como além de lindo você consegue ser tão educado? Depois de me chamar de prostituta você tentar se desculpar como um anjo, com seus belos olhos brilhantes e seu sorriso fofo que me faz derreter como sorvete no fogo.
- Estevan... Está ficando tarde... Você vem ou não? – perguntou um dos rapazes que estava com ele, a alguns passos de nós.
Não vá! Por favor! Só mais um pouco!
- Eu... Acho que preciso ir. – ele sorriu e fez um gesto de desagrado com as mãos.
- Boa noite.
Como assim boa noite? É isso que você tem a dizer a ele? Melhor do que ficar com cara de boba e talvez convidá-lo para sair. Você poderia convidá-lo? Sim... Mas se ele já achou que você era uma prostituta agora vai achá-la uma oferecida. Por que minha mente era tão rápida?
Ele virou-se e saiu, andando devagar. Fiquei observando-o se distanciar de mim e meu coração ainda batia tão forte que eu quase conseguia senti-lo dentro da minha garganta.
- Estevan? – me ouvi falando.
Cale-se, Satini. O que você vai dizer agora? Você tem algo para dizer a ele? Qualquer coisa que o faça ficar mais um minuto... Um minuto sequer.
Ele se virou surpreso, com as mãos nos bolsos da calça:
- Fale...
- Você... Pagaria por mim se eu fosse uma prostituta?
Céus, como eu tive coragem de falar aquilo? Eu era uma garota virgem, de 17 anos, futura rainha de Avalon e perguntava aquilo a um homem que eu não conhecia. Eu estava ficando louca? Parecia que ele me deixava fora de mim.
- Claro que eu pagaria. – ele sorriu. – Se eu lhe dei o brinco, também lhe daria o dinheiro, sem problema. Mas eu já acho agora que você não precisa dele... De nenhuma forma... Nem como mendiga, nem como prostituta.
Eu ri... Acho que ele não entendeu o que eu quis dizer.
Então ele concluiu:
- Na verdade eu quis dizer que... Eu pagaria para ficar com você por um determinado tempo, se assim posso dizer de forma não ofensiva...
- E eu teria ficado com você de graça. – confessei sentindo meu coração bater intensamente, sabendo que poderia ser nossa última chance.
Ele me encarou incerto de seguir seu caminho ou ficar. Enquanto ele tinha dúvidas, Samuel apareceu na porta do Night Rock, no pior momento que poderia haver e gritou:
- Satini, vai ficar aí na rua ou entrar?
Fiquei olhando para ele, depois voltei meus olhos para Estevan e disse:
- Eu... Preciso ir.
- Eu estou perto do castelo, num loft. – ele disse.
- Eu... Moro lá perto.
- Então... Acho que nos encontraremos por aí novamente. – ele falou sorrindo.
E se nunca mais nos encontrarmos? Vamos contar com a sorte ou o destino?
- Sim... – eu sorri. – Certamente.
Ele virou e se foi e eu atravessei a rua e fui até Samuel, que me esperava.
- Quem é ele? – quis saber Samuel.
- É... Só alguém que conheci aqui na rua. – falei observando Estevan tomar novamente a posição entre os dois amigos, partindo sem olhar para trás.
- Precisa tomar cuidado por aqui, princesa... Temos pessoas não tão ingênuas como você por esta rua. – ele falou parecendo preocupado.
Eu só pensei em porque ele continuava a me chamar de princesa.
- Isso quer dizer que devo tomar cuidado com você? – perguntei seriamente.
- Comigo? – ele fingiu pensar, colocando o dedo indicador no rosto. – Lamento dizer, mas sempre que estiver comigo, você corre perigo.
- Eu... Adoro perigo. – falei rindo.
Ele riu e me puxou pela mão, me levando novamente para dentro do bar, sem me deixar ver Estevan desaparecer da minha vista por completo... E talvez para sempre.
Eu estava tão confusa que nem sei como em minutos eu já estava sentada num banco pouco confortável, de frente para o bar, ao lado dele.
- Está tudo bem com você? – perguntou.
- Sim... Tudo bem... Por que a pergunta?
- Não sei... Você parece estranha, tensa...
- Não... Estou bem mesmo.
- E o que fez com seu guarda-costas?
Olhei-o confusa novamente... Quem era aquele homem? Primeiro me chamava de princesa e parecia também saber que Alexander era o meu guarda-costas.
- Eu... Dei uma bebida com comprimidos para ele dormir. – confessei um pouco sem jeito.
Ele me olhou, arregalando os olhos:
- Você o quê?
- Eu fiz ele dormir... Por um bom tempo.
Ele gargalhou:
- Satini, de que mundo você vem?
Olhei-o sem entender. Senti os olhos dele dentro dos meus:
- Às vezes sinto que você é tão ingênua, que parece que nunca andou pelas ruas de Avalon. E outras parece que você é muito mais esperta e experiente do que eu.
- Eu... Sou só uma garota normal. – tentei me defender e fazer com que ele pensasse menos sobre mim.
- Bebe algo? - ele perguntou ainda com o sorriso no rosto.
- Qualquer coisa...
Ele chamou o barman e pediu duas bebidas que eu não sabia o que era. Claro que ali também todos o conheciam.
- Você conhece todo mundo em todos os lugares? – perguntei.
- Não acha que terá problemas quando seu irmão que não é seu irmão de verdade acordar?
Ele parecia mais preocupado do que eu.
- Talvez... Mas ele vai me perdoar. – falei quase certa de que sim.
Ou não?
- Se você diz... – ele levantou os ombros.
- Onde está Mia? – perguntei enquanto a procurava com os olhos.
- Ela não está aqui.
- Como assim?
- Está no bar, mas não aqui, neste espaço.
- Onde exatamente ela está? – fiquei preocupada.
- Ela está bem.
- Como eu posso saber, Samuel?
- Relaxa, Satini. Ela está com Theo.
- Por isso mesmo eu estou preocupada.
- Acha mesmo que deve se preocupar com isso?
- Acho.
- Acho que não... Eles são bem grandinhos. Você deu boa noite Cinderela ao seu amigo e agora está preocupada com ela? Hora de se divertir... Não foi para isso que você apagou ele?
- Bem... Foi... – confessei.
Enquanto o barman botava as taças de bebidas na nossa frente, uma garota parou e disse:
- Sam...
Ele virou-se e ela deu um beijo na boca dele. Não tenho certeza se ele correspondeu, mas um selinho também não foi. Fiquei olhando timidamente e me sentindo constrangida com a situação. Assim que ela o soltou, ficamos os três nos olhando, o que me fez ficar ainda pior.
- Não me apresenta sua nova amiga? – ela perguntou me olhando com desdém.
Ela era loira, mas muito loira. Tinha cabelos ondulados, mas não naturais, com uma franja grossa que cobria até quase os seus olhos azuis. Usava um vestido que mostrava cada curva do seu corpo, porém de um tecido certamente mais confortável que o meu, que eu já sentia o suor escorrendo pelas minhas costas e debaixo dos meus seios. E aquela sensação não era nada boa.
- Esta é Satini... – disse Samuel um pouco sem jeito.
Antes que ele dissesse o nome dela, ela estendeu a mão para mim e sorriu, mostrando seus belos dentes perfeitamente alinhados em sua boca grande a com lábios grossos:
- Isabella... Ex e futura namorada dele.
Ex? Imagina o que faziam quando ainda estavam juntos... O mundo fora dos muros de Avalon era bem diferente do que eu via na internet e na TV a cabo. E eu que pensei que era ousada e audaciosa. Eu era na verdade uma virgem tapada. E isso não me levaria a ser uma boa rainha. Eu precisava aprender mais... Muito mais para chegar onde eu queria.