Capítulo 14
2438palavras
2022-12-11 06:58
Lá estava eu sentada no meu closet sem ter a mínima ideia do que vestir para sair naquela noite. A roupa de sexta-feira havia sido uma péssima escolha. Fui confundia com uma mendiga. Tudo bem que talvez se não fosse a roupa e o acidente com meu sapato talvez o lindo Estevan não tivesse me dado atenção.
Por sorte Mia entrou.
- Dúvida do que vestir, princesa?

- Ironicamente tenho tantas peças que acabam me atrapalhando na hora da escolha. Realmente não sei exatamente o que vestir.
- Sei que tento ajudar, mas não esqueça que também conheço bem pouco destes lugares, assim como você. Acho que como não comprou mais peças na loja naquele dia, terá que usar um de seus vestidos caríssimos.
- Você fez bem em escolher tantas coisas. – observei arrependida de não ter feito o mesmo. – Agora só me sobra o que tenho aqui... Tudo impróprio para uso fora do castelo.
- Eu não diria impróprio, Satini. Coloque algo legal e não se importe em não parecer com os outros. Você não é como todo mundo e nunca será. Só seja você mesma e isso será o suficiente, acredite.
- E se não gostarem de mim?
- Se não gostarem de você, não a merecem, minha amiga.

- Obrigada, Mia. Você tem sempre as palavras perfeitas para mim.
- Te encontro aqui em uns 40 minutos, pode ser?
- Pode.
- Precisa de ajuda para maquiagem ou cabelo?

- Cabelo. – eu sempre precisava de ajuda com meus cabelos.
- Ok.
Eu escolhi um vestido preto, simples, sem detalhes, justo no busto e que ia alargando para a parte de baixo. Finalizei com um scarpin da mesma cor e uma gargantilha fininha, que não chamava muito a atenção. Optei por uma maquiagem um pouco mais carregada e um batom num tom mais vivo, embora não fosse vermelho. Eu gostava de me arrumar para sair num lugar cheio de gente, onde eu poderia conversar, dançar e fazer tudo como uma pessoa normal. Sem contar o fato de beber o que eu quisesse. E não teria ninguém me observando atentamente: se eu iria sorrir, como pegaria meus talheres, se estava vestida de forma correta, para onde meus olhos se concentrariam... Eu não reclamava da minha vida na realeza, mas poder desfrutar de uma vida normal uma vez na vida era absolutamente perfeito. Eu aproveitaria aquela oportunidade que eu estava tendo com muita gratidão e não deixaria nada escapar... Nada mesmo. Eu me sentia como um pássaro saindo pela primeira vez do ninho. E eu não tinha medo de voar... Pelo contrário, queria ir cada vez mais alto.
Mia entrou e sem eu falar nada começou a pentear meus fios castanhos escuros e lisos.
- Vamos deixar seus cabelos soltos. – ela decidiu.
Eu sorri:
- Ok, você quem manda, Mia.
Uma gota do meu perfume favorito e eu estava pronta. Mia também usava um vestido, um pouco mais longo que o meu. Minhas pernas ficavam bem expostas e mostravam minha boa forma sob o vestido.
Quando descemos, percebi os olhares da guarda real sobre nós, de soslaio, pois eles não podiam se mover, muito menos demonstrar qualquer tipo de reação... Muito menos desejo. E meu objetivo era exatamente este: causar desejo em alguém especial naquela noite. Além de rever o homem que me entregou o seu brinco valioso, mesmo sendo a única coisa que tinha com ele de valor.
Alexander abriu a porta de trás para eu entrar e não conseguiu deixar de passear os olhos pelo meu corpo.
- Você está... Linda, princesa. – ele disse.
Mia sentou na frente e disse:
- Que fofo, Alexander: você sabe elogiar e ser gentil.
Ele imediatamente fechou a cara e começou a dirigir. Acho que ele não gostava de elogios. Parecia gostar de ser arrogante e prepotente... Ou pelo menos que pensassem isso dele.
- Não entendo porque voltarmos ao mesmo lugar. – ele reclamou. – Há inúmeros outros lugares que podemos ir.
- Eu quero. – aleguei.
- A princesa quer rever alguém.
Ele virou a cabeça para trás, me encarando:
- Como assim?
- Vire para frente e dirija, Alexander. – ordenei um pouco preocupada com a falta de atenção dele.
Mia não deveria ter falado aquilo. Eu sabia que agora ele ficaria irado novamente. Mas ela não tinha culpa, pois não sabia o que acontecia entre mim e seu irmão. Afinal, o que acontecia entre mim e Alexander?
- Nada importante. – menti.
- Estou brincando, irmão. – ela disse batendo no braço dele, rindo.
Certamente Mia percebeu que havia cometido um erro e tentou voltar atrás.
- Eu... Realmente não vi vossa Alteza com ninguém naquela noite. – ele disse.
- Até parece que você teve tempo para me observar, Alexander. Você estava bem ocupado, pelo que lembro. E a maior parte do tempo passou de olhos fechados. – eu ri.
Ele não disse nada. Em pouco tempo Alexander nos deixou na frente da Avalon Club e foi estacionar. Esperamos exatamente no lugar onde conheci o homem do meio, há dois dias. Eu o encontraria novamente? Sabia que era como achar uma agulha num palheiro. Mas eu não o deixaria escapar se o visse novamente. Por quê? Eu não sei. Ele mexeu muito comigo. Talvez pelo fato de ser o primeiro homem que conheci fora do castelo, pertencente a Avalon. Se eu o visse novamente, talvez meu coração não batesse tão forte como naquele dia e eu percebesse que não havia nenhum tipo de sentimento e que aquilo tudo que meu corpo produziu ao vê-lo era absolutamente normal.
Logo Alexander chegou e ignoramos a longa fila, entrando sem esperar com o passaporte vip dele, que na verdade acho que era meu.
O local estava lotado, como anteriormente.
- É sempre cheio de pessoas aqui, independente do dia? – perguntei para ele levantando minha voz, para ser ouvida entre a música alta que tocava.
- Sim... Por estes lados de Avalon a vida segue sempre normal e divertida, de segunda a segunda. Quem frequenta este local são pessoas como você... Que tem dinheiro e nenhum tipo de compromisso no dia seguinte.
Encarei-o sentindo o desdém nos olhos dele. Talvez o problema de Alexander não fosse comigo e sim com ele mesmo. Peguei Mia pela mão e abri espaço entre a multidão, o deixando sozinho.
Paramos próximo do bar e Mia começou a dançar. Eu tentei me embalar ao som da música, mas não conseguia acompanhá-la. Por sorte Alexander pegou uma bebida, provavelmente sem álcool, pois ele era muito responsável para beber enquanto trabalhava. Sim, eu era o terrível trabalho dele, embora ele recebesse bem para aquilo.
- Satini, estou vendo Théo. – disse Mia no meu ouvido, empolgada.
- Onde? – perguntei tentando achá-lo na multidão enlouquecida.
- Ele... Está me chamando.
- Eu quero vê-lo...
Ela me pegou pela mão:
- Vamos.
Em pouco tempo paramos próximas ao bar, onde o moreno forte e bem barbeado sorria encantadoramente. Ele realmente era bonito. E identifiquei-o como Théo pela forma como ele olhou para Mia: ternamente.
Ao lado dele, o homem absolutamente mais perfeito que eu já vi, aqueles que você sonha uma vida inteira e nunca imagina um dia conhecer pessoalmente.
- Satini, minha amiga. – disse Mia. – Satini, este é Théo.
Théo me deu um beijo no rosto, mas eu pouco consegui me concentrar nele, pois não conseguia tirar os olhos de seu amigo, ou conhecido... Ou será que eles estavam realmente juntos ali?
- Este é meu amigo, Samuel. – ele apresentou.
Samuel, olhos claros, pele clara, cabelos desarrumados, não sei se de propósito ou não, rosto quadrado e masculino. Usava uma camisa preta que deixava parte do seu peito aparecendo. Céus, ele me fez suar sob o meu vestido. E eu não lembro de alguém ter me causado aquilo algum dia: calor, fogo... Minha calcinha estava molhada? Deus, de que inferno ele saiu? Também nunca alguém me olhou com tanta intensidade, como se descobrisse os meus maiores segredos, como se entrasse dentro de mim através do meu corpo, chegando até a minha alma.
- Eu sou... Satini. – falei estendendo a minha mão delicadamente para ele.
Ele a beijou e disse:
- Boa noite, princesa.
- De... De onde você me conhece? – perguntei surpresa e preocupada, sentindo meu coração acelerar.
Ele riu, mostrando o sorriso mais lindo e encantador que eu já vi na vida.
- Ela é real? – ele perguntou para Mia.
- Não, mas poderia ser da realeza. – ela disse timidamente.
- Prazer, seu príncipe. – ele disse seriamente, fazendo meu sangue ferver dentro de mim.
E Estevan? Quem é mesmo Estevan? Samuel era o meu príncipe... Ou não.
Mia começou a conversar com Théo e em pouco tempo eles trocaram um beijo apaixonado. Acho que ela teve sorte ao encontrá-lo ali... Muita sorte.
- Bebe algo? – Samuel me perguntou, sorrindo quando viu Mia e Théo agarrados.
- Aceito.
- Tem lugar do meu lado, princesa. Aceita? – ele colocou a mão no banco almofadado que dava para o bar e em frente à pista de dança.
Eu sentei ao lado dele e disse:
- Não precisa me chamar de princesa.
Ele sorriu:
- Como você quiser, Satini. Era só uma brincadeira. Geralmente as garotas gostam de ser chamadas de princesa.
- Sério? Que tipo de garotas você conhece? – perguntei achando ridícula a cantada que ele usava com as mulheres.
- Bebe o quê?
- Deixo você me apresentar algo diferente, que eu vá gostar. Não tenho uma vasta experiência em bebidas. – confessei. Me mostre o que você sabe, garoto perfeito.
- Hum... – ele disse colocando o dedo indicador no queixo. – Já sei.
Ele chamou o barman e eu não ouvi o que ele pediu. Então realmente seria uma surpresa.
- Onde você mora? – ele perguntou.
- Aqui perto. E você?
- Bem longe daqui. – ele sorriu novamente. – Estamos em mundos diferentes, pode ter certeza.
- Mas então o que você faz deste lado? – questionei na dúvida se ele se referia a Coroa Quebrada.
- Se eu disser que não era para estarmos aqui, você acreditaria?
- Não... Visto que estavam na sexta-feira.
- Estavam? Não exatamente... Théo estava. Eu não.
- Então Théo não é do mesmo lugar que você?
- Mais ou menos.
- Então não é tão raro vê-los por aqui, não é mesmo?
Ele balançou a cabeça rindo:
- Enfim, era para eu estar tocando num lugar aqui perto. No fim, cancelaram na última hora e acabei vindo para cá com Théo. E não, ele não vem sempre aqui. Mas na sexta conheceu sua amiga. Então hoje ele insistiu para vir a fim de tentar encontrá-la novamente.
Eu sorri:
- Então era desejo dos dois se reencontrarem.
- Nós vamos dar uma volta por aí. – disse Théo pegando a mão de Mia. – Tudo bem para vocês?
- Claro. Estou em ótima companhia. – disse Samuel sorrindo, me olhando.
- Tudo bem para você, Satini? – Mia perguntou incerta.
- Claro, tudo bem.
Os dois saíram. E eu rezei para Alexander ter encontrado alguma garota para “pegar” ou pelo menos não me encontrar tão cedo.
O barman me trouxe uma bebida numa linda taça enfeitada com frutas milimetricamente cortadas. A bebida tinha duas cores: embaixo uma espécie de branco e em cima laranja.
Olhei encantada para aquilo.
- Dá até pena de beber. – confessei.
- Não tenha... É perfeito. – ele disse.
- Como se chama isso?
- Isso é um segredo. Mas posso lhe dizer num outro dia.
Eu sorvi a bebida no canudo e o gosto era doce e ao mesmo tempo amargo. E gelado, muito gelado. Mas bom... Diferente.
- Acho que não saio daqui sem o nome disto. – falei. – Caso não o veja mais, preciso beber muitos deste novamente.
Ele riu alto:
- Você é engraçada, Satini. Jura que nunca bebeu isso?
- Juro.
- De onde você vem mesmo?
- Como eu disse, daqui de perto.
- Daqui de perto onde?
- Eu sou rica. – falei sem ter a certeza se essa era a frase certa.
- De onde? – ele insistiu, seriamente.
- De onde você é, Samuel? – tentei inverter a situação. Eu não sabia nada sobre qualquer lugar aos arredores para poder inventar qualquer coisa.
- Eu teria que matar você depois que lhe falasse.
Eu ri:
- Coroa Quebrada?
- Coroa Quebrada? O que é isso mesmo? – ele ironizou.
- Não sei... Diga-me você. Eu sou só uma burguesa me aventurando na noite de Avalon.
- Boa resposta. Tenho cara de quem vive na Coroa Quebrada?
- Quer a sinceridade?
- Sempre...
- Sim.
Ele tocou na minha mão que descansava sobre o balcão e olhou nos meus olhos:
- E você tem cara de ser mais que uma burguesa que se aventura na noite de Avalon.
Eu retirei minha mão, ficando um pouco sem jeito. A forma como ele me olhava era forte, segura e cheia de desejo, como se ele me despisse com um simples olhar.
- Não vai me dizer o nome da bebida? – insisti e tentei mudar de assunto.
- Não... Porque assim você vai querer me ver novamente.
- Então você quer me ver novamente? – perguntei tentando parecer irônica e não feliz.
- Sim...
Suspirei. Eu sabia que ele era só um conquistador barato, que devia fazer aquilo com todas as mulheres que conhecia. Ainda assim eu me senti bem ao lado dele o ouvindo tentar me seduzir. Era a primeira vez que alguém fazia aquilo comigo.
- Onde nos encontraremos, Samuel... Samuel de que? Qual seu sobrenome?
- Esqueci que a burguesia leva muito em conta o sobrenome das pessoas. De onde eu venho isso não significa muito não.
- Me desculpe... Não quis ser inconveniente. Perguntei por curiosidade mesmo. Minha intenção era só saber onde seria o próximo encontro.
- Não foi inconveniente... Ainda assim nunca vi alguém tão sincera quanto você. Claro que vamos nos encontrar novamente... No sábado.
- Sábado? – perguntei intrigada.
- Leeter... Samuel Leeter. – ele respondeu. – E o seu sobrenome?
Pois bem, a pergunta me deixou completamente desconsertada e confusa.
- Satini Kane. – inventei rapidamente.
Ele pegou minha mão e deu um beijo no meu rosto. A boca dele estava gelada... Ou meu rosto muito quente.
- Prazer, Satini Kane.
Quando ele se afastou, nossos olhares se cruzaram novamente e eu senti a mesma sensação de antes: calor e desejo. Aquilo era normal? Ou eu estava passando mal?