Capítulo 13
1932palavras
2022-12-11 06:57
- Por que exatamente? Sei que eu sempre o defendi... Mas talvez porque eu nunca soube nada além do que está dentro dos muros. Na verdade, eu acho que posso saber menos do que quem não convive com ele e não tem parentesco algum.
- Sabe que fiquei muito tempo longe. E foi ele que financiou meus estudos.
- E isto não seria um ato de bondade, Alexander?
- Ou uma forma de fazer minha mãe ficar calada.
- Mas... Entendo que Léia trabalha praticamente a vida toda para os Beaumont. O que ela poderia saber que comprometeria tanto meu pai a ponto de ele pagar seus estudos no exterior?
- Claro que eu não concluí... Por sua causa.
Eu gargalhei:
- Claro que eu tenho que ser culpada... Se não fosse assim, não seria você.
- E estou mentindo? Se não fosse sua ideia absurda de conhecer Avalon eu ainda estaria estudando, me divertindo...
- Alexander, você não pode ser gentil comigo uma única vez? É só uma conversa sobre meu pai. Não é sobre eu e você.
- Sobre “eu e você”? – ele perguntou.
- Aliás, não existe “eu e você”. – deixei bem claro.
- Achei que tinha gostado do beijo.
- De novo este assunto? Achei que estava encerrado. Aliás, se eu fosse discutir sobre beijo e gostar ou não, teria que fazer isso com muitos homens.
Ele me olhou atentamente:
- Como assim?
- Acha mesmo que eu não beijei outros além de você? – falei orgulhosa de mim mesma.
Mas ele não viu desta forma:
- Uma princesa, futura rainha, se dando ao desfrute... Se oferecendo por aí...
- “Desfrute”? Achei que esta palavra era na época que as mulheres eram submissas, sem direitos e tratavam os homens de “meu senhor”. – falei pasma.
- Pelo visto não estudou muito bem o vocabulário, Alteza.
- Afinal, vamos ou não falar do meu pai? Ou prefere discutir o dicionário? – ironizei.
- Sim... Em troca de você me contar quem beijou.
- Que diferença isso faz?
- Você nunca saiu do castelo. Teoricamente não teria como trocar tantos beijos apaixonados por aí.
- Eu disse beijos... Não apaixonados.
- Mas com quem foi?
- Se eu contar, você me fala a verdade sobre o que sabe e me deixa em paz?
- Sim... Acordo fechado.
- Beijei alguns... Guardas.
- Como... Você fez isso? – ele perguntou intrigado.
- Sem mais perguntas.
Ele me olhou confuso:
- Satini, você é uma princesa.
- Me dei ao “desfrute”, Alexander. E foi bem bom, confesso. Não achou que eu evoluí muito no beijo? Aliás, você também.
Ele se aproximou de mim e me beijou. Quantas vezes ele faria aquilo? Eu diria não... Mas ele enrolou os dedos nos meus cabelos, puxando minha cabeça de forma que eu não conseguia me desvencilhar. De início eu até correspondi ao beijo, que parecia ainda mais ousado que os outros. Sua língua quente exigia a minha com necessidade, com ardor... Mas achei um absurdo ele me segurar. O beijo poderia ser roubado, mas eu tinha que ter o direito de me afastar quando quisesse. Coloquei minhas mãos com força no peito dele e tentei me desvencilhar, sendo que ele não me deixava sair de sua boca. Quando ele me soltou, ambos quase sem ar, eu bati na cara dele:
- Nunca mais faça isso. – avisei.
- Então não provoque.
Parece que o tapa não surtiu efeito algum. Eu dei outro e desta vez ele levou a mão à face confuso:
- Por que foi este agora?
- O primeiro foi pelo beijo sem meu consentimento. O segundo pela forma como me trata.
- Para ganhar um beijo seu tenho que entrar para a guarda? – ele ironizou.
- Não é isso que você vai fazer depois que eu casar? Meu pai disse que primeiro você me acompanha e me protege. Depois se transformará no capitão da guarda.
- Quer dizer que quando você casar, vai sair por aí beijando os guardas da mesma forma?
- Não... Por isso mesmo estou fazendo isso agora. Jamais vou trair meu marido.
- Trai seu reino quando se dá ao desfrute com os guardas.
Eu ri:
- Avalon nem sabe que eu existo, Alexander.
- Sabe que você existe, só não quem é você.
- Você gosta de mim mais do que deveria, Alexander? – perguntei sinceramente e ao mesmo tempo sendo irônica.
Percebi que eu provocava desejos e reações nele.
Ele me olhou atônito com a minha pergunta e demorou um pouco para responder:
- Você é bem direta, Alteza.
- De que adiantaria ficar enrolando? Só me fala a verdade e pronto.
- E isso mudaria alguma coisa?
- Não. Eu vou me casar em cinco meses. E mesmo que você goste de mim, não pode ficar me beijando por aí.
- Ah, eu não posso, mas os guardas podem. – ele foi sarcástico.
- Eles não me beijam, “eu” os beijo. E eles não me maltratam.
- Eles sequer falam com você. – a frase veio com desdém.
- Melhor ficar em silêncio do que dizer palavras que possam ferir quem você gosta. Isto não fará com que eu goste de você, pelo contrário.
- E acha que vai encontrar um príncipe encantado? Todas as pessoas têm defeitos. Ou acha que seu futuro marido, príncipe, será perfeito?
- Eu já achei o meu príncipe, Alexander.
- Você é absolutamente arrogante, prepotente e...
Fiquei encarando-o, curiosa para saber o que ele ainda pensava sobre mim. Mas ele calou-se.
Respirei fundo e confessei:
- Eu entendo que não somos irmãos. Mas o sentimento que eu tenho com relação a você é este: fraternal, familiar. E me desculpe se eu não sinto nada além disto. Sentir-me assim com relação a você não me torna arrogante ou prepotente. Torna-me apenas sincera. E não que eu me ache mais do que você. Pelo contrário, sempre o admirei. E acho você bonito... E beija muito, muito bem. Mas eu não procuro alguém que viveu praticamente toda a vida comigo para despertar em mim o sentimento da paixão, do amor ou mesmo do desejo. Eu não posso lhe dar outro sentimento a não ser o de meu irmão.
- Algo mais que faltou dizer para destroçar ainda mais o meu coração?
- Sim... O que sabe sobre meu pai?
- Ok, vamos lá. – ele suspirou. - Ainda estou um pouco desconsertado com tudo que você me falou, mas vou tentar pensar que foi uma vingança por eu ter sido um idiota nestes últimos dias.
- Acho que você não foi um idiota, Alexander. Você simplesmente é assim: machista, dono da situação, acha que todas as mulheres devem cair aos seus pés, é arrogante, muito arrogante... E vou parar por aqui, pois eu realmente não acho certo ofender as pessoas que gosto. Então eu procuro sempre ver o lado bom delas. E vou tentar esquecer as coisas ruins que você me falou algumas vezes... Não tão poucas, pensando melhor.
- O povo odeia o seu pai. – ele me olhou. – Prefiro conversar sobre isso a continuar a falar sobre nós ou o que você pensa sobre mim. Agora eu tenho certeza que prefiro falar sobre o seu pai.
- Que ótimo que chegou a esta conclusão. Por que odeiam? Esta parte eu já sei.
- Ninguém mais tem acesso ao castelo. Isso existia antigamente. Qualquer pessoa podia ter uma audiência com o rei, falar sobre seus problemas quando eram por causa da política. Nem sempre se conseguia o que queria, mas a audiência com a realeza nunca foi negada. Seu pai ergueu um muro entre ele e o povo, por medo de ser assassinado.
- Mas há indícios que o pai dele, meu avô, pode ter sido assassinado. Talvez meu pai ficou com medo e por isso teve esta atitude. Também pela segurança de todos de dentro do castelo. Eu sei que há ataques rebeldes e só não chegam próximos porque há muita segurança.
- Há conversas que circulam de que o rei Stepjan tenha matado o próprio pai para assumir.
- Isso é um absurdo, Alexander. Ele não era o primeiro na linha de sucessão. Era Emy, sua irmã, que seria a primeira rainha de Avalon.
- Misteriosamente ela morreu também. Não é muita coincidência?
- Eu... Nunca vi desta forma. Sempre soube que foi morte natural, um ataque do coração.
- Não estou falando o que eu penso do seu pai. Estou dizendo o que eu ouvi por ai... Tanto dentro de Avalon como quanto fora.
- Ouviu sobre meu pai fora daqui, quando estava estudando?
- Sim... E não são coisas boas. Stepjan, um rei autoritário, num lugar onde a maioria das pessoas passa fome. Não há empregos... E ele reina como se nada existisse, sem se importar. Imponente, cheio de manias um tanto quanto estranhas... Não acha que pode haver aliança de países contra seu pai?
- Sim... Sei que isso pode acontecer. Por isso o meu casamento. Aliança entre reinos para... – fiquei confusa.
- Para... – ele continuou. – Estranho tudo isso, não acha?
- Talvez para uma... Possível guerra?
- Ou para ver você longe de Avalon?
- Ele... Me disse que eu deveria partir com meu marido. E confesso que isso não passou pela minha cabeça... E me surpreendeu.
- Eu só sei isso. E minha mãe sempre achou que ele matou Emy Beaumont.
- Ele não teria coragem para matar a própria irmã...
- E o próprio pai?
- Eu fiquei confusa agora. Vou pesquisar sobre isso. Há livros muito antigos na biblioteca real. E alguns são raros, só existem ali. Entre eles a linhagem dos Beaumont. E vários sobre a história de Emy Beaumont, que seria a primeira rainha de Avalon.
Ele riu e balançou a cabeça:
- Duvido que você encontre um livro contando a verdade sobre o que aconteceu com Emy Beaumont. Só quero que você tome cuidado... Sempre.
Ele colocou a mão no meu rosto carinhosamente.
- Desculpe pelo tapa. – falei sem jeito, arrependida.
- Desculpe pelo beijo roubado.
- Pode me levar de volta, Alexander?
- Sim, Alteza.
Ele ligou o carro e logo estávamos de volta ao castelo. Antes de descermos, ele pegou meu braço e disse:
- Satini, o fato de ele ter deixado você sair das fronteiras que ele mesmo criou para sua proteção também me intriga muito.
- Sim... A mim também. Era uma ideia absurda e eu tentei, na certeza de que ele negaria. No fim ele aceitou. E eu fiquei surpresa. Achei que ele realmente quisesse atender um pedido meu, já que casaria em tão pouco tempo sem conhecer nada sobre meu reino e meu povo.
- Ainda vamos sair de noite?
- Sim... Eu realmente preciso ir naquele lugar de novo,
- Perdeu algo lá, princesa? – ele brincou.
- Não... Na verdade achei.
Saí do carro e voltei para o meu quarto, mais curiosa e confusa de quando saí com ele dali. As coisas que Alexander me falou sobre meu pai eram horríveis e se fossem verdade, que tipo de pessoa comandava Avalon? E ele era minha família. O que seria de mim?
Encontrei Mia no caminho, no primeiro andar:
- Princesa, procurei você por todos os lugares então minha mãe falou que você quis sair somente com Alexander. Então eu não entendi nada. Me diga, por favor, que vocês fizeram as pazes.
- Acho que sim. – falei sem ter certeza se ele conseguiria ficar muito tempo sem me pedir desculpas por algo novamente.