Capítulo 12
2059palavras
2022-12-11 06:57
- Como assim na mesma casa noturna? Por que voltar lá? Fomos na sexta-feira.
- Eu... Simplesmente gostei de lá.
- Posso lhe mostrar outras... Melhores. Aquela foi só a primeira.
- Eu realmente gostaria de voltar na Avalon Club.
- Princesa, você ainda vai me enlouquecer. – ele disse saindo bravo.
Qualquer coisa que eu dissesse para Alexander o irritava de alguma forma. E ele ainda vinha dizer que pensou no beijo? Duvido que ele pudesse ter pensamentos bons.
Eu poderia pensar em fazer mil coisas, mas eu tinha que ficar atenta ao tempo. Precisava ser pontual no almoço de domingo. Não que eu não fosse pontual em outros compromissos, mas para o meu pai qualquer segundo já poderia ser considerado um grande atraso.
Então revolvi ler um livro enquanto o tempo passava. Quando faltava dez minutos para o meio dia eu me encaminhei para a sala de jantar real.
Acabei chegando mais cedo que pretendia. Sentei-me, esperando até que meu pai chegasse. Léia estava parada próxima da porta. Acho que ela acompanharia a nossa refeição desta vez. Por que ele não a mandava sentar conosco à mesa? Afinal, ela era quase como a minha mãe. Deixá-la nos olhando, de pé, o tempo que durasse a refeição, era no mínimo um tanto quanto cruel.
Quando faltava um minuto para o meio dia meu pai entrou na ampla sala, com sua presença marcante e temerosa. Junto dele havia uma moça bonita, negra, cabelos lisos, olhos esverdeados e uma boca perfeita realçada com um batom cintilante. Era magra e se vestia bem, num estilo também clássico. Ela devia ser um pouco mais velha que eu. Fiquei um pouco confusa, especialmente quando um dos criados puxou a cadeira para que ela pudesse sentar-se, próxima de meu pai.
Enquanto eu a encarava, ela sorriu amigavelmente.
- Beatrice, esta é minha filha, Satini Beaumont, princesa de Avalon.
Fiquei impressionada ao ser anunciada como a princesa sem nenhuma cerimônia. Aquele fato não era segredo para pessoas desconhecidas? A não ser que...
- Satini, Beatrice é recém-formada em Jornalismo. Ela será sua assessora de imprensa.
Arqueei minha sobrancelha, com minha mente fervilhando: Beatrice amante de meu pai? Beatrice, futura esposa de meu pai? Ele teria coragem de se relacionar com alguém tão jovem? Não que ele fosse velho, mas era inimaginável os dois juntos.
- Assessora de imprensa? – não pude me calar. – Mas eu não posso aparecer na imprensa até o casamento e coroação.
- Ela estará se preparando para quando você for apresentada oficialmente na mídia. Somente ela fará as reportagens sobre você. Beatrice fará a transmissão ao vivo da sua coroação, bem como a sua primeira entrevista coletiva aos veículos de comunicação.
- Por que ela? – continuei sem entender.
- Porque ela é uma pessoa competente.
- Não é recém-formada? – questionei.
Ele fez uma cara brava para mim, mas vi que ela sorriu e bateu de leve no braço dele, como se pedindo para ele parar.
Então ela disse:
- É um prazer conhecê-la, Alteza. Seu pai me falou que você era linda... Mas confesso que fiquei impressionada. É muito mais linda do que imaginei.
Sério que ela iria tentar me convencer a aceitá-la com aquele discurso vazio? Mal sabia ela que eu pouco me importava com a aparência das pessoas.
Parecendo entender meus pensamentos, ela continuou:
- Aposto que dentro de você existe uma princesa incrível, que tanto eu quanto toda Avalon amarão conhecer.
- Você... Veio me conhecer... E voltará daqui a cinco meses? - perguntei incerta da resposta.
- Não. – disse meu pai. – Ela passa a morar no castelo a partir de hoje, já assumindo oficialmente a função de sua assessora de imprensa.
- Mesmo que eu não possa aparecer na mídia. – balancei minha cabeça fingindo entender, ironicamente.
- Exato. – ele se limitou a dizer.
Eu queria discutir mais aquele assunto. Do nada ele tirou nosso encontro no desjejum, agora me trazia uma visita para o almoço, sendo que aquilo nunca aconteceu e era o único momento só nosso. Alguma importância aquela mulher tinha na vida dele. E eu podia apostar que não era pouco.
Eu me servi do que tinha na minha frente, mesmo tendo perdido a fome. Nunca havia nada do que eu gostava na mesa. Tudo era feito para o gosto de meu pai. Pensei no criado que tinha que provar cada alimento antes de ser servido e tive dó dele.
Meu pai disse:
- Satini está conhecendo Avalon antes do casamento.
- Que incrível. – ela disse me olhando de soslaio enquanto se servia.
- Como ninguém em Avalon sabe quem ela é, pode ir e vir a qualquer lugar sem ter problemas.
- Que ideia genial. Foi sua, Majestade?
- Não. Foi um pedido de minha filha, na verdade. – ele admitiu.
Ela me olhou e sorriu:
- Pedido inteligente. Ninguém merece casar sem conhecer antes um pouco do que existe lá fora.
Eu não consegui responder nada. Estava absolutamente confusa com tudo aquilo. Decidi perguntar:
- Mas... Enquanto não posso aparecer na mídia, ela fica comigo ainda assim?
- Bem, ela lhe dirá quando precisar de alguma coisa para seu trabalho.
Ela dormirá com você, papai? Tive vontade de perguntar, mas não me atrevi. Eu não senti ciúme... Pelo contrário. Parecia que algo não estava certo ali. Quem assume um emprego de assessora de imprensa de uma pessoa que não pode ter contato nenhum com os veículos de comunicação? Além do mais, era jovem e recém-formada. Jamais meu pai contrataria uma pessoa inexperiente para um cargo tão importante. Ele mesmo já havia trocado de assessor inúmeras vezes e sempre dizia que era um cargo de extrema importância no castelo.
- Como chegou ao rei, Beatrice? – perguntei tentando fingir que eu não estava tão curiosa.
- Na verdade eu me candidatei à vaga. Sabia da proximidade de sua apresentação então decidi tentar a sorte.
- E que sorte você teve... – falei sorrindo. – Afinal, não sei de ninguém que tenha sido entrevistado para o cargo, que, aliás, acho que eu deveria ser responsável pela escolha.
Léia pigarreou e eu nem precisava olhar para ela para ver seus olhos implorando para eu parar. Então decidi não fazer mais perguntas nem questionamentos... Pelo menos não hoje.
Com meu silêncio, o almoço transcorreu sem nenhuma palavra até o fim. Eu não via a hora de estar dispensada.
Enfim, meu pai se retirou. E eu agradeci mentalmente. A convidada inoportuna o acompanhou. Eu não tinha acesso a ele sem ser no domingo, mas pelo visto ela teria.
Acesso... Não estava na hora de eu começar a entender como tudo funcionava politicamente em Avalon? Quem sabe um dia acompanhando o rei, como uma aprendiz?
Uma vez sugeri ao meu pai fazer isso e fui surpreendida com a pergunta se eu desejava tanto assim a morte dele. Respondi que não e ele disse que eu não precisava aprender nada, pois ele não morreria tão cedo.
Dirigi-me para o meu quarto e Léia me acompanhou:
- Querida, não deve discutir desta forma com seu pai.
- Isso não foi uma discussão, Léia. Eu só queria saber mais... Muito mais sobre a nossa convidada.
- Desafiar o rei Stepjan não é nada inteligente.
Eu a encarei seriamente:
- O que você me esconde sobre meu pai, Léia?
- Nada, Satini.
- Eu sei que sim... E mais cedo ou mais tarde você vai ter que me dizer. Ou nunca vou entender. Acha justo eu não saber?
- Não há nada, como eu disse.
- Seria sobre minha mãe? – perguntei.
- Não exatamente. – falou Alexander.
Olhei-o ainda mais confusa:
- Então você sabe e eu não? Isso não é justo comigo.
- Alexander não sabe de nada. – desconversou Léia.
- Não tente me enganar, Léia.
- Que horas saímos hoje à noite, Alteza? – perguntou Alexander, tentando se esquivar.
- 22 h? 23 h? Qual o melhor horário, Alexander? Eu não tenho a mínima ideia.
- 23 h seria melhor.
- Ok. Nos encontramos neste horário diretamente no carro. Avise Mia, por favor.
Eu estava andando quando ele perguntou:
- Não precisa de mim hoje à tarde?
Olhei-o pensativa.
- Eu... Tenho um compromisso.
- Sim, eu acho que gostaria de sair hoje à tarde. – eu disse.
Ele fez uma expressão de desagrado, mas perguntou:
- Que horas?
- Eu... Vou me arrumar e já vamos.
Realmente eu não queria ficar ali. Estava chateada. O almoço de domingo com meu pai não havia sido nada bom. Não que os outros tivessem sido bons alguma vez, mas aquele havia conseguido ser pior. E eu tinha certeza que Alexander sabia muito mais sobre meu pai do que ele me dizia. E eu tiraria dele cada segredo escondido sobre o rei Stepjan e Avalon.
- Vou avisar Mia. – disse Léia.
- Léia, por favor, não precisa. Avise só da noite. Agora iremos somente Alexander e eu. – falei sorrindo maquiavelicamente.
- Satini, ele não sabe nada. – falou Léia certa do que eu queria com o filho dela.
- Eu sei, Léia. – falei sorrindo. – Mas gostaria de ir a um local que ele conhece muito bem. – inventei. – Nada que Mia gostaria... Nem que Alexander se importaria.
Pensei em colocar uma calça jeans para não parecer tão formal. Mas aquela calça rasgada não poderia mais me acompanhar. Então acabei colocando um vestido curto de tecido fluído, de uma marca bem conhecida internacionalmente. Eu não tinha nada simples que pudesse usar para sair por Avalon tentando não parecer uma mulher rica. Mas também pensei que só quem entendia as marcas que eu usava ou poderia reconhecer seriam pessoas do mesmo nível que eu. Pessoas que nunca viram aqueles tecidos saberiam que eles valiam mais que os seus? Eu não tinha a mínima ideia. Mas talvez devesse acrescentar ao meu closet algumas peças mais básicas e baratas.
Retirei todas as minhas joias e deixei somente o meu novo piercing, dado pelo meu príncipe quase encantado.
Quando desci, Alexander já estava me esperando no carro, com seu habitual mau humor quando precisava me carregar por Avalon. Ele saiu para abrir a porta de trás e eu sentei na frente. Agora eu saberia a verdade, nem que tivesse que tirar dele a força.
Ele sentou-se e me encarou:
- Para onde?
- Qualquer lugar longe daqui, Alexander.
Ele suspirou:
- Este é o pior emprego que alguém poderia ter.
- Peça demissão. – provoquei. – Se tiver coragem, óbvio.
- O que você quer de mim?
- Que dirija para mim. – dei de ombros olhando quando saíamos pelo portão do castelo.
Observava enquanto ele dirigia sem a mínima noção de onde ele me levaria.
- Acha mesmo que ninguém sabe que eu sou eu? – perguntei curiosa para ele.
- Acho... Não há como saber. Sem contar que a maioria das pessoas acha que você está num colégio interno em algum lugar do mundo, menos aqui.
- E se alguém que trabalha no castelo e sabe falou para algum familiar ou amigo ou...
- Ainda assim descreveria você e não teria como saber, pois sua aparência é bastante comum.
Eu ri. Acho que ele realmente gostava de me provocar.
- Fotos?
- Impossível passando pelo detector de metais da porta de funcionários, que não aceita aparelho celular.
- Existe isso? – perguntei surpresa.
- Sim.
- Inclusive para você?
- Inclusive para mim.
- E você não tem um celular então? Eu já vi você com um... Está mentindo.
- Como eu disse, moro dentro do castelo e passo pela mesma porta de todos. Esqueceu que eu não sou da realeza? Meu telefone só pode ser usado para ligações. Bloqueado para fotos ou qualquer outra coisa.
- E o que você sabe sobre meu pai?
- Nada.
- Pare o carro.
- Mas... Não tem nada aqui. Somente casas... Quer fazer tour por casas agora?
- Não... Quero só falar com você.
- Trancada no carro? Não poderíamos ter feito isso no castelo?
- Você não me contaria lá.
- Ok, eu não sei dizer não para você.
- Ah, você sabe sim... E diz muito.
- Será que você não entende que...
- Que? – perguntei vendo que ele não terminaria a frase.
- Que seu pai é uma péssima pessoa.