Capítulo 9
1808palavras
2022-12-05 11:17
Eu despertei quando Alexander estava me jogando na cama, sem nenhum tipo de delicadeza ou cuidado.
- Eu odeio você. – falei.
- Acho que você já me disse isso umas dez vezes. Vou sobreviver com seu ódio, não se preocupe.
Ele foi saindo e eu levantei, cambaleante. O quarto estava na penumbra. Cheguei na porta antes dele e não o deixei passar. O encarei.
- O que você quer? Trancar-me aqui com você, sua louca? Acha mesmo que pode ficar na rua e não me dar satisfações?
- Pare de falar e me beije. – eu ordenei.
Ele me olhou confuso e surpreso e percebi que ficou receoso. Passou as mãos pelos cabelos nervosamente e eu levantei meus pés e encostei meus lábios no dele, que em pouco tempo colocou sua língua quente dentro da minha boca, dançando com a minha, num mesmo ritmo. Passei meus braços sobre o pescoço dele, trazendo-o para mais perto de mim e esfreguei-me em seu corpo, sentindo imediatamente seu membro duro encostando em mim. Passei minha mão exatamente naquele ponto, sobre a calça apertada, ouvindo um gemido que ele não conteve. Eu ri e o empurrei:
- Otário! Aprendeu a beijar.
Ele ficou desconsertado e eu disse:
- Saia do meu quarto agora.
Ele me obedeceu e saiu, sem dizer nada.
Alexander me desejava. Incomodava-me o tempo inteiro, me tratava como seu fosse propriedade dele e tinha uma “quedinha” por mim. Quando o vi aos amassos com a garota que eu paguei para seduzi-lo senti uma vontade imensa de sentir suas mãos no meu corpo, sentindo um desejo que eu não havia sentido até então.
Tirei a calça dura que estava em mim e deitei de calcinha e camiseta na cama. Fechei meus olhos sentindo o gosto de Alexander na minha boca. Mas não foi ele que veio a minha mente. Foi o homem que me entregou o seu brinco. Olhei para a joia minúscula na minha mão e a coloquei perto do meu coração. Será que eu me lamentaria a vida inteira por tê-lo deixado partir? Pensando nele eu adormeci, sorrindo e com o corpo com sensações que eu jamais havia experimentado antes.
Despertei com Mia abrindo as cortinas, deixando o sol entrar dentro do meu quarto gigantesco.
- Vamos lá, Bela Adormecida. – ela disse. – Ou seria Cinderela? Afinal, onde foi parar seu sapato, Alteza?
Enquanto eu me espreguiçava, Léia trouxe o café no meu quarto, me dando um beijo e saindo.
- Você está horrível. – Mia disse.
Eu levantei e fui até o banheiro e liguei o chuveiro. Gritei de lá:
- Quebrou o salto do meu sapato e eu o joguei longe.
- Estava tão bêbada que falou até de príncipe. – ela disse já no banheiro.
- Eu não estava bêbada. Eu realmente conheci meu príncipe. – confessei.
Ela riu:
- Seu príncipe era um homem que passou na rua durante a madrugada?
- Sim... E eu nunca mais vou vê-lo... Eu não posso acreditar nisso. – lamentei profundamente.
- Satini, você só pode estar louca.
- Mia, onde você esteve a noite toda.
Eu desliguei o chuveiro e ela me entregou uma toalha limpa.
- Eu... Conheci uma pessoa. – ela disse.
Enquanto eu me enxugava, falei:
- Conte tudo e não me esconda nada.
- Ele se chama Théo...
- Théo de quê?
- Eu não sei o sobrenome dele, então me arrisco a dizer que ele não é da realeza, Alteza. É só um homem comum de Avalon.
- Você o beijou?
- Claro que sim. – ela disse rindo.
- Foi... Bom?
- Perfeito.
- Então ambas tivemos bons beijos. – falei.
- Como assim? Quem você beijou, Satini?
- Seu irmão.
Ela ficou imóvel:
- O quê?
- Acho que Alexander tem interesse em mim. – eu ri.
- Mas... – ela ficou confusa.
- Meu primeiro beijo foi com ele.
- Eu sei disto. Aliás, acho que todo mundo sabe.
- Ele está beijando bem melhor, confesso.
- Satini, você acabou de dizer que conheceu seu príncipe, mas foi meu irmão que você beijou no fim da noite?
- Foi o que me restou. – falei sincera.
- Não brinque com Alexander.
- Ele que brinca comigo.
- Ele não brinca com você, Satini. Ele talvez goste de você. Nunca passou isso pela sua cabeça?
- Alexander não é capaz de gostar de ninguém. – eu dei de ombros, procurando um vestido no closet.
Escolhi um azul Royal, que eu nunca havia usado. Era de um tecido estruturado e de marca conhecida internacionalmente. Olhei no espelho e havia ficado perfeito.
- Aonde vamos? – Mia perguntou.
- Andar por Avalon.
- Você não vai deixar escapar um dia?
- Não... Nenhum.
- E qual o itinerário hoje?
- Você vai saber no caminho. – pisquei fazendo mistério.
- Me fale sobre o homem que você conheceu.
Sentei e comecei a tomar meu café da manhã, muito bem humorada. Mostrei a argola minúscula que estava comigo à ela.
- O que é isso? – ela perguntou pegando da minha mão.
- Ele me deu.
- Ele lhe deu? Por que um homem passando na rua lhe daria uma joia? Parece ouro.
Eu ri:
- Acredita se eu disser que ele me confundiu com uma mendiga?
Ela levantou os olhos para mim, arqueando a sobrancelha:
- O seu príncipe encantado a confundiu com uma mendiga?
- Sim... E ele me deu a única coisa de valor que tinha com ele, embora ele não fosse pobre.
- Como sabe que ele não era pobre?
- Pela roupa e sapatos de marca que ele usava. E o perfume italiano.
- Satini... Eu... Não sei o que dizer. Você encontrou o príncipe e ele... A mendiga?
- Talvez... Mia, eu nunca vou esquecer o olhar dele. Nunca. Eu reconheceria aquele olhar em qualquer lugar, acredite.
- Satini, eu não acredito em amor à primeira vista.
- Muito menos eu... Até conhecê-lo.
Ela balançou a cabeça:
- O que vai fazer com isso?
- Mandar analisar para ter certeza de que é ouro.
Levantei da mesa e disse:
- Vamos?
- Tomar sorvete? – ela perguntou.
- Não... Vou tomar sorvete com um homem que eu goste. – me limitei a dizer.
- Então isso é sério?
- Sim. Estou até pensando em fazer uma lista do que preciso fazer nestes cinco meses.
- Conheceu uma casa noturna, bebeu, beijou o meu irmão pela segunda vez, foi confundida por uma mendiga...
- Me apaixonei?
Ela riu:
- Você não se apaixonou, Satini.
- Vamos voltar lá na próxima sexta.
- Satini, podemos conhecer outro lugar. Você pode ir aonde quiser em Avalon.
- Não, eu vou voltar lá. Quero reencontrar Estevan.
- Ele tem nome agora? – ela perguntou em tom irônico.
- Sim.
- Ele se apresentou para a mendiga?
- Claro que não. Ouvi os amigos chamando ele.
- E Alexander aceitará ir novamente até lá?
- Não é escolha dele. É minha. – falei pegando minha bolsa, colocando a joia dentro e abrindo a porta.
- Bem, ele conheceu uma garota. Talvez fique satisfeito em voltar.
- Eu sei... Eu paguei ela.
- O que você fez? – ela perguntou atônita.
- Paguei a garota para ficar com ele.
- Não... Você não fez isso...
- Fiz.
Fechei a porta do meu quarto e fui descendo as escadas até o térreo, indo até o local onde Léia recebia suas visitas. Alexander estava lá, sentado, com cara de poucos amigos.
- Quero sair. – avisei.
- Bom dia para você também, princesa. – ele disse ironicamente.
Fiquei encarando-o e ele levantou, pegando a chave do carro que estava sobre uma pequena mesa adornada com flores naturais.
- Aonde vamos? – ele perguntou.
- Uma boa joalheria.
Ele me encarou:
- Achei que você gostaria de fazer coisas que nunca teve a oportunidade de fazer. Comprar joias já é habitual, não estou certo? Você já não tem todas de que precisa nesta vida?
- Talvez, Alexander.
Entramos no carro e novamente partimos do castelo. Era sábado e no dia seguinte eu encontraria meu pai para o café da manhã e o almoço. O que me intrigava era que eu estava entrando e saindo do castelo o tempo inteiro e ele sequer veio me perguntar se estava tudo bem comigo.
- Alexander, meu pai lhe perguntou algo sobre onde eu fui nestes dias de liberdade provisória?
Ele riu:
- Você falando isso parece uma apenada.
- Sim, eu sou uma apenada... Prisioneira em meu próprio castelo. E tenho consciência que minha liberdade é provisória. Em menos de cinco meses estarei casada com um homem que nunca vi em toda a minha vida e então serei novamente prisioneira... Porém em outra prisão e com outro carcereiro.
- Respondendo a sua pergunta: não, seu pai não perguntou nada. Nem o vi nestes dois dias. E fazendo uma pergunta: se você não aceita este casamento... Nunca passou pela sua cabeça tentar fugir disto?
- Não... Nunca me passou pela cabeça fugir. – falei firmemente. – Eu sou futura rainha de Avalon e o casamento arranjado, em nome de benefícios para os reinos sempre foi tradição entre a realeza. Então aceito o que foi imposto, em nome do reino de Avalon.
Vi os olhos azuis dele me fitando no retrovisor. Por que ele achava que desistiria? Eu era uma princesa, uma Beaumont. Embora eu não concordasse, eu não resistiria. Pedi para meu pai a liberdade antes do casamento e ele aceitou. Então eu estava satisfeita. Aquilo era tudo que eu queria.
Em pouco tempo chegamos a uma joalheria que eu já conhecia, pois havia comprado alguns itens ali algumas vezes. Alexander ficou na porta, do lado de fora e eu entrei com Mia.
A atendente sorridente e muito bem vestida perguntou o que eu desejava e pedi para avaliar a minúscula argola. Ela saiu por alguns momentos e depois retornou:
- Ouro verdadeiro. – ela disse. – E dos bons.
Olhei o objeto na minha mão e agradeci.
Quando saímos, Alexander perguntou:
- O que você veio comprar? Não há sacolas.
- Não vim comprar. – disse.
Entramos no carro e ele perguntou ironicamente:
- Para onde, princesa?
- Quero dar umas voltas pelas ruas próximas, Alexander.
- Procura algo especial? – ele perguntou.
Mia virou para mim e sorriu:
- Talvez... Algo ou alguém, não é mesmo, Satini?
- Como assim? O que eu não estou sabendo? – ele perguntou.
- Nem tudo você pode saber, Alexander. Sua única função é me proteger.
- E dirigir. – ele disse sarcasticamente. – Quer tentar pegar o volante, princesa?
- Não... Para isso você é pago, Alexander.
Enquanto ele falava e eu não prestava atenção no que ele dizia, vi um pequeno estúdio de tatuagem e gritei:
- Pare!