Capítulo 8
2058palavras
2022-12-05 11:17
Se eu me importei de ficar na fila? Óbvio que não. Eu só queria entrar naquele lugar e meu coração dava saltos dentro de mim. Mas depois de esperarmos uns dez minutos, Alexander pegou minha mão e Mia veio atrás de nós. Ele falou algo com o segurança e entramos, deixando todo o pessoal para trás.
- Como você fez isso? – perguntei. – Eu não me importava de esperar. Não é justo passarmos na frente.
- Tenho meus contatos. E lhe garanto que não sou só eu. Muita gente aqui também tem. Só queria ver sua reação ao esperar como todo mundo.
O lugar era enorme por dentro e luzes coloridas piscavam por todos os lados. Tinha tanta gente que eu nem conseguia contar. E vestiam tudo que era possível: desde vestidos colados até jeans rasgados. E viva a moda! Eu era a única vestida de “jeans duro” e camiseta. Look errado, Satini. Na próxima sexta você virá completamente diferente. A música era extremamente alta, mas tinha um som absolutamente envolvente e mesmo que eu não soubesse dançar nada que não fosse clássico, pois foi só o que aprendi nas minhas inúmeras aulas de dança, acho que eu não me saí tão mal.
- Você não quer dar uma volta por aí sozinho, Alexander? – perguntei.
- Não mesmo.
Eu revirei os olhos, frustrada. Ele ficaria ali a noite inteira? Eu queria conversar com outras pessoas, queria beijar um homem desconhecido, que não fosse guarda do castelo. Segui dançando por mais de uma hora e não senti cansaço. Olhei para o bar e avistei uma garota sozinha, mexendo no celular.
- Eu vou pegar uma bebida. Já volto. – gritei para ser ouvida.
Ele ia me seguir e eu ordenei:
- Não! Você pode me cuidar daqui. Eu não vou fugir. Não quero você atrás de mim. Só vou beber alguma coisa.
Ele parou imediatamente. Segui abrindo caminho entre a multidão e parei no bar, que não estava muito cheio.
- Posso lhe pagar uma bebida? – perguntou o homem ao meu lado, colocando os cotovelos no balcão.
- Não, obrigada. – me limitei a dizer. – Quero algo bem forte. – avisei o barman.
- Ok. – ele disse indo trazer o que eu pedi.
Voltei meus olhos para a garota, que continuava compenetrada na celular.
- Posso lhe dar o mundo. – falou ele.
- Eu já disse não. Não querendo ser indelicada, mas você realmente não faz o meu tipo...
- Garota, estou falando de ecstasy, LSD, cocaína...
Olhei confusa para ele. Claro que já tinha ouvido falar sobre este tipo de droga, mas eu nunca havia sequer experimentado bebida alcoólica. Acho que era cedo demais para drogas.
- Valeu pela dica! – sorri e fixei a imagem do moreno alto e bem apessoado, que vendia qualquer tipo de droga na Avalon Club. Eu poderia precisar dele futuramente.
Peguei a bebida que o barman me entregou e paguei. Parei ao lado da garota.
- Oi...
Ela tirou os olhos do celular e disse friamente:
- Não me interesso por garotas.
- Nem eu. – confessei. – Mas você tem interesse em homens bonitos?
Ela me olhou interessada, deixando o celular de lado. Apontei para Alexander, que estava distraído.
- Está vendo aquele loiro de olhos azuis e cabelos encaracolados?
- Quem não veria? – ela disse parecendo gostar do que via.
- Pois então... Eu posso lhe dar uma boa quantia em dinheiro para você tirar ele da minha vista...
Ela me olhou:
- Sério? Eu pagaria para ficar com ele. – ela sorriu mostrando os dentes brancos contrastando com o batom vermelho vivo.
Olhei para ela, tão bem maquiada, batom vermelho, vestido preto justo e decotado. Nossa, eu estava muito mal vestida. Se meu personal stylist me visse teria um ataque e morreria na mesma hora.
Abri minha bolsa e peguei um maço de dinheiro e entreguei a ela.
- Você estava falando sério? Achei que fosse brincadeira. – ela disse pegando o dinheiro e me encarando.
- Sim, era muito sério.
Ela pegou o dinheiro e colocou dentro de sua pequena bolsa e foi andando em direção à lateral da pista, chegando próximo de Alexander e falando algo em seu ouvido. Ele olhou na minha direção e eu levantei meu copo e pisquei para ele, pensando: “desaparece da minha visão, otário.”
Em pouco tempo ele estava aos beijos com ela. Puxa, era tudo muito rápido ali. Olhei algumas garotas dançando feito loucas, com calças jeans rasgadas por toda extensão das pernas. Essa moda eu não tinha visto nas revistas de alta costura. Mas várias usavam. Fui até o toalete, abrindo passagem entre os tantos cheiros de perfumes caros e baratos. Eu identificava qualquer perfume importado. E quando eu não reconhecia o cheiro, sabia que era barato.
O toalete era enorme, com umas dez cabines individuais. Não havia ninguém ali. Abri minha bolsa e peguei de dentro dela um canivete. Uma princesa com um canivete dentro da bolsa? Claro que sim... Exatamente por ser uma princesa que eu usava aquilo. Sabia que precisava me defender se tentassem algo contra mim. Passei a lâmina afiada pela calça jeans, cortando-a com vários rasgos na horizontal. Depois cortei a blusa na vertical e com as duas pontas fiz um nó, mostrando a minha barriga. Sorri satisfeita quando me olhei no espelho. Minha barriga era chapada, devido às aulas de ginástica e musculação que eu fazia diariamente. Também cuidava minha alimentação. Agora olhariam para mim como uma garota normal de Avalon.
Saí do toalete e peguei outra bebida. Não vi Mia perto de Alexander. Ele continuava beijando a bela garota e vez ou outra me procurava com os olhos, para ter certeza de que eu estava bem. Eu sempre acenava para ele, mostrando que estava tudo certo. Enquanto eu estava ali alguns homens me chamaram para dançar, para beber... Mas nenhum chamou minha atenção. Eu não procurava um homem comum. Eu procurava o meu príncipe, aquele que faria meu coração bater mais forte e me mostraria algo completamente novo. E depois eu lhe diria adeus, e esqueceria tudo que vivemos e então me casaria com meu príncipe verdadeiro e que não vinha de um conto de fadas e sim de um país distante, fazendo parte de uma aliança política. Mas jamais me passou pela cabeça o que o destino estava me aprontando!
Já tinha bebido tanto que me senti um pouco tonta. Bebida alcoólica era melhor do que eu imaginava. Alexander permanecia aos amassos com a garota que eu paguei. Percebi que ele quase devorava a boca dela. Acho que ele aprendeu a beijar. Por vezes passava as mãos nas pernas dela e seguia até as nádegas. Alexander cresceu e não era mais um menino inocente. Era um homem chato e arrogante. Mas que pelo visto sabia o que uma mulher gostava.
Fui andando e passei por ele, avisando:
- Vou sentar mais próximo da rua... Estou ficando cansada.
A garota me olhou e piscou. Eu sorri. Ele perguntou preocupado:
- Está tudo bem com você? Quer ir embora?
- Não... Não quero. Está tudo certo.
Ele sorriu ironicamente e disse:
- Aproveite a noite, princesa.
Eu dei de ombros. Não achei Mia em lugar algum. Onde ela teria se metido? Minhas pernas estavam ficando moles e quando vi a porta da rua senti vontade de respirar ar fresco. Saí e enquanto descia a rampa de acesso do local quebrei o salto do meu sapato. Droga! Era só o que me faltava. Eu fiquei furiosa e joguei o sapato longe, ficando só com um no pé, andando completamente cambaleante por estar com uma perna mais alta que a outra. Não tinha quase ninguém na rua. Sentei numa parte mais alta da calçada e deixei meu corpo descansar. Observei a noite linda e fiquei grata por estar ali. Embora não tivesse sido como eu planejei, ainda assim eu não estava arrependida. Foi uma experiência única.
Vi três homens vindo calmamente, conversando. O do meio me chamou a atenção. Os sapatos dele eram de grife, assim como toda a sua roupa. Usava um conjunto de terno preto com camisa branca, segurando o casaco nos ombros. De que reino você saiu, príncipe? Perguntei-me quando ele estava chegando perto. Quando eles passaram por mim, meus olhos encontraram os dele, que eram castanhos claros, em tom de mel... Absolutamente sedutores. O rosto perfeitamente barbeado contrastava com suas bochechas rosadas. O cabelo era bem cortado, mas não muito curto, num tom castanho claro e parecendo ter algumas mechas mais claras na parte da frente. Ele era magro e alto. Eles passaram e eu continuei ali, não me atrevendo a observá-lo de costas. Fiquei completamente inebriada com o aroma do perfume italiano dele, que ficou no ar quando ele passou.
- Oi...
Levantei meus olhos e ele estava a alguns passos de mim. Meu coração bateu mais forte e eu sentia algo dentro da minha barriga que eu nunca senti antes. Fiquei sem palavras, pela primeira vez na minha vida. Então só disse:
- Oi...
Os amigos dele ficaram um pouco afastados enquanto ele tentava encontrar algo nos bolsos.
- Eu... Não tenho nada de dinheiro. – ele falou. – Vocês tem dinheiro? – ele gritou para os amigos.
- Não... – disse o moreno extremante alto e corpulento. – Deixe assim, Estevan. Ela vai sobreviver.
Como assim sobreviver? Do que eles estavam falando?
Ele retirou a argola minúscula que tinha na sua orelha e se abaixou na minha altura, abrindo a minha mão e colocando-a na palma dela, em seguida fechando com meus dedos:
- Compre algo para você... Isto vale bastante. Tente arrumar um emprego. Não pode viver assim... Você é uma garota linda.
Estevan, você está me confundindo com uma mendiga? Eu sou uma princesa, herdeira do trono de Avalon. Você será meu súdito quando o rei Stepjan morrer.
- Eu... – comecei a falar, mas os olhos dele eram tão doces, assim como seu meio sorriso que eu não pude deixar de dizer: - Obrigada.
Ele levantou e se foi. Olhei para meus pés, faltando um sapato. Minha roupa estava rasgada à canivete. Eu parecia uma mendiga. E quem tirava da própria orelha um brinco de ouro para dar a uma desconhecida? Levantei e olhei enquanto ele estava de costas. De repente ele parou e me encarou novamente, enquanto os amigos batiam nele, parecendo tentar convencê-lo a seguir em frente. Ele levantou a mão e eu correspondi levantando a minha, sem saber exatamente o que aquilo significava. E ele desapareceu na próxima esquina, quase levando com ele o meu coração, que saltitava querendo pular fora do peito.
Enquanto eu olhava para o nada, Mia parou ao meu lado:
- Você está louca? O que faz aqui, Satini?
- Eu... Conheci o meu príncipe... E ele se chama Estevan. – eu disse num fio de voz.
- Satini, você bebeu demais. Olha para você. Precisamos ir embora. Vou chamar Alexander. Fica aqui... Não se mexa.
Mal ela sabia que eu não conseguia me mexer. Eu estava completamente imóvel. Meu coração ainda batia descompassado. Olhei a minúscula argola na minha mão e sorri. Ainda existiam pessoas de bom coração. O mundo não estava perdido. Ele não tinha nada, mas me deu a única coisa de valor que poderia me ajudar. E ele não era um príncipe. Ele era real... E eu nunca mais o veria novamente. Como pude deixá-lo escapar?
Em alguns minutos Alexander já estava ali, furioso, cheio de razão, me falando tantas coisas em voz alta que eu nem sequer ouvia. Minha mente só conseguia ter a imagem do desconhecido Estevan. Ele me pegou pelo braço e começou a andar. Eu parei no meio da calçada e puxei meu braço agressivamente:
- Não me toque, Alexander.
- Então se comporte, Satini.
- O que eu fiz que você acha que não me comportei?
- Saiu para a rua.
- Você é meu guarda-costas, nada mais. Você não manda em mim. E a partir deste momento eu o proíbo de encostar em mim. – gritei salivando sobre ele de tão furiosa que eu estava.
- Você está completamente bêbada. – ele disse me pegando e colocando-me sobre os seus ombros, me levando como se eu fosse um objeto.
- Eu odeio você, Alexander. – eu gritava enquanto tentava me desvencilhar inutilmente.