Capítulo 34
1474palavras
2022-09-07 04:05
Eles foram até a Catedral de Notre Dame de Paris. Caminharam devagar, sem pressa, sem hora para chegar. Queriam curtir o pouco tempo que lhes restavam.
Durante todo o trajeto, Helena se manteve calada, meio apática e abraçada a ele. Queria esquecer, ou pelo menos não lembrar que em alguns dias, iria embora e provavelmente não o veria mais.
Sabriel percebeu o quanto ela estava triste. Não devia ter tocado no assunto. Até porque ele também ficou triste com o fato de se separarem.
Finalmente chegaram a imponente e histórica Catedral de Notre Dame, no centro de Paris. Construída em estilo gótico há mais de oitocentos anos, levou duzentos anos para ser concluída e é considerada o marco zero da capital francesa.
A imponente igreja já foi palco de grandes acontecimentos históricos, como a beatificação de Joana d'Ark e a coroação de Napoleão Bonaparte. Foi também inspiração para a obra de Victor Hugo, o Corcunda de Notre Dame, um dos livros favoritos de Helena.
— Eu adoro esta história, o livro e o desenho da Disney. A cigana Esmeralda se torna o amor platônico de Quasímodo. — Ela disse a ele ao entrarem na Catedral: — diz a lenda que a história foi baseada em um amor platônico de verdade.
— Sério? — Ele perguntou muito curioso.
— Sim, um operário que cuidava da manutenção da igreja era meio corcunda e apaixonado por uma bela cigana. Ele conversou com Victor Hugo na época. Daí veio a história.
Parece que ela ganhou um pouco de alegria quando contou a história da Catedral. Adorava quando ela sorria, achava que adquiria muita vida. Ele se sentiu o próprio Quasímodo, enamorado por aquela bela morena. Ela era a sua chica...
A chica que ele conheceu em Paris.
Ao se aproximarem do altar, Helena retirou de sua bolsa um véu feito de rendas e um terço feito de pérolas. Na igreja ortodoxa grega era comum usar estes objetos durante a missa. O terço pertenceu a sua avó, está em sua família a gerações. Foi o único objeto de valor que ela conseguiu salvar, quando fugiu da Grécia.
E para ela, aquele terço tinha um imenso valor sentimental. Ou seja, não tinha preço.
No altar, ela rezou e acendeu uma vela, pedindo aos deuses proteção à sua família e amigos. Pediu para dar tudo certo na Semana da Moda. Pediu para dar tudo certo daqui para frente. Pediu para ficar invisível aos olhos dos inimigos. E pediu para que "aquelas pessoas" que lhe fizeram muito mal reconheça seus erros, se arrependa e peça perdão.
Enquanto Helena fazia as suas orações, Sabriel somente a observava. Com aquele véu, dava a impressão de que ela parecia uma noiva. Sabia que não podia, mas não resistiu e pegou em sua mão. A levou até os lábios e a beijou. Depois ajeitou o véu que estava meio torto em sua cabeça, cobrindo metade do seu rosto. Parecia até um noivo retirando o véu da noiva para lhe dar um beijo. E foi o que ele fez.
— Vem comigo.
— O quê? Eu não entendi.
— Vem comigo... fique comigo.
— Ir com você? Mas para onde?
— Vamos para o Estados Unidos. Brasil. Ou podemos ficar aqui mesmo na França. Qualquer lugar, não importa, vamos ficar juntos.
— Você realmente está me pedindo para ir embora com você?
— Eu sei é loucura, mas... Yo estoy enamorado de ti. (Eu estou apaixonado por você) Eu te amo.
— Mas você não pode me pedir assim...
— Tudo bem, faremos os votos nupciais!
Helena ficou praticamente sem fala ao ouvir Sabriel falar em ficar junto. E ficou mais sem fala ainda quando ele recitou os seus votos:
“No estés lejos de mí un sólo día, porque cómo,
porque, no sé decírtelo, es largo el día,
y te estaré esperando como en las estaciones
cuando en alguna parte se durmieron los trenes.
No te vayas por una hora porque entonces
en esa hora se juntan las gotas del desvelo
y tal vez todo el humo que anda buscando casa
venga a matar aún mi corazón perdido.
Ay que no se quebrante tu silueta en la arena,
ay que no vuelen tus párpados en la ausencia:
no te vayas por un minuto, bienamada,
porque en ese minuto te habrás ido tan lejos
que yo cruzaré toda la tierra preguntando
si volverás o si me dejarás muriendo.”
Aquele poema Helena sabia e muito bem de quem era... do poeta chileno Pablo Neruda e fala sobre o desejo dele de estar com a mulher que ama e por isso sente a necessidade de expressar o seu amor. Quando ele terminou os seus votos, pediu para ela dizer os seus.
— Eu não sei nem o que dizer...
— Diga qualquer coisa, um verso, uma frase ou um trecho de algum filme, livro ou música que você gosta...
“Fale qualquer coisa mulher, ser pedida em casamento em Paris não é para todos e ele realmente parece gostar de você”. Era a sua Deusa Interior falando com ela.
Bom, já que estavam em Paris, lembrou de algumas frases do livro de Antonie de Saint-Exupéry, "O Pequeno Príncipe". É claro que acrescentou algumas coisas...
— Você era uma pessoa igual a cem mil outras..., mas desde que eu lhe conheci, fiz de você um amigo. Meu amigo. Mais do que isso, fiz de você o amor da minha vida. E agora, você é único no mundo.
Quando ela terminou, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Mas desta vez eram lágrimas de felicidade. Ele tentou enxugá-las com os dedos. Ficaram se olhando e sorrindo um para o outro. De repente, vários sons de diferentes timbres começaram a ecoar pela igreja. Eram os sinos de Notre Dame, anunciando o horário da missa.
A igreja começou a se encher de devotos para a missa. Resolveram sair dali para não atrapalhar. Ela ainda estava com o véu na cabeça e as pessoas a olhavam curiosas, se perguntando se havia acontecido algum casamento. Quando chegaram perto da entrada, uma moça de origem oriental, acompanhada do marido pediu para tirar uma foto deles.
E eles só davam risadas...
— Por que todo mundo tá olhando pra gente?
— Deve ser porque nós formamos um belo casal... E você ainda está com o seu véu.
Helena tirou o véu rapidinho da cabeça e guardou em sua bolsa. Sabriel só se divertia com a situação.
— Vamos embora antes que comecem a jogar arroz na gente...
*
No caminho para casa, passaram pela Torre Eiffel. O Sol já estava se pondo, mas ainda assim resolveram visitar o local onde se conheceram. Foi uma maneira de encerrar o passeio. Lá no alto, se lembraram daquela noite em que finalmente se conheceram e riram que se acabaram. Observaram e admiraram o pôr do Sol e depois se olharam entre si.
Pela primeira vez na vida, Helena hesitou. Pensou seriamente em largar tudo o que havia conquistado em toda a sua vida para ficar com Sabriel, onde quer que fosse. Logo ela que sempre deu prioridade a si mesma. O que está acontecendo com ela agora?
Ela se apaixonou por ele.
Bom ela pode ainda não ter se decidido o que fazer daqui para frente, mas decidiu o que fazer naquele momento.
— Eu acho que é melhor nós irmos para casa... para consumarmos o nosso amor.
Quando ela disse aquilo, ele quase não acreditou. Perguntou várias vezes para ter certeza. E para convencê-lo, deu aquele beijo do qual já sabia o significado.
— Bom, nós acabamos de nos "casar"... — Disse fazendo aspas com os dedos: — então é natural termos a nossa noite de núpcias... a não ser que você não queira.
Sabriel só a observou com cara de paisagem, fazendo pouco caso do comentário tosco dela. Ela precisou colocar a mão na boca para não rir. Pois só de pirraça, a envolveu num abraço forte e a beijou profundamente, a ponto de fazê-la quase perder os sentidos.
Olharam mais uma vez para o pôr do Sol, como se estivessem se despedindo da cidade. A vista era fascinante e ficou ainda mais quando os primeiros flocos de neve começaram a cair... muitos deles caíram nos longos cabelos da Helena, a deixando mais bonita do que já é. Sabriel riu quando um dos flocos caiu bem na ponta do seu nariz. Ele estendeu a mão no ar e um deles caiu bem no meio dela. Ofereceu a ela.
— É para lembrar de meus sentimentos por você. — Ela aceitou de bom grado. Pena que não tem como guardá-lo, mas guardará a lembrança deste dia para sempre em seu coração.
— Acho que realmente está na hora de irmos para casa. — Helena disse ao notar que a neve começou a cair com mais intensidade.
E eles foram abraçadinhos para casa...